tag:blogger.com,1999:blog-57877898643816710052024-03-13T15:03:20.379-07:00LEITURA ENXADRÍSTICACleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.comBlogger32125tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-82332793592075686692023-06-02T12:03:00.004-07:002023-06-02T12:03:43.876-07:00KARPOV x KASPAROV A RIVALIDADE<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK0L5_UaNfIIxNpfdTAKFLtyGt-oAUNPt-v1mIzqyalPKQeCIPVD2r-yOgsxTuhbQtAD1zDRxu88jR2E5QyYTKY5wjiX9yWp4M1r1VhEGPYo5H1AyuESdEsV4ujXSgTAtfEJZa6nAYVeEQRll93oLYIh8Fd5JQ1EdlayrJGUeiWJ6aEAJUbPUuqbv3GA/s512/Karpov%20vs%20Kasparov%2000.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="378" data-original-width="512" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK0L5_UaNfIIxNpfdTAKFLtyGt-oAUNPt-v1mIzqyalPKQeCIPVD2r-yOgsxTuhbQtAD1zDRxu88jR2E5QyYTKY5wjiX9yWp4M1r1VhEGPYo5H1AyuESdEsV4ujXSgTAtfEJZa6nAYVeEQRll93oLYIh8Fd5JQ1EdlayrJGUeiWJ6aEAJUbPUuqbv3GA/s320/Karpov%20vs%20Kasparov%2000.jpg" width="320" /></a></div><br /><div style="text-align: center;"><b><span style="color: #0c343d;"> <span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: center; text-indent: 42.55pt;">Karpov
vs. Kasparov: os bastidores da maior </span><span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-indent: 42.55pt;">rivalidade do esporte mundial.</span></span></b></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Eles
se enfrentaram cinco vezes pelo título mundial de xadrez, com apenas dois
pontos de diferença. Um representava o regime soviético, o outro a renovação.
Eles desconfiavam e espionavam um ao outro, mas quando Kasparov foi preso por
ser um adversário, apenas um ex-rival ousou visitá-lo: Karpov.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Por Carlos
A. Ilardo, 6 de março de 2021<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6SZAdYu1vKll0q-2Qhn6jCjqcLvAUdiS90p3DZ_VZB9HAa5v79iprP5_ixVtubwYHRcXO02UMTwjNEq3EfmLyVAABndXE9_kK_s2btUubim4rEK72LuR3BRH66X0KxEzGF9uxApzJMI_ghJY97PtIzKpSCaOpPyr7luf_InFBWEe8h_ALZLy2XuqxCw/s800/Karpov%20vs%20Kasparov%2001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="529" data-original-width="800" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6SZAdYu1vKll0q-2Qhn6jCjqcLvAUdiS90p3DZ_VZB9HAa5v79iprP5_ixVtubwYHRcXO02UMTwjNEq3EfmLyVAABndXE9_kK_s2btUubim4rEK72LuR3BRH66X0KxEzGF9uxApzJMI_ghJY97PtIzKpSCaOpPyr7luf_InFBWEe8h_ALZLy2XuqxCw/s320/Karpov%20vs%20Kasparov%2001.jpg" width="320" /></a></b></div><b style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="color: #0c343d;">Anatoly
Karpov e Gary Kasparov em um dos muitos confrontos na Rússia em 1990.</span></b><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Durante
seis anos, entre 10 de setembro de 1984 e 7 de novembro de 1990, o russo
Anatoly Evgenievich Karpov e o azerbaijano Garry Kimovich Kasparov foram
protagonistas de uma rivalidade épica, jamais vista no mundo dos xeques e
gambitos; cinco capítulos emocionantes de uma teimosia amarga, talvez a maior
da história de todos os esportes.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Ao
longo de seis anos, um mês e 28 dias, Karpov e Kasparov se enfrentaram em cinco
matchs em que o título mundial de xadrez estava em jogo; Ao longo de 2.249
dias, eles dividiram pouco mais de 700 horas (e gastaram mais que o dobro desse
tempo analisando e estudando o perfil do adversário) para completar as 5.581
jogadas que as 144 partidas exigiram. E embora o resultado mostrasse Kasparov como
vencedor (ele venceu 3 matchs, um foi empate e o restante foi suspenso), o
placar final refletiu a paridade de suas forças e talentos: Kasparov venceu 21
jogos, perdeu 19 e empatou 104. Lá havia apenas dois pontos entre a glória e o
inferno.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">As
causas da emoção provocada pelo duelo entre os 2K mais poderosos do mundo do
xadrez, que convocou mais de 300 jornalistas credenciados de 70 países para sua
cobertura, e atraiu mais de 200 milhões de seguidores na TV, foi o produto do
interesse que suscitou não só o choque entre duas formas díspares de entender o
xadrez (Karpov um formidável estrategista e Kasparov um exímio tático), mas
também devido ao confronto de dois modelos concorrentes de uma sociedade.
Embora ambos fossem ídolos das massas na URSS, representavam dois símbolos
ideológicos antagônicos: a velha guarda (Karpov), a perestroika e a glasnost
(Kasparov).<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">A
história deste jogo conhece lendas construídas sobre diferenças pessoais que
foram resolvidas por meio de um jogo; Mergulhando em seus quinze séculos de
história documentada, na Idade Moderna, espanhóis com italianos e franceses
contra ingleses lutaram por algo mais do que a supremacia de um reino de
xadrez. No século XX, as partidas entre Capablanca e Alekhine (dois rivais
ferrenhos, em Buenos Aires, em 1927), Fischer e Spassky (em tempos de guerra,
na Islândia, em 1972), e Karpov e Korchnoi (campeão soviético contra um
desertor do regime, em Baguio e Merano, em 1978 e 1981) levaram suas disputas
além do limite das 64 casas, mas nenhuma com a magnitude e perenidade do embate
entre os 2K; rivais extremos, com padrinhos poderosos no Kremlin e com um estado
determinado a ocupar o centro do palco.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">É
que Anatoly Karpov, Tolia como seus parentes o batizaram, nascido em 23 de maio
de 1951, em Zlatoust (perto dos Urais) filho de uma família humilde de
trabalhadores que alcançou o título de economista na Universidade de Moscou, e
como afiliado foi deputado e presidente do Fundo Soviético para a Paz, foi o
ideal do regime; Ele foi o jovem "escolhido" para recuperar a coroa e
a hegemonia soviética no mundo do xadrez após a queda de Spassky contra o
americano Bobby Fischer. Por esta razão, quando Fischer foi destituído do
título devido a desentendimentos com a FIDE, Karpov se estabeleceu como o
décimo segundo campeão mundial e por dez anos (1975-1985) foi o melhor jogador
de xadrez do mundo: defendeu com sucesso o título por duas vezes, em 1978 e
1981 contra o mesmo rival (Víktor Korchnoi), durante uma década foi o número 1
do ranking, e seu cartel ostentava a conquista de mais de 150 torneios
internacionais. Mas você sabe, toda calmaria é precedida por uma grande
tempestade.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Os
sismógrafos de Baku (capital do Azerbaijão) registraram, talvez como um sinal
da natureza, um pequeno terremoto em 13 de abril de 1963; dia do nascimento de
Harry Weinstein; filho de Kim (engenheiro judeu) e Clara Shagenovna (engenheira
armênia). A morte prematura de Papa Kim, em 1971, obrigou Clara a se tornar mãe
solteira; sacrificou a carreira (especializando-se em armas automáticas) e
dedicou-se com esmero à educação do filho único, que tinha um dom especial para
o xadrez. Preparou-se para correr atrás de um futuro: transformar o menino em
campeão mundial.</span></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLeXY41BWtOPNCh3GtrMBOu-AUHapXEXLoz8zlGGC-Yse6A1949Ftn-5iV_sdndLrqK6xynTqgTKBG3rJJA9h5oR7jsx82qcYcFwTXHC5DqlfpeSu8YxA5Iuww9u4F27JR8Lx9SClr3PdaliS5exx50_vT3ZXhXhlw0z1yPKjkTw6P7_74XD0cmAICoA/s800/Karpov%20vs%20Kasparov%2002.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="485" data-original-width="800" height="194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLeXY41BWtOPNCh3GtrMBOu-AUHapXEXLoz8zlGGC-Yse6A1949Ftn-5iV_sdndLrqK6xynTqgTKBG3rJJA9h5oR7jsx82qcYcFwTXHC5DqlfpeSu8YxA5Iuww9u4F27JR8Lx9SClr3PdaliS5exx50_vT3ZXhXhlw0z1yPKjkTw6P7_74XD0cmAICoA/s320/Karpov%20vs%20Kasparov%2002.jpg" width="320" /></a></b></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Desde
que começaram a competir em 1984, Kasparaov e Karpov envelheceram se
enfrentando por causa do xadrez e da política. Hoje são requisitados para
palestras e apresentações em diversas partes do mundo.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Dado
o anti-semitismo predominante nos escalões superiores do poder, Clara decidiu
mudar o nome do filho para um com fonética russa. Adotei o sobrenome do avô
materno e assim, Harry Weinstein tornou-se Garry Kasparov. Em seguida, ele o
acompanhou até a escola de xadrez do Palácio dos Pioneiros em Baku (lá o menino
teve Oleg Privoretsky como seu primeiro professor).<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
talento, o sacrifício, o estudo ou tudo junto fizeram Garry aos 11 anos chamar
a atenção dos especialistas; Deram-lhe uma bolsa para viajar e estudar três
vezes por ano em Moscou, com Mikhail Botvinnik (pai do xadrez soviético). Aos
12, na Geórgia, Kasparov venceu o campeonato soviético júnior contra rivais de
18 anos. E, no ano seguinte, em 1977, na Letônia, repetiu o feito. Aos 15,
classificou-se para o torneio de ponta da URSS (terminou em 9º entre 20
jogadores), e aos 16 venceu o primeiro torneio no exterior, em Banja Luca
(Iugoslávia), vencendo Andersson, Smejkal e Petrosian por dois pontos. Em 1980,
aos 18 anos, sagrou-se campeão mundial júnior (em Dortmund), e um ano depois
obteve o título de grande mestre. Aos 20 anos, ele já era uma ameaça ao reinado
de Karpov, e as autoridades soviéticas tomaram nota disso.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Assim
começaram as aventuras do jovem Kasparov para viajar ao exterior e participar
das eliminatórias para a Copa do Mundo. Sem rodeios ou eufemismo, a resposta
veio do chefe do departamento de xadrez do Comitê de Esportes, Nikolai Krogius:
“No momento, a URSS tem um campeão mundial e não precisamos de outro”. Como bom
enxadrista, Kasparov entendeu o jogo e começou a jogar com Mikhail Gorbachev,
Alexander Yakoviev e Heydar Aliyeb (presidente do Azerbaijão e membro do
Politburo soviético); Militou a favor da perestroika e da glasnost e ergueu as
"bandeiras da mudança" contra a burocracia do antigo regime. Assim
obteve o apoio político necessário: em 1982, Kasparov venceu a Interzonal de
Moscou, e em 1983 derrotou todos os candidatos: Beliavsky, Korchnoi e Smyslov. Em
1984, aos 21 anos, foi proclamado desafiante ao título de Karpov.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
Primeiro match, 1984<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
duelo foi marcado para 10 de setembro, no Salão das Colunas dos Sindicatos de
Moscou; o regulamento indicava que os empates não tinham valor e seria
declarado vencedor aquele que primeiro obtivesse seis vitórias; Seria jogado
sem limites de jogo. Para compreender o que ali se passava, talvez seja preciso
lembrar que o xadrez, o teatro e o circo eram o orgulho nacional de um Estado
que também considerava este antigo jogo como sinal de inteligência superior do
cidadão soviético em relação ao homem ocidental.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">A
grande expectativa para o match desencadeou um clima de inquietação do qual os
próprios protagonistas não conseguiram escapar. A tranquilidade e experiência
de Karpov, de 33 anos, contrastavam com o ímpeto avassalador de Kasparov, de
21. Talvez por isso, após 9 jogos, o campeão já vencia por 4 a 0, sendo que na
27ª partida somou a quinta vitória; Ele só precisava de mais um ponto para
manter o título e vencer o rival por "bater". Mas Karpov e sua
comitiva confundiram desejo com propósito. Seu próprio ego os devorou.</span></b></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><br /></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1gUw5I9ppWJptiI-vfXu2uJEFXyCDE_npPjyPMf2h9FdUbmP3tAhDrNE-6bUrAII1IF1OKY1mGlQ4M0buMy76wh5cQuZmb8ytze9AdTp78fFJFLjBcMZ7be5lgeOwpx9hS0dQvI3VKA6x2H-xgtUTr44i_zYS5c4xh0gJKHRDUL588NVqrmaiURbItA/s800/Karpov%20vs%20Kasparov%2003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="545" data-original-width="800" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1gUw5I9ppWJptiI-vfXu2uJEFXyCDE_npPjyPMf2h9FdUbmP3tAhDrNE-6bUrAII1IF1OKY1mGlQ4M0buMy76wh5cQuZmb8ytze9AdTp78fFJFLjBcMZ7be5lgeOwpx9hS0dQvI3VKA6x2H-xgtUTr44i_zYS5c4xh0gJKHRDUL588NVqrmaiURbItA/s320/Karpov%20vs%20Kasparov%2003.jpg" width="320" /></a></b></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Dois
campeões com o ex-presidente De la Rúa. Víctor Korchnoi e Anatoly Karpov em uma
de suas visitas a Buenos Aires. Cortesia: Carlos Ilardo<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Em
0-5, Kasparov e sua equipe estavam à beira do abismo; Só um milagre poderia
salvá-los... Foi quando o velho professor, Mikhail Botvinnik, apareceu em cena,
e o sábio patriarca se aproximou dele e aconselhou: “Garry, você não tem nada a
provar; jogar para não perder; sua resistência física é maior que a de
Karpov." A oração agiu como um bálsamo e a história mudaria para sempre.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Depois
de quatro empates chatos, Kasparov alcançou sua primeira vitória (no jogo 32),
e depois de mais 14 empates, somou duas vitórias consecutivas (jogos nº 46 e
47). 159 dias após o início da partida, o placar estava aberto: 5 a 3. Foi
então que o filipino Florencio Campomanes, presidente da FIDE (cargo que ocupou
com o aval político da federação soviética), foi chamado com urgência da Praça
Vermelha; os reitores do Comitê de Esportes da URSS e o presidente da federação
de xadrez, o ex-cosmonauta Vitaly Sebastianov o persuadiram: “o campeão é
fraco; o match não pode continuar”.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">No
dia seguinte, 15 de fevereiro de 1985, em uma das datas mais sombrias do
calendário enxadrístico, Campomanes suspendeu o match. Em conferência de
imprensa, no hotel Sport, defendeu as suas razões com base no desgaste físico
dos jogadores e que ambos concordaram com a decisão. Kasparov levantou-se
rapidamente de seu assento, pegou o microfone (seu áudio foi cortado várias
vezes) e negou na hora. A cerimônia terminou em escândalo e o New York Times
publicou um editorial sobre ela.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><b><span style="color: #0c343d;">O duelo foi batizado de "aquele que
nunca existiu" e um novo match foi marcado, com o placar de 0 a 0, com
limite de 24 jogos, a partir de 3 de setembro de 1985, na Sala de Concertos
Tchaikovsky. Karpov receberia dois benefícios: em caso de empate em 12,
continuaria como campeão e, em caso de derrota, receberia uma revanche no ano
seguinte.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><b><span style="color: #0c343d;">[Kasparov foi beneficiado com o 0 a 0,
anulando duas vitórias de vantagem de Karpov]<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
segundo match, 1985<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Novamente
com o início, os nervos e as tensões dispararam para as estrelas; os olhos dos
cinco continentes foram depositados em cada um dos jogos. A primeira partida
foi um aprendizado rápido para os mais jovens, agora a figura corada de Kasparov
contrasta com um Karpov abatido. E após 23 partidas, Kasparov estava com um
ponto de vantagem, mas Karpov lideraria as peças brancas na última partida, na
qual foi forçado a vencer para igualar o match e manter o título. Em 9 de
novembro de 1985, a sala de jogos fervilhava onde se gritavam pedidos de
silêncio. Havia duas facções bem marcadas: os de pele branca e loira, que
respondiam a Karpov, e os de cabelos escuros, armênios e azerbaijanos, que
apoiavam Kasparov. Todos vocês torcendo, Eles estavam unidos por seus olhares
malignos e seus movimentos indomáveis para a imobilidade de uma cadeira. A
luta durou cinco horas, até que Karpov se rendeu. Garry Kasparov levantou os
dois braços e uma explosão de alegria o acompanhou quando ele saiu do palco. Ele
havia vencido por 13 a 11; ele havia se tornado, aos 22 anos, o campeão mundial
mais jovem da história.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_o3zMqH2LUUOEw9YRZpLdmXcaIaBb6VEtcawXLtRq2_NHdwb_-87nRxxymGsVLXxp0XWW8-CXiSC4NLnQMXuChJZWQlyK7H3tlMdHETRRP0YX0vlNXXDxEIc-_SBCtvfmJXb8KhIu7Q2z5KKpMleDzk5oXfrTwxQHlqr1dqI2kZlQW3Am_zACVpu7Cw/s697/Karpov%20vs%20Kasparov%2004.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="697" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_o3zMqH2LUUOEw9YRZpLdmXcaIaBb6VEtcawXLtRq2_NHdwb_-87nRxxymGsVLXxp0XWW8-CXiSC4NLnQMXuChJZWQlyK7H3tlMdHETRRP0YX0vlNXXDxEIc-_SBCtvfmJXb8KhIu7Q2z5KKpMleDzk5oXfrTwxQHlqr1dqI2kZlQW3Am_zACVpu7Cw/s320/Karpov%20vs%20Kasparov%2004.jpg" width="320" /></a></b></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Aos
22 anos, Garry Kasparov conseguiu vencer Karpov e se firmar como o campeão mais
jovem da história.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Yuri
Averbaj, hoje o grande mestre mais velho (99 anos), encerrou seu comentário
sobre a partida com grande pragmatismo: “Kasparov foi um vencedor justo; ele e
o jogo dele cresciam a cada dia, na primeira partida ele começou jogando como
menino, e hoje acabou jogando como homem."<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Na
cerimônia de encerramento, e após receber a coroa de louros, outra mãe, Rhona
Petrosian, viúva do mestre armênio, aproximou-se de Kasparov e sussurrou:
“Tenho pena de você, Garry; O dia mais feliz da sua vida acabou." Kasparov
não recorreu à terapia, mas durante anos lembrou-se dessa frase como o motor de
todos os seus empreendimentos. Eu queria e precisava continuar ganhando porque
queria continuar sendo feliz.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
terceiro match, 1986<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">A
nobreza obriga, no ano seguinte, entre 28 de julho e 8 de outubro, foi jogada a
revanche; o duelo foi celebrado com 12 partidas em Londres (seria a primeira
vez que dois enxadristas soviéticos disputariam o título fora da URSS), e
outras tantas em Leningrado (hoje São Petersburgo).<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
interesse mundial levou a primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher,
a participar da abertura do match. A etapa londrina transcorreu tranquilamente
e o placar favoreceu o campeão por 6,5 a 5,5. Mas na URSS, um boato chegou aos
ouvidos de Kasparov: "Alguém em sua equipe vazou informações para
Karpov".<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Kasparov
e sua mãe Clara, chefe da delegação, suspeitavam de um de seus analistas,
Gennadi Timoschenko, que havia abandonado o cargo durante a fase londrina,
devido a uma suposta ligação do quartel-general do exército em Novosibirsk. Mas
como em Leningrado Kasparov venceu dois jogos e faltam oito jogos, vencendo por
9,5 a 6,5, ele tentou esquecer isso. Porém, seu amigo pessoal e analista-chefe,
Alexander Nikitin, descobriu um de seus colaboradores, Yevgeny Vladimirov,
copiando (ação proibida na equipe) a análise de vários jogos em uma folha de
papel. E embora a princípio tenha sido resolvido com uma chamada de atenção,
quando Karpov venceu três jogos consecutivos, jogos 17, 18 e 19, e empatou o
match em 9,5, "a guerra de espionagem" estourou.</span></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHQc-Z92ovQhZ2vVQ0ABGWSQ6E-4aeYTCnb4MyyJlz2BuJMamC6iAfGrk_po_Ibn4P5F5F-Pj0MByEJ7RtGr24CxPUNuHRIill0nMfwfb9X-LZyTZDXp9E3FNkrGOQlwNAmWmJUqpIMs0Tm2BUHr-CkMmo8hj5rGzQVplTJc6AdqWMOJjFJ10yNgdslA/s800/Karpov%20vs%20Kasparov%2005.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="530" data-original-width="800" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHQc-Z92ovQhZ2vVQ0ABGWSQ6E-4aeYTCnb4MyyJlz2BuJMamC6iAfGrk_po_Ibn4P5F5F-Pj0MByEJ7RtGr24CxPUNuHRIill0nMfwfb9X-LZyTZDXp9E3FNkrGOQlwNAmWmJUqpIMs0Tm2BUHr-CkMmo8hj5rGzQVplTJc6AdqWMOJjFJ10yNgdslA/s320/Karpov%20vs%20Kasparov%2005.jpg" width="320" /></a></b></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Karpov
muda-se com White para Londres, durante o confronto de 1986, a primeira vez que
o fizeram em solo estrangeiro. Margaret Thatcher abriu o match que teve
vantagens extras no xadrez.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Vladimirov
e seu colega de quarto, o professor Iosif Dorfman, foram demitidos do grupo;
ambos foram acusados pelo agente da KGB Victor Litvinov (responsável pela
segurança de Kasparov) de terem sido subornados pela equipe de Karpov. Depois
de vários dias e noites de turbulência, a calma veio quando, a duas partidas do
fim, Kasparov voltou à vitória, e fechou a partida a seu favor por 12,5 a 11,5.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
quarto match, 1987<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Dois
russos disputariam a final do Ciclo de Candidaturas em 1987, Andrei Sokolov
e…Karpov. Em Linares, o ex-campeão mundial se tornou o próximo adversário de
Kasparov. O Teatro Lope de Vega, em Sevilha, seria palco do quarto duelo entre
os dois 2K; Os 24 jogos seriam disputados entre 12 de outubro e 19 de dezembro
de 1987.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
match não teve a qualidade das anteriores, mas teve muita emoção. Os primeiros
incidentes surgiram quando Karpov decidiu contratar um parapsicólogo, Igor
Dadachev, para sua equipe. “Muitas vezes tenho problemas para adormecer durante
os torneios” foi sua única explicação. No bunker de Kasparov relembraram o que
aconteceu há 10 anos, no bizarro match entre Karpov e Korchnoi, nas Filipinas,
e a farsa desencadeada com uma guerra de iogurtes, parapsicólogos e espiões.
Além disso, veio de Moscou a ordem para que o ex-campeão mundial Miguel Tal -
creditado como comentarista da partida - voltasse imediatamente: havia indícios
de que ele trabalhava secretamente para a equipe de Kasparov.</span></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-l399JE6CuGT7xrG1kYu75LCf1Dvw54kaePV2ctO8T4VY83s7V4E5StUG5Ho0HHRMRkJLYXeA8E70oE0LBSbrLzbGEsACKGFQdK8icC9Mn6k-aVhsK77zp5eBZJrSYJDN5cKebJLDjzRCX0mJ4mycj5Lnle-XEhBA_zvKNhBtR0accR31_fvqywCAQA/s800/Karpov%20vs%20Kasparov%2006.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="493" data-original-width="800" height="197" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-l399JE6CuGT7xrG1kYu75LCf1Dvw54kaePV2ctO8T4VY83s7V4E5StUG5Ho0HHRMRkJLYXeA8E70oE0LBSbrLzbGEsACKGFQdK8icC9Mn6k-aVhsK77zp5eBZJrSYJDN5cKebJLDjzRCX0mJ4mycj5Lnle-XEhBA_zvKNhBtR0accR31_fvqywCAQA/s320/Karpov%20vs%20Kasparov%2006.jpg" width="320" /></a></b></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Após
a aposentadoria, Kasparov entrou na política para lutar contra Vladimir Putin.
Ele foi preso e apenas uma pessoa pediu para ir vê-lo: seu eterno rival Anatoly
Karpov.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Após
doze partidas Kasparov vencia por 6,5 a 5,5, mas no 2º tempo Karpov empatou o
duelo (vitória no jogo 16) e venceu a 23ª e penúltima partida. Com apenas um
jogo para o fim, Karpov venceu por 12–11; bastaria um empate para vencer o
duelo e recuperar a coroa.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Tamanho
foi o choque com o resultado do último jogo que a televisão espanhola tirou do
ar a final da Copa Davis (disputada na Suécia), entre a seleção local e a
Índia, para acompanhar ao vivo as movimentações de Kasparov e Karpov; a
transmissão teve 13 milhões de espectadores.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">“Não
havia muito o que fazer ou surpreender o rival; nos conhecíamos bem e não havia
espaço para surpresas”, contou Kasparov em uma de suas visitas a Buenos Aires
sobre o duelo disputado na Espanha. E acrescentou: “Portanto, o mais sensato
era planear um jogo a longo prazo, evitar a troca de peças, manter a tensão
para que o meu adversário consumisse mais tempo no relógio e se conseguisse
pressioná-lo (cumprir com os movimentos regulados em determinado momento)
oferecem maiores dificuldades. Mesmo com o sacrifício de alguma peça. E
funcionou!” Kasparov relembrou rindo.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
jogo 24 começou no dia 18 de dezembro e terminou no dia seguinte. Após 40
lances, e com posição favorável (um peão a mais) para as Brancas (Kasparov), o
jogo foi suspenso e retomado na tarde do dia 19 de dezembro. Demorou mais 24
movimentos para completar antes que Karpov estendesse a mão em abandono.
Kasparov ainda era o rei.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ-njsN0X7ZIg-sEXWi1PtKlg1PzbL-wrKT0FaO16_7Xuq3lJPgDSyLNo_9eJjwT7oyQwTXLIqA0CKgHc2dfHNNAwY016tP1x8QGOuBUWDobb0ArR1ioH3cL3sxyiDoAPYDKJ0oJ0EdDpuMX4ARB4R_vNQ0jgBBgYwcllhWchV7SNYQdktZtdFgjowmQ/s800/Karpov%20vs%20Kasparov%2007.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="473" data-original-width="800" height="189" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ-njsN0X7ZIg-sEXWi1PtKlg1PzbL-wrKT0FaO16_7Xuq3lJPgDSyLNo_9eJjwT7oyQwTXLIqA0CKgHc2dfHNNAwY016tP1x8QGOuBUWDobb0ArR1ioH3cL3sxyiDoAPYDKJ0oJ0EdDpuMX4ARB4R_vNQ0jgBBgYwcllhWchV7SNYQdktZtdFgjowmQ/s320/Karpov%20vs%20Kasparov%2007.jpg" width="320" /></a></b></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
Teatro Lope de Vega, em Sevilha, foi palco do quarto duelo entre os dois 2K; as
24 partidas seriam disputadas entre 12 de outubro e 19 de dezembro de 1987.
(Carlos Ilardo)<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">O
quinto match, 1990<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Em
1990, os 2K ainda estavam em desacordo, mas eram os dois maiores líderes da
atividade. Kasparov venceu tudo o que jogou e ainda ultrapassou a barreira dos
2.785 pontos no ranking estabelecida por Fischer em 1972. Enquanto isso, Karpov
venceu o torneio de candidatos novamente (bateu Timman na final) e pela 5ª vez
desafiaria Kasparov.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span><b style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-indent: 42.55pt;"><span style="color: #0c343d;">Entre
8 de outubro e 7 de novembro de 1990, Karpov e Kasparov se enfrentaram
novamente por 24 partidas (as primeiras doze em Nova York e as seguintes em
Lyon). O Hudson Theatre em Nova York foi o local designado e onde ocorreu o
único conflito. Kasparov recusou-se a jogar sob a bandeira soviética; exigiu
fazê-lo com as cores da Federação Russa. A falta de acordo levou a uma
resolução salomônica: "Joga-se sem bandeiras." E mais uma novidade,
pela primeira vez, as equipes de analistas contaram com o auxílio de
computadores.</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p><b><span style="color: #0c343d;"> </span></b></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">A
primeira fase terminou com um empate em 6 pontos, e a partida foi para o Palais
des Congrès, em Lyon (França). Foram três vitórias para Kasparov e duas para
Karpov; o duelo terminou 12,5 a 11,5, e Kasparov reteve sua coroa pela terceira
vez. O final da partida também marcou o fim de uma era de ouro no xadrez.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Quinze
anos depois, Kasparov, e depois de 20 como o número 1 do mundo, anunciou sua
aposentadoria das competições oficiais. Karpov seguiu caminho próprio, ainda
hoje, perto de completar 70 anos, está na ativa, entre os 183 melhores
jogadores do mundo.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: #0c343d;">Após
a aposentadoria, Kasparov se aventurou na política e criou o partido
"Outra Rússia" para atacar o poder do presidente Vladimir Putin. A
experiência terminou na sombra de luto de uma prisão. Na solidão descobriu os
verdadeiros amigos do campeão. Mas apenas um pressionou as autoridades para
tentar vê-lo. Era Karpov. Talvez eles já se conhecessem tão bem que até Karpov
havia aprendido o bordão de seu arquirrival. "Se não você, quem? A
passagem do tempo os reconciliou e Kasparov nunca se esqueceu disso . “Sinto
que estou em dívida com ele, não apenas por sua atitude de ir para a cadeia,
mas também por me criar. É que sem Karpov nunca teria existido Kasparov”.<o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Fonte:
ttps://www-infobae-com</b><o:p></o:p></span></p>Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-23700058357278678362023-05-24T15:54:00.001-07:002023-05-24T15:54:13.795-07:00Gambito soviético<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4pufSNvrRNaEEHCbqMWEOzu8DI2A-W8wni20PMwM9C7-UBuAbBylSBjxXED7DyW6rFSGan1VMn64UxzMuJrnfg3sw_12z4ZwlleCSx06O7Oz7EwDtmRRvAczlHQcKedSmrqXeDPw7adXCLlIgcvHGLB1rJtLj_kleHTMNplUPS5UeX53xCsj-q54Zeg/s1200/Xadrez%20Sovi%C3%A9tico.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="801" data-original-width="1200" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4pufSNvrRNaEEHCbqMWEOzu8DI2A-W8wni20PMwM9C7-UBuAbBylSBjxXED7DyW6rFSGan1VMn64UxzMuJrnfg3sw_12z4ZwlleCSx06O7Oz7EwDtmRRvAczlHQcKedSmrqXeDPw7adXCLlIgcvHGLB1rJtLj_kleHTMNplUPS5UeX53xCsj-q54Zeg/s320/Xadrez%20Sovi%C3%A9tico.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p style="text-align: center;"><b><span style="color: red; font-size: large;">Gambito soviético: a hegemonia dos</span></b></p><p style="text-align: center;"><b><span style="color: red; font-size: large;"> comunistas no xadrez</span></b></p><p style="text-align: center;"><b><span style="color: red; font-size: large;">Data: 27/02/2021</span></b></p><p><br /></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Se o futebol transformou o Brasil na “pátria de chuteiras”, o xadrez fez da ex-União Soviética a terra do tabuleiro. Mas verdade seja dita: antes mesmo da Revolução de 1917, os russos já nutriam uma paixão secular pelo xadrez, anterior até à tricentenária dinastia da Casa Romanov (1614-1917).</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Ivan, o Terrível, estava jogando uma partida quando um derrame o matou, em 1584. A Condessa de Stroganoff – da família que deu nome ao prato – organizou um duelo entre a imperatriz Catarina 2ª e o rei sueco Gustavo 4º em 1796. Detalhe: era xadrez gigante, com peças humanas.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Em uma foto de 1908, o líder bolchevique Vladimir Lênin joga uma partida com seu “camarada” Alexander Bogdanov, autor de ficção científica e médico pioneiro da transfusão sanguínea. Eles estão na casa do célebre escritor Maxim Gorki, na Itália. Lênin (que, segundo Gorki, acusava o xadrez de ser viciante, mas não escondia a irritação ao perder) recorreu ao jogo até em seu exílio de três anos na Sibéria antes da Revolução Russa: os movimentos das peças iam e voltavam por correspondência.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">O xadrez surgiu a partir de um jogo indiano do século 6, chamado chaturanga – que tinha um elefantinho no lugar do bispo. Chegou aos persas, espalhou-se pela Ásia e entrou na Rússia pela Sibéria no século 9. Deu match com o temperamento russo e virou o passatempo preferido da aristocracia imperial. Mas só caiu de vez no gosto do povo séculos depois, quando foi amplamente disseminado pelos soviéticos.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Alexander Ilyin-Genevsky foi o primeiro bolchevique a incentivar o xadrez como uma atividade útil aos revolucionários. Com suporte financeiro do Estado de cem mil rublos – o primeiro patrocínio estatal para o jogo –, ele organizou o primeiro campeonato soviético de xadrez na década de 1920. Genevsky iniciou também uma coluna de xadrez em um jornal e abriu um clube para enxadristas financiado pelo Estado.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Foi Nikolai Krylenko, de todo modo, quem efetivamente transformou o xadrez em um instrumento estatal. Fiel aliado de Lenin, Krylenko foi presidente da primeira federação soviética de xadrez. Sob seu comando, foi organizado o Torneio de Xadrez de Moscou de 1925 e fundada a revista 64, do qual era editor.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Após a União Soviética abrir mão de participar da fundação da Federação Internacional de Xadrez, a Fide, em 1924, na França, o governo comunista passou a patrocinar outras competições internacionais. Mais tarde, esses torneiros viriam a qualificar Mikhail Botvinnik como principal jogador do regime e possível desafiante ao título mundial.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Na década de 1940, jogadores soviéticos começaram a se destacar em competições e venceram uma série de matches, via rádio, contra a equipe dos Estados Unidos e Reino Unido. Nikolai Krylenko, influente assessor de Stálin, disse: “Vamos organizar brigadas de choque de jogadores – e começar um plano quinquenal”. A ideia era a de que um jogo lógico e racional – o favorito do alemão Karl Marx, diga-se – demonstrasse a superioridade intelectual da União Soviética sobre os países capitalistas.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Ao contrário de determinados jogos ou esportes, o xadrez tem baixíssimo custo: as peças podem ser fabricadas em larga escala, e a única infraestrutura necessária é uma mesa. Além disso, a população já nutria alguma simpatia pelo tabuleiro alvinegro, e havia um herói nacional recente para exaltar: Mikhail Chigorin, que esteve no top 5 mundial no final do século 19 e batizou vários lances. Logo, o xadrez foi incorporado ao treinamento de todos os recrutas das Forças Armadas.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">“O Partido Comunista acreditava que o xadrez poderia ser de grande utilidade para elevar o nível cultural das massas trabalhadoras”, escreveu o historiador Michael A. Hudson. “O encorajamento oficial fez do xadrez um componente cultural significativo na vida dos cidadãos.” Stálin, em particular, estimulou a propagação do jogo.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">O Campeonato Soviético, disputado de 1920 a 1991, era, sem dúvida, a mais forte das competições nacionais de xadrez. Todo esse incentivo rendeu frutos em 1948, quando Botvinnik venceu o primeiro Campeonato Mundial organizado pela Fide. Era o início do domínio soviético na competição masculina: todos os campeões das duas décadas seguintes eram de lá. Além disso, de 1950 a 1984, a União Soviética organizou todas os campeonatos mundiais femininos, que sempre tiveram campeãs do país.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">A hegemonia era tanta que, em 1970, houve o “Match do Século” entre enxadristas da União Soviética e jogadores do resto do mundo – “grandes mestres de todos os países, uni-vos contra os soviéticos”. Além de Botvinnik e de Boris Spassky – que detinha o título mundial desde 1969 –, os comunistas foram ao confronto com outros três ex-campeões mundiais: Tigran Petrosian, Vasily Smyslov e Mikhail Tal. No final, os soviéticos levaram a melhor por 20,5 x 19,5.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Só que o equilíbrio na disputa apontava para o crescimento dos rivais. “Ganhamos, mas há algumas razões para preocupação”, resumiu o “mago de Riga”, Mikhail Tal, um dos maiores enxadristas soviéticos. “Por que, aparentemente, os jogadores estrangeiros estão progredindo mais rapidamente? Por que a idade média dos adversários também é menor que a da nossa equipe nacional? Por que houve apenas um torneio de xadrez realmente forte na União Soviética nos últimos anos?”.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Os EUA, do outro lado da Guerra Fria, nem sequer conseguiam chegar à fase final dos Campeonatos Mundiais. Vontade de provocar os soviéticos não faltava. Faltava tradição mesmo. A sorte ianque só começou a mudar em 1972, com Bobby Fischer, único norte-americano a se sagrar campeão mundial de xadrez, ao vencer Boris Spassky.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Como no gambito – uma das jogadas mais populares da atualidade, graças à série O Gambito da Rainha –, houve sacrifícios na escola soviética. A derrota de Spassky para Fischer acelerou a transição da lendária “geração Mikhail” – aquela liderada por Mikhail Botvinnik e Mikhail Tal, entre outros – para a última safra de expoentes do xadrez no país comunista. O próprio Spassky caiu no ostracismo e abandonou o país, indo morar na França.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Em 1975, Fischer se recusou a defender seu título e acabou por perdê-lo – o desafiante soviético Anatóli Karpov se sagrou campeão mundial sem precisar jogar. A transição estava consolidada. Nove anos depois, em 1984, o Resto do Mundo voltou a enfrentar a União Soviética. Mais uma vez, a vitória foi comunista: 21 a 19. Sinal dos tempos, a equipe soviética agora tinha Karpov, Garry Kasparov e cia.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Um, Karpov, era militante e chegou a se eleger deputado pelo Partido Comunista. O outro, Kasparov, foi o mais dissidente dos soviéticos que se tornaram campeões mundiais. O contraste entre ambos simbolizava os anos finais do país que emergiu com a Revolução de 1917 e que valorizou o xadrez mais do que qualquer outra nação. Com a queda do regime, em 1991, a Rússia continuou a formar grandes mestres – mas nada que se equiparasse aos históricos e longevos anos da hegemonia soviética.</span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></p><p><b><span style="color: #0c343d;">Com informações da SuperInteressante e de agências</span></b></p><p><br /></p><p><b>Fonte: https://pcdob.org.br/noticias/gambito-sovietico-a-hegemonia-dos-comunistas-no-xadrez</b></p><div><br /></div><p> </p>Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-88403547427507259272018-03-10T07:00:00.001-08:002018-03-10T07:00:09.796-08:00SAN SEBASTIAN, 1911<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-y4ST69zDWC0/WqPqqMLmROI/AAAAAAAAYCY/YeO202yZVj8ol7Kvq3wBlIv-1gGNpDwYACLcBGAs/s1600/San%2BSebastian%2B1911%2B001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="507" data-original-width="833" height="194" src="https://2.bp.blogspot.com/-y4ST69zDWC0/WqPqqMLmROI/AAAAAAAAYCY/YeO202yZVj8ol7Kvq3wBlIv-1gGNpDwYACLcBGAs/s320/San%2BSebastian%2B1911%2B001.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="color: #20124d;">San Sebastián 1911<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="color: #20124d;">O torneio que mudou o xadrez<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-bRk1UEYIA6A/WqPqo4D3w5I/AAAAAAAAYCU/UtPFYFeCoJAHeWoLPsiu8750wkkidEtsQCLcBGAs/s1600/San%2BSebastian%2B1911%2BCasino.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="489" height="196" src="https://2.bp.blogspot.com/-bRk1UEYIA6A/WqPqo4D3w5I/AAAAAAAAYCU/UtPFYFeCoJAHeWoLPsiu8750wkkidEtsQCLcBGAs/s320/San%2BSebastian%2B1911%2BCasino.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p><b><span style="color: #20124d;"> </span></b></o:p></span><b style="font-family: Arial, sans-serif; text-indent: 1cm;"><span style="color: #20124d;">Casino de San Sebastian</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; text-indent: 1cm;"><span style="color: #20124d;">agora é a
prefeitura da cidade</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; text-indent: 1cm;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-Ty14VEaJoGU/WqPq4BDcx3I/AAAAAAAAYCg/moHgmzgxVuUEpUvz66bbYFuVQK6-vl7gACLcBGAs/s1600/San%2BSebastian%2B1911%2BCasino.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="1024" height="240" src="https://3.bp.blogspot.com/-Ty14VEaJoGU/WqPq4BDcx3I/AAAAAAAAYCg/moHgmzgxVuUEpUvz66bbYFuVQK6-vl7gACLcBGAs/s320/San%2BSebastian%2B1911%2BCasino.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="color: #20124d;"></span></b></div>
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="font-size: x-small;">(Autor: Javier Cordero Fernández - ©
Attack Chess )</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">O xadrez do final do século XIX e
início do século XX era muito diferente do que é hoje, estava longe de ser um
esporte profissional e os mestres, os principais atores da função, passaram
mais dificuldades do que alegrias. Mas essa situação, que ocorria há décadas, iria
começar a mudar no final do inverno de 1911.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Muitos jogadores exigiram melhores
condições para os mestres nos torneios, começando com o campeão mundial Emanuel
Lasker, que estava aterrorizado na possibilidade de terminar seus dias como
Steinitz (o campeão austríaco passou o fim de sua vida vivendo em caridade e
faleceu esquecido por todos). Foi em San Sebastian, onde uma tentativa foi
feita para transformar esta situação triste, oferecendo as condições dos
participantes que não tinham sido vistas anteriormente. A organização de San
Sebastian decidiu pagar a viagem e a estadia para todos os mestres, um novo
detalhe que foi realizado pela primeira vez em um torneio internacional. A
premiação foi de grande importância em quantidade, embora não no número de
prêmios. Estes foram os prêmios destinados aos primeiros classificados:<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #b45f06;">1º: 5.000 francos do ouro<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #b45f06;">2º: 3.000 francos do ouro<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #b45f06;">3º: 2.000 francos do ouro<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #b45f06;">4º: 1.500 francos do ouro</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Além disso, todos os mestres não
classificados entre os 4 primeiros seriam pagos entre 80 e 100 francos de ouro
por cada ponto ganho durante o torneio. Finalmente, Albert Von Rotschild, grande
mecenas do xadrez da época, doou 500 francos de ouro destinados a recompensar o
jogo mais bonito.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">A organização enviou convites para 17 mestres,
que não foram escolhidos aleatoriamente porque eram, de acordo com os
organizadores, os melhores do mundo. A resposta dos jogadores foi um sucesso
sem precedentes, 15 deles aceitaram a proposta, apenas Atkins e Lasker se
recusaram a jogar em San Sebastian. A perda de Lasker era importante, já que
era o atual campeão mundial, mas obter um elenco similar de jogadores juntos
foi um sucesso surpreendente, especialmente devido às dificuldades que
existiram para organizar viagens naquela época.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Os jogadores chegaram a Donostia [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">San Sebastián (em espanhol) ou Donostia (em
basco), oficialmente Donostia/San Sebastián, é uma cidade espanhola localizada
no País Basco espanhol, capital da província de Guipúscoa.</i>] vários dias
antes da primeira rodada. Nos quartos do hotel onde ficavam, podiam ser vistas
reunião, conversando sobre xadrez e, alguns deles, começando sua guerra
psicológica particular. Lembre-se que o xadrez da época era especial, muito
diferente do que conhecemos hoje. Os jogadores inovaram nas aberturas e
mantiveram disputas em revistas e jornais sobre a supremacia de suas ideias.
Portanto, qualquer momento foi bom para minar a moral do rival.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">A desses dias anteriores ao torneio,
há uma anedota que mostra perfeitamente o caráter de seus dois protagonistas:
Schlechter e Nimzowitsch. Schlechter era uma pessoa de bom caráter, sempre
gentil, e é por isso que ele tentou aconselhar Nimzmowitsch. Quem naquela época
não tinha muita experiência em torneios internacionais: "Como você veio
participar deste grande torneio? Existem apenas 4 prêmios e, além de Tarrasch e
Rubinstein, existem outros jogadores muito fortes" . Depois disso, ele
recomendou que ele participasse do torneio em San Remo, que foi realizada ao
mesmo período que San Sebastian, onde, de acordo com Schlechter, ele teria mais
oportunidades para vencer (mesmo assim, a competição em San Remo também era
importante: Reti, Gunsberg , Przepiorka ou Fahrni). A resposta de Nimzmitsitsch
foi franca: "Eu vou ficar aqui, mestre Schlechter, quero lutar e lutarei
com todas as minhas forças".<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-FwT92tEh17U/WqPtjqkDVII/AAAAAAAAYC0/3tfjSsVqxecAtBaF6G-LtdLJ05KP5EBvgCLcBGAs/s1600/capablanca-1024x535.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="535" data-original-width="1024" height="167" src="https://2.bp.blogspot.com/-FwT92tEh17U/WqPtjqkDVII/AAAAAAAAYC0/3tfjSsVqxecAtBaF6G-LtdLJ05KP5EBvgCLcBGAs/s320/capablanca-1024x535.png" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; text-indent: 1cm;"><span style="color: blue;">José Raúl Capablanca, o grande
protagonista</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">José Raúl Capablanca tinha apenas 22
anos quando chegou a Donostia. Sua carreira no mundo do xadrez tinha sido quase
nula devido à sua longa permanência nos Estados Unidos para buscar estudos de
engenharia. De qualquer forma, Capablanca mostrou seu talento ao ganhar um
match amistoso contra Juan Corzo (o jogador mais forte de Cuba) quando ele
tinha apenas 12 anos e derrotando Frank James Marshall em uma partida
individual (15-8).<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">A organização do torneio impôs uma
condição ao escolher os participantes: ter alcançado pelo menos dois quartos
lugares em torneios internacionais nos últimos 10 anos. Como é lógico,
Capablanca não cumpriu essa condição devido à sua inatividade e juventude;
Apesar disso, a organização decidiu convidá-lo, com bom senso, pela sua
impressionante vitória contra Marshall. Esta decisão chateou alguns dos mestres
participantes, especialmente Ossip Bernstein e Aaron Nimzowitsch, que
expressaram publicamente seu desencanto.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Certamente, o talento de Capablanca havia
permanecido escondido e não podemos nos surpreender que ele não constasse entre
os favoritos para o triunfo final em San Sebastian. Mas o cubano mostrou sua
personalidade esmagadora e, apesar de sua preparação teórica quase nula, ele
mostrou um jogo cheio de sutilezas posicionais, como fez ao longo de sua
carreira.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">O destino fez com que Capablanca
enfrentasse Bernstein na primeira rodada... Era uma ocasião ideal para o cubano
colocasse as coisas em seu devido lugar e ele fez. Eram tempos de "batalhas
de xadrez", as quais foram resolvidas no tabuleiro, um esporte de
cavalheiro que pouco permanece hoje. Capablanca varreu seu rival do tabuleiro, partida
pela qual ele recebeu o prêmio de beleza do torneio:<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Um supermotivado Capablanca jogou com
grande energia nessa partida, fazendo um sacrifício de peões que lhe permitiu
atacar com força o rei inimigo. Capablanca começou a mostrar seu talento para o
mundo, uma maneira natural e única de jogar que o faria coroar os picos mais
altos de xadrez. Graças a este triunfo, ele recebeu os 500 francos de ouro do
prêmio de beleza, que poderia ter caído sobre Janowski, que jogou
brilhantemente na 5 ª rodada, curiosamente antes de Capablanca, mas quando ele
tinha o cubano nas cordas ele não conseguiu encontrar o caminho certo que levou
à vitória e acabou perdendo.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Se há partidas que marcaram a história
do xadrez, esta, sem dúvida, é uma delas, tanto pela importância do torneio
como pela vingança da vitória. Tudo isso alcançado por um jogador jovem e
inexperiente, que mostrou uma grande personalidade para não se sentir
intimidado por rivais bronzeados em mil batalhas e eram verdadeiros
especialistas em devorar o oponente que mostrava algum tipo de fraqueza.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Após este jogo, Bernstein sempre se
sentiu complexado diante de Capablanca, a quem ele nunca conseguiu derrotar
(não há muitos jogadores a quem Bernstein, apesar de não ser um jogador
profissional, não conseguiu vencer). Sempre que se enfrentavam a tensão estava
presente no tabuleiro, embora se deva dizer que isso aconteceu em algumas
ocasiões: 3 vitórias para Capablanca e um jogo terminado em empate.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-I9mAzH3U9B8/WqPuVyP6AHI/AAAAAAAAYC8/KDIjuXgwxUASDV1fxmPkpgjzp1VAhmTBgCLcBGAs/s1600/San%2BSebastian%2B1911%2B002.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="307" data-original-width="550" height="178" src="https://4.bp.blogspot.com/-I9mAzH3U9B8/WqPuVyP6AHI/AAAAAAAAYC8/KDIjuXgwxUASDV1fxmPkpgjzp1VAhmTBgCLcBGAs/s320/San%2BSebastian%2B1911%2B002.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="color: blue;">Assim
foi o torneio</span></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Em San Sebastian, os organizadores
tinham a clara visão sobre a importância do momento em que viviam e, por essa
razão, eles queriam cuidar de todos os detalhes. Portanto, eles procuraram um
diretor de torneio que tinha experiência em competições de xadrez e o escolhido
foi Jacques Mieses, um jogador profissional que teve uma longa carreira e que
conhecia em profundidade como deveria ser um torneio por dentro e, acima de
tudo, como lidar com isso. Sobre tudo, como tratar os mestres, uma vez que não é
um segredo que nenhum deles tinha um caráter algo irracional.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">O ritmo do jogo escolhido era curioso,
mais semelhante aos torneios atuais do que aos antigos, com a inclusão de jogos
adiados. Foi estipulado que seria jogado nas segundas, terças, quintas e
sextas-feiras, deixando o resto dos dias para a disputa dos jogos adiados. A
programação foi invariável, das 13:30 às 18:45, com 2 horas e 30 minutos para
45 peças. Além disso, o desempenho de um mínimo de 15 lances por hora teve que
ser rigorosamente cumprido. Com este ritmo de jogo, havia a possibilidade de
que os jogos fossem muito longos, o que aconteceu na primeira rodada, onde
Duras e Janowski estiveram jogando por quase 20 horas e 161 movimentos.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p><b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-H1KIfKi80fA/WqPvH4sriSI/AAAAAAAAYDI/KPonSZctPpAezEeQqYucOP-DZpkgq8MpQCLcBGAs/s1600/San%2BSebastian%2B1911%2B003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1173" data-original-width="1600" height="234" src="https://2.bp.blogspot.com/-H1KIfKi80fA/WqPvH4sriSI/AAAAAAAAYDI/KPonSZctPpAezEeQqYucOP-DZpkgq8MpQCLcBGAs/s320/San%2BSebastian%2B1911%2B003.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="color: blue;">Foto do torneio com todos os jogadores</span></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">O triunfo de Capablanca não foi fácil,
a oposição demonstrada por Rubinstein (no auge de sua carreira) e por Vidmar
foi terrível. Tarrasch fez um ótimo começo para o torneio, mas deflacionou após
uma perda inesperada para Teichmann. Apesar disso, Capablanca dominou o torneio
do início ao fim e apenas Rubinstein conseguiu derrotá-lo. Realmente, este foi
um torneio com grandes semelhanças com os atuais, com uma grande proliferação
de jogos finalizados em empates, talvez devido ao nível similar de todos os
participantes. A teoria das aberturas estava começando a consolidar-se, o que
também poderia influenciar a igualdade dos jogos para jogar linhas mais sólidas
do que as usadas apenas alguns anos atrás.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">A vingança de Capablanca não terminou
com a vitória sobre Bernstein, já que também deu uma boa conta de seu outro
detrator, Aaron Nimzowitsch, ao qual derrotou na oitava rodada depois de
conseguir controlar um forte ataque realizado pelo jogador dinamarquês. Mas a
liquidação de contas com a Nimzowitsch foi mais longe. Durante uma das pausas,
Bernstein e Nimzowitsch estavam jogando partidas rápidos, o jovem Capablanca se
aproximou e fez uma observação em uma das posições, a que Nimzowitsch, um tanto
aborrecido, respondeu: "não deveria interferir nos nossos jogos, já que
somos mestres de renome e você nem é um mestres". Capablanca reagiu com
coragem e pediu a Nimzowitsch que jogasse alguns jogos rápidos com ele, em que,
obviamente, ele teve vitória de forma convincente. Nimzowitsch deu muito ao
xadrez, ovas ideias e um método que foi seguido por muitos jogadores e fãs,
mas seu ego, sem dúvida excessivo, turvou sua carreira.</span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; text-indent: 1cm;"><span style="color: #20124d;">Falar sobre o torneio de San Sebastian
sempre deve ser associado ao nome de Capablanca. Foi sua primeira aparição em
xadrez de elite e seu desempenho foi estelar. Uma estrela nasceu, algo que foi
confirmado com anos de grandes triunfos. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; text-indent: 1cm;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; text-indent: 1cm;"><span style="color: #20124d;">Além do torneio principal, outras
atividades paralelas foram organizadas, como um torneio amador. Os prêmios
deste torneio foram mais modestos que os do principal: um troféu de prata para
o vencedor e objetos de arte para os primeiros 4 classificados. Um dos
participantes foi o alemão A. Hallgarten, um grande fã de xadrez.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Javier Cordero Fernández (16 de março
de 2011)<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Fonte: http://www.ajedrezdeataque.com<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p><b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="color: red; font-size: x-small;">>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>><o:p> </o:p></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="color: #20124d;">Segundo
artigo com uma partida de Capablanca</span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="color: #20124d;"><br /></span></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-RACDDqBU-Tk/WqPwgyUw3sI/AAAAAAAAYDU/a2C3Gj2Fc2sqZV1wzc8hO-oRa16cIYTWQCLcBGAs/s1600/GM_Zenon.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="897" data-original-width="960" height="299" src="https://3.bp.blogspot.com/-RACDDqBU-Tk/WqPwgyUw3sI/AAAAAAAAYDU/a2C3Gj2Fc2sqZV1wzc8hO-oRa16cIYTWQCLcBGAs/s320/GM_Zenon.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; text-indent: 1cm;"><span style="color: #20124d;">GM Zenón Franco Ocampos (Paraguai)</span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d; font-size: x-small;">O original foi publicada em 26/mar/2013
no jornal ABC Color. Assunção Paraguai<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="color: #20124d;"><br /></span></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-KqZ9Kb2nC3c/WqPw-gVLi3I/AAAAAAAAYDY/faIJwy_i4TcoqUlQGjnpbhSJcnMHD5ykQCLcBGAs/s1600/san_sebastian_casino.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="470" height="136" src="https://3.bp.blogspot.com/-KqZ9Kb2nC3c/WqPw-gVLi3I/AAAAAAAAYDY/faIJwy_i4TcoqUlQGjnpbhSJcnMHD5ykQCLcBGAs/s320/san_sebastian_casino.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="color: red;">Jogos
memoráveis (104)</span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="color: red;">José
Raúl Capablanca vs. Ossip Bernstein, San Sebastián 1911</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">A vitória de Capablanca sobre Marshall
em 1909 foi uma grande surpresa, na Europa ele era um desconhecido e todos
queriam saber mais sobre ele. Sua estreia europeia seria em Hamburgo em 1911,
mas problemas de saúde impediram que ele participasse. Em janeiro de 1911,
Capablanca ganhou um torneio em Nova York, enquanto isso a realização do Torneio
de San Sebastian foi anunciada em fevereiro e março de 1911, um dos torneios
mais fortes da história.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Foi organizado por Jacques Mieses e os
17 melhores jogadores de xadrez do momento foram convidados, 15 aceitos, a
ausência mais destacada foi a do campeão mundial, Emanuel Lasker.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Não houve jogador de espanhol, então, de
último hora, Capablanca foi convidado, mas não antes de consultar os
participantes, caso houvesse objeções, já que Capablanca ainda não havia obtido
os triunfos nos torneios que deveriam ser convidados. Mieses argumentou que um
triunfo sobre Marshall era equivalente a um triunfo internacional, nenhum dos
mestres consagrados se opunha. Por outro lado, Bernstein e Nimzovich criticaram
o convite do desconhecido Capablanca e até consideraram ofensivo a categoria
dos mestres participantes.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">O torneio foi realizado de 20 de
fevereiro a 17 de março de 1911, Capablanca sabia que seria considerado um alvo
fácil. Em 8 de fevereiro, Capablanca viajou para a Europa a bordo do navio
"Luisitania", antes de ir a San Sebastian esteve alguns dias em
Londres, em uma curta entrevista a The Evening News expressou que se contentava
em ficar em quarto lugar, depois Schlechter, Rubinstein e Maroczy. Ele também
comentou que não estudou xadrez, que as jogadas brotaram instintivamente,
"joguei xadrez antes de aprender a escrever", disse ele.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">O destino queria que seu primeiro adversário
fosse um dos mestres relutantes em sua presença, Ossip Bernstein, Capablanca
ganhou por sua vitória, o Prêmio de Beleza, o valor doado pelo Barão Albert
Salomon von Rothschild, composto por 500 francos. Depois dessa vitória
categórica já foi vista com olhos diferentes, depois empatou com Marshall,
Tarrasch e Duras, e venceu contra Burn, Leonhardt e Janowski.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-e3yNa0EEeMs/WqPyKjE-ywI/AAAAAAAAYDo/pj9yXkQTvu8NdV0djZSt_T4fQZtYbme1gCLcBGAs/s1600/Capablanca-joven.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="352" data-original-width="300" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-e3yNa0EEeMs/WqPyKjE-ywI/AAAAAAAAYDo/pj9yXkQTvu8NdV0djZSt_T4fQZtYbme1gCLcBGAs/s320/Capablanca-joven.jpg" width="272" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<span style="color: blue; font-family: Arial, sans-serif;"><b>Jose Raul Capablanca</b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Na 8ª rodada, ele bateu Aarón
Nimzovich, o segundo crítico com sua participação, e que pensou que ele seria
muito superior a Capablanca. Em um dos primeiros dias, Capablanca fez um
comentário sobre um dos jogos rápidos entre Bernstein e Nimzovich, Capablanca
disse em My Chess Career , que Nimzovich disse a ele que "Eu não deveria
interferir em seus jogos, pois eles eram mestres de renome, enquanto eu ainda não
era. O resultado dessa atitude não cortante foi uma série de jogos rápidos, com
apostas, que ganhei com facilidade ridícula e acabei com sua retratação do
anteriormente feito".<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Capablanca também despertou simpatia
em seus rivais, disse que Teichmann e Tarrasch eram muito gentis com ele,
ajudando-o a avaliar o estilo dos outros mestres participantes, Schlechter e Maroczy
também simpatizavam com o cubano.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Capablanca, com 6½ pontos de 8, já era
o líder, depois passou a 8½ sobre 11, quando uma doença inoportuna afetou seu
jogo e resultou em declínio na última fase: ele perdeu para Rubinstein e nas
duas últimas rodadas ele empatou com Teichmann e Vidmar, mas foi o suficiente
para conseguir o primeiro isolado, ele fez 9½ em 14 pontos, seguido por
Rubinstein e Vidmar (9), Marshall (8½), etc.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Foi um sucesso extraordinário, na
edição de abril de 1911 da revista The Bristish Chess Magazine, escreveu:
"Sua performance neste torneio mostra-o claramente como uma estrela da
mais alta ordem, e já se fala de uma possível correspondência entre ele e
Lasker".<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-T6RvAy6WAMA/WqPyKnMQw3I/AAAAAAAAYDs/n29qQiZq85MN10piZoCfokS6uUuKdnjRwCLcBGAs/s1600/capablanca2-620x349.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="349" data-original-width="620" height="180" src="https://1.bp.blogspot.com/-T6RvAy6WAMA/WqPyKnMQw3I/AAAAAAAAYDs/n29qQiZq85MN10piZoCfokS6uUuKdnjRwCLcBGAs/s320/capablanca2-620x349.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Por sua vez quando se recuperou da febre,
ele começou uma turnê europeia, começou na França, onde ganhou, em uma simultânea,
sete dos oito melhores jogadores parisienses, depois foi para a Alemanha, onde
deu simultaneamente, com êxito, em Frankfurt, Munique e Berlim.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Lasker apresentou-o aos fãs desta
forma: "Capablanca chegou aqui na noite anterior, em Munique ele fez uma exibição
de simultânea contra 35 oponentes, em pouco mais de quatro horas ele ganhou 27
jogos e empatou o restante... Eu o vi hoje antes do café. Não há vestígios de
fadiga na sua fisionomia. Seus olhos são cinza ou verde, ou azul, ninguém pode
dizer de que cor eles são exatamente, mas você pode afirmar que eles são
brilhantes. Eles são o que atrai a maior parte de seu rosto. Pode-se ver à
primeira vista que é modesto e, em geral, que é uma aquisição valiosa para
xadrez...".<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-FwT92tEh17U/WqPtjqkDVII/AAAAAAAAYC4/EZWUyQ_eqBArOP-gFTilFzJbmFsXpuCYgCEwYBhgL/s1600/capablanca-1024x535.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="535" data-original-width="1024" height="167" src="https://2.bp.blogspot.com/-FwT92tEh17U/WqPtjqkDVII/AAAAAAAAYC4/EZWUyQ_eqBArOP-gFTilFzJbmFsXpuCYgCEwYBhgL/s320/capablanca-1024x535.png" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="color: blue;">José Raúl Capablanca e seus olhos brilhantes que Lasker destacava</span></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Depois que Berlim seguiu Hamburgo e
Colônia, a turnê terminou em Paris e, em 14 de abril, saiu de Sevilha para a
América do Sul, para visitar Buenos Aires pela primeira vez.<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="color: #20124d;">Vamos
ver o Prêmio de Beleza Capablanca em San Sebastián.<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #660000;">José Raúl Capablanca x Ossip Bernstein<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #660000;">[C66] Abertura Espanhola, San Sebastian
(1), 20.02.1911</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">01.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 Cf6 4.0–0 Be7
5.Cc3 d6 6.Bxc6+ bxc6 7.d4 exd4 8.Cxd4 Bd7 9.Bg5</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[“Uma jogada praticada e popularizada
pelo Dr. Lasker", disse Capablanca, embora considerasse que a manobra de
Tarrasch era melhor, 9.b3 e 10.Bb2.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">09. ... 0–0 10.Te1</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[Evita 10...Cxe4? pois trás 11.Bxe7
Cxc3 12.bxc3 e o bispo está defendido, ao que Capablanca comentou: “10.Dd3 é
mais forte, seguido por Tae1 e f4 com o qual ambas as torres podem ser usadas no
ataque ao flanco do rei”.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">10. ... h6 11.Bh4 Ch7 12.Bxe7 Dxe7 13.Dd3
Tab8 14.b3 Cg5</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[Mais prudente era 14. ... Tfe8
seguido de ... Cf8, assinalou Capablanca.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">15.Tad1</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[“15.f4 Foi indicado por Tarrasch como
melhor, mas forçaria o cavalo negro a situar-se onde quer ir, a e6"
(Capablanca).]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">15...De5 16.De3 Ce6 17.Cce2 Da5</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">["O plano é atacar o flanco da
dama com o objetivo de conseguir ganhar tempo para o posterior desenvolvimento
de seu jogo. Ao mesmo tempo força as brancas a situar neste lado algumas de suas
peças se não quer debilitar a estrutura de peões do flanco da dama, desta forma
se compensa a vantagem que as brancas têm na ala do rei devido a excelente posição
estratégica de suas peças". (Capablanca)]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">18.Cf5!</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">["As brancas começam a construir
a base de uma combinação para alterar o planejamento negro explicado no comentário
anterior", comenta Capablanca.] <o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">18. ... Cc5</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[Não se pode 18...Dxa2 por 19.Dc3, que
ameaça caçar a dama com Ta1, 19...Da6 20.Cf4 f6 21.Dg3 g5! 22.Cg6! Tf7!
23.Cxh6+ Rg7 24.Cxf7 Rxg6 (24...Rxf7 25.f4) 25.Cxd6 cxd6 26.Txd6 Tb7 27.e5,
"e as brancas devem ganhar", indica Capablanca.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">19.Ced4 Rh7 20.g4</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[O livro russo de Chess Stars dedicado
a Capablanca de 1997 recomenda 20.c3]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">20. ... Tbe8 21.f3 Ce6 22.Ce2</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[Um sacrifício intuitivo aprovado
universalmente na sua época; quase um século depois Kasparov criticou esta
decisão e considera que o Capablanca de 1925 não teria sacrificado os peões.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">22. ... Dxa2</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[Desaprovado por Capablanca, ao que é considerado
o melhor por Kasparov, que comentou: "atualmente o peão não só teria sido
capturado por Korchnoi", e também mostra as mudanças que trouxeram os
computadores, agora todo é mais concreto, respaldado pelo cálculo. Capablanca sugeriu
o mais seguro 22... Db6 23.Rg2 Dxe3 24.Cxe3, se bem que as brancas estão algo
melhor.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">23.Ceg3 Dxc2</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[Uma jogada censurada por todos, até
que os computadores mostraram objetivamente que não era tão criticável. Outra
coisa é do ponto de vista prático, naturalmente.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">24.Tc1</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[Evita 24. ... Dc5, mas considerando
que as pretas tem melhores defesas, Kasparov sugeriu 24.Ch5 Dc5 25.e5! Dxe3+
26.Txe3 Cc5 27.Chxg7, com posição complexa.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">24. ... Db2 25.Ch5</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">["A marcha deste cavalo é dos
mais marcantes. Mesmo agora parece inofensivo e sem dúvida é quem vai decidir a
partida", comentou Capablanca. "Mas só pelo jogo duvidoso das
negras!" acrescentou Kasparov.]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">25. ...Th8?</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[A jogada perdedora. 25... g5!? 26.e5
(A 26.Tc3 uma boa defesa é 26...f6 como indica Nunn; 26.h4 foi sugerido no
citado livro de Chess Stars.) 26...Cf4!, e as negras rechaçam o ataque depois
(em vez da linha de Capablanca 26...f6 27.Dd3, onde<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>27...Rh8 também é difícil de quebrar, indica
Kasparov.) 27.Cxf4 Txe5 28.Cd3 Txe3 29.Cxb2 Txb3 com jogo muito bom para as
pretas. 25...g6? 26.Dxh6+ Rg8 27.e5 gxh5 28.gxh5 e não tem forma de evitar que
uma torre ocupe a coluna g, se ameaça Rh1, e em caso de 28...Dxb3 segue 29.Te2;
25...Tg8!? é outra sugestão de Kasparov. Em geral Kasparov foi crítico não só
com a defesa negra, mas também com a inteira concepção de Capablanca, mas
também comentou: "Para ser objetivo, devo mencionar que a maioria dos
grandes mestres dessa época no se defendiam melhor que Bernstein, e por tanto,
as arriscadas fantasias de Capa, que nos anos seguintes foram cada vez menores,
estavam justificadas".]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">26.Te2 De5 27.f4 Db5</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">["A dama está distante da defesa
do flanco do rei e a desafortunada posição da torre de h8 permite as brancas acertar
um golpe velado". (Kasparov)]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">28.Cfxg7!</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">["Agora se vê claramente o
resultado das jogadas do cavalo. Esta jogada marca o ponto final da larga
combinação iniciada na jogada 22". (Capablanca)]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">28. ...Cc5?</span><span style="color: #20124d;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">[Um erro produto do apuro de tempo.
Capablanca esperava 28...Cxg7 29.Cf6+ Rg6 30.Cxd7 f6 o melhor 31.e5 Rf7 32.Cxf6
Te7 33.Ce4 "e a posição negra é insustentável". Mais tenaz era
28...Td8 29.f5 Cf8 (no 29...Cxg7?? 30.Cf6++, o 29...Cg5 30.h4) 30.e5! e "as
brancas teriam obtido um ataque irresistível", destaca Kasparov, que analisa
em profundidade a posicição em "Mis Geniales Predecesores".]<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: blue;">29.Cxe8 Axe8 30.Dc3 f6 31.Cxf6+ Rg6
32.Ch5 Tg8 33.f5+ Rg5 34.De3+ Rh4 35.Dg3+</span><span style="color: #20124d;"> 1–0<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">GM Zenón Franco, março de 2013<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><b><span style="color: #20124d;">Fonte: http://www.tabladeflandes.com/zenon2006/zenon_442.html<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-75122831222122031142017-10-18T18:33:00.000-07:002017-10-19T13:30:21.467-07:00XADREZ ESCOLAR<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-Jzdj9S1s_RU/Wef_jUF-TxI/AAAAAAAAW7o/6lZ__egzkuM-UcnXv71jYkFDJO9Na_uygCLcBGAs/s1600/4%25C2%25BA%2BAberto%2Bde%2BItaj%25C3%25A1%2B29set2017%2B006.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><b><span style="color: #20124d;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-Jzdj9S1s_RU/Wef_jUF-TxI/AAAAAAAAW7o/6lZ__egzkuM-UcnXv71jYkFDJO9Na_uygCLcBGAs/s320/4%25C2%25BA%2BAberto%2Bde%2BItaj%25C3%25A1%2B29set2017%2B006.jpeg" width="320" /></span></b></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue; font-size: large;">Porque levar o Xadrez às Escolas?</span></b><br />
<b><span style="color: blue; font-size: large;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Texto publicado no site da Federação Paulista de Xadrez</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">James Mann de Toledo e Luiz Loureiro</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">São Paulo – Rio de Janeiro</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">Setembro 2005</span></b><br />
<br /></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #0b5394;"> </span><span style="color: #783f04;">1. XADREZ É COMPROVADAMENTE UMA EXCELENTE E VERSÁTIL FERRAMENTA PEDAGÓGICA </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Pedagogicamente, o xadrez é estimado em elevado conceito, fazendo parte do currículo escolar básico e de aprimoramento complementar em dezenas de países. Muitos projetos oficiais, conduzidos tanto por instituições estatais como privadas, indicam que o jogo estimula a atenção e favorece a concentração de modo geral. Acredita-se também que a atitude introspectiva que o xadrez gera, leva a criança a se avaliar ante tudo na vida e considerar as conseqüências de seus atos, adquirindo consciência de responsabilidade e causalidade (causa e efeito). Pode-se empregar o jogo na educação e entretenimento de deficientes físicos (surdos, paraplégicos e até cegos!!) e mentais, bem como em asilos, penitenciárias e instituições de apoio ao menor carente e abandonado. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #783f04;">2. XADREZ É UM ESPORTE IGUALITÁRIO </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O Xadrez não descrimina as diferenças de sexo, idade, condição social, raça e biótipo. A atividade competitiva oficial permite que deficientes visuais, auditivos e físicos em geral participem em igualdade de condições com os não-deficientes. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #783f04;">3. XADREZ É BARATO </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Podemos citar as pertinentes considerações de Garry Kasparov em sua visita a São Paulo em agosto de 2004: "Para tentar melhorar o sistema educacional você tem que olhar para os custos e o xadrez é muito barato. Não é preciso um estádio de futebol, um campo de golfe, uma rede de tênis ou uma piscina. Se você olhar para a relação investimento-retorno, o xadrez se torna a melhor opção para ajudar no desenvolvimento das crianças". </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #783f04;">4. XADREZ É UMA RICA EXPERIÊNCIA COGNITIVA</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"> </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">Um grande número de habilidades mentais específicas (imaginação, memória, pensamento lógico, reconhecimento de padrões, visualização, etc.) e gerais (perseverança, capacidade de estudo, auto-conhecimento, organização pessoal, motivação e ambição, etc.) deve ser aprimorado para propiciar algum sucesso especial ao jogador de xadrez engajado. Manejar tantos aspectos psicológicos e qualidades básicas do caráter constitui um verdadeiro projeto de "construção do indivíduo e do esportista" dentro de uma pessoa! Esse é um longo e complicado processo e que começa bem cedo na vida de qualquer um! Daí, a importância da educação e, nesse sentido, os jogos podem ser ótimas ferramentas em busca de um objetivo maior. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O pedagogo suíço Charles Partos relata que o xadrez desenvolve: </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">1- A Atenção e a concentração; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">2- O julgamento e o planejamento; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">3- A imaginação e a antecipação; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">4- A memória; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">5- A vontade de vencer, a paciência e o autocontrole; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">6- O espírito de decisão e a coragem; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">7- A lógica matemática, o raciocínio analítico e sintético; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">8- A criatividade; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">9- A inteligência; </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">10- A organização metódica do estudo e do interesse pelas línguas estrangeiras </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #783f04;">5. XADREZ AMPLIA O HORIZONTE CULTURAL </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Devido ao envolvimento com variadas línguas, a densa história do jogo, com relações matemáticas implícitas no movimento das peças e propriedades do tabuleiro (espaço topológico) e do recente uso da Informática e Internet para a prática, estudo técnico e divulgação do jogo, um aluno engajado vê-se induzido a alargar seus conhecimentos gerais e interessar-se por assuntos correlatos de variadas expressões culturais. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #783f04;">6. XADREZ É LIGADO AO LIVRO </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A evolução técnica e histórica do jogo de xadrez (e do conhecimento em geral) foi preservada de modo marcante, desde épocas muito remotas, através do Livro e este processo tornou-se especialmente acentuado com a invenção da moderna tipografia de Guttemberg, no século XV. Tal processo acabou resultando na popularização progressiva do livro e do jogo! A melhoria do desempenho técnico de um jogador depende, portanto, de renovados estudos de textos referenciais. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #783f04;">7. XADREZ É SOCIALIZANTE E ECUMÊNICO </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Como um fator herdado de sua longa e densa história, da contribuição coletiva gerada em vários períodos, países e civilizações diferentes, e, da condição agregadora do jogo, refletida na organização básica do Clube de Xadrez, há uma grande tendência do jogo gerar socialização, notadamente entre os mais jovens. Até mesmo o jargão técnico do jogo ( por exemplo: "en passant" do francês, "zugzwang" do alemão, "fianchetto", do italiano, "pat" do inglês, "Shah-matt" = Xeque Mate, derivado do persa antigo) indica sua passagem histórica e a contribuição dos praticantes das mais diversas nacionalidades, evidenciando o caráter ecumênico do jogo e seu poder de integração social. É pertinente registrar que a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) cujo lema, "Gens uma sumus"( somos uma única família), reflete este espírito, congrega atualmente mais de 160 países filiados e realiza a Olimpíada da modalidade com a presença de mais de 140 países, a cada dois anos! </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #783f04;">8. A IMPORTÂNCIA DO XADREZ NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Para maior aprofundamento do tema e o acesso à explicações mais detalhadas, sugerimos a consulta ao livreto "A importância do Xadrez na Educação das Crianças", de autoria de Cristiana F, Carneiro e Luiz Loureiro, que constitui um documento oficial da Federação.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">____________________________________</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">Paulista de Xadrez relativo a Xadrez Escolar.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">São Paulo - Rio de Janeiro</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">Maio 2005</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;">Fonte: https://www.facebook.com/PsicoAprendizagem/posts/378797628873129</span></div>
<div>
<span style="color: blue; font-size: large;"><b><br /></b></span></div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-33089659352414970042017-06-14T02:18:00.002-07:002017-06-14T02:18:31.864-07:00Dr. Luiz Tavares e Mequinho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-_Rw2d46y4IE/WUD8SRVWx2I/AAAAAAAAWTM/kONhMr3R1TU2HAfudEmzNoc9s8M9HQN3gCLcBGAs/s1600/Luiz%2BTavares%2B01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1104" data-original-width="707" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-_Rw2d46y4IE/WUD8SRVWx2I/AAAAAAAAWTM/kONhMr3R1TU2HAfudEmzNoc9s8M9HQN3gCLcBGAs/s320/Luiz%2BTavares%2B01.jpg" width="204" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: purple; font-size: large;">Entrevista com Dr. Luiz Tavares!</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: purple; font-size: large;">Julho, 14, do ano de 1976</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">Publicado no blog "Reino de Caíssa" em junho de 2017</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-AAbdBtCAHdM/WUD8t9nSSII/AAAAAAAAWTQ/1EkSF4RxLNIah0r3V6lo0R0D3b78dNCDgCLcBGAs/s1600/Luiz%2BTavares%2B02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="198" data-original-width="212" src="https://4.bp.blogspot.com/-AAbdBtCAHdM/WUD8t9nSSII/AAAAAAAAWTQ/1EkSF4RxLNIah0r3V6lo0R0D3b78dNCDgCLcBGAs/s1600/Luiz%2BTavares%2B02.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">Dr; Luiz Tavares (E) e Mequinho (D)</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-om570_iJ0Uw/WUD9Ok2zf9I/AAAAAAAAWTU/CTDrSIvvUlcTW912E48SU29_j9Sx8wKNQCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B06.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="178" data-original-width="282" src="https://4.bp.blogspot.com/-om570_iJ0Uw/WUD9Ok2zf9I/AAAAAAAAWTU/CTDrSIvvUlcTW912E48SU29_j9Sx8wKNQCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B06.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;">Mequinho perdeu quatro quilos durante o Torneio Interzonal de Manila - Filipinas, em 1976. que conseguiu vencer. Chegou a ser ameaçado, inclusive de agressão física pelo norte-americano Walter Browne, sobre quem teve sua melhor vitória no torneio. Em certo momento das disputas houve falta de luz no salão dos jogos e o americano voltou a dar trabalho ao árbitro Florêncio Campomanes.</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Tudo isso foi contado no Hotel Tambaú pelo ex-presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, o médico pernambucano Luiz Tavares da Silva, ao enxadrista Herbert Carvalho, um dos fortes participantes do 43º Campeonato Brasileiro de Xadrez e enviado especial da Folha de São Paulo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-oR4eksE1iMo/WUD9qB9pO2I/AAAAAAAAWTY/zRvnrxuIWD4BvxN7id0-Mobv3K0z9RUSACLcBGAs/s1600/Fernando%2BMelo%2B01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="219" data-original-width="350" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-oR4eksE1iMo/WUD9qB9pO2I/AAAAAAAAWTY/zRvnrxuIWD4BvxN7id0-Mobv3K0z9RUSACLcBGAs/s320/Fernando%2BMelo%2B01.jpg" width="320" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;">Esta entrevista teve direito de publicação concedidos a Fernando Melo (colunista de A União) e o jornal passa a divulgá-la em sua quase totalidade. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;">FILIPINAS : Um torneio de muita garra</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-CHu5plyVEKc/WUD97BEXsEI/AAAAAAAAWTc/c8cQKEU3amASe5IlKFZ9SXS26wCxlqKVgCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="273" data-original-width="350" height="249" src="https://4.bp.blogspot.com/-CHu5plyVEKc/WUD97BEXsEI/AAAAAAAAWTc/c8cQKEU3amASe5IlKFZ9SXS26wCxlqKVgCLcBGAs/s320/Mequinho%2B01.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">Henrique da Costa Mecking</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">"Mequinho"</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Pernambucano de Recife e médico de profissão, Luis Tavares da Silva é um doa admiradores de Henrique da Costa Mecking, o Mequinho, cuja fama no mundo internacional do xadrez ele ajudou a criar, Neste momento ele está no Hotel Tambaú assistindo ao Campeonato Brasileiro de Xadrez e descansando da longa viagem de 35 horas de regresso de Manilla onde esteve até o final de Torneio Interzonal.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O dr. Tavares, que já foi campeão brasileiro e presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, acompanhou o desenvolvimento da carreira do único Grande Mestre brasileiro desde o seu despontar, em 1965, quando ainda um garoto de apenas 13 anos, bastante magro e tão pequeno que quase não podia alcançar o tabuleiro, venceu o campeão nacional daquele ano.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A partir daí, Tavares teve a certeza de que aquele garoto tímido, vindo do interior do Rio Grande do Sul, chegaria a ser campeão mundial de xadrez. Foi então que, juntamente com um grupo de enxadristas da época, passou a atuar para propiciar ao futuro Grande Mestre as oportunidades necessárias ao desenvolvimento de todo aquele talento em potencial. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Desde o princípio sempre acompanhou Mequinho em todos os Torneios Internacionais de importância, como ele mesmo conta: "A primeira vez foi na Tunísia, em Sousse, onde em 1967 ele jogou o primeiro Interzonal. Depois fomos por duas vezes a Hastings, depois em Lugano e em Augusta e 1974 quando ele foi derrotado por Korchnoi. Agora houve esta viagem a Manilla."</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Tavares diz que sua admiração por Mequinho surgiu ao observar seu extraordinário talento, principalmente nas partidas rápidas, notando em seguida seu senso posicional e comportamento com relação ao xadrez e, enfim, sua dedicação e autocontrole na perseguição dos objetivos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-mWJ1AN_IeuI/WUD-SgZK2_I/AAAAAAAAWTg/5dC3VIuAUcoI-aUbuwsRUll4IfYt_qB_gCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="224" data-original-width="144" src="https://3.bp.blogspot.com/-mWJ1AN_IeuI/WUD-SgZK2_I/AAAAAAAAWTg/5dC3VIuAUcoI-aUbuwsRUll4IfYt_qB_gCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B02.jpg" /></a></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Dr. Luiz Tavares, o anjo da guarda de Mequinho</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">"Acho que nenhum outro jogador, com a possível exceção de Bobby Fischer, se impõe uma disciplina tão férrea como Mecking", assegura Tavares, ao explicar a disciplina de Mequinho como um dos fatores mais importantes de sua vitória em Manilla. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">"Enquanto outros jogadores, como Mariotti ou Gheorghiu e até mesmo os soviéticos, eram displicentes e dispersivos, Mequinho empenhava todas as suas energias nas partidas, com várias horas de preparação diária dos lances de abertura jogados por seus adversários" - relatou.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em seguida Tavares descreve a rotina de Mequinho em Manilla:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">- Logo pela manhã, após o café, ele pegava o boletim com as partidas da rodada anterior e estudava atentamente todos os jogos. Depois reproduzia, de acordo com os livros, todas as partidas jogadas por seus adversários nos últimos 10 anos. Pontualmente, as 11 horas, almoçava seguindo dieta especial que quase sempre consistia em bife com arroz, completamente diferente da alimentação dos demais jogadores que se deliciavam com as comidas típicas das cozinha filipina, notadamente frutos do mar.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Durante todo o Torneio - informa Tavares - Mequinho perdeu cerca de quatro quilos.Após o almoço ele dava uma caminhada de uma hora, sempre sozinho, pelos parques e jardins ao redor do Hotel. Enquanto Spassky (que jogava tênis) e os demais jogadores se divertiam o dia de Mequinho não reservava qualquer momento para o seu lazer pessoal. Ainda pela manhã, fazia por cerca de uma hora, ginástica pesada, para depois estudar as análises que seu segundo, o carioca Márcio Miranda preparava. Seu único momento de descontração era à noite. Depois do jogo, durante o jantar, ele estava sempre alegre, conversando bastante, mas nunca sobre a partida que acabara de jogar ou sobre xadrez, de maneira geral.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-u1zvnJqAzxw/WUD-cFKPTFI/AAAAAAAAWTk/yMlRt8lGWcMaN-Xg4lUes3SBV-LvlN18gCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B03.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="255" data-original-width="250" src="https://2.bp.blogspot.com/-u1zvnJqAzxw/WUD-cFKPTFI/AAAAAAAAWTk/yMlRt8lGWcMaN-Xg4lUes3SBV-LvlN18gCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B03.JPG" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">Mequuinho em 1976</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;">interessantes da preparação de Mequinho foram contados por Tavares:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mequinho foi o primeiro jogador a chegar a Manilla, com bastante antecedência ao início do Torneio e a primeira coisa que fez foi vedar totalmente a janela de seu quarto com um papel preto, usado nos laboratórios fotográficos, para que não entrasse qualquer réstia de luz que lhe perturbasse o sono. Seu quarto era tão protegido contra luz e ruídos, que tive receio de que isto pudesse lhe abalar a saúde. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Tavares revelou ainda que, na solenidade de abertura para o emparceiramento, quando é praxe cada jogador indicar uma pessoa para o Tribunal de Apelação do Torneio, a pessoa indicada por Spassky foi vetada pelos próprios dirigentes da Federação Soviética. "Outra coisa que pouca gente sabe no Ocidente é de um dos grandes participantes, Yuri Balashov, é o primeiro Grande Mestre formado pela Faculdade de Xadrez que existe em Moscou", informou Tavares.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">E relatou ainda: "Normalmente, em um torneio de xadrez o ambiente entre os jogadores é e grande cordialidade, já que se trata de um esporte de intelectuais. Mas, infelizmente, nem tudo foi assim em Manilla. Na partida que Mequinho jogou contra o norte-americano Walter Browne, considerada sua melhor vitória no torneio, houve muita guerra de nervo por parte do americano, o que provocou inclusive um protesto oficial de Mequinho ao árbitro Florêncio Campomanes que, com muita habilidade conseguiu contornar o problema".</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">"O que aconteceu" - explica - "é que dias antes , Mequinho adiara por motivo de doença, sua partida com o romeno Gheorgiu, e Browne, suspeitando da veracidade de enfermidade do brasileiro, chegou a ameaçá-lo de agressão física, caso isso viesse a prejudicá-lo no Torneio. Entretanto, esse incidente, que deve ter ocorrido devido em temperamento muito nervoso de Browne (que já teve problemas desta natureza, neste e noutros torneios anteriores) foi completamente dominado por Campomanes, que fez com que os dois se dessem as mãos e esquecessem as mágoas. Dias depois, conversavam animadamente sobre variantes, no ônibus que conduzia os jogadores do Hotel ao salão de jogos".</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-fLZ7JjjNsm4/WUD-pplVFtI/AAAAAAAAWTo/ra1m0xTUlPgCKdR0BqqUyZxlj2ig5vcXwCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B04.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="149" data-original-width="339" height="140" src="https://2.bp.blogspot.com/-fLZ7JjjNsm4/WUD-pplVFtI/AAAAAAAAWTo/ra1m0xTUlPgCKdR0BqqUyZxlj2ig5vcXwCLcBGAs/s320/Mequinho%2B04.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Falando sobre as características técnicas da atuação de Mequinho, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Xadrez ressaltou a habilidade com que ele se conduziu no apuro de tempo "como excelente jogador rápido que é e sempre foi, principalmente nas partidas com Browne e Panno, quando jogou cerca de 20 lances em um minuto e pouco".</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Disse ainda que com relação ao sorteio inicial dos participantes, Mequinho não ficou satisfeito pois havia sido emparceirado com as peças brancas contra os jogadores mais fortes e com as pretas contra os mais fracos, "o que, na sua opinião, lhe era desfavorável, pois preferia jogar de brancas com os fracos, quando ganharia com certeza e de pretas com os mais fortes, pois assim não perderia".</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-1wM7JMwr3tw/WUD_DDTLfrI/AAAAAAAAWTs/S2bQ2VWY4wkT2FplPGSDxunaxqF8pKkxgCLcBGAs/s1600/Campomanes%2B01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" src="https://2.bp.blogspot.com/-1wM7JMwr3tw/WUD_DDTLfrI/AAAAAAAAWTs/S2bQ2VWY4wkT2FplPGSDxunaxqF8pKkxgCLcBGAs/s1600/Campomanes%2B01.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;">Florêncio Campomanes que foi eleito mais tarde preesidentee da FIDE</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">Revela o médico Luiz Tavares que o árbitro Campomanes teve outra situação difícil. novamente contra o americano Browne. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">De repente, como acontece na minha terra, o Recife, a luz apagou-se exatamente no momento em que a partida entre Browne e Polugayevski chevava ao momento decisivo. Em outras partidas as setas dos relógios também estavam suspensas. Aí então, foi ligado o gerador de emergência que não foi considerado por Browne satisfatório o suficiente para continuar o jogo. Então, começou a gritar, protestanto; Campomanes tentou acalmá-lo, já que nada mais podia fazer, pois este detalhe não estava previsto pelo regulamento. Nada adiantou, até que ele teve de gritar para o norte-americano se sentar e continuar jogando, ao que finalmente foi obedecido.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Tavares conta que a figura do árbitro Campomanes muito o impressionou e que este, inclusive, está muito cotado atualmente para substituir o holandês Max Euwe na Presidência da Federação Internacional de Xadrez.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-RXRo-r3FMt4/WUD_MWn10XI/AAAAAAAAWTw/vlTe3BgV3ecG_8D_QnFRvo_YIJevEafsQCLcBGAs/s1600/Mequinho%2B05.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="240" src="https://4.bp.blogspot.com/-RXRo-r3FMt4/WUD_MWn10XI/AAAAAAAAWTw/vlTe3BgV3ecG_8D_QnFRvo_YIJevEafsQCLcBGAs/s320/Mequinho%2B05.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">Mequinho em 2016</span></b></div>
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-23510712916596213322017-02-12T05:33:00.001-08:002017-02-12T05:33:16.003-08:00o oportunismo de Alekhine<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-_BxBz4a3gwY/WKBi11ynVAI/AAAAAAAAVy4/vTzt2KjTPME8J2gewJGF5jGXZi5K1Mk4gCEw/s1600/Alekhine.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><b><span style="color: #20124d;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-_BxBz4a3gwY/WKBi11ynVAI/AAAAAAAAVy4/vTzt2KjTPME8J2gewJGF5jGXZi5K1Mk4gCEw/s1600/Alekhine.jpg" /></span></b></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d; font-size: large;">A Escola Soviética do Xadrez, o trágico oportunismo de Alekhine, o Ogro de Baku e o professor Carlos Bellino</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #660000;">Escrito por Antonio Monteiro</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Há já algum tempo o professor de filosofia Carlos Bellino sugeriu-me que escrevesse um artigo sobre o xadrez e a política. O tempo foi passando e nada. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Cheguei mesmo a pensar que o professor tinha-se esquecido da sua sugestão. Mas eis que numa das suas recentes viagens a Portugal me traz o livro: “A </span></b><b><span style="color: #20124d;">Vida imita o Xadrez” da autoria de Garry Kasparov. ‘Bom, a oferta de um livro por si só não obrigado a nada. Muito provavelmente ele terá o direito de esperar </span></b><b><span style="color: #20124d;">que eu leia-lhe o livro, mais nada. Até porque ele nem é o autor’, pensei com os meus botões. Esta minha opinião desfez-se como água na água, quando, </span></b><b><span style="color: #20124d;">para certificar-me de um pormenor, reabri o livro de Kasparov e, à luz de uma vela subitamente antiga, reli a dedicatória: “Para o António Monteiro, com </span></b><b><span style="color: #20124d;">amizade e esperando que este livro te traga inspiração para produzires mais e novas prosas sobre o xadrez e a política”. ‘Mil macacos me mordam se isto </span></b><b><span style="color: #20124d;">aqui não é uma intimidação, ainda que escrita com letrinha de filósofo’. Por isso, caro Bellino, aqui estou a cumprir o prometido.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Sinceramente nunca tive especial interesse pelo tema, o que não significa que ignoro completamente toda a prosa que desde o “Match do Século”, </span></b><b><span style="color: #20124d;">disputado em 1972, em Reykjavík, se tem escrito sobre as múltiplas imbricações entre o xadrez e a política. Para mim xadrez é xadrez, política é política e </span></b><b><span style="color: #20124d;">vida é vida. Proclamar, como pretende Kasparov, que a vida imita o xadrez, é esquecer uma verdade fundamental: o xadrez não passa de um jogo, aliás, de </span></b><b><span style="color: #20124d;">tabuleiro, embora possa ser colocado no mesmo patamar com a arte e o desporto. A ideia que o xadrez imita a vida não é nova e antigos campeões </span></b><b><span style="color: #20124d;">mundiais do passado estabeleceram esta ligação – com resultados trágicos como adiante veremos. Por razões de espaço concentremo-nos apenas em </span></b><b><span style="color: #20124d;">dois ex-campeões mundiais: Alexander Alekhine e Bobby Fischer. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Os dois estavam convencidos de que tanto na vida como no xadrez Deus colocou um </span></b><b><span style="color: #20124d;">lance genial que permite aos simples mortais sair de qualquer situação por mais precária e desesperada que seja. O segredo está apenas em encontrá-lo. </span></b><b><span style="color: #20124d;">Ao fim e ao cabo a um mestre de xadrez tudo é permitido, conquanto ele encontre a jogada redentora na devida altura. Por isso Alekhine não se coibiu de </span></b><b><span style="color: #20124d;">colaborar com os nazistas durante a 2ª Guerra Mundial e de escrever artigos anti-semitas defendendo a tese que os judeus jogavam um xadrez defensivo, </span></b><b><span style="color: #20124d;">em que contava apenas o lucro material. Reivindicou que nunca houve um verdadeiro artista de xadrez de origem judaica e que só em solo nazi se podia </span></b><b><span style="color: #20124d;">respirar o xadrez puro. Alekhine incluiu nos representantes do xadrez ariano os nomes de Philidor, Labourdonnais, Anderssen, Morphy, Tchigorin, Pillsbury, </span></b><b><span style="color: #20124d;">Marshall, Capablanca, Bogoljubov, Euwe e Keres. Para jogadores judeus, havia somente Steinitz e Lasker. Quando este faleceu em 1941, Alekhine </span></b><b><span style="color: #20124d;">escreveu que tinha desaparecido o último campeão do mundo judeu. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Apesar de toda a sua genialidade – e ele sempre será sempre lembrado pelas suas combinações antológicas, que ainda despertam admiração entre os </span></b><b><span style="color: #20124d;">melhores jogadores da actualidade – Alekhine, como homem e xadrezista, era um camaleão e um oportunista do piorio. A capacidade inata de se </span></b><b><span style="color: #20124d;">metamorfosear e de entrar na pele do seu adversário e derrotá-lo com suas próprias armas valeu-lhe espectaculares triunfos e mesmo a conquista do </span></b><b><span style="color: #20124d;">campeonato do mundo contra Capablanca. Quando o cubano deu-se conta de que Alekhine tinha estudado todas as suas partidas e estava a jogar contra </span></b><b><span style="color: #20124d;">si próprio, já era tarde e a sua heroica resistência apenas lhe aumentou a agonia: depois de quase dois meses e 34 partidas o até então tido como </span></b><b><span style="color: #20124d;">invencível foi destronado. Capablanca pediu imediatamente um match-revanche, mas o oportunista Alekhine preferiu dar primazia a jogadores que não </span></b><b><span style="color: #20124d;">representavam nenhum perigo para ele: escolheu Bogoljubow em duas oportunidades, vencendo ambos os matches folgadamente, em 1929 e 1934. A </span></b><b><span style="color: #20124d;">coisa pôs-se feia quando em 1935 enfrentou o relativamente desconhecido Max Euwe – e foi estrondosamente derrotado. O gentleman holandês aceitou </span></b><b><span style="color: #20124d;">logo um match-revanche no qual foi surpreendentemente derrotado. É que chocado com a derrota, sem ninguém se dar conta, nem o próprio Euwe, o </span></b><b><span style="color: #20124d;">mestre russo entrou num treinamento rigoroso e abstémico e recuperou o título dois anos depois. Alekhine tornou-se assim no primeiro campeão a </span></b><b><span style="color: #20124d;">conseguir recuperar o título num match-revanche. Capablanca não teve a mesma sorte, porque Alekhine cortou relações com ele e evitava sistematicamente </span></b><b><span style="color: #20124d;">participar em torneios em que o ex-campeão era convidado. Os dois mestres só se encontram 9 anos depois, em Nottingham, Inglaterra. Capablanca vence </span></b><b><span style="color: #20124d;">o torneio e derrota o seu arqui-rival no confronto directo. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Devido aos artigos anti-semitas, e embora tecnicamente campeão do mundo, Alekhine não foi convidado para nenhum torneio de xadrez depois da 2ª </span></b><b><span style="color: #20124d;">Guerra Mundial. Em Março de 1946 morreu subitamente num hotel em Estoril, quando esperava pela concretização de um match redentor contra Botvinik. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Escorraçado pela comunidade xadrezística internacional, Alekhine só encontrou guarida no Portugal cinzento e salazarista, onde faleceu só, empobrecido e </span></b><b><span style="color: #20124d;">odiado. A Federação Portuguesa de Xadrez encomendou o funeral, ao qual menos de 12 pessoas compareceram. Alekhine quase tinha encontrado o </span></b><b><span style="color: #20124d;">lance genial para se salvar – o match contra Botvinik. De facto, um dia após a sua morte uma carta chegou convidando-o a Inglaterra para o match, mas já </span></b><b><span style="color: #20124d;">era tarde. Enfim, um trágico oportunista. Desgraçadamente a vida é real, desgraçadamente ou felizmente o xadrez é apenas um jogo.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Ps: O Prof. Carlos Bellino regressou há já algum tempo de Portugal e voltou a surpreender-me com a oferta de mais um livro, neste caso os “Fundamentos </span></b><b><span style="color: #20124d;">do Xadrez”, da autoria de José Raúl Capablanca. Passe a redundância, “Fundamentos do Xadrez” é um livro fundamental da literatura xadrezística e de </span></b><b><span style="color: #20124d;">leitura obrigatória até para não-praticantes. Dentro em breve voltarei ao livro.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 793 de Cabo Verde, 8 de Fevereiro de 2017.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-53666037294289419982017-01-27T09:06:00.001-08:002017-01-27T09:06:06.591-08:00CULTURA DO XADREZ<div class="WordSection1">
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 12.65pt; text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; letter-spacing: -2.45pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-hansi-font-family: Arial;"> </span></span></b><a href="https://4.bp.blogspot.com/-iZCOMJncTq4/WIt7bc-WmXI/AAAAAAAAVsw/rN_ZRCKLmuQrKM9FB1K84Ma1otD9ZqabACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B11.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-iZCOMJncTq4/WIt7bc-WmXI/AAAAAAAAVsw/rN_ZRCKLmuQrKM9FB1K84Ma1otD9ZqabACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B11.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: 0.55pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 13.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-hansi-font-family: Arial;"><b><span style="color: #20124d;"> </span></b></span><b><span style="color: blue; font-size: large;">Uma história cultural do
xadrez</span></b></div>
</div>
<div class="WordSection2">
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 58.8pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><i><span style="font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><br /></span></i></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 58.8pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><i><span style="font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Celso Castro</span></i><span style="font-size: 6.5pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">1</span><span style="font-size: 6.5pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
</div>
<b><span style="color: #20124d;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 6.5pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Arial; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-break-type: section-break; page-break-before: auto;" />
</span>
</span></b><br />
<div class="WordSection3">
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: .2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 171%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.95pt; margin-right: 6.9pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">O xadrez é um
jogo especial por combinar várias características. Em primeiro lugar, o <i>acaso </i>não existe no xadrez: ninguém
ganha uma partida porque “teve sorte”, nem perde porque “teve azar”. Trata-se
de um jogo movido apenas pelo raciocínio dos dois jogadores, que são os únicos
responsáveis pelo resultado. Nesse sentido, pode ser dito que trata-se de um
jogo perfeitamente existencialista <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>nele estamos, como numa expressão de Sartre,
“sós e sem<span style="letter-spacing: -1.75pt;"> </span>desculpas”.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 171%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.95pt; margin-right: 6.9pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-R3Lsjr_-4RU/WIt7z0Ej8zI/AAAAAAAAVs0/FNZG40liWXIX6Fj-RoJ2F9VDZQTag5KRQCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-R3Lsjr_-4RU/WIt7z0Ej8zI/AAAAAAAAVs0/FNZG40liWXIX6Fj-RoJ2F9VDZQTag5KRQCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B01.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 171%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.95pt; margin-right: 6.9pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 171%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.95pt; margin-right: 6.9pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;">Em segundo
lugar, o xadrez é de extrema complexidade. Jogado num tabuleiro de 64 casas,
cada jogador tem inicialmente 32 peças de seis tipos, cada qual com
importância, movimentos e possibilidades de captura específicos. Apenas os
quatro primeiros lances podem produzir cerca de 72 mil diferentes posições. Os
dez primeiros lances podem ser jogados de cerca de 170 seguido de 27 zeros
maneiras diferentes. Trata-se, portanto, de um jogo de possibilidades
inesgotáveis.</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.95pt; margin-right: 6.9pt; margin-top: .55pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 6.0pt; margin-right: 6.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Em terceiro
lugar, o xadrez é especial por sua antiguidade histórica.<span style="font-size: 6.5pt; line-height: 173%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">2 </span>Sua origem é controversa. Alguns pesquisadores
acham que surgiu no Egito ou na China, mas geralmente considera-se que o xadrez
teve origem num jogo com o nome sânscrito de <i>chaturanga</i>, que já existia na região do Ganges, na Índia, no início
do século VII. É possível que tenha sido inventado vários séculos antes. De
qualquer forma, é jogado, com poucas variações importantes, por mais de mil
anos.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 6.0pt; margin-right: 6.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-Rbi1aCbvxdU/WIt77YegFAI/AAAAAAAAVs4/cVS32c0WbE4_f1NytxVajOGPJnb6ogqgACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B03.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-Rbi1aCbvxdU/WIt77YegFAI/AAAAAAAAVs4/cVS32c0WbE4_f1NytxVajOGPJnb6ogqgACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B03.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 6.0pt; margin-right: 6.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 6.0pt; margin-right: 6.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Outra
característica notável do xadrez é que as partidas podem ser registradas e
posteriormente reproduzidas, lance a lance. Com isso, o acervo histórico de
partidas vai sendo sempre aumentado --
e, como todo acervo, o do xadrez possibilita a existência<span style="letter-spacing: 1.15pt;"> </span>de<span style="letter-spacing: 1.15pt;"> </span>uma<span style="letter-spacing: 1.2pt;"> </span><i>memória<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span></i>sobre<span style="letter-spacing: 1.1pt;">
</span>o<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>jogo<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>que<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>é<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>uma<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>fonte<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>de<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>aprendizagem<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>e<span style="letter-spacing: 1.1pt;"> </span>prazer </span></b><b><span style="color: #20124d;">estético. Existe, por exemplo, um
problema de xadrez composto por um califa árabe chamado Mutasin Billah em 840
d.C. Temos também o registro de uma partida jogada em 940 d. C. e vencida por
um grande jogador árabe de origem turca chamado As Suli (c.880-946), que
encantava a corte em Bagdá no início do século X. Sobre esse jogador chegou até
nós o comentário de um homem importante da época que, perguntado sobre a beleza
das flores de um determinado jardim, respondeu que a forma de As Suli jogar
xadrez -- isto é, seu estilo -- era mais bonita do que aquele jardim e todas
suas flores. O fato de podermos reproduzir essa partida e igualmente sentir seu
encanto e beleza preservados por 1050 anos é uma característica que confere ao
xadrez um lugar único entre todos os<span style="letter-spacing: -1.85pt;"> </span>jogos.</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 6.0pt; margin-right: 6.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-4wOSjQZo3BI/WIt8FLMwWWI/AAAAAAAAVtA/pWShFcGlmOcdNxhWo5xQYnvORl7Nphb2QCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B04.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-4wOSjQZo3BI/WIt8FLMwWWI/AAAAAAAAVtA/pWShFcGlmOcdNxhWo5xQYnvORl7Nphb2QCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B04.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 6.0pt; margin-right: 6.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
</div>
<div class="WordSection4">
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Finalmente, o
xadrez é um jogo especial por sua extraordinária difusão através das mais
variadas culturas e civilizações. Esse é um ponto sobre o qual gostaria de me
deter com mais atenção. Como disse, no início do século VII existia na Índia um
jogo chamado <i>chaturanga</i>, considerado
precursor direto do xadrez. Esse jogo foi disseminado através do continente
asiático principalmente pelos budistas, e adaptado ao acervo cultural de
diversos países, como China, Coréia e Japão.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">A difusão para o
Oeste é razoavelmente bem documentada. O jogo alcançou a Pérsia por volta de
625, recebendo o nome de <i>chatrang</i>.
Após a conquista árabe da Pérsia (631-51), o jogo, agora batizado com o nome
árabe <i>shatranj</i>, conheceu uma época de
grande florescimento. O islamismo proibia os jogos de azar, mas o <i>shatranj </i>era considerado um jogo de
guerra, e, por isso, permitido. Vários califas tornaram-se aficcionados do
jogo, e os melhores jogadores recebiam dinheiro para jogar, ensinar e escrever
livros.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-a8I4fAM8rEc/WIt8MsjrPPI/AAAAAAAAVtE/WagRxwZErH4-uCybEHMzvLRlQyAtF8CgACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-a8I4fAM8rEc/WIt8MsjrPPI/AAAAAAAAVtE/WagRxwZErH4-uCybEHMzvLRlQyAtF8CgACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B02.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">O <i>shatranj </i>foi levado para a Rússia a
partir do século IX, principalmente através da rota de comércio Mar
Cáspio-Volga. Cristãos bizantinos difundiram o jogo pelos </span></b><b><span style="color: #20124d;">Bálcãs e Vikings fizeram o mesmo na
região do Báltico, tudo isso num período anterior à conquista mongol de 1223.
Os mongóis também apreciaram o jogo, especialmente na corte do imperador Tamerlão. O <i>shatranj </i>chegou à Europa Ocidental entre
os séculos VIII e X por três rotas: inicialmente com os invasores mouros da
Península Ibérica; depois, através do Império Bizantino no Leste, e,
finalmente, com os sarracenos (invasores
islâmicos da Sicília). Por volta do ano 1000 o jogo já era amplamente conhecido
na<span style="letter-spacing: -1.3pt;"> </span>Europa.</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-QzpavWr7FAU/WIt8YONVsjI/AAAAAAAAVtI/IQQwz5JAA_gX0gusx4xuwzulXVNUaiugACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B05.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-QzpavWr7FAU/WIt8YONVsjI/AAAAAAAAVtI/IQQwz5JAA_gX0gusx4xuwzulXVNUaiugACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B05.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;">A Igreja a
princípio se opôs ao jogo, possivelmente devido ao uso freqüente de apostas.
Surgiram alguns editos proibindo o clero de jogar, notadamente um do cardeal
Damiani em 1061. Entretanto, por volta do século XIII essa proibição foi
relaxada ou esquecida, e o xadrez passou a gozar de popularidade entre várias
ordens religiosas. Alguns de seus membros inclusive usaram o xadrez em
alegorias conhecidas como “moralidades”, comuns na literatura européia da Idade
Média, e que tentavam dar uma explicação simbólica ou alegórica do jogo,
encontrar paralelos entre a organização da vida e atividade humanas e o xadrez.
Essas alegorias geralmente consideravam o jogo como emblemático da condição
social da época.</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
</div>
<div class="WordSection5">
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Vejamos um
exemplo dessas “moralidades”. A mais antiga conhecida é da metade do século
XIII, e ficou conhecida como “moralidade de Inocêncio”, por ter sido atribuída
ao papa Inocêncio III (papa entre 1198 e 1216).Ao que tudo indica, no entanto, foi obra de um monge galês. O
texto diz o seguinte:<span style="font-size: 6.5pt; line-height: 173%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">3</span><span style="font-size: 6.5pt; line-height: 173%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: .4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 130%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .05pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">“Este mundo todo
é como um tabuleiro de xadrez: uma casa é branca, outra casa é preta, e assim representa o duplo
estado de vida ou de morte, de graça ou pecado. A família que habita esse
tabuleiro é formada pelos homens deste mundo,<span style="letter-spacing: .3pt;">
</span>que<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 130%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .15pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">-- tal como as peças saídas todas
da mesma bolsa -- procedem todos de um só ventre materno. E, tal como as peças,
assumem seus postos nos diferentes lugares deste mundo, cada um com sua própria
denominação. O primeiro é o Rei,
depois a Rainha, </span></b><b><span style="color: #20124d;">em terceiro lugar a Torre, em
quarto o Cavalo, em quinto o Bispo e em sexto o Peão. E o caráter do jogo é tal
que um toma o outro e, com o jogo terminado, assim como todos tinham saído da
mesma bolsa, a ela voltam. E então já não há diferença entre o Rei e o pobre
Peão, pois acabam do mesmo modo o rico e o pobre. E com freqüência acontece que, quando se devolvem
as peças, o Rei fica por baixo, no fundo do saco; e assim também acontece com
os grandes que ao sair deste mundo são sepultados no inferno; enquanto os
pobres são levados ao seio de Abraão.”</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 130%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .15pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-BS966ti4PA4/WIt8iii3CMI/AAAAAAAAVtQ/KsNk_qAS_v0LEuQ3xrwq00CVhxZK-qXbwCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B06.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-BS966ti4PA4/WIt8iii3CMI/AAAAAAAAVtQ/KsNk_qAS_v0LEuQ3xrwq00CVhxZK-qXbwCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B06.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 130%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .15pt; text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="WordSection6">
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Temos aqui uma
alegoria bastante explícita do nascimento e morte como comuns a toda a
humanidade. Essa imagem foi muito popular através de toda a Idade Média, e
mesmo depois. É mencionada, por exemplo, no <i>Dom
Quixote</i>, de Miguel de Cervantes. Aliás, há muitas referências ao xadrez em
fontes literárias medievais, principalmente romances. Há passagens sobre reis
resolvendo questões de Estado através do jogo, condenados jogando enquanto
esperavam a execução, tabuleiros mágicos feitos pelo mago Merlin etc. Rabelais
tem uma longa descrição de um jogo de “xadrez vivo”, isto é, com pessoas
ocupando o lugar de peças. Mas voltemos à “moralidade”, que prossegue
descrevendo agora o movimento das peças:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: .45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 130%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">“A <i>Rainha </i>move-se e toma [isto é, captura
peças adversárias] na diagonal [essa é uma regra antiga], de modo torto, pois a
mulher é tão cobiçosa que só toma tortamente, por obra da rapina e da
injustiça. A <i>Torre </i>é o justiceiro que
percorre toda a terra em linha reta como sinal da justiça com que tudo julga e
de que por nada deve seu ofício
corromper-se. [...] O movimento do <i>Cavaleiro
</i>é composição de reto e torto. O reto, representando o direito que tem, em
justiça, como senhor da propriedade, de cobrar impostos e de impor justas penas
conforme o exija o delito; representando as injustas extorsões a que submete os
súditos. [...] Os <i>Bispos </i>movem-se
oblíqua e tortuosamente duas casas [outra regra de movimento antiga] porque
muitos prelados se pervertem pelo ódio,
amor, presentes, ou favores para não corrigir os delinqüentes nem ladrar contra
os vícios, tratando os pecados como um terreno arrendado por uma taxa anual. E
assim enriquecem o diabo, fomentando os vícios ao invés de extirpá-los<span style="letter-spacing: -1.9pt;"> </span>e </span></b><b><span style="color: #20124d;">se tornam procuradores do diabo.
[Observar o anticlericalismo do texto!] Os <i>Peões
</i>são os pobres que andam uma casa em linha reta, pois enquanto o pobre
permanece na sua simplicidade vive honestamente, mas, para tomar, se corrompe e
o faz tortamente, pois pela cobiça se bens ou honras, sai do reto caminho com
falsos juramentos, adulações ou mentiras.”</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 130%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-OrFKgtXmvak/WIt8rvrOYWI/AAAAAAAAVtU/203GaeyRxJsNysBK-UAJa5gdg8qcKfM2ACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B07.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-OrFKgtXmvak/WIt8rvrOYWI/AAAAAAAAVtU/203GaeyRxJsNysBK-UAJa5gdg8qcKfM2ACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B07.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 130%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<br /></div>
</div>
<div class="WordSection7">
<div class="MsoBodyText" style="margin-left: 41.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Finalmente, há uma passagem interessante sobre o desfecho do jogo:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<o:p><b><span style="color: #20124d;"> </span></b></o:p><b style="font-size: 12.5pt;"><span style="color: #20124d;"> </span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 130%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">“O diabo diz: <i>xeque</i>! incitando ao mal e ferindo com o
dardo do pecado. E se o atingido não sai rapidamente dizendo: <i>livre</i>!, pela penitência e compunção do
coração, o diabo lhe diz: <i>mate</i>!,
levando sua alma ao inferno de onde não se poderá livrar de modo<span style="letter-spacing: -.55pt;"> </span>algum.”<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: .25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 171%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Pulei
propositalmente a parte referente aos movimentos do <i>Rei</i>, porque aqui há um ponto importante. Deve ter ficado claro que
o princípio subjacente aos movimentos das peças, para o autor da “moralidade”,
é que um movimento reto simboliza um movimento/ação moralmente correto, justo;
um torto ou na diagonal significa um movimento/ação moralmente incorreto,
injusto. Ora, o Rei move-se e captura uma casa em <i>todas </i>as direções <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>com
movimentos, portanto, “retos” e “tortos”. Entretanto, a figura real era
considerada de origem divina e fonte da justiça, e, portanto, não podia fazer
movimentos “tortos” na vida. Qual a solução? O moralista falsificou os movimentos da peça, suprimindo os movimentos
“tortos” e dizendo que o Rei se movia apenas retamente.<span style="font-size: 6.5pt; line-height: 171%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">4 </span>No entanto, naquela época <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>como
hoje <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>essa
peça se movia e capturava em todas as<span style="letter-spacing: -.05pt;"> </span>direções.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 171%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-1KGYivx5pKQ/WIt8zzgsqVI/AAAAAAAAVtY/2-dNpJUDUJwXZ_uHTHh-spBpugvIlPO2gCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B08.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-1KGYivx5pKQ/WIt8zzgsqVI/AAAAAAAAVtY/2-dNpJUDUJwXZ_uHTHh-spBpugvIlPO2gCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B08.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 171%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .55pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Temos aqui um
exemplo claro de que o interesse maior dessas “moralidades” era com a <i>alegoria </i>e não com o jogo. Isso não quer
dizer que as moralidades não tenham
tido importância para
o desenvolvimento do jogo na
Europa. <span style="letter-spacing: .15pt;"> </span>Possivelmente </span></b><b><span style="color: #20124d;">elas divulgaram o xadrez e ajudaram
a diminuir o preconceito eclesiástico inicial. Mas, como o historiador do
xadrez Murray nota<span style="font-size: 6.5pt; line-height: 173%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">5</span>, “para o moralista a
fábula era de muito maior importância do que os detalhes do jogo, e os detalhes
tinham que se encaixar na explicação, e não o inverso.” O xadrez fornecia
apenas a moldura para as alegorias. O alvo das “moralidades” era outro.</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .55pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<br /></div>
</div>
<div class="WordSection8">
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Nem todas as
alegorias medievais, é bom notar, eram de fundo religioso. Há um poema francês
do século XIV, chamado <i>Les échecs
amoureux </i>que é a descrição, movimento por movimento, de um jogo entre uma
dama e seu pretendente. O paralelo entre amor e xadrez aparece também num livro
publicado em 1497 pelo espanhol Luís Lucena, intitulado <i>Repetición de amores e arte de axedrez</i>.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;">Por volta de
1475, ocorreram algumas mudanças significativas nas regras do jogo, que
modificaram o xadrez árabe e deram origem ao xadrez moderno na Europa
Ocidental. Basicamente, o ritmo do jogo foi acelerado e algumas peças
substituídas. Os primeiros livros sobre
a nova forma do jogo foram todos escritos na Península Ibérica.</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-jWUPPfvLpsE/WIt9AXgioLI/AAAAAAAAVtg/mw8tjaCeg6MzSMamqjdnkQ9b7-jNyRmbACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B09.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-jWUPPfvLpsE/WIt9AXgioLI/AAAAAAAAVtg/mw8tjaCeg6MzSMamqjdnkQ9b7-jNyRmbACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B09.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b style="text-indent: 36pt;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Na segunda
metade do século XVI, o jogo teve um grande desenvolvimento, e os melhores
jogadores passaram a ser patrocinados por mecenas, inclusive reis. Nessa época também começaram a surgir
torneios. O mais antigo documentado ocorreu em 1575 na corte de Felipe II da
Espanha, quando se enfrentaram jogadores espanhóis e italianos. Venceu o
italiano Giovanni Leonardo, que recebeu mil ducados, uma capa de arminho e
durante vinte anos sua cidade natal Cutri, da Calábria, esteve isenta de<span style="letter-spacing: -.8pt;"> </span>tributos.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Desde então, o
xadrez atravessou todas as tendências históricas e modas culturais que
surgiram. A partir de 1730, passou a ser muito jogado em cafés, como o <i>de la Régence</i>, em Paris, um dos mais
famosos pontos de encontro de xadrez de todos </span></b><b><span style="color: #20124d;">os tempos, com frequentadores
ilustres como Voltaire, Rousseau, Robespierre, Benjamin Franklin, Napoleão e
Richelieu. O xadrez também não ficou alheio ao igualitarismo iluminista da fase
pré-revolucionária. Cinqüenta anos antes da tomada da Bastilha, foi publicado o
livro fundador do xadrez moderno, por um compositor de música e jogador de
xadrez chamado Philidor (1726-95) <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span><i>L’
analyse des échecs</i>, que teve
enorme sucesso. Nesse livro, é pela primeira vez descrita a estratégia do jogo
como um todo e afirmada a importância decisiva da formação de peões, até então
os elementos menos considerados do jogo, por serem o de menor poder ofensivo.
Mas era época do Iluminismo, e os peões
foram revalorizados por Philidor numa frase famosa: “eles são a alma do<span style="letter-spacing: -1.25pt;"> </span>xadrez.”</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-lBpEoX8ne4c/WIt9IO4B4SI/AAAAAAAAVtk/bjU43GfLDS4dKIrKUBd1UwZdnAuOpf6JQCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-lBpEoX8ne4c/WIt9IO4B4SI/AAAAAAAAVtk/bjU43GfLDS4dKIrKUBd1UwZdnAuOpf6JQCLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B10.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .25pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
</div>
<div class="WordSection9">
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .4pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">A partir daí, a
teoria sobre o jogo foi desenvolvida de forma ininterrupta. Surgiram várias “escolas” que preconizavam
diferentes estilos ou maneiras de conduzir as partidas de xadrez, como a
“Escola Modenense” (de Modena, uma cidade italiana), que em geral se opunha aos
ensinamentos de Philidor, preconizando a importância fundamental do ataque
rápido e direto ao Rei inimigo através das peças. No final do século XIX,
Wilhelm Steinitz (1836-1900) desenvolveu críticas ao xadrez de estilo
“romântico”, que defendia o ataque rápido a todo custo, e mostrou a importância
da defesa e do acúmulo de pequenas vantagens ao longo do jogo. Ele propunha uma
apreciação científica, objetiva do jogo de xadrez. Já um adversário seu, o
médico alemão de origem judaica Siegbert Tarrasch (1862-1934), via a partida de
xadrez como a imagem de uma guerra: a fase de abertura da partida correspondia
à mobilização, ao desenvolvimento estratégico e ao engajamento nos combates
iniciais; o meio da partida era a
batalha propriamente dita, onde se decidia a vitória, e o final, a realização
da superioridade obtida nas fases anteriores. Em sua teoria do jogo,
Tarrasch distinguia três
elementos principais: as
forças, o espaço
e o tempo,
que <span style="letter-spacing: 1.9pt;"> </span>seriam </span></b><b><span style="color: #20124d;">permutáveis entre si, um podendo
transformar-se no outro. Na década de 1920 surgiu, em reação a princípios
considerados formalistas e ortodoxos como os de Tarrasch, um movimento batizado
de “hipermodernismo”, cujos expoentes permitiam ao adversário ocupar a posição
central do tabuleiro <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>mantendo
no entanto um controle estratégico, à<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>distância,<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>desse<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>centro<span style="letter-spacing: -.35pt;"> </span><span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; letter-spacing: .05pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>para<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>depois<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>contra-atacar<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>e<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>demolir<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>suas<span style="letter-spacing: -.3pt;"> </span>posições.</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .4pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-nz6Xdo_Y4dk/WIt9f2L6NYI/AAAAAAAAVts/Vp6LA8Bk-FQJri-GGxqVrsJLTTOEP2U0ACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B12.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-nz6Xdo_Y4dk/WIt9f2L6NYI/AAAAAAAAVts/Vp6LA8Bk-FQJri-GGxqVrsJLTTOEP2U0ACLcB/s1600/Cultura%2Bdo%2Bxadrez%2B12.jpg" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: .4pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
</div>
<div class="WordSection10">
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 172%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Não vou falar de
todas as “escolas” e tendências modernas. Mencionei algumas apenas para dar uma
idéia da variedade de estilos e concepções a respeito do jogo. Hoje em dia, o
tempo das “escolas” passou, importando mais o estilo individual para determinar
a maneira pela qual os grandes jogadores atuam. Essas “escolas” têm a ver, é bom notar, com grandes jogadores, e
não com a maioria absoluta de jogadores amadores, que não dominam sutilezas
teóricas a respeito de estratégia, nem são virtuosos táticos <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>jogam
apenas por<span style="letter-spacing: .3pt;"> </span>distração.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 172%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 172%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Evitarei a
soberba intelectual de “explicar” ou “decifrar” o “significado” do xadrez,
reduzindo-o a fórmulas do tipo “o xadrez representa não-sei-o-quê” <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>a
guerra, a luta, a vida etc. A esse respeito, gostaria de lembrar o livro do
filósofo holandês Johan Huizinga, publicado em 1938, <i>Homo Ludens</i>, que tem o subtítulo de “O jogo como elemento da
cultura.”<span style="font-size: 6.5pt; line-height: 172%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">6 </span>Observar que é “da”
cultura, e não “na” cultura, porque para Huizinga a própria cultura possui um
caráter lúdico: ela é “jogada”. É um livro difícil, com algumas passagens bastante obscuras. De
qualquer forma, um dos pontos altos é quando Huizinga ressalta os perigos do
reducionismo racionalista: o jogo <i>em si </i>não
se pode <i>explicar</i>. Ele possui um
caráter estético, de <i>divertimento</i>,
que resiste a toda análise e interpretação lógicas: o importante do jogo está <i>no próprio jogo</i>, e não, como nos
rituais, em algo além dele, que ele<span style="letter-spacing: -1.9pt;"> </span>“representa”.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 172%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .4pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Uma afirmação
que parece bastante plausível em relação aos jogos em geral é que eles estão
intrinsecamente relacionados às características sociais e culturais das </span></b><b><span style="color: #20124d;">sociedades em que são jogados, que
são ritualizações de componentes culturais dessas sociedades, e que não podem
ser “compreendidos” sem que o analista leve em consideração esses vínculos.
Essa afirmação segue um esquema de pensamento bastante característico das
ciências humanas contemporâneas, e que é aplicado em vários contextos e a
vários objetos. A história do jogo de xadrez, no entanto, coloca alguns
problemas à universalidade dessa afirmação, porque trata-se de um jogo <i>transcultural</i>, presente em culturas <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>e mesmo
civilizações <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>muito
distantes no tempo, no espaço e em
características culturais. Uma crítica “nominalista” poderia dizer que “xadrez”
é apenas uma palavra que, apesar de comum a diferentes culturas, representa na
realidade jogos diversos, posto que jogado e representado culturalmente de
diferentes formas. Isso pode ser válido para outros jogos, talvez mesmo para a
maioria, mas no caso do xadrez esse argumento é fraco. As “moralidades”,
“escolas” e outras apropriações culturais do jogo são claramente acessórias.
Para além delas, permanece uma estrutura de jogo razoavelmente imutável e que
atravessou dessa forma diferentes contextos culturais através de vários
séculos.</span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .4pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-S1pN72Hq2o0/WIt95DWyO5I/AAAAAAAAVtw/sto-MdWHvv4zUONnlH-yRSEwSr66KPzQwCLcB/s1600/DSC01668.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://1.bp.blogspot.com/-S1pN72Hq2o0/WIt95DWyO5I/AAAAAAAAVtw/sto-MdWHvv4zUONnlH-yRSEwSr66KPzQwCLcB/s320/DSC01668.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .4pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.9pt; margin-top: .4pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Para encerrar,
um poema:</span></b></div>
</div>
<div class="WordSection11">
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: .25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 279.55pt; margin-top: 0cm;">
<span lang="EN-US"><b><span style="color: #20124d;">“O
thou whose cynic sneers express The censure of our favourite chess, Know that
its skill is science’ self,<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: .25pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><b><span style="color: #20124d;">Its play distraction from distress;<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 287.0pt; margin-top: 10.2pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><b><span style="color: #20124d;">It soothes the anxious lover’s care, It weans the
drunkard from excess; It counsels warriors in their art,<o:p></o:p></span></b></span></div>
</div>
<b><span style="color: #20124d;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 173%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Arial; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-break-type: section-break; page-break-before: always;" />
</span>
</span></b><br />
<div class="WordSection12">
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: .3pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 173%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 260.85pt; margin-top: 0cm;">
<b><span style="color: #20124d;"><span lang="EN-US">When
dangers threat, and perils press; And yield us, when we need them most,
Companions in our loneliness.”</span><span lang="EN-US" style="font-size: 6.5pt; line-height: 173%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">7</span><span lang="EN-US" style="font-size: 6.5pt; line-height: 173%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 172%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 9.65pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><span style="color: #20124d;">Esse poema foi
escrito pelo califa al-Mu‘tazz, por volta do ano 900 <span lang="EN-US" style="font-family: Symbol;">¾</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span>ou seja, há mil e cem anos. É bem possível que
a atração que o xadrez exerce sobre quem o joga hoje seja a mesma exercida
sobre aficcionados de outros tempos, de outras culturas. Isso, por si só, seria
suficiente para tornar o jogo de xadrez uma experiência humana muito especial.<o:p></o:p></span></b></div>
</div>
<b><span style="color: #20124d;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 172%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Arial; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-break-type: section-break; page-break-before: always;" />
</span>
</span></b><br />
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: .3pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoBodyText" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 217.4pt; margin-right: 218.25pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><u>NOTAS</u><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-top: .3pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 4.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><span style="font-size: 6.5pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">1</span><span style="font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">. Pesquisador do
CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, doutorando em Antropologia Social no
PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, autor de <i>O
espírito militar: um estudo de antropologia social na Academia Militar das
Agulhas Negras </i>(Jorge Zahar, 1990), co- organizador de <i>Visões do golpe: a memória militar sobre 1964 </i>(Relume-Dumará, 1994)
e <i>Anos de chumbo: a memória militar sobre
a repressão </i>(Relume-Dumará, 1994).<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 5.0pt; margin-right: 5.85pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><span lang="EN-US" style="font-size: 6.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">2</span><span lang="EN-US" style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">. Para a história do xadrez, baseei-me em
vários livros, principalmente: David Hooper
& Kenneth Whyld, <i>The Oxford
companion to chess </i>(Oxford, 1988); H. J. Murray, <i>A history of chess </i>(Oxford, 1913); R. N. Coles, <i>The chess-players week-end book </i>(London,
Pitman& Sons, 1950) e Luiz Jean Lauand, <i>O
xadrez na Idade Média </i>(Perspectiva/EDUSP,<span style="letter-spacing: -1.25pt;">
</span>1988).<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-left: 5.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><span style="font-size: 6.5pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">3</span>. Uso a tradução de Lauand, <i>op.
cit.</i>, p. 49-51.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 5.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><span lang="EN-US" style="font-size: 6.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">4</span><span lang="EN-US" style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">. Ver Murray, <i>op. cit.</i>, p. 530-1.<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 5.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><span lang="EN-US" style="font-size: 6.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">5</span><span lang="EN-US" style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">. <i>Op.
cit.</i>, p. 530.<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-left: 5.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><span lang="EN-US" style="font-size: 6.5pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;">6</span><span lang="EN-US">. Edição brasileira:
Perspectiva, 1980.<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 5.0pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 6.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-text-raise: 5.0pt; position: relative; top: -5.0pt;"><b><span style="color: #20124d;">7</span></b></span><span lang="EN-US" style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><b><span style="color: #20124d;">. <i>The
Oxford companion to chess</i>, p. 308.</span></b><o:p></o:p></span></div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-31258561334547318462016-08-22T16:28:00.001-07:002016-08-22T16:28:14.092-07:00HISTÓRIAS DE BOBBY FISCHER<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-Vm3Kr9deGso/V7uAh1t4QuI/AAAAAAAAU7g/LgdI3NnKtucpr4ROYMVQwufb6_aWvSupQCLcB/s1600/Fischer%2B018.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://1.bp.blogspot.com/-Vm3Kr9deGso/V7uAh1t4QuI/AAAAAAAAU7g/LgdI3NnKtucpr4ROYMVQwufb6_aWvSupQCLcB/s320/Fischer%2B018.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000; font-size: x-large;">BOBBY FISCHER</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000; font-size: large;">Por Yasser Seirawan</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Quando eu estudava na Garfield High School, em Seattle, meu professor de física pediu à classe que escrevesse um trabalho sobre a teoria do Big Bang (A Grande Explosão) da criação do universo. Em suas aulas, ele parecia especialmente entusiasmado com a teoria, elogiando-a efusivamente. Eu não compartilhava do entusiasmo dele, tendo dúvidas sobre a teoria, mas, mesmo assim, escrevi diligentemente um ensaio intitulado “No princípio”. Ele apresentava o conceito do Big Bang e eu escrevi favoravelmente sobre como a teoria fazia sentido. Recebi um “A+” pelo trabalho e desde então penso sobre o “Princípio”.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-HIWcSsX6jMQ/V7uB3xP5x5I/AAAAAAAAU7s/h-4lG7ZFK4YDNZcV8SiCSoRYRdiqOZ6hgCEw/s1600/Fischer%2B026.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="281" src="https://2.bp.blogspot.com/-HIWcSsX6jMQ/V7uB3xP5x5I/AAAAAAAAU7s/h-4lG7ZFK4YDNZcV8SiCSoRYRdiqOZ6hgCEw/s320/Fischer%2B026.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #990000;">A LENDA FISCHER SE INICIA</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“O Big Bang”, não apenas para a minha carreira de xadrez, mas para muitos enxadristas americanos, foi o sucesso de Robert James Fischer em 1972 (1943-2008). Naquele ano, ele se tornou o décimo primeiro Campeão Mundial de Xadrez segundo a Federação Mundial de Xadrez. Sua vitória no match de 1972 contra Boris Spassky, da União Soviética, teve um papel central no meu entusiasmo pelo xadrez. Seu sucesso impulsionou o povo americano para o xadrez e o match com Spassky foi notícia de primeira página por vários meses. Logo todos sabiam da história: ele foi o americano que enfrentou “sozinho” o rolo compressor de xadrez da União Soviética, derrotou-os todos sucessivamente e ganhou a coroa, tornando-se o Campeão do Mundo. Meu círculo de amigos íntimos de xadrez estava em polvorosa. “Bobby”, como era carinhosamente conhecido por todos, era simplesmente o brinde dos tempos. O fenômeno Bobby Fischer foi extraordinário.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-c4WFVIoZbQw/V7uCyMZUG0I/AAAAAAAAU74/oiPtQFkz3KIE_sg8WXjct1PcE9xxPDSOgCLcB/s1600/Fischer%2B036.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-c4WFVIoZbQw/V7uCyMZUG0I/AAAAAAAAU74/oiPtQFkz3KIE_sg8WXjct1PcE9xxPDSOgCLcB/s1600/Fischer%2B036.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">A revista Life fez uma grande reportagem de capa sobre ele, enquanto a mídia acompanhava todos os seus movimentos dentro e fora do tabuleiro. Após sua vitória em Reykjavik, na Islândia, em 1972, Bobby foi homenageado com um desfile na cidade de Nova Iorque e recebeu as chaves da cidade; apareceu no programa Tonight de Johnny Carson; fez uma paródia com Bob Hope; o presidente Nixon o saudou como um herói nacional... E então, no auge de seu reconhecimento e conquistas profissionais, ele deixou o palco e desapareceu.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-YeOsSUAjH3c/V7uDH_039PI/AAAAAAAAU8A/A2-QFNhhPg0LDs2NnVnlo9Gl7ZiGEM9VgCLcB/s1600/Fischer%2B035.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-YeOsSUAjH3c/V7uDH_039PI/AAAAAAAAU8A/A2-QFNhhPg0LDs2NnVnlo9Gl7ZiGEM9VgCLcB/s320/Fischer%2B035.jpeg" width="243" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #990000;">ONDE ESTAVA O BOBBY?</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Dizer que a situação era exasperante seria um eufemismo. Todo fã de xadrez nos Estados Unidos aguardava sua próxima partida, torneio e confronto. A impetuosa marcha de Bobby pelo ciclo do Campeonato Mundial e na disputa pelo título tinha sido tão dominante que simplesmente não havia dúvida de que ele seria o vencedor no próximo torneio ou evento em que competisse. Vivenciamos uma ansiedade coletiva enquanto aguardávamos o anúncio de quando e onde ele iria jogar novamente. Essa pausa em sua carreira coincidiu com a época em que eu comecei a jogar e me deu uma chance de tentar me igualar. Eu aprendi a repetir suas maiores vitórias, inclusive a “Partida do Século” contra Donald Byrne. Uau! Disputada quando ele tinha apenas 13 anos.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Eu me emocionava com as histórias sobre a sua partida contra Robert Byrne no Campeonato Mundial dos Estados Unidos. Bobby tinha sacrificado uma peça e os Grandes Mestres que faziam comentários durante a partida diziam sabiamente ao público que ele tinha jogado levianamente e agora estava perdido... Em seguida, para a surpresa deles, Byrne abandonou a partida. As histórias eram todas muito inspiradoras. Era como se Bobby estivesse em um mundo próprio.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-1x9shCFj-FE/V7uDS9qCbnI/AAAAAAAAU8E/EWX3PSecRskyXl0BUgwg_3d1XaB_my_3ACLcB/s1600/Fischer%2B015.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://2.bp.blogspot.com/-1x9shCFj-FE/V7uDS9qCbnI/AAAAAAAAU8E/EWX3PSecRskyXl0BUgwg_3d1XaB_my_3ACLcB/s320/Fischer%2B015.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Os meses se passavam e ainda não se tinha notícia sobre o esperado retorno triunfal de Bobby ao tabuleiro. A preocupação cresceu. O próprio Bobby não havia dito a todos que, como Campeão do Mundo, ele iria jogar com frequência e manter um papel ativo jogando em todos os eventos maiores e mais importantes? Citava-se amplamente que Bobby teria dito em uma entrevista: “Tudo o que eu quero fazer é jogar xadrez”. Onde estava ele? Nesse período de trevas no xadrez, parecia que ele estava se escondendo – mais especificamente, evitando toda a imprensa e os paparazzi. Ele parecia especialmente tímido diante das câmeras. O que ele estava fazendo? Estava estudando? Estava jogando “partidas de treinamento particulares” para manter sua vantagem? Bobby não estava apenas ausente – ele tinha desaparecido completamente. Um vácuo de xadrez havia sido criado. O desfile tinha parado, o líder era um desertor.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Em 1974, apareceu um novo livro, escrito por Brad Darrach, repórter da revista Life, intitulado Bobby Fischer vs. the Rest of the World. Ele causou sensação em meu círculo de amigos. Devorei o livro ansiosamente, saboreando todas as revelações sobre as opiniões e o comportamento de Bobby. Várias passagens me fizeram rir alto, imaginando o que Bobby teve de suportar durante o vendaval a seu redor. “Tire os russos das minhas costas”, foi o que ele disse ao coronel Ed Edmondson, o chefe de sua delegação, e essas palavras adquiriram vida própria. “Saia das minhas costas!” ouvia-se nos clubes de xadrez e no café Last Exit, onde aprendi a jogar e usar um relógio de xadrez para jogar partidas de Blitz, ou de cinco minutos.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-77y5dtYHfWU/V7uDevM4XaI/AAAAAAAAU8I/JMnAriCG2dkhGtFTj7J3Pta_VekhABatgCLcB/s1600/Fischer%2B012.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-77y5dtYHfWU/V7uDevM4XaI/AAAAAAAAU8I/JMnAriCG2dkhGtFTj7J3Pta_VekhABatgCLcB/s320/Fischer%2B012.jpg" width="253" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">As especulações sobre o que Bobby estaria fazendo ou deixando de fazer pareciam crescer e tornar-se mais extravagantes com o passar do tempo. A Igreja Universal do Reino de Deus de Garner Ted Armstrong parecia desempenhar um papel central na vida de Bobby. Essa Igreja parecia ser uma espécie de culto apocalíptico de fundamentalistas cristãos que acreditavam na profecia do Novo Testamento. O apocalipse estava sobre nós e somente os verdadeiros crentes seriam salvos. Circularam rumores de que Bobby tinha doado os seus ganhos com o Campeonato Mundial para a Igreja. Sua secretária particular, “Claudia”, um membro da Igreja, era responsável por entrar em contato com Bobby e repassar os convites e propostas comerciais. Ela parecia ser o único canal de contato com Bobby. Espalhavam-se rumores sobre ações judiciais de Chester Fox, o homem que tinha os direitos de filmagem do jogo de 1972, assim como de uma ação judicial contra os editores do livro de Darrach. Todos os detalhes eram avidamente compartilhados.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Fiquei sabendo que Bobby tinha recebido uma oferta de um milhão de dólares para endossar um xampu em um comercial. Um milhão de dólares! Que quantidade assombrosa de dinheiro! Dinheiro fácil com certeza. Bastava tornar-se Campeão Mundial de Xadrez e patrocinadores e ofertas comerciais bateriam à sua porta. Como Bobby tinha reagido a uma oferta tão maravilhosa? A resposta que nos surpreendeu foi que Bobby recusou. Recusou um milhão de dólares? Seria possível? E, em caso afirmativo, por quê? A resposta foi que Bobby recusou a oferta comercial pela mais simples das razões: ele não usava aquela marca particular de xampu. Esta resposta impressionante provocou incrédulos minutos de silêncio seguido por gargalhadas. Não parecia possível! “Sério?” todos perguntamos. Sim, fomos informados – Bobby é uma pessoa muito “pura”, que nunca iria endossar um produto no qual não acredita pessoalmente. Hmm.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-x-xgj1A7OaM/V7uDthH96tI/AAAAAAAAU8M/391mYoK4ACAOXglKUwrMx9fOR3GSSg2DgCLcB/s1600/Fischer%2B019.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="316" src="https://1.bp.blogspot.com/-x-xgj1A7OaM/V7uDthH96tI/AAAAAAAAU8M/391mYoK4ACAOXglKUwrMx9fOR3GSSg2DgCLcB/s320/Fischer%2B019.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Essas histórias me fizeram reavaliar toda a minha noção de endossos comerciais. Será que eu seria tão puro? Rejeitaria uma oferta de um milhão de dólares porque eu não usava o produto em questão? Certamente que não! Eu também não possuía um Rolls Royce nem um relógio Rolex Midas, mas por um milhão de dólares eu certamente os indicaria como excelentes produtos, especialmente se algumas amostras fossem fornecidas como parte de meu apoio! Afinal, eu deveria ter a chance de experimentá-los. Histórias sobre Bobby pululavam. Era impossível distinguir mito de realidade. Repórteres escreviam tudo o que imaginavam, e não havia ninguém para desmenti-los. Toneladas de lixo eram vomitadas e constantemente recicladas. A ficção tornou-se realidade, repetida por um texto atrás do outro. Os amigos, perplexos com essas reportagens, pediam a Bobby que escrevesse cartas para corrigir os autores, mas geralmente sem sucesso. Meus amigos de xadrez de Seattle ansiavam por qualquer notícia de Bobby. A sabedoria reciclada era a de que ele estava com a Igreja Universal do Reino de Deus, que Claudia conduzia seus negócios e que, em vez de treinamento de xadrez, ele estava concentrado no processo sobre o livro de Brad Darrach. Não havia apoios comerciais, nem torneios, nem notícias. Estávamos dolorosamente vazios de histórias para contar uns para os outros.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Artigos constantemente repetiam e alardeavam o seguinte: Bobby desprezava a imprensa, recusou todos os pedidos de entrevista e não queria que as pessoas soubessem onde ele vivia: que levava uma vida solitária em Pasadena, Califórnia, usando transporte público para fazer viagens à Biblioteca Pública de Los Angeles para fazer pesquisas para seu processo judicial; que todos os seus amigos lhe prometeram sigilo e que estava afastado de sua família.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-5QxMMCPfR0I/V7uD8lCjRcI/AAAAAAAAU8Q/V0rm4byuTl4Khy-UHX7GyyMxHI__LDOVACLcB/s1600/Fischer%2B001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="210" src="https://3.bp.blogspot.com/-5QxMMCPfR0I/V7uD8lCjRcI/AAAAAAAAU8Q/V0rm4byuTl4Khy-UHX7GyyMxHI__LDOVACLcB/s320/Fischer%2B001.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Embora seja apenas especulação da minha parte, parece que a ação judicial de Bobby contra Brad Darrach teve um papel central em sua vida por muitos anos e terminou em desastre para ele. Em sua edição de junho de 1977, a revista Chess Life & Review relatou:</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“A ação judicial de 5 milhões de dólares por invasão de privacidade movida por Bobby Fischer contra o autor Brad Darrach, da Time-Life International e Stein and Day Publishers, foi indeferida pelo juiz do Tribunal Regional da Califórnia, Matt Byrne. Fischer acusara o autor e os editores de quebrar promessas escritas e orais de não publicar detalhes de sua vida privada. Furioso com o resultado, Fischer disse ao juiz David Byrne: ‘Não pagarei um centavo de imposto de renda até que seja feita justiça neste caso.’ Palavras impressionantes e reveladoras de Bobby. Seu profundo antagonismo às autoridades federais dos Estados Unidos tinha começado.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-59TiY5RrR5w/V7uEKZS2KMI/AAAAAAAAU8Y/feT2eK-k3Yw72i-6971aBi6lcsbv3q8ZgCLcB/s1600/Fischer%2B008.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-59TiY5RrR5w/V7uEKZS2KMI/AAAAAAAAU8Y/feT2eK-k3Yw72i-6971aBi6lcsbv3q8ZgCLcB/s320/Fischer%2B008.jpg" width="254" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #990000;">O MATCH DE 1975</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Um dia, um raio de luz nos trouxe energia: Bobby teve uma carta publicada na edição de novembro de 1974 da Chess Life & Review, na qual ele propunha novas, ou talvez antigas, regras para o match de defesa do título programado para 1975. Em vez das regras do melhor de 24 partidas que ele usou para derrotar Boris Spassky, Bobby queria retroceder cem anos para as regras de Wilhelm Steinitz, propondo um confronto do primeiro a ganhar dez partidas, desconsiderando-se os empates. Estas regras incluíam a condição de que, se o Campeão Mundial que estivesse defendendo o título (Fischer) vencesse nove partidas, ele não poderia perder o match. O Campeão Mundial teria que vencer dez partidas para ganhar a competição, assim como o Desafiante – mas, se o Campeão Mundial vencesse nove partidas, o pior que poderia acontecer seria um empate com nove vitórias de cada um. O prêmio seria dividido igualmente em caso de um empate de nove vitórias, mas o Campeão Mundial conservaria seu título.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">A proposta de Bobby provocou imensas discussões nos círculos e revistas de xadrez. Matemáticos escreveram extensamente sobre como um empate de 12 a 12 com o Campeão conservando seu título era mais vantajosa para o Campeão Mundial do que as regras de obrigação de vitória em dez partidas. Na Chess Life & Review, Fischer explicou que, como os empates não contavam, os dois adversários estariam motivados a jogar por uma vitória em todas as partidas. Era tudo muito excitante. Bobby estava voltando! E também não jogaria apenas as 24 partidas. Quem sabia quanto tempo iria durar um match contra o Desafiante soviético Anatoly Karpov? Seriam meses de partidas. Ou jogaria?</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-Y9lWpUt84vY/V7uEXMiPR_I/AAAAAAAAU8c/dztGdefD9JArDWocj8u62vEtmKTc9d3fwCLcB/s1600/Fischer%2B014.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://4.bp.blogspot.com/-Y9lWpUt84vY/V7uEXMiPR_I/AAAAAAAAU8c/dztGdefD9JArDWocj8u62vEtmKTc9d3fwCLcB/s320/Fischer%2B014.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">A instituição de xadrez que teria que aprovar as mudanças nas regras era a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) que, como muitas instituições internacionais da época, era dominada pela União Soviética e seus aliados. As propostas de Bobby seriam aceitas pelos delegados nacionais na Assembléia Geral da FIDE, ou as mudanças propostas por Bobby seriam rejeitadas? De repente, pessoas que nada sabiam sobre a FIDE começaram a aprender sobre seu Comitê Central, suas regras e seus procedimentos de votação. Era tudo muito estranho, mas, de alguma forma, também fascinante.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Mais ou menos na época em que se acirrava a discussão sobre se as propostas de Bobby seriam mais justas para o Desafiante do que uma disputa de duração fixa, na qual os empates aproximavam o líder do título cobiçado, surgiram rumores de que o ditador filipino Ferdinand Marcos tinha oferecido cinco milhões de dólares para sediar o Campeonato Mundial de Xadrez de 1975. Todos se voltaram para a FIDE – certamente os delegados aprovariam as mudanças nas regras, Bobby estaria na disputa e milhões de dólares estariam em jogo. Com 20% do dinheiro indo para a FIDE, seria uma oferta boa demais para ser recusada. Estávamos tontos de empolgação. A votação na FIDE seria uma formalidade. Então o mundo do xadrez foi engolido por um buraco negro. O ex-Campeão Mundial Max Euwe, na época presidente da FIDE, convocou um congresso especial da FIDE para votar sobre as propostas de Fischer para as regras do Campeonato Mundial. A votação foi muito disputada. Meu amigo coronel Ed Edmondson, que tinha sido diretor executivo da United States Chess Federation (USCF), ou Federação de Xadrez dos Estados Unidos, contou-me sua história nos bastidores do evento, que eu resumi como segue: “A disputa seria acirrada. Os dois lados estavam usando todos os meios possíveis. Os soviéticos estavam torcendo braços e cotovelos e as nações ocidentais estavam fazendo o mesmo. Aquela era a nossa chance de levar o xadrez a novos patamares. A perspectiva de um match de cinco milhões de dólares disputado nas Filipinas, confrontando um americano e um soviético, colocaria o xadrez com firmeza nas capas de jornais do mundo inteiro outra vez. O confronto provavelmente duraria meses. Fazíamos lobby como se não houvesse amanhã. Sem dúvida, não haveria amanhã. “Eu conhecia o Bobby muito bem. Ele queria as regras de Steinitz e acreditava genuinamente que elas eram mais justas para os dois adversários. Ele as queria mesmo antes de jogar contra Spassky, mas como Desafiante ele não tinha chance de mudar as regras. Eu sabia, simplesmente sabia que, se as regras de Steinitz não fossem aprovadas, Bobby renunciaria ou perderia seu título. As apostas eram radicais assim. Antes da votação, eu estava nervoso, porém confiante. Eu achei que ele iria ganhar, mas com uma margem pequena. Perdemos por uma margem muito estreita. Ao que parece, o delegado mexicano mudou seu voto no último instante possível. Um ano depois, uma delegação de Grandes Mestres soviéticos visitou o México em uma turnê de cortesia realizando seminários e simultâneas gratuitas. “Os soviéticos conseguiram sua vitória, mas atrasaram o xadrez em uma década ou mais.”</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-haJLrAlR5bs/V7uEhBFmqyI/AAAAAAAAU8k/9EHZngvta2QntkL3JC3qn64giPpL5KBZgCLcB/s1600/Fischer%2B013.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="216" src="https://4.bp.blogspot.com/-haJLrAlR5bs/V7uEhBFmqyI/AAAAAAAAU8k/9EHZngvta2QntkL3JC3qn64giPpL5KBZgCLcB/s320/Fischer%2B013.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Lembre-se de que essa votação ocorreu em uma época em que os soviéticos e seus satélites costumavam vencer votações nas Nações Unidas com margens retumbantes. O fato de a disputa ter sido tão acirrada é realmente um atestado de o quanto foi forte o lobby da USCF. O resultado da decisão da FIDE não poderia ter sido mais cataclísmico. A previsão mais terrível se concretizou: praticamente no momento em que a contagem de votos foi anunciada e a moção pela mudança de regras perdida, Bobby declarou sua renúncia como Campeão Mundial de Xadrez da FIDE. Posteriormente, contudo, Bobby declarou que renunciara “apenas” seu título da FIDE e que ainda era Campeão Mundial.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Em vez de aprovar as regras de Steinitz de “precisar vencer dez partidas”, que Bobby queria, os delegados da FIDE buscaram um meio-termo e aprovaram um conjunto de regras de “precisar vencer seis partidas”. Em caso de um empate de cinco a cinco, o match continuaria até que a próxima partida decisiva fosse disputada. As regras de “precisar vencer seis partidas” eram defendidas por José Raúl Capablanca e costumam ser chamadas de “Regras de Londres”. Isso era típico na tomada de decisões da FIDE então e sempre. Dada uma escolha entre “A” ou “B”, os delegados da FIDE invariavelmente aprovavam um plano “C”, o qual era um híbrido entre as duas opções que geralmente sublinhavam e combinavam os piores aspectos das duas opções originais e, ao mesmo tempo, não possuíam qualidades próprias compensadoras.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-3BbvK1mSmZE/V7uEw6VQjVI/AAAAAAAAU8o/epbNlVMR_9MzElEA_40OzZ9M5wXR8AR0gCLcB/s1600/Fischer%2B016.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-3BbvK1mSmZE/V7uEw6VQjVI/AAAAAAAAU8o/epbNlVMR_9MzElEA_40OzZ9M5wXR8AR0gCLcB/s320/Fischer%2B016.jpg" width="190" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Naquela época e desde então, eu achava que um match de 24 partidas era mais do que suficiente para determinar o melhor jogador. Eu gostava do sistema de ter que vencer dez partidas pelo aspecto dramático, pois os jogadores teriam que correr riscos para vencer o match, mas a ideia de uma competição “sem data para terminar” me preocupava. Um match deste tipo poderia se estender por meses, possivelmente arruinando o orçamento do patrocinador e também enfadando o público. Os organizadores de um match de dez vitórias poderiam ser financeiramente aniquilados ao fixar um local para a competição. E se o match se decidisse em poucas semanas e o lugar tivesse sido alugado por muitos meses? Inversamente, e se após muitos meses o placar fosse de apenas seis vitórias para um dos competidores? Como estender o contrato ou encontrar um novo local? E como um match realmente longo que durasse muitos meses afetaria o ciclo de três anos? Por princípio, o perdedor do match tinha que entrar no ciclo nos estágios iniciais, mas ele poderia já estar em andamento. Após a renúncia de Bobby em abril de 1975, o Desafiante soviético Anatoly Karpov foi declarado Campeão Mundial por forfeit [falta].</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-UIl8rQujjJM/V7uE9cW7dZI/AAAAAAAAU8s/AFbCNmbIujgVEHiehH2bjLF1KXLS3YvkgCLcB/s1600/Karpov%2B009.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-UIl8rQujjJM/V7uE9cW7dZI/AAAAAAAAU8s/AFbCNmbIujgVEHiehH2bjLF1KXLS3YvkgCLcB/s1600/Karpov%2B009.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Os apreciadores americanos de xadrez ficaram amargamente decepcionados, sentindo, sem dúvida, como Bobby sentia, que eles e todo o mundo do xadrez tinham sido privados de um duelo excitante. O novo Campeão Mundial, Anatoly Karpov, passou sua carreira tentando reverter a opinião pública de que ele não era um verdadeiro campeão.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-qs--j1ZbF3M/V7uFKrCxyuI/AAAAAAAAU80/g6hKKRQxxYonnIBzZpP_hs-WVk3kUrSkACLcB/s1600/Fischer%2B023.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-qs--j1ZbF3M/V7uFKrCxyuI/AAAAAAAAU80/g6hKKRQxxYonnIBzZpP_hs-WVk3kUrSkACLcB/s320/Fischer%2B023.jpg" width="258" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #990000;">A LENDA CRESCE</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Apesar da desistência, o interesse em Bobby Fischer era tão palpável que, quando eu joguei no Aberto Americano em 1976 em Santa Monica, correu um falso boato no salão do torneio de que um “homem de barba, possivelmente Bobby” estava no prédio. O salão de jogos ficou praticamente vazio. Esta era uma grande proeza em um evento suíço grande, onde uma sirene com quatro alarmes mal conseguia tirar os competidores de seus tabuleiros. (Lembre-se de que Pasadena, a cidade natal de Bobby, ficava apenas a uma hora de carro de Santa Monica.)</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Encontrar uma comparação para ilustrar o impacto da ausência de Bobby é mais do que difícil, mas vou tentar. Atualmente somos abençoados com alguns talentos excepcionais no xadrez no mundo inteiro: Yifan Hou, uma chinesa de 15 anos, é apresentada como futura Campeã Mundial; Parimarjan Negi, da Índia, Sergey Karjakin, da Ucrânia, Teimour Radjabov, do Azerbaijão, Hikaru Nakamura, dos Estados Unidos, Daniel Stellwagen, da Holanda, e David Howell, da Inglaterra, todos se destacam; e, é claro, o mais cotado de todos, Magnus Carlsen, da Noruega. Como é emocionante ver todas essas jovens estrelas competirem e avançarem lentamente rumo às mais altas honrarias. Embora seja difícil reconstituir a época de 1974 e 1975, para colocar o interesse em Bobby em perspectiva, leve embora todas essas promissoras estrelas da atualidade e faça-as declarar coletivamente que estão desistindo do xadrez para sempre. O desapontamento sentido pela ausência de Bobby não poderia ser maior. Eu, por exemplo, fiquei totalmente murcho.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-mbypuALDA44/V7uFlmKfRUI/AAAAAAAAU9A/ZObea2tXf3sJWamFgYYElJ_GZCDU_VTwgCLcB/s1600/Fischer%2B038.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-mbypuALDA44/V7uFlmKfRUI/AAAAAAAAU9A/ZObea2tXf3sJWamFgYYElJ_GZCDU_VTwgCLcB/s1600/Fischer%2B038.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Depois de 1975, tive que me consolar jogando por meio de My 60 memorable games e também ouvindo histórias de colegas que tinham conhecido Bobby pessoalmente. Eis, então, uma lista de “Histórias de Bobby” de que eu sempre gostei. A maioria delas estou compartilhando pela primeira vez...</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">As duas primeiras são de Robert Byrne, que, além de ser um dos Grandes Mestres mais bem-sucedidos dos Estados Unidos, escreveu para a Gray Lady, o The New York Times, por décadas. Resumirei duas histórias de Byrne como segue: “Foi durante a disputa das Finais dos Candidatos de 1971, em Buenos Aires, com Tigran Petrosian. Eu estava no centro de imprensa preparando minha coluna. Todos os soviéticos estavam lá, olhando para os monitores e analisando o jogo abertamente em uma das mesas centrais. Miguel Najdorf era o centro das atenções e fazia comentários depois de cada lance. Miguel achava que Bobby tinha uma boa posição na sexta partida e então, quase inacreditavelmente, ele fez seu lance, Cc5xd7, trocando seu impressionante cavalo em c5, realmente poderoso, por um dos piores bispos em d7 que uma posição pode ter... “Najdorf quase voou da cadeira. ‘Meu Deus! Ele enlouqueceu!’, ele começou a gritar. ‘Trocar um cavalo desses por um bispo daqueles!’ Najdorf segurou o cavalo para que todos o vissem. ‘Ele não entende nada, nada de xadrez!’ “Os soviéticos praticamente riram e se abraçaram; eles estavam muito contentes com o que todos concordavam ser uma péssima troca. Uma troca que livraria Petrosian do perigo, entende? “Todos olharam para mim, esperando que eu, por ser dos Estados Unidos, tentaria defender a decisão de Bobby, mas eu apenas fiquei em silêncio, explicando que eu tinha uma coluna a escrever e estava ocupado demais para tomar parte naquilo. Secretamente, eu sabia exatamente o que Bobby estava pensando, porque eu tinha analisado com ele muitas vezes. Para Bobby era tudo muito simples. Ele valorizava mais os bispos do que os cavalos. Ponto. Para ele, na posição resultante, seu bispo estava muito melhor do que o cavalo das Pretas. Ele viu que podia centralizar seu rei, bloquear o peão d passado das Pretas e, depois, suas torres e bispo coordenar-se-iam melhor do que as torres e o cavalo, portanto, o jogo estava acabado. Para Bobby, aquela captura de cavalo por bispo era como cravar o último prego no caixão.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-xYOU_UDpMK8/V7uGNAp3lWI/AAAAAAAAU9E/Cx7oY91Gdh0jm-tFptbPk9KDD_knzVBxQCLcB/s1600/Fischer%2B039.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-xYOU_UDpMK8/V7uGNAp3lWI/AAAAAAAAU9E/Cx7oY91Gdh0jm-tFptbPk9KDD_knzVBxQCLcB/s1600/Fischer%2B039.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“Alguns lances depois da troca, eu estava olhando para o Grande Mestre Alexey Suetin, o técnico de Petrosian, e ele estava de boca aberta e ficando cada vez mais boquiaberto. Quando Petrosian se encontrava prestes a abandonar a partida, seu queixo estava quase na mesa e ele sussurrou: ‘Ele joga de uma maneira tão simples.’ Eu me esforcei muito para me conter, para ser educado e não rir, mas não foi possível. Veja, aquele era o jeito do Bobby jogar. Xadrez clássico simples.”</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Existe algo nessa história que me emociona profundamente, a ideia de que o Campeão Mundial tem uma compreensão nitidamente superior a dos outros. Ele tem seus conceitos e com seus lances ele diz: “É assim que eu penso. Refute-me se for capaz”.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-kNHIkytqvyg/V7uGbz5z_7I/AAAAAAAAU9I/gsegJTTPLtwVZGX7NjhI4LQIoK-ni_uiQCLcB/s1600/Fischer%2B017.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://1.bp.blogspot.com/-kNHIkytqvyg/V7uGbz5z_7I/AAAAAAAAU9I/gsegJTTPLtwVZGX7NjhI4LQIoK-ni_uiQCLcB/s320/Fischer%2B017.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">A segunda história de Byrne era de 1966:</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“Jogamos em Havana na Olimpíada. Os cubanos eram anfitriões maravilhosos. Os momentos mais felizes para mim eram quando Bobby era cortejado. Ele tinha uma suíte ampla bacana e a equipe toda entrava em fila depois da rodada. Bobby reconstituía a partida para nós e nos mostrava como ele havia vencido e por quê. Era simplesmente fascinante. Sua análise era incrível. Era como se os lances fluíssem das pontas de seus dedos. Suas mãos eram grandes e as peças apenas se mexiam, praticamente dançando, e era tão especial. Daí, um desastre se abateu sobre nós... Bobby estava mostrando um jogo à equipe e então fez uma pausa e começou a rir, e ficou rindo e rindo cada vez mais alto. Tentando falar, ele disse: ‘E agora vocês sabem o que o pato jogou? Ele jogou... vocês não vão acreditar...’ Bobby moveu a peça e sumiu debaixo da mesa num ataque de riso convulsivo. “A equipe se pôs a estudar a posição freneticamente. Não conseguíamos entender a risada de Bobby e queríamos compartilhar. Mas, maldição. O lance que seu adversário fez parecia totalmente sensato e eu estava tendo dificuldade para entender onde estava a refutação. Foi então que Bobby se recuperou de seu ataque de riso e conseguiu sair do chão e voltar para o tabuleiro. Ele fez seu lance. Droga! Estava bem debaixo do nosso nariz e era tão óbvio. Eu não tinha visto. Mas quando eu compreendi instantaneamente como aquilo minava totalmente a estratégia do adversário, eu também tive que começar a rir. Uns segundos depois outra pessoa começou a rir, e logo todos estavam rindo também. Mas eu te digo, Yasser, naqueles poucos segundos em que não vi o lance, fiquei em pânico total. Eu não queria que Bobby pensasse que eu também era um pato”.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">O lado negro de analisar xadrez com um gênio. Você não quer ser chamado para o ringue para explicar um lance. Quem conheceu “Don” Miguel Nadjorf, o Grande Mestre argentino nascido na Polônia, sabe que ele era um homem de paixões. Veloz para tomar uma decisão em um décimo de segundo, Miguel me contava histórias sobre os campeões por horas a fio. Eu não entendia por que alguém não entrevistava Miguel por algumas horas, pois ele era um ótimo contador de histórias. Eu adorava nossos encontros. Ele tinha inúmeras histórias sobre Bobby, das quais muitas me esqueci, infelizmente. Miguel tinha opinião sobre tudo e, a que segue, discutimos muitas vezes e demoradamente. Estávamos em um restaurante em Buenos Aires jantando nosso “lomo” de costume quando Miguel me disse, “Jasser!” (em espanhol, o “y” muitas vezes é pronunciado como um “j”, e Miguel gostava mais do som de Jasser do que de Yasser; assim, para Miguel – e somente para ele – eu fiquei sendo Jasser) “Você sabe que o Bobby não tem estilo.” Agora, este é o melhor gambito de abertura para uma conversa entre enxadristas que eu já vi. “Quê? Eu não te entendo, Miguel. O que você quer dizer?” perguntei. As opiniões de Miguel eram sempre defendidas com vigor e ele se comprazia em me fisgar e me puxar para discussões animadas e emotivas. Ele era um homem apaixonado que amava demais o xadrez. Explicou sua teoria, sobre a qual penso com frequência. Ela dizia o seguinte: “Quando você me mostra uma partida de Capablanca, eu penso, ‘A-ha, Muito legal. Muito suave. Lances lógicos. Jogo bonito. Deve ser uma partida de Capablanca!’ Depois, você me mostra outra partida e eu penso, ‘Meu Deus! Quem é esse bandido jogando com as Brancas? Olhe estes sacrifícios descuidados, ousados. E esse lance calmo, também! Incrível! Perdendo duas peças e ele para para fazer um lance desses. E ele venceu! Mas claro, me dou conta, este é Tal.’ E outra partida. ‘Eu não consigo entender o que o jogador está fazendo. Ele está tomando precauções extraordinárias e seu adversário nem sequer está atacando. Agora ele manobrou suas peças para trás e depois para frente outra vez em boas casas. Ele melhora sua posição mas não fez nada concreto. Meu Deus! O adversário está sufocado e simplesmente morto! Onde estava o erro? É claro, este é Petrosian.’ Veja você, Jasser! Eu reconheço o estilo. Mas quando eu analiso uma partida de Bobby, eu não vejo nada. Não tem estilo. Bobby jogava com perfeição. E a perfeição não tem estilo.”</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-I5wr7sKyHes/V7uGqEoKILI/AAAAAAAAU9M/sjQqLuhiLJUVRhaX6t-2OeP8I8odpDfggCLcB/s1600/Fischer%2B020.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="217" src="https://1.bp.blogspot.com/-I5wr7sKyHes/V7uGqEoKILI/AAAAAAAAU9M/sjQqLuhiLJUVRhaX6t-2OeP8I8odpDfggCLcB/s320/Fischer%2B020.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">A perfeição não tem estilo. Um conceito muito interessante, se você parar para pensar. Ficamos horas discutindo e, no fim, eu achei a teoria de Miguel muito convincente. Hoje, com o advento dos computadores, essa discussão sobre se a perfeição tem um “estilo” poderia ser retomada. Eu sempre gostei de jogar Blitz e, atualmente, jogo on-line. Às vezes, depois de uma vitória, meu adversário me acusa furiosamente de estar usando um computador e coloca meu nome no “ignorar” sem saber quem eu sou. Quando analiso a partida que venci, ela pode parecer “estilosa”, mas alguns dos lances eram, na verdade, os segundos melhores. As duas coisas combinam? Alguns usam o termo computer-like (semelhante a computador) para descrever um lance, uma estratégia ou o final de uma partida. É esta última parte que eu acho interessante. A expressão computer-like tem uma forte conotação de precisão e perfeição. Mas os computadores vencem de uma maneira complicada. Eles não trocam quando têm vantagem material, uma tendência humana natural e uma prática bem estabelecida para reduzir o potencial de caos. Os computadores empilham complicações em cima de mais complicações, sabendo como vão se sair. Esse jogo dinâmico muitas vezes faz com que os computadores vençam com mais rapidez do que os humanos, que trocam quando têm vantagem material. E, garantindo que fiquem dentro de seus limites, os computadores nunca cometerão um erro devido à fadiga. O que os humanos vêem como “complicações” são, para um computador, simplesmente a demonstração de um teorema.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Existe estilo em tal perfeição? Bobby venceu muitas partidas complicadas e sem dúvida parecia deleitar-se com táticas, mas ele também ficava feliz ao simplificar para uma vitória técnica. Ele jogava com perfeição? Muitos de seus colegas achavam que sim, embora análises computacionais posteriores tenham demonstrado que mesmo Bobby às vezes não jogava perfeitamente. Mas perfeição e estilo estão nos olhos de quem vê e, em um sentido real, o jogo de Bobby transcendia o estilo. Na década de 1970, eu costumava viajar para a Big Apple para jogar em eventos e encontrar adversários para jogar Blitz. Inclusive visitei a famosa “Flea House” perto de Times Square antes de me decidir pelo Manhattan Chess Club como meu refúgio predileto para jogar Blitz. Quando estava na cidade, eu tentava me encontrar com Asa Hoffman, um conhecido mestre de Blitz que sabia muitas histórias sobre Bobby, e passávamos horas juntos enquanto ele me contava sobre como ludibriava Bobby, fazendo apostas que nem mesmo Bobby podia superar. “Ele me dava vantagem de cinco para um em dinheiro e também vantagem do empate. Sem vantagem de tempo. Nós dois jogávamos com cinco minutos cada um. Ele vencia nos placares, eu ganhava o dinheiro.” Assim Asa descreve suas sessões.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-iOGEgeu64hw/V7uG7_O2RLI/AAAAAAAAU9U/evm_c5yVOUoCLN8mhTrIYP9ercanMWx3QCLcB/s1600/Fischer%2B022.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://1.bp.blogspot.com/-iOGEgeu64hw/V7uG7_O2RLI/AAAAAAAAU9U/evm_c5yVOUoCLN8mhTrIYP9ercanMWx3QCLcB/s320/Fischer%2B022.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Em uma de minhas visitas, Asa me apresentou a Jackie Beers. Jackie usava barba e tinha uma aparência desleixada naquele dia. Contudo, ele foi apresentado como um confidente íntimo de Bobby. Sentamos para uma boa conversa e Jackie me contou que recentemente tinha recebido uma chamada: “Bobby me perguntou se eu podia emprestar-lhe 50 pratas”. Eu fiquei surpreso. “Eu disse que, se eu tivesse, certamente lhe mandaria, mas eu disse a verdade, que eu não tinha os 50 dólares”. Eu acreditei que Jackie estava dizendo a verdade quando disse que não tinha os 50 dólares, mas poderia mesmo ser verdade que Bobby era tão pobre que precisava pedir dinheiro emprestado a amigos que mal podiam atendê-lo neste modesto pedido de ajuda? Parecia totalmente incoerente. Como seria possível? Estávamos falando de um homem que podia ganhar milhares de dólares em um único dia jogando em torneios, participando de simultâneas ou mesmo dando uma palestra. Seria tão simples e, no entanto, Bobby preferia pedir dinheiro emprestado? Viver uma vida de miséria? Mas que diabos estava acontecendo? Eu fiquei totalmente confuso.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Durante uma de minhas visitas a Nova Iorque eu fiquei com uma família. O marido era um médico suíço, o “Dr. Rudy”. Ele se interessava muito por xadrez pois seus dois filhos jogavam. Ele fizera contato com Claudia e queria ajudar Bobby a sair de sua aposentadoria auto imposta. Ele agendou um encontro com Bobby e pagou 5 mil dólares adiantados pelo privilégio de conhecer e falar com ele. As conversas deveriam ser totalmente sigilosas e não haveria fotos. O Dr. Rudy embarcara na aventura e saiu com uma impressão extremamente positiva. Bobby estava pronto, disposto e até ansioso para jogar, mas insistia nas regras de Steinitz para jogar em matches. Infelizmente, ele não estava interessado em participar de torneios.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">No decorrer dos anos, conheci numerosas pessoas que tinham feito o mesmo que o Dr. Rudy, pagando cinco mil dólares pelo privilégio de um encontro. A maioria desses encontros parecia ter ido muito bem e o pessoal saía confiante. Confiantes ou não, tudo deu em nada.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-A8Wr7580tLQ/V7uHOg0lE7I/AAAAAAAAU9Y/-eWQ8HwTJG0cSKxlRXVn3m8JcxUYiSASACLcB/s1600/Fischer%2B009.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="233" src="https://3.bp.blogspot.com/-A8Wr7580tLQ/V7uHOg0lE7I/AAAAAAAAU9Y/-eWQ8HwTJG0cSKxlRXVn3m8JcxUYiSASACLcB/s320/Fischer%2B009.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #990000;">HAVIA ALGUMA ESPERANÇA?</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Minha história predileta sobre “pagar pelo privilégio de conhecer Bobby” é a de Arnfried Pagel. O Sr. Pagel era um industrial no ramo de cimentos que se fixou na Holanda, perto de Beverwijk. Por seu grande interesse em xadrez, ele patrocinava um clube local, o Koningsclub. Pouco tempo depois, o Sr. Pagel decidiu que seu clube estava destinado a tornar-se o Clube Campeão de Xadrez da Holanda e, assim, saiu em busca de “mercenários”, Grandes Mestres que ele contrataria para jogar em seu esquadrão. Naquela época, levava tempo para promover um clube para o nível mais alto da liga, mas o Sr. Pagel estava ansioso para que seu time vencesse o Campeonato da Liga “antes do tempo”. Ele resolveu contornar o processo de qualificação usual e propôs um desafio direto a Volmac, o Campeão dos Clubes Holandeses. A equipe do Volmac aceitou o desafio, e fui contratado pelo Sr. Pagel, por indicação de Lev Alburt, para jogar para seu Koningsclub. O Sr. Pagel foi um anfitrião maravilhoso, e, para minha sorte, o resultado do match de dois dias dependia do resultado de minha segunda partida contra Raymond Keene. Se eu vencesse, o Koningsclub venceria o match de desafio, e foi exatamente isso o que aconteceu. O Sr. Pagel estava nas alturas e me convidou, assim como Victor Korchnoi, da equipe do Volmac, para jantar e jogar bridge. Naquela noite, o Sr. Pagel nos contou a seguinte história, que também resumi assim:</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“Depois que comecei a patrocinar o Koningsclub, comecei a me dar conta de que seria um verdadeiro sonho para mim se Bobby Fischer jogasse ao menos uma partida pela equipe. Escrevi para Claudia e fiz a oferta de pagar 100 mil dólares a Bobby para jogar uma única partida. Como estávamos nos níveis mais baixos na época, o adversário de Bobby seria um verdadeiro amador no xadrez escolhido de forma totalmente aleatória. Recebi uma resposta afirmativa de que Bobby estava disposto a conversar sobre a minha oferta, mas gostaria de me encontrar para tratar dos detalhes. Haveria uma “taxa de ingresso” para o público? A partida seria filmada? E assim por diante. Eu teria que pagar 50 mil dólares para me encontrar com Bobby para acertar os detalhes e voar para Pasadena. Eu concordei sem hesitar.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“Em meu primeiro encontro com Bobby tudo correu bem. Conversamos sobre muitos detalhes e chegamos a um acordo geral. Passei algumas horas com ele no primeiro dia e ele me elogiou, dizendo que desfrutara imensamente de minha companhia e me perguntou se poderíamos nos encontrar novamente no dia seguinte, para que ele tivesse tempo de pensar sobre nossa conversa e os principais pontos. É claro que eu concordei. Encontramo-nos de novo e parecíamos ter feito muito progresso. Isso continuou, mas eu tinha um sentimento muito desconfortável de que, apesar de ser, no meu entendimento, uma oferta muito generosa, de alguma forma Bobby estava procurando um motivo para dizer não. Se esse fosse o caso, minha viagem teria sido em vão e eu voltaria para a Holanda de mão vazias. E o pior é que eu não tinha absolutamente nenhuma prova de que eu sequer havia me encontrado com Bobby. Uma das condições de nosso encontro foi a de que não haveria câmeras nem fotos nem comentários com a imprensa sobre o nosso encontro. Eu tinha concordado. Mas o que fazer agora? Eu não queria voltar de mãos totalmente vazias.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-E0MIUh4cGXo/V7uHap0UuVI/AAAAAAAAU9c/qPUJ9bxLVLUpmeS3-BkvOClNhiZYcCuAwCLcB/s1600/Fischer%2B025.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="252" src="https://4.bp.blogspot.com/-E0MIUh4cGXo/V7uHap0UuVI/AAAAAAAAU9c/qPUJ9bxLVLUpmeS3-BkvOClNhiZYcCuAwCLcB/s320/Fischer%2B025.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“Por fim, decidi contratar um detetive particular. Sua tarefa seria tirar uma foto de Bobby comigo de longe, sem que ele o soubesse. Eu evidentemente manteria a foto em total sigilo e só a usaria como prova de que havia realmente me encontrado e discutido com ele a ideia de ele jogar uma par-tida para o clube.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“Durante os encontros, nossas conversas estavam ficando presas a detalhes. Bobby estava fazendo perguntas para as quais eu não tinha respostas e a possibilidade de chegar a um acordo estava diminuindo. Faríamos uma última tentativa e um terceiro encontro final, pois eu precisava voltar para a Holanda. Combinamos de nos encontrar em um determinado banco de um parque ao meio-dia. Eu estava lá pontualmente. Nada de Bobby. Passados quinze minutos, comecei a duvidar de que estava no lugar certo. Nos encontros anteriores, Bobby tinha sido sempre pontual. Assim, eu estava sentado em um banco de parque começando a ter dúvidas, quando ouvi um ‘psiu’ vindo das árvores atrás de mim. Isso continuou e eu olhei para as árvores e vi Bobby.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">‘Bobby! O que você está fazendo nas árvores? Saia daí’, eu disse. ‘Não’, disse Bobby. ‘ Venha você aqui’. Daí eu fui até as árvores onde Bobby estava se escondendo e começamos a sussurrar em um tom conspiratório. ‘Por que estamos nos escondendo assim?’, perguntei. Bobby parecia muito agitado e olhava em volta. ‘Estou sendo seguido!’, ele disse. “É claro que eu imediatamente compreendi que Bobby tinha descoberto que estava sendo seguido pelo detetive particular que eu tinha contratado para tirar nossa foto. Eu não poderia dizer uma palavra sem me entregar. De algum modo, andamos pela fileira de árvores e despistamos nosso perseguidor. Posteriormente, eu consegui minhas fotos, mas Bobby nunca jogou pela minha equipe. Depois desta viagem, eu entendi que Bobby não jogaria xadrez outra vez.”</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">A história de Pagel, que ele me contou em maio de 1982, embora engraçada, trouxe uma grande decepção. Embora dez anos tivessem se passado desde que Bobby tinha jogado uma partida de xadrez em público, todos tínhamos esperança de que ele retorna-ria à arena do xadrez, mas a história de Pagel parecia por um fim a essa perspectiva para sempre. Afinal, o que poderia ser mais simples? Jogar uma única partida na Liga Holandesa contra um amador com rating de 1200 por uma remuneração de cem mil dólares. Nenhum título mundial em jogo; nenhum intermediário soviético com o qual tratar; nenhuma competição endossada pela FIDE; nenhum adiantamento nem intervalos prolongados ou postergações; apenas duas pessoas disputando uma partida vespertina em um clube local. Caramba, eles podiam até dividir uma rodada de cerveja durante a partida, que é uma prática comum. Se aquela oferta não foi aceita, que esperança poderia haver para um evento mundial mais sério? O relato de Pagel me fez afundar completamente.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-bXaBTS8euxY/V7uHqCS_5qI/AAAAAAAAU9k/u22ijc5spPombvGHRDpuMw5eTb9ax6yUgCLcB/s1600/Fischer%2B028.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="216" src="https://2.bp.blogspot.com/-bXaBTS8euxY/V7uHqCS_5qI/AAAAAAAAU9k/u22ijc5spPombvGHRDpuMw5eTb9ax6yUgCLcB/s320/Fischer%2B028.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Mais um detalhe da história da Pagel que vale a pena contar. Ele havia combinado com Claudia de se encontrar com Bobby por uma taxa de 50 mil dólares. Essa taxa incluía o acordo de que Bobby tornar-se-ia membro honorário do Koningsclub. Quando chegou a hora de Pagel pagar a Bobby seus honorários, ele apresentou cinco maços bem organizados com 10 mil cada um. Bobby, que gostou de Pagel, devolveu três dos maços, explicando que 20 mil eram suficientes. Bobby tinha uma personalidade complicada. Se ele gostasse de você, ele abriria mão de seus honorários e seria generoso; se não gostasse, independentemente da quantidade de dinheiro envolvida, ele simplesmente recusaria, inclusive, ofertas de um milhão ou mesmo de cinco milhões de dólares. Por que eu ainda nutria esperanças de um retorno de Bobby ao tabuleiro? Ao longo do tempo, minhas vagas esperanças tinham sido nutridas pelos Grandes Mestres Eugene Torre das Filipinas e Miguel Quinteros da Argentina. Ambos eram amigos íntimos de Bobby e, mais importante, seus confidentes. Em diversas ocasiões e lugares, eles pareceram ter se encontrado com Bobby por alguns dias de troça e diversão e, evidentemente, um tabuleiro de xadrez era inevitavelmente puxado. Bobby ainda estudava a Chess Informant e deliciava-se em desmontar a análise de Karpov (que Bobby chamava depreciativamente de “Kar-piche”) e do jovem Kasparov. Bobby começava: “Está bem, vejamos agora como o dito Campeão Mundial, o Sr. Kar-piche joga xadrez... Agora nesta posição, que Kar-piche diz equilibrada. É mesmo? O que será que ele faria diante deste lance? Talvez o dito Campeão Mundial quisesse abandonar a partida?” “Oh, e isso é bom. Aqui ele diz que está ganhando. Interessante. Depois deste lance, não podemos concordar em um empate?”</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Eu jurei tanto a Eugene quanto a Miguel não contar nada a ninguém e regozijava-me por ter obtido sua confiança. Nunca revelei o que eles me mostraram, mesmo quando estava explodindo de vontade de fazê-lo. É claro que eu já me esqueci das muitas posições que eles mostraram, onde Bobby desmantelava a análise do “dito Campeão Mundial”, mas uma coisa estava clara: Bobby tinha encontrado defeitos na análise dele. Defeitos indiscutíveis. “Por que ele estava estudando as partidas de Anatoly Karpov tão atentamente se não estava determinado a arrasá-lo no tabuleiro?”, eu pensava. Depois, eu refletia sobre o relato de Pagel e me perdia. Quero dizer, ali estava um patrocinador perfeito, um industrial nascido na Alemanha, disposto a pagar milhares de dólares e a aceitar todos os termos e as condições que Bobby exigisse, uma pessoa que fez uma amizade com ele e, mesmo assim, não foi possível chegar a um acordo. E o que pensar de Jackie Beers e a necessidade de pedir 50 dólares emprestados? Era muitíssimo confuso!</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-qDt91xaaIEc/V7uH1Idi9sI/AAAAAAAAU9o/24vTcyFnQc8g8E96QhwhQfQ9L8gMx56fACLcB/s1600/Fischer%2B027.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="254" src="https://3.bp.blogspot.com/-qDt91xaaIEc/V7uH1Idi9sI/AAAAAAAAU9o/24vTcyFnQc8g8E96QhwhQfQ9L8gMx56fACLcB/s320/Fischer%2B027.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Em outra ocasião, Miguel Quinteros contou-me uma história fantástica que era mais ou menos assim. Ele e Bobby combinaram de visitar Las Vegas e curtir um pequeno feriado. Bobby não gostou da ideia de se hospedar em um dos grandes cassinos e preferiu ficar em um hotel fora do circuito de cassinos. Eles dividiram um quarto duplo e saíram para jogar nas máquinas caça-níqueis, comer num buffet e assistir a algum show. Miguel explicou que tinha várias malas Samsonite grandes, onde levava seus ternos caros feitos sob medida, enquanto Bobby tinha uma mala leve e uma pequena bolsa, semelhante a uma pasta executiva, que ele mantinha chaveada e escondida debaixo de sua cama. Essa pasta especial continha as valiosas revistas em quadrinhos mexicanas de Bobby, que ele adorava, além de alguns suplementos vitamínicos. Certa noite, quando voltaram ao quarto, perceberam que haviam sido vítimas de um assalto. Os ladrões não haviam levado os ternos caros de Miguel, e a única coisa que estava faltando era a pequena valise chaveada de Bobby, escondida debaixo da cama. Bobby choramingou: “O cara rouba minhas revistas e não toca nos teus ternos? Qual é a dele?” Miguel ri disso há anos. Uma história final de Miguel Quinteros. Um de seus amigos mais queridos e próximos é seu conterrâneo Jorge Rubinetti. Eles participaram de um torneio round robin em Buenos Aires, em 1970, com Bobby. A partida estava marcada para a tarde e, perto do meio-dia, Miguel ouviu alguém batendo na porta de seu quarto no hotel. Era Jorge, seu amigo de infância. Em algumas horas, ele teria que encarar o grande Bobby Fischer. “Por favor”, disse Jorge, “você precisa me ajudar a me preparar! Hoje eu jogo de Pretas contra Bobby e você precisa me dizer o que preciso fazer.” E, então, o que o querido e íntimo amigo Miguel aconselhou a seu maior amigo, que era como um irmão, em seu desesperado momento de necessidade? Miguel sorriu, meneou a cabeça e disse: “Jorge, deixe-me explicar. Este cara vai te arrasar. Ele estudou a vida inteira para derrotar patos como nós. Você não tem chance. Não há nada que eu possa te aconselhar para impedir o inevitável. Por favor, não vamos perder tempo e vamos ter um belo almoço juntos. Depois você pode me mostrar como perdeu.” Nós todos tínhamos sido informados de que Bobby tinha uma grande capacidade para trabalhar duro no xadrez, que ele estudava até tarde da noite e passava a maior parte de suas horas de vigília lendo livros e revistas de xadrez. A história a seguir foi contada por outras pessoas, mas eu posso tranquilamente confirmar sua autenticidade. Ela me foi contada por Allen Kaufman. Allen era há muito o diretor executivo da American Chess Foundation (ACF), que hoje é a Chess-in-Schools Foundation. Nos velhos tempos, a ACF começou como uma fundação para apoiar os esforços de Samuel Reshevsky em sua luta pelo Campeonato Mundial. Vou resumir a história de Allen: “Eu conhecia Bobby muito bem e o via sempre pela cidade de Nova Iorque, em clubes e em torneios. Nós nos dávamos bem. Na época em que ele estava se preparando para seu confronto com Spassky, ele andava carregando seu famoso “livro vermelho”. Este era a edição da série alemã (Weltgeschichte des Schachs Volume 27) que continha as partidas de Spassky (mais de 350 partidas). Era o tipo de brincadeira que Bobby adorava fazer com as pessoas, inclusive comigo. Ele nos alcançava o livro e dizia: ‘Escolha uma partida’. Eu abria o livro e escolhia uma. ‘Diga-me o número da partida, o nome do adversário e onde a partida foi disputada’. E eu dizia. Bobby então reconstituía a partida e os movimentos exatos. Você podia literalmente pôr o dedo sobre a página, acompanhar os lances nos diagramas e Bobby lhe dizia quando ela iria terminar. Era realmente a coisa mais incrível. Não esqueça que os jogadores às vezes repetiam um ou dois lances para ganhar tempo no relógio, e Bobby acertava o placar. Só posso explicar isso como uma memória fotográfica, pois Bobby tinha memorizado o livro inteiro.”</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Pessoalmente, isso me pareceu uma verdadeira proeza. Eu mal consigo me lembrar de minhas próprias partidas, muito menos memorizá-las lance por lance. Fazer isso com as de outro jogador? Fala sério. De jeito nenhum!</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-ISX_m8Zuxtw/V7uID5MNwCI/AAAAAAAAU9w/8Ra5kV5gcOg8bK0Vf4sWm95Sj705drfNwCLcB/s1600/Fischer%2B005.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="99" src="https://4.bp.blogspot.com/-ISX_m8Zuxtw/V7uID5MNwCI/AAAAAAAAU9w/8Ra5kV5gcOg8bK0Vf4sWm95Sj705drfNwCLcB/s320/Fischer%2B005.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #990000;">A VISÃO DE MUNDO DE BOBBY</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Bobby havia enviado a Victor Korchnoi uma série de livros que Victor me emprestou e que eu li integralmente. Esses presentes de Bobby incluíam The Elders of Zion, The Protocols of Zion e cinco outros títulos, todos falando soturnamente sobre os Illuminati. Todos tinham a mesma mensagem básica: o mundo estava sendo vítima de uma conspiração universal de banqueiros, muitos dos quais judeus. Esses livros eram mal escritos, com numerosas frases grafadas com letras maiúsculas para enfatizar as principais ideias e coisas do tipo. Os livros professavam que uma Conspiração Mundial de Bancos (judia) estava determinada a instituir um governo totalitário no mundo que nos escravizaria a todos (através de dívidas).</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Os livros enredavam várias instituições, incluindo os Rothschild, o Banco da Inglaterra, o Federal Reserve (privado), a fundação da Receita Federal, as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Trilateral, o Grupo Bilderberg, a sociedade secreta Skull and Crossbones de Yale, os maçons e assim por diante.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Os fatos históricos eram descritos de modo a torná-los necessários para que as metas dos Illuminati fossem alcançadas. Todo grupo internacional era visto com desconfiança, e todos eram guiados pelo desejo de nos converter em escravos da dívida e assim controlar o mundo e toda a humanidade. No extremo mais profundo da conspiração, os líderes desse complô haviam criado uma máquina do tempo que lhes permitia se-rem transportados para momentos cruciais na história para mudar o desfecho. Era uma descoberta muito deprimente. Havia muitas passagens que Bobby havia obsequiosamente sublinhado para que Victor pudesse ver a verdade. Ai meu Deus. Depois de ler esses livros durante várias semanas, duas coisas me vieram à cabeça imediatamente. Primeiro, e mais importante, como alguém poderia levar esses livros a sério? Segundo, como eu podia me unir aos Illuminati? Afinal, os livros pintavam um quadro bastante sombrio da inevitabilidade do êxito do complô. Se não podemos derrotá-los, podemos nos unir a eles. Ser o zelador, digamos, da América do Norte, não parecia ser uma batida ruim (bad beat),* já que de qualquer maneira estávamos todos condenados. Na época, atribui a culpa pelas concepções políticas, econômicas e de mundo de Bobby a seu tipo particular de credo cristão fundamentalista – um sistema de crenças da proximidade do dia do juízo final que aguardava a vinda dos cavaleiros do apocalipse, como profetizado pelo Novo Testamento, para pisotearem todos nós. Esse credo, casualmente, é muito favorável a Israel e à expansão sionista. Ficou claro que, depois que rompeu com sua Igreja, Bobby inverteu suas concepções sobre Israel, assim como sobre o povo judeu. Por suas posteriores transmissões de rádio das Filipinas publicadas na internet, descobrimos que as visões de Bobby sobre a “conspiração judia” haviam se fortalecido e ele falava com amargura sobre elas, sobre seu país e sobre o povo dos Estados Unidos. Era fisicamente doloroso ouvi-las. Em algum ponto na metade da década de 1980, deparei-me com um panfleto a respeito do qual já havia lido. Ele se chamava I Was Tortured in the Pasadena Jailhouse!, da autoria de Bobby Fischer, o Campeão Mundial de Xadrez. Se alguma vez li um grito de ajuda, ali estava ele. O copyright era de 1982 e o panfleto foi publicado por Bobby Fischer. O preço de capa era um dólar. Os parágrafos são precedidos por títulos em negrito. Os títulos contam a história completa do que aconteceu:</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Assalto a banco... Sério... Preso... Brutalmente algemado... Falsa prisão... Humilhado... Sufocado... Descrição do assaltante... Completamente nu... Nenhum telefonema... Cela do horror... Isolamento e tortura... Hospital psiquiátrico... Passando fome e frio... Colchão interno... Refeição e quentinha... Sem água... Tira doente... Indecência da polícia... Ameaças... Mesmas perguntas e respostas... Crimes da polícia... Telefonema... Impressões digitais... Assinado sem ler... Nenhuma acusação por escrito... (Nenhum) Dinheiro de volta... Simulação... Perguntas não feitas... Fatos verídicos...</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">O panfleto foi assinado com um fac-símile por “Robert D. James”. Abaixo da assinatura havia uma explicação: “Robert D. James (profissionalmente conhecido como Robert J. Fischer ou Bobby Fischer, o Campeão Mundial de Xadrez)”.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-YwWcJhqJk6g/V7uIT9nkE4I/AAAAAAAAU90/BcevbKQZOC0YqdpAHRwaFEF78avjam4BACLcB/s1600/Fischer%2B011.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-YwWcJhqJk6g/V7uIT9nkE4I/AAAAAAAAU90/BcevbKQZOC0YqdpAHRwaFEF78avjam4BACLcB/s320/Fischer%2B011.jpg" width="218" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Quem lesse esse panfleto não poderia deixar de querer se envolver na vida de Bobby e salvá-lo de si mesmo e de seu ambiente. Basicamente o que aconteceu é que ele estava caminhando em um belo bairro de Pasadena tarde da noite. Um assalto a banco havia ocorrido mais cedo naquele dia. A polícia estava atenta para pessoas que parecessem deslocadas. Quando a polícia parou para interrogá-lo, Bobby assumiu um ar desafiador e citou os direitos constitucionais na Quinta Emenda para não ser incriminado. Ele foi detido. Resistiu, recusando-se a cooperar, e as coisas foram piorando. Onde estavam os amigos de Bobby? Por que eles não estavam tentando ajudá-lo? Não seria possível convencê-lo a fazer terapia? O panfleto era, em minha opinião, a gota que faltava. Eu não conseguia imaginar Bobby saindo de seu isolamento auto imposto. Mais do que tudo, esse panfleto expõe o mito de que Bobby derrotara o império soviético sem ajuda. Sem ajuda, quando confrontado pela polícia em Pasadena, ele fez um tolo de si mesmo e acabou preso. Se ele tivesse dito simplesmente: “Eu sou Bobby Fischer. O presidente Nixon declarou-me um herói nacional. Eu derrotei os russos no Campeonato Mundial de Xadrez de 1972 e conquistei o título para os Estados Unidos”, os policiais provavelmente teriam parado imediatamente, surpresos, pediriam um autógrafo e ofereceriam uma carona até sua casa. Bobby sem dúvida apresentava muitos comportamentos autodestrutivos e às vezes era seu pior inimigo.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Minha próxima história sobre Bobby foi contada por Bessel Kok. Como pano de fundo para esta história, vamos começar em Dubai durante a Olimpíada de Xadrez de 1986. O então Campeão Mundial, Garry Kasparov, e Bessel Kok, presidente da Corporação SWIFT, com sede em Bruxelas, decidiram fundar a Grandmasters Association (GMA), ou Associação de Grandes Mestres. Fui convidado para ser um dos diretores fundadores – tarefa que aceitei com entusiasmo. Em fevereiro de 1987, tivemos nossa primeira reunião de diretores, em Bruxelas, e a GMA foi fundada. Os primeiros anos foram de considerável sucesso e a GMA criou sua própria série de eventos da “Copa do mundo”. Muitos se referem ao período de 1987 a 1991 como a época de “ouro” para o xadrez. Bessel era presidente da GMA e meteu na cabeça que gostaria muito que Bobby se associasse à GMA. (As taxas eram de 20 dólares por ano.) Ele convidou Bobby para visitar Bruxelas e, a seguir, está minha sinopse da história de Bessel:</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-fJxhkT3jE_I/V7uJ4dL4c1I/AAAAAAAAU-U/WHTotPCwkBE_omEc2cH0mkuKhK6zJf57ACLcB/s1600/Fischer%2B024.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://3.bp.blogspot.com/-fJxhkT3jE_I/V7uJ4dL4c1I/AAAAAAAAU-U/WHTotPCwkBE_omEc2cH0mkuKhK6zJf57ACLcB/s320/Fischer%2B024.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“Convidei Bobby para vir a Bruxelas, onde nos encontraríamos e conversaríamos sobre a possibilidade de ele se associar à GMA, além de falarmos a respeito dos projetos de xadrez nos quais ele estivesse interessado. Bobby veio e ficou em minha casa por volta de uma semana. Ele estava muito preocupado com a possibilidade de ser reconhecido e de a imprensa fazer alarde. Por isso, mais ou menos por medo de ser descoberto, ele basicamente ficava em casa, o que me deixou maluco, pois eu queria sair e mostrar-lhe a cidade. Quando falávamos sobre a GMA e possíveis projetos de xadrez, as conversas não davam em nada e nada iria acontecer.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“De repente e surpreendentemente, bem no fim de sua estadia de uma semana, Bobby resolveu que queria ir a um bar, o que ele chamava de um “bar de garotas”. Por sorte, eu conhecia um. Fomos até lá e pedimos uma garrafa de champanhe cara. Sem problemas, eu estava feliz de estar fora de casa. Logo Bobby estava conversando com uma moça e eu com outra. Nós estávamos de costas um para o outro, mas eu prestava atenção na conversa que estava acontecendo atrás de mim.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">“Era o tipo de conversa trivial que se tem nestas ocasiões, até que a mulher fez uma pergunta de parar o coração: ‘Então, com o que você trabalha?’ Tenho certeza de que o champanhe teve um efeito suavizante, mas eu senti Bobby empertigar-se e endireitar as costas.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">‘Eu sou um Grande Mestre Internacional de Xadrez!’, Bobby disse sem rodeios. Fiquei surpreso com sua admissão, mas a mulher respondeu com entusiasmo. ‘É mesmo? Eu também jogo xadrez! Eu sei o nome de muitos Grandes Mestres. Qual é o seu?’ “Neste momento, eu tive que interromper minha conversa para me virar e ouvir o que estava acontecendo atrás de mim. Tinha se tornado muito interessante. Bobby parecia genuinamente encantado com o fato de que a mulher sabia alguma coisa de xadrez.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">‘Bom, meu nome é Robert James Fischer. Eu sou o Campeão Mundial de Xadrez!,’ exclamou Bobby, com um tom resoluto. ‘Ora vamos’, disse a mulher. ‘Pare de fazer piadas. Você não é Bobby Fischer! Ontem tivemos Dali, e agora é o Fischer’, disse ela fazendo beicinho. ‘Mas olha, pague-me outra taça de champanhe e eu te chamarei de Bobby pelo resto da noite.’ “Bobby estava evidentemente chocado porque a mulher não acreditara nele, enquanto eu ria sem parar. Bobby começou a vasculhar sua carteira e os bolsos do casaco tentando encontrar algum documento que provasse sua identidade. Ele passara anos tentando esconder sua identidade e, no momento em que desesperadamente queria provar quem era, não podia. Mesmo quando tentei socorrê-lo dizendo: ‘Sim, este é real-mente Bobby Fischer’, recebemos ambos um olhar incrédulo. Foi uma das experiências mais engraçadas de minha vida. Fischer não podia provar quem ele era”. Bessel, que tem um temperamento tranquilo e ri com frequência, sempre conta essa história com risadas entusiasmadas. Por sua forma de contar, a gente imagina o que ele deve ter rido. A história de Bessel sempre me faz rir sempre que ele ou eu a reconto. É a história pela qual eu gostaria de me lembrar de Bobby, em que ele tem orgulho de ser quem é e quer provar sua verdadeira identidade, em vez de se esconder por trás da máscara que fez para si mesmo. Para mim, Bobby é um enigma; uma pessoa mítica. Um herói que se tornou uma pessoa amarga que desdenhava do mundo. Um homem que lutava contra demônios reais e imaginários. Um homem que investia contra moinhos de vento. Mas o pior, muito pior, ele foi um homem de extraordinário potencial que não se realizou. Bobby poderia ter sido o Mohammed Ali do mundo do xadrez. Poderia sozinho ter levantado o esporte e o colocado na cena mundial. Ele recusou esse papel heróico e preferiu fugir para seu mundo particular isolado. A perda para o mundo do xadrez foi simplesmente incomensurável.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-Umrq9qqxKY4/V7uIjELDHNI/AAAAAAAAU98/ZvAks61s7BA2XF5el4ftUbKVmXFApF9qgCLcB/s1600/Fischer%2B032.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="251" src="https://3.bp.blogspot.com/-Umrq9qqxKY4/V7uIjELDHNI/AAAAAAAAU98/ZvAks61s7BA2XF5el4ftUbKVmXFApF9qgCLcB/s320/Fischer%2B032.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #990000;">O RETORNO DE BOBBY</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Bobby era, evidentemente, um deus do xadrez. Se tivesse continuado a jogar, ninguém sabe o que teria alcançado, que disputas e torneios teria vencido, se teria alcançado um inexpugnável recorde de matches e torneios e se teria a supremacia por uma década ou mais.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Mas, em 1992, Bobby chocou o mundo. Ele saiu da aposentadoria, voltando a confrontar Boris Spassky. Foi um match sobre o qual Garry Kasparov, entre muitos outros, falou mal, declarando que as partidas eram de má qualidade e exemplos de “xadrez de velhos”. Foi dito que Bobby era de outra época e nunca deveria ter voltado a jogar, pois seu jogo prejudicou sua condição legendária. Surpreendentemente, essa foi a linha adotada pela Chess Life, a publicação oficial da USCF. Os comentaristas pareciam especialmente ávidos por criticar os lances escolhidos. Eu visitei o match, encontrei-me com Bobby por um dia e escrevi um livro sobre isso, No Regrets (Sem Arrependimentos).</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-kq61SWHXa50/V7uIvdt0g9I/AAAAAAAAU-E/mWsOfFwsk58ahJuPOV_-yifd-QdlkAcaQCLcB/s1600/Fischer%2B037.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-kq61SWHXa50/V7uIvdt0g9I/AAAAAAAAU-E/mWsOfFwsk58ahJuPOV_-yifd-QdlkAcaQCLcB/s1600/Fischer%2B037.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Vamos colocar esse confronto de 1992 em seu devido contexto, certo? Bobby não havia movido um peão em público por 20 anos. Dizer que ele estava “enferrujado” seria dizer pouco. Seria como se um ciclista como Lance Armstrong se ausentasse por duas décadas e depois anunciasse que iria competir no Tour de France. Impossível. Então, o que eu poderia esperar? Eu esperava que vencesse, mas que o faria de uma maneira desleixada. Em vez disso, eu desafio a todos a reconstituir a Primeira Partida daquele confronto. Foi incrível! Não apenas uma pérola, foi uma partida excepcional. Todos os lances de Bobby estavam corretos. Perfeitos! Eu estava estupefato. Depois, vejamos a Segunda Partida. Mais uma vez, em cerca de 60 lances, Bobby jogou xadrez perfeito. Simplesmente perfeito. Ele construiu uma posição vitoriosa, mas na sexta hora de jogo concedeu a Boris uma pequena escotilha de fuga, que Boris descobriu e evitou a derrota. Incrível. Bobby voltou ao xadrez e jogou seus primeiros 100 lances de maneira perfeita. Vou repetir isso: de maneira perfeita. Quem sabe o que ele poderia ter alcançado se estivesse ativo por vinte anos, mas aqueles 100 primeiros lances em 1992 me convenceram de que ele tinha potencial para ser o melhor de todos os tempos.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Uma vez conversei com meu pai sobre Bobby no começo dos anos oitenta. Eu tinha falado sobre minha admiração por Bobby e meu pai demonstrou uma indiferença quase veemente. Surpreso, perguntei por que ele tinha uma opinião tão forte e negativa sobre ele. Parafraseando: “Bobby venceu o Campeonato Mundial de Xadrez. Ele lutou e venceu uma vez. Uma vez. Eu já fui pára-quedista. Qualquer idiota é capaz de se jogar de um avião. Você passa a ser respeitado quando o faz pela segunda vez, pois você conhece seus medos e o que precisa enfrentar.” Palavras fortes e reveladoras, sem dúvida.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-lxBCXYzLtmI/V7uI_lCTaUI/AAAAAAAAU-I/sBlsrnXgxFE_sFZ3Q0hrciZmccpTnvGngCLcB/s1600/Fischer%2B029.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="219" src="https://1.bp.blogspot.com/-lxBCXYzLtmI/V7uI_lCTaUI/AAAAAAAAU-I/sBlsrnXgxFE_sFZ3Q0hrciZmccpTnvGngCLcB/s320/Fischer%2B029.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #990000;">ENCONTRANDO BOBBY FISCHER</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Fui à Iugoslávia para uma parte do confronto de Fischer e Spassky de 1992 e me encontrei com Bobby e passei um dia com ele. Aquelas poucas horas juntos foram, de meu ponto de vista, uma experiência muito agradável. Eu estava eufórico por conhecê-lo e fico grato a ele pelo tempo que passamos juntos: um dia inteiro. Eu o guardarei com carinho. Bobby agradeceu-me pessoalmente por ter viajado até Sveti Stefan para o confronto, e lamentava que eu fosse o único Grande Mestre americano presente. Ele achava que seu retorno não tinha recebido a aclamação que merecia. Eu conto isso como pano de fundo para o retorno que recebi, por fofocas, de que Bobby parecia estar furioso comigo porque eu tinha escrito No Regrets e assim tinha me beneficiado com o retorno dele ao xadrez. Eu me reuni às legiões de outras pessoas que lucraram com ele. Embora No Regrets não tenha me trazido nem fama nem fortuna, fiquei orgulhoso pelo livro e recebi um elogio fantástico de Boris Spassky, que adquiriu 47 exemplares. Este era claramente o caso de “maldito se fizer e maldito se não fizer”. Entristece-me pensar que Bobby tinha má opinião sobre mim antes de falecer. Seria tolice escrever novamente sobre o dia que passei com Bobby aqui, pois eu contei isso em detalhes em No Regrets. Em retrospectiva, eu diria que duas coisas se destacam em nosso encontro. A primeira foi como Bobby me elogiou por Cinco Coroas (Five Crowns). Aquele livro fazia uma análise profunda de todos os 24 jogos do confronto entre Kasparov e Karpov em 1990. Em mais de duzentas páginas de análise, Bobby encontrou dois erros. Erros que eu também tinha descoberto depois da publicação. Ele conhecia os jogos e onde eu havia me perdido. Eu fiquei impressionado.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">A segunda coisa foi que, antes de me encontrar com ele em sua suíte, tanto Eugene Torre quanto Svetozar Gligoric me disseram que Bobby estava enfezado comigo. Eu tinha escrito uma coisa na Inside Chess de que ele não tinha gostado. Eu me referi a ele como “o fantasma de Pasadena”. Bobby se queixou, dizendo: “Eu não sou um fantasma, eu sou um homem”. Assim, decidi lhe pedir desculpas e receber o perdão dele. Quando fomos nos cumprimentar, segurei a mão dele enquanto pedia desculpas e não a soltei antes que ele dissesse: “Vamos esquecer isso tudo.”</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Com isso fora do caminho, Bobby estava animado, falava rápido e ria facilmente. Compartilhávamos histórias de Bruce Lee, o artista marcial que ambos admirávamos. Para ler o relato completo de meu encontro com Bobby, o leitor deve ler No Regrets. Depois de 1992, nunca mais me encontrei nem falei nem mantive correspondência com Bobby. Um livro que vou sempre valorizar, mesmo com a capa despedaçada, é My 60 Memorable Games de Bobby. Existem histórias para todas as partidas disputadas, e uma delas tocou meu senso de humor.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Arthur Bisguier relata o seguinte incidente no Aberto do Estado de Nova Iorque, realizado em Poughkeepsie, em agosto/setembro de 1963. A passagem a seguir foi extraída de The Art of Bisguier, Selected Games 1961-2003 (Milford, 2008): “Jogando contra Bobby no Aberto do Estado de Nova Iorque naquele ano, percebi que ele estava demorando demais para jogar. Daí vi que ele tinha pegado no sono. Em alguns minutos a seta em seu relógio iria cair e ele perderia por tempo. Não é assim que gosto de ganhar partidas, torneios ou títulos. Por isso cometi o que alguns chamaram de maior erro do torneio. Eu acordei o Fischer. Bobby bocejou, deu seu lance, bateu no relógio e me derrotou. Essa acabou sendo a Partida 45 em My 60 Memorable Games. Depois eu soube que Fischer tinha ficado acordado até tarde na noite anterior jogando Blitz para ganhar dinheiro.”</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">Eu acho que nunca tive um adversário que tenha adormecido durante uma partida, mas alguns deles certamente chegaram perto disso. Às vezes fico preocupado que isso possa ser um efeito dos aspectos posicionais de meu estilo. Fico pensando em como eu teria agido. Acredito firmemente que devo lembrar meus adversários de apertar o relógio quando eles esqueceram de fazê-lo, além de lembrá-los que seu tempo se esgotou (caso eu tenha certeza disso). Mas, se Bobby adormecesse, eu poderia achar que o coitado precisava de uma hora de descanso...</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-US8u0zfs7Eo/V7uJcp3evVI/AAAAAAAAU-Q/XnK3CBpF9JYoeTJK2qjx5iwOSgIJB3N-wCLcB/s1600/Fischer%2B040.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-US8u0zfs7Eo/V7uJcp3evVI/AAAAAAAAU-Q/XnK3CBpF9JYoeTJK2qjx5iwOSgIJB3N-wCLcB/s1600/Fischer%2B040.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #20124d;">No fechamento deste capítulo, eu coloco Robert James Fischer como o terceiro maior jogador de todos os tempos. Ele foi um gigante que se dedicou ao xadrez e nos deixou um legado de partidas de tirar o fôlego. Receio que ele será lembrado mais por ter abandonado o xadrez prematuramente do que pelo que contribuiu para o esporte. No xadrez, recordamos nossas derrotas muito mais do que nossas vitórias. A ausência de Bobby foi a maior perda que o xadrez sofreu desde Paul Morphy. A estrada para a recuperação ainda está em andamento. Existe um vídeo islandês sobre Bobby Fischer que eu achei muito bom: faça uma busca na internet por “Documentary Fischer VS Spassky”.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-27134285625614692312016-08-20T05:09:00.002-07:002016-08-20T05:13:54.740-07:00DESTRUINDO MITOS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-v8Y7fkCILfE/V7hCYM4dK4I/AAAAAAAAU5c/ewVAzcUFk7QBUtS8w-XZvEfOmuiUOhVSQCLcB/s1600/Karpov%2B014.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-v8Y7fkCILfE/V7hCYM4dK4I/AAAAAAAAU5c/ewVAzcUFk7QBUtS8w-XZvEfOmuiUOhVSQCLcB/s1600/Karpov%2B014.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #cc0000; font-size: large;">Anatoly Karpov, 1975-1985</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #cc0000;"><b>Por Yasser Seirawan</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #cc0000;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #cc0000;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-1B7geJh18OI/V7hDX7FsNXI/AAAAAAAAU5k/_v9GKnG8Qk4fKOup-iKvpgDdMLSZG2tBwCLcB/s1600/Karpov%2B010.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-1B7geJh18OI/V7hDX7FsNXI/AAAAAAAAU5k/_v9GKnG8Qk4fKOup-iKvpgDdMLSZG2tBwCLcB/s320/Karpov%2B010.jpeg" width="240" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Este capítulo é dedicado ao Campeão Mundial de 1975 a 1985 Anatoly Yevgenyevich Karpov, um enxadrista de poderes extraordinários.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-Yi7Qb3gsLiA/V7hDSiX4SuI/AAAAAAAAU5g/xNRWt1aGjC0V20YtcIbuCuXd5YFmOq3BgCLcB/s1600/Fischer%2B001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="210" src="https://1.bp.blogspot.com/-Yi7Qb3gsLiA/V7hDSiX4SuI/AAAAAAAAU5g/xNRWt1aGjC0V20YtcIbuCuXd5YFmOq3BgCLcB/s320/Fischer%2B001.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Enquanto o nome de Spassky está ligado ao de Fischer, o nome de Karpov está inextricavelmente vinculado não a um, mas a dois grandes enxadristas: Robert James Fischer e Garry Kasparov. Anatoly, ou “Tolya”, foi, afinal, o vilão que recebeu a coroa do título do Campeonato Mundial de Xadrez de Bobby Fischer por manter desistência. Para fãs como eu, sabíamos que, se Bobby tivesse disputado o match de 1975, ele teria vencido. Depositar uma coroa de louros nos ombros de Anatoly foi um insulto para os fãs do xadrez e uma traição do título. Para milhões de fãs dedicados do xadrez, o título “Campeão Mundial” deveria significar também o de “melhor jogador do mundo”. Eu estava convencido de que, em 1975, Bobby era o melhor enxadrista do mundo. Pouco me importava o que algum delegado nacional presente em uma Assembléia Geral da FIDE pudesse dizer sobre o assunto. A única opinião que contava – ao menos para mim – era a minha.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-KkE8cLeCo-w/V7hEIJREBEI/AAAAAAAAU5w/Ex3c51vqNsss6EzBEj658HoKCMEHmrz0gCLcB/s1600/Capablanca%2B001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-KkE8cLeCo-w/V7hEIJREBEI/AAAAAAAAU5w/Ex3c51vqNsss6EzBEj658HoKCMEHmrz0gCLcB/s1600/Capablanca%2B001.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Quem é o dono do título?</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>A concessão do título mundial a Karpov em 1975 levantou uma questão profunda e extremamente perturbadora para o mundo do xadrez. Quem “é o dono” do título de “Campeão Mundial”? Antes de Mikhail Botvinnik, o público certamente reconhecia os Campeões Mundiais como “detentores do título”, mas eles eram donos dele? O título não era uma propriedade que se pudesse passar para outra pessoa. Quando Emanuel Lasker tentou em 1920 conceder o título a seu Desafiante, José Raúl Capablanca, sem jogar, o público não queria saber daquilo e recusou-se a aceitar a decisão de Lasker. O match foi disputado em Havana após longos atrasos. Antes de começarem as partidas, Lasker insistia em ser tratado como o Desafiante. Como deixa claro em sua correspondência, ele já tinha entregado o título a Capablanca antes de o match ter começado. Agora, pelo menos em seu modo de ver, ele estava jogando para reconquistar a coroa perdida. O público não compartilhava do ponto de vista de Lasker. Lasker era o Campeão Mundial e reconhecido como tal pelo público até o dia em que abandonasse o título em um match disputado. Mas ele não era um título ou propriedade que ele pudesse ceder ou entregar a um Desafiante, digno disso ou não. O Campeão Mundial possuía o título, como um zelador, mas não era dono dele. Quando Alekhine morreu como detentor do título, um novo evento era necessário. Ele tinha que ser organizado de tal forma que o público aceitasse que a disputa criava legitimamente um digno novo Campeão Mundial ou pelo menos alguém que tivesse feito o suficiente para poder-se dizer: “Bem, dos Candidatos, ele está perto o suficiente.” Perto o suficiente para reivindicar ser o melhor enxadrista do mundo.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-b0WAUH7-MqU/V7hEcwFF0pI/AAAAAAAAU50/DCTRzC5XQcYPIcqJGR7ebfIVPnE2jfgyACLcB/s1600/Karpov%2B011.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="263" src="https://1.bp.blogspot.com/-b0WAUH7-MqU/V7hEcwFF0pI/AAAAAAAAU50/DCTRzC5XQcYPIcqJGR7ebfIVPnE2jfgyACLcB/s320/Karpov%2B011.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">O verdadeiro Campeão Mundial poderia jogar, por favor?</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Da morte de Alekhine enquanto ainda era Campeão Mundial, avançamos rapidamente no tempo até Anatoly Karpov em 1975. Anatoly certamente havia realizado o que as regras exigiam para tornar-se Desafiante. Mas o sentimento geral das pessoas era que havia um abismo entre o Desafiante e o Campeão e que Bobby era simplesmente muito superior. Diferentemente de Alekhine, Bobby não tinha falecido e, embora Anatoly estivesse perto, ele não era a coisa de verdade. Ele não estava perto o suficiente. E aí estava a dificuldade: em 1975, Anatoly Karpov era um Campeão no papel e o público, certamente o público ocidental, simplesmente não estava a fim de ser enganado pela FIDE. Assim, iniciou-se uma estranha interação de dinâmicas que duraria duas décadas, se não mais.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-8qLRIrpy4Qw/V7hEtzR6nwI/AAAAAAAAU58/HTd7QEQ61o0Nlw-toLw_q8ffxYEZEB-NQCLcB/s1600/Fischer%2B002.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://4.bp.blogspot.com/-8qLRIrpy4Qw/V7hEtzR6nwI/AAAAAAAAU58/HTd7QEQ61o0Nlw-toLw_q8ffxYEZEB-NQCLcB/s320/Fischer%2B002.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>“Todo mundo” (isto é, fãs como eu) sabia que Bobby Fischer era o melhor enxadrista do mundo, mas enquanto ele se mantivesse fora da competição nada havia a debater. O “verdadeiro Campeão” não estava jogando e não mostrava nada. Já Anatoly queria desesperadamente ser aceito como um genuíno Campeão Mundial, além de ser reconhecido como o melhor enxadrista do mundo. Sua missão era simples: se ele queria ser tratado ou considerado o Campeão Mundial, teria que jogar contra os melhores enxadristas nos melhores torneios e vencer. E vencer com frequência. E o fez. Anatoly era o melhor enxadrista do mundo entre os Grandes Mestres ativos.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>O primeiro teste de Anatoly como “Campeão defensor da FIDE” foi em 1978, quando enfrentou novamente Victor Korchnoi, desta vez sancionado como Campeão Mundial. Venceu o match com a estreita margem de 6 vitórias contra 5 derrotas e 21 empates. No final do match, Anatoly estava minguando, perdendo três das últimas cinco partidas. Sua vitória foi por muito pouco e não dissuadiu seus críticos, mesmo que relutantemente admitissem que derrotar Victor Korchnoi, o segundo enxadrista mais bem classificado, não era pouca coisa. A margem de vitória foi dolorosamente pequena. Outro ciclo de três anos veio e se foi; Anatoly manteve-se um Campeão Mundial ativo, vencendo ou empatando em primeiro lugar em praticamente todos os eventos de que participou. Em 1981, ele enfrentou Victor Korchnoi pela terceira vez em um match para decidir o título mundial. Dessa vez o resultado foi um desempenho decisivo de 6 vitórias, 2 derrotas e 10 empates. Anatoly dominou o mais curto match pelo Campeonato Mundial na história do Pós-guerra. Um novo Karpov, versão 3.0, nasceu. O Anatoly Karpov do período de 1981 a 1984 era um enxadrista que o mundo raramente tinha visto antes. Esse não era um Campeão Mundial do tipo “primeiro entre iguais” – esse era um Campeão Mundial que tínhamos esperado que Bobby Fischer se tornasse: um Campeão Mundial de credenciais indiscutíveis, bem superior a seus colegas. Anatoly jogou em todos os principais eventos e venceu a maioria. No período de 1977 a 1985, um novo tipo de evento estava nascendo: o evento de Categoria 15 – um evento tão forte que, na história do xadrez, somente um punhado tinha sido realizado; eventos de Categoria 15 tornaram-se competições anuais e Karpov venceu ou dividiu o primeiro lugar em praticamente todos eles.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Todo enxadrista tem uma opinião sobre o que teria acontecido em um hipotético confronto entre Bobby e Anatoly em 1975. Eu não sou diferente. Bobby teria vencido por 10 a 4 com aproximadamente 20 empates ao longo do caminho. Mas, em 1984, Anatoly Karpov tinha evoluído para um formidável Campeão Mundial e teria derrotado qualquer Desafiante, inclusive, em minha avaliação ao menos, Bobby. É realmente inacreditável como Anatoly estava bom durante esse período. Em minha opinião, Anatoly Karpov é o segundo melhor enxadrista que o mundo já teve.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Mas Karpov sofreu um destino cruel. Teve que lutar com um adversário que ninguém podia superar – a sombra de Bobby Fischer. Por maiores que fossem suas realizações, ninguém podia saber com certeza se Karpov era o verdadeiro Campeão, pois ele jamais jogou contra seu maior rival. Isso foi uma tragédia para o mundo do xadrez, para Anatoly e, possivelmente, também para Bobby.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Apesar disso, Karpov compilou um histórico em torneios e matches que jamais será igualado, nem mesmo pelo maior enxadrista de todos os tempos, Garry Kasparov. Existe uma ironia verdadeira no segundo golpe sofrido por Karpov pelos Deuses do Xadrez – ele era o Campeão Mundial quando Kasparov entrou em cena, e teve que lutar não apenas com uma sombra que não jogava, mas com um adversário real que jogava. Os dois disputaram um número estarrecedor de matches. Antes de nos voltarmos para a rivalidade entre Karpov e Kasparov, não estarei exagerando ao enfatizar que Karpov era muito mais do que a ponte entre Fischer e Kasparov – ele era um enxadrista incrivelmente poderoso por seu próprio mérito e os enxadristas devem ser eternamente gratos por ele ter enfrentado seus rivais com tamanha determinação.</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-sm2ClwjR-8Y/V7hFF__xp4I/AAAAAAAAU6A/cDe1w4AtZqwLvLJyAjkK4msP5Fy_6f48QCLcB/s1600/Karpov%2B002.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-sm2ClwjR-8Y/V7hFF__xp4I/AAAAAAAAU6A/cDe1w4AtZqwLvLJyAjkK4msP5Fy_6f48QCLcB/s1600/Karpov%2B002.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">O infame Match de 1984</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Vamos fazer uma pausa para compreender a grandeza de Karpov. Em 1984, quando defendeu seu título, dessa vez contra um novo Desafiante, Garry Kasparov, no famoso primeiro match cancelado, Karpov liderava com cinco vitórias a zero. Pare para pensar sobre o fato por um instante. Garry Kasparov, que ascenderia para tornar-se o maior enxadrista de todos os tempos, estava sendo esmagado por 5 a 0 pelo Anatoly Karpov de 1984. Nossa, esta é uma distância com seus rivais que somente Bobby Fischer na safra de 1971 foi capaz de demonstrar.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Muitos especialistas, inclusive eu, sugeriram que, se Anatoly tivesse vencido o match de 1984 por 6 a 0 (desconsiderando os empates), Kasparov teria sido psicologicamente destruído e não teria se tornado o Kasparov que conhecemos hoje; que, sem dúvida, impulsionado por tão imensa vitória, Karpov teria mantido seu título por mais dez anos e continuaria sendo o maior jogador de todos os tempos. Este é meu modo de ver: Karpov vence o match de 1984 com uma vitória esmagadora de 6 a 0, Garry nunca se recupera totalmente de tamanho desastre, e Karpov permanece no topo do trono por mais uma década. Depois de um total de 20 anos de supremacia, ele terminaria sua carreira como o maior enxadrista de todos os tempos. Anatoly chegou perto assim desta história de grandeza no xadrez.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Mas não foi isso o que aconteceu. O que aconteceu é simplesmente surpreendente. Minha única descrição é “sobre humano”. Perdendo de 5 a 0 após 27 partidas, Garry Kasparov encontra recursos dentro de si que nem sabe que existem. Enfrentando a mais horrível provação possível para um profissional do xadrez, Kasparov luta com cada pingo de determinação que pode reunir. Ele não pode perder uma única partida. Ele vai empatar e empatar – para sempre se necessário – mas não vai perder. Ele não pode perder. O confronto não é mais um jogo ou um duelo esportivo – em vez disso, transcendeu o xadrez e transformou-se em uma luta entre a vida e a própria morte. A perda de uma única partida significa a morte de uma carreira. Kasparov deve ficar com seu adversário, aguentando dia após dia, suportando o que de melhor Karpov tem a oferecer. Nenhum dos enxadristas está muito interessado em correr riscos. Karpov quer uma derrocada de 6 a 0. Com a Partida 32, o pesadelo de Kasparov termina: é sua primeira vitória naquele match. Excepcional. A ameaça de perder de maneira desonrosa acabou. Caso Karpov agora vença o match, Kasparov terá o consolo de ao menos uma vitória.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-ISmHTA_a9rk/V7hFUt2F7XI/AAAAAAAAU6E/WY-DIsNanXk3P6SDYB_BYzfTlyA3eAouACLcB/s1600/Karpov%2B001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-ISmHTA_a9rk/V7hFUt2F7XI/AAAAAAAAU6E/WY-DIsNanXk3P6SDYB_BYzfTlyA3eAouACLcB/s1600/Karpov%2B001.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Mais uma vez, a ação defensiva de “não dever perder nenhuma partida” continua. Karpov é incapaz de levar o match até a linha de vitória. Depois de cinco meses e 46 partidas, o match continua parado em 5-1. Os organizadores e jornalistas estão ficando exaustos e impacientes. Alguns repórteres foram colocados em Moscou desde antes do início das partidas e permaneceram por seis meses. Os quartos de hotel tornaram-se lares; as vozes de entes queridos no outro lado das linhas de telefone estão mudando; os orçamentos estouraram e ninguém sabe ao certo o tamanho do prejuízo. Subitamente, o match interminável toma um rumo totalmente novo: Kasparov vence, consecutivamente, as Partidas 47 e 48. O placar do match é de 5 a 3 e, pela primeira vez em meses, as coisas ficaram interessantes. Um turbilhão de atividades acontece e os boatos são muitos: diz-se que Karpov está exausto; existe uma sugestão de médicos não identificados de que a saúde dos competidores poderia estar ameaçada; diz-se que os organizadores estão considerando mais uma mudança de local; existe a possibilidade de um adiamento de um mês como intervalo oficial antes da retomada do match; as autoridades da FIDE estão cogitando o cancelamento do match, programando um novo confronto com um número definido de partidas. Em suma, os boatos corriam, e ninguém sabia ao certo o que aconteceria. De qualquer forma, para quando estava programada a Partida 49?</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Nenhuma decisão da magnitude de cancelar o match de 1984/85 é tomada apenas por uma razão. Há sempre uma multiplicidade de causas para esse tipo de decisão e para o que acontece. Talvez jamais saibamos todos os fatores e a dinâmica. O que realmente sabemos é que o presidente da FIDE, Florencio Campomanes, tomou uma decisão de longo alcance: ele cancelou o match “sem resultado” e convocou um novo match de 24 partidas com um placar redefinido em zero a zero. O mundo do xadrez ficou em pé de guerra.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Muitas cargas de caneta foram gastas sobre o cancelamento, mas minhas opiniões são agnósticas. Não resta dúvida de que o match tinha ido muito além do que toda pessoa sensata poderia esperar. Cinco a seis meses para um evento esportivo? Os limites máximos do extraordinário há muito haviam sido ultrapassados. De todas as pessoas envolvidas no match, Campomanes deveria ter compreendido que uma medonha possibilidade como a de um match infindável era real. Ele tinha sido o organizador do confronto de 32 partidas em Baguio City entre Karpov e Korchnoi em 1978 que terminou em 6 a 5. Aquele match, parecido com uma maratona, estava começando a testar a paciência dos organizadores quando também chegou-se a uma súbita e furiosa conclusão: Korchnoi venceu três das últimas cinco partidas, mas perdeu a partida que Kasparov não perderia: a partida final.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Campomanes sabia que as regras de “precisar vencer seis partidas” tinham sido adotadas em 1975 como uma forma de apaziguar as exigências de Fischer para um match de “precisar vencer dez partidas”. Na época do confronto de 1984-1985, essas regras tinham perdido sua utilidade, pois tinham sido colocadas em vigor para atrair e tirar Bobby Fischer da aposentadoria e aquele gambito tinha falhado há muito tempo. Era hora de abolir aquele sistema e retornar ao formato de 24 partidas para o qual os organizadores poderiam fazer um orçamento adequado. O match cancelado de 1984/85 forçou essa decisão racional.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-wdJIfonEOzA/V7hFkxK8BzI/AAAAAAAAU6M/nUtUje0v7OEke9EicJALesvJ99etZAdPQCLcB/s1600/Karpov%2B006.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="217" src="https://1.bp.blogspot.com/-wdJIfonEOzA/V7hFkxK8BzI/AAAAAAAAU6M/nUtUje0v7OEke9EicJALesvJ99etZAdPQCLcB/s320/Karpov%2B006.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Mitos e lendas</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Já deve estar claro para o leitor que Campeões Mundiais são o material de lendas. As impressionantes habilidades de todo Campeão Mundial, de Steinitz a Kasparov, prestam-se à criação de mitos. Talvez sempre tenha sido verdade que os próprios Campeões Mundiais desempenharam um papel na criação de seus próprios mitos, mas a mitologia em torno de Fischer, Karpov e Kasparov atingiu níveis nunca vistos.Examinemos primeiramente o mito de Kasparov no confronto de 1984-1985.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-uAcoRe4c-G0/V7hF-WESKII/AAAAAAAAU6Q/_qmu_i_UpYgztyEWVhXB9b8KD8Iw95ejQCLcB/s1600/Karpov%2B015.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-uAcoRe4c-G0/V7hF-WESKII/AAAAAAAAU6Q/_qmu_i_UpYgztyEWVhXB9b8KD8Iw95ejQCLcB/s1600/Karpov%2B015.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">O mito do Match Roubado</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Quando o primeiro match Karpov-Kasparov foi cancelado, com o placar a favor de Karpov, a reação de Kasparov foi muito diferente do que talvez você tenha imaginado. Surpreendentemente, o condenado, Garry Kasparov, e seus defensores no Ocidente criticaram violentamente as ações de Campomanes, rotulando-as de “Dia da Vergonha”. Em uma descrição mais sinistra, Kasparov vê Campomanes como um amigo íntimo e (mais sombriamente) talvez até como um parceiro de negócios de Karpov. (Nunca foram apresentadas provas de quaisquer transações comerciais mútuas.) Campomanes, fomos informados, “obedeceu ordens” (provavelmente da KGB – aqueles c***lhas!) ou cancelou o match para “salvar” Karpov e seus acordos comerciais mutuamente lucrativos de uma derrota/colapso catastrófico! Sem dúvida, bilhões estavam em jogo.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Vamos pensar sobre estas alegações por um instante. Afora a conjectura quanto à motivação de Campomanes, é possível argumentar convincentemente que foi Kasparov, e não Karpov, quem mais sofreu com o término do match? Eu acho que não – a decisão de Campomanes de cancelar o match servia a Kasparov perfeitamente. Ele receberia um novo match, uma planilha limpa, por assim dizer; o presente placar deficitário de 5 a 3 foi apagado. Dia da Vergonha? Vamos ser absolutamente claros: que tal um “Dia da Comemoração”? E estourar o espumante. Não podia ter sido melhor para Kasparov. Inversamente, a decisão de Campomanes foi terrível para Karpov. Sua liderança anterior de 5 a 0 tinha se evaporado, e sua liderança presente de 5 a 3 também foi apagada. Percebendo o óbvio, Karpov queria que o match continuasse, alegando que não estava exausto e que quaisquer declarações em contrário eram falsas. Não senhor, ele estava com todo o gás e ansioso para brigar.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Não sou médico e evidentemente não tive a chance de examinar Karpov para determinar seu estado de saúde quando o match terminou. Sua alegação de que ele estava em forma é tão improvável de ser verdadeira quanto as alegações de Kasparov de que o match foi cancelado para salvar Karpov da derrota certa. Evidente-mente, o match teve um efeito adverso em Karpov, assim como ocorreu em seu exaustivo match contra Korchnoi em 1978. Mas as chances de Karpov perder três partidas contra vencer uma eram com certeza pequenas. Na época do cancelamento, Kasparov estimou que sua chance de vencer o match de 1984/85 caso ele continuasse era de uma em três. Eu acho isso muito otimista. Em minha opinião, as chances de vitória de Kasparov eram no máximo de 25%, o que significa 75% de chances de que ele teria perdido. Embora Kasparov ainda sustente sua hipótese do “Dia da Vergonha”, acusando “Karpomanes” (uma mistura dos nomes de Campomanes e Karpov) de ter cooperado com a Federação de Xadrez da URSS para salvar seu homem, é realmente hora de deixar a questão em suspenso. Embora eu discorde com a estimativa de Kasparov sobre suas chances, vamos dar a Garry o benefício da dúvida e aceitar seus 33% de chances de vencer. Isso significa 66% de chances de perder e, assim, quem se beneficiou mais com a decisão do cancelamento?</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-eDdF2aWnAFI/V7hGIMWdV-I/AAAAAAAAU6U/hFejrbUb6R4cM2fey3enAkUE_OaUGMq7gCLcB/s1600/Kasparov%2B001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-eDdF2aWnAFI/V7hGIMWdV-I/AAAAAAAAU6U/hFejrbUb6R4cM2fey3enAkUE_OaUGMq7gCLcB/s1600/Kasparov%2B001.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Recentemente, li um artigo de Kasparov na New In Chess Magazine (2008, número 5, páginas 62-70). Referindo-se à Partida 48, ele escreveu: “Eu acho que esta partida não foi somente a melhor que joguei em cinco meses, mas também a melhor do match como um todo.” Aqui Garry demonstra um pendor pela história revisionista, talvez oriundo de seus primeiros anos na União Soviética. Ao que parece, Kasparov, depois de fazer uma apreciação mais profunda e objetiva do match, chegou a uma conclusão atordoante: as Partidas 47 e 48 foram duas das melhores partidas produzidas em todo o match! Se, como sugerido por Garry, ambos os jogadores jogaram um xadrez de extraordinário alto nível naquele momento, deve ter sido por causa do aquecimento das 46 partidas... Mas onde isso coloca a alegação de Garry em 1985 de que Karpov estava exausto e de que, se ele era incapaz de continuar, deveria abandonar o match?</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Bem, se aceitarmos este revisionismo, peço a mesma oportunidade de também re-visar minhas opiniões. Dê-me um novo Karpov em plena forma e eu aumento minha estimativa de 75% de uma vitória de Karpov se o match tivesse continuado para 80 ou 90%. Se o Anatoly Karpov de 1984, jogando o melhor xadrez de sua vida, precisava ganhar apenas uma partida antes de perder três em um match no qual os empates não contam, sinto-me em terreno firme com minha estimativa de 80%. Karpov era o melhor enxadrista do mundo em 1984-1985 e, certamente, ninguém podia dar-lhe uma vantagem de 3 a 1. Qualquer coisa podia ter acontecido, mas vamos manter os pés no chão...</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>O resto, como se diz, é história. Kasparov venceu o match seguinte, tornando-se o mais jovem Campeão Mundial na história. Ele passaria a dominar o xadrez durante os vinte anos seguintes, como descobriremos nos capítulos a seguir.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Com demasiada frequência, olhamos a vida com as lentes de nossos próprios olhos, deixando de considerar as opiniões de nossos opositores e se sua opinião é justa ou não. Muitas vezes já me perguntei o que Garry poderia ter dito se os papéis fossem invertidos e se sua liderança de 5 a 3 tivesse sido apagada. Neste caso, sua hipótese sobre o “Dia da Vergonha” teria sido justificada. Na realidade em que a maioria de nós vive, a hipótese de Garry me parece absurda, mas ela tomou proporções mitológicas sem um bom motivo. Afinal, ele tornou-se Campeão Mundial no final de 1985.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-Lrf4GGgWxQA/V7hGlIBgNWI/AAAAAAAAU6c/QejvdTP8p8ADMJJxAzeD0UV_kAOl019_wCLcB/s1600/Fischer%2B003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-Lrf4GGgWxQA/V7hGlIBgNWI/AAAAAAAAU6c/QejvdTP8p8ADMJJxAzeD0UV_kAOl019_wCLcB/s1600/Fischer%2B003.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">O mito de Fischer como Davi contra Golias</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Vamos corajosamente afirmar o óbvio: todos nós somos tanto santos como pecadores. Anatoly Karpov não era nem é diferente de todos e de cada um de nós. Ele tem seus pontos bons e ruins, seus altos e também seus baixos. Tudo faz parte de nossa comédia humana. Ninguém é perfeito.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Para quem pensa que vou pôr Karpov nas alturas, este capítulo será uma surpresa, e para quem pensa que, como fã de Bobby Fischer, vou jogar Anatoly na lama, errou também. Serei claro: eu tenho grande admiração por Anatoly. Suas partidas e realizações são incríveis e dignas de nosso maior respeito. Ele com certeza recebeu muita ajuda ao longo do caminho, mas frequentemente a ascensão de “programa de esportes” de Karpov no Campeonato Mundial é contrastada com o mito de Fischer como o lobo solitário. O público do xadrez há muito é alimentado com a fábula de que Bobby Fischer desafiou sozinho o rolo compressor do xadrez soviético e, em reverência ao gênio individual, derrotou o sistema esportivo socialista soviético construído durante décadas. Que evocativo. O gênio solitário defendendo o direito contra a força; liberdade individual versus formação sistêmica em camisa de força; Bobby lutando contra todo um aparelho governamental para arrebatar o Campeonato Mundial de Xadrez. Puxa! Visto deste ângulo, um brilhante enredo de cinema. Hollywood não poderia fazer melhor – deve haver um filme aqui em algum lugar. Quero dizer, não é legal isso? Legal, mas nonsense ["sem sentido", "contra censo" ou "absurdo" é uma expressão inglesa que denota algo disparatado, sem nexo].</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Para pôr as coisas em perspectiva, é verdade que, do ponto de vista do xadrez em si, Fischer era em grande parte autodidata. Aquilo de que ele carecia da formação formal institucionalizada que caracterizava a “escola soviética de xadrez”, compensava com uma determinação obstinada e trabalho árduo. Ele estudava as partidas dos melhores enxadristas soviéticos e lia a literatura de xadrez russa avidamente. No fim, Bobby “sovietizou-se mais do que os próprios soviéticos”, e fez isso apenas com modesto auxílio de seus colegas.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Mas isso é apenas parte da história. Vamos começar com o fato mais simples: no ciclo de três anos que Bobby venceu, ele não se qualificou. Bobby, “sem ajuda de ninguém”, retirou-se do ciclo porque boicotou o Campeonato dos Estados Unidos de 1969, que casualmente era também um qualificador zonal e a primeira etapa no ciclo do Campeonato Mundial. A lenda poderia ter terminado ali: “Desculpe-nos imensamente, Bobby, mas você está fora dessa. Você pode tentar novamente no próximo ciclo de três anos, o que começa em 1975. Tchau. Cuide-se bem”.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Foi a decisão de Pal Benko, o qual tinha se qualificado no Zonal dos Estados Unidos, de retirar-se e ceder sua vaga de qualificação em favor de Bobby que permitiu que ele competisse no Interzonal que o colocou no caminho do estrelato. Vou repetir: Bobby estava fora e, somente porque Pal Benko foi capaz deste fantástico gesto esportivo, Bobby pôde crescer.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Assim como a tentativa de Lasker de dar seu título a Capablanca sem jogar, não estava sequer claro que Benko tinha o direito de transferir sua vaga de qualificação a um enxadrista de sua escolha. Se Pal queria se retirar do ciclo, não seria o jogador no Zonal, que era o próximo na fila, a subir para substituir Pal? Na verdade, todos os enxadristas americanos no Zonal teriam que concordar em deixar que Bobby tomasse a vaga de qualificação de Pal e abrir mão de seus direitos e reivindicações. Além disso, o Comitê Central da FIDE também teria que aprovar essa troca. As regras eram claras: os melhores jogadores do Zonal se qualificavam para as etapas seguintes da disputa. Jogadores ausentes não recebiam tratamento preferencial. Foi nesse comitê que as autoridades da USCF trabalharam imensamente para assegurar os votos necessários que permitiram que Bobby jogasse.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Escreveu-se que Pal recebeu dinheiro para ceder seu lugar. Isso não é verdade. Pal retirou-se pelo mais simples dos motivos: ele achava que Bobby tinha uma genuína chance de se tornar Campeão Mundial, certamente uma chance melhor do que ele mesmo. Ele estava disposto a ceder seu lugar, mas somente para Bobby. Assim, só para começar, Bobby precisou e recebeu ajuda de Pal Benko. Se Pal tinha esperanças de remuneração, só havia uma: se Bobby avançasse bastante no ciclo, talvez ele pudesse ser um técnico ou assistente.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Depois, todos os participantes no Zonal dos Estados Unidos de 1969 tinham que concordar com a decisão de Benko de trocar com Bobby. Se Benko queria sair, tudo bem, essa era sua decisão; mas o camarada atrás de Benko que teria se qualificado teria que abrir mão de seu direito. E assim por diante. Nenhum desses enxadristas foi pago para ceder seus direitos. Eles todos queriam ver Bobby jogar – vê-lo jogar e vencer.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Podemos ver que, fora do tabuleiro, Bobby precisou de ajuda para ter sua chance no Campeonato Mundial, e a recebeu. E a história não termina aí.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-jbaAL0YxbtQ/V7hHIvp7UFI/AAAAAAAAU6k/5l3a_WzIprguMMIsAOC7iTpUex6J9wP3ACLcB/s1600/Fischer%2B004.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-jbaAL0YxbtQ/V7hHIvp7UFI/AAAAAAAAU6k/5l3a_WzIprguMMIsAOC7iTpUex6J9wP3ACLcB/s1600/Fischer%2B004.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Depois de ter garantido o lugar de Bobby no ciclo através da aprovação do Comitê Central da FIDE, a USCF veio em seu auxílio e o apoiou sem reservas. O diretor executivo da USCF, o coronel Ed Edmondson, dedicou a maior parte de seu tempo e energia para garantir que Bobby recebesse todo o apoio de que precisava. Para citar o ex–diretor executivo da USCF Al Lawrence: “Leroy Dubeck, presidente da USCF de agosto de 1969 a agosto de 1972, lembra que, quando assumiu, concordou com o então diretor executivo Ed Edmondson de concentrar todos os recursos da federação de xadrez em um único objetivo monumental – dar a Fischer a chance de vencer o Campeonato Mundial. Para esse propósito, os dois inclusive redirecionaram todo o dinheiro obtido com sócios vitalícios em vez de investi-lo.” (Chess Life, setembro de 2007, página 25.) Junto com Leroy Dubeck e Ed Edmondson, havia Fred Cramer, também da USCF, que ajudou Fischer com acordos e numerosas questões jurídicas.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Os Grandes Mestres Bill Lombardy e Lubosh Kavalek estavam lá para oferecer seus serviços da forma como pudessem, assim como o Mestre Internacional Anthony Saidy, amigo íntimo de Bobby. Havia Lina Grumette, uma senhora de idade adorável, figura materna para Bobby, a qual, da mesma forma, dedicou-se a apoiá-lo. Por muitos anos na adolescência, Bobby hospedou-se em sua casa, onde ela devotou-se ao bem estar dele. Existe uma história famosa de Lina no cinema com Bobby em Reykjavik em um momento crítico no match de 1972, dizendo-lhe resolutamente para apenas jogar e vencer. Havia torrentes de pessoas, organizadores, fãs e jornalistas ansiosos para ajudar Bobby, desejando-lhe sucesso, instigando-o a seguir adiante.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Houve uma profusão de apoio de todos os cantos. Se Bobby tivesse feito um apelo público aos fãs do xadrez em 1975 e dito: “Por favor, preciso de sua ajuda. Envie 50 dólares para minha verba de treinamento e ajude-me a manter meu Campeonato Mundial. Com seu apoio, eu prometo competir e, se a competição não acontecer, devolverei sua doação...”, suspeito que eu, um jovem de 15 anos com pouco dinheiro, e um milhão de outros fãs de xadrez dos Estados Unidos teríamos feito a doação. E de bom grado. Bobby teria uma reserva de guerra de 50 milhões de dólares quase da noite para o dia, tamanho era o “apoio” que ele tinha. A própria sugestão de que Bobby fez o que fez sozinho é um mito criado pela mídia e desvaloriza os imensos esforços das muitas pessoas sem as quais Bobby teria continuado sendo uma possibilidade para o mundo do xadrez. Para colocar a questão sem rodeios: sem ajuda, Bobby não chegou a parte alguma. Ele se retirou do ciclo. A verdade simples é que Bobby às vezes era seu próprio pior inimigo e isso lhe custava muito caro: às vezes ausentava-se, às vezes retirava-se e geralmente sabotava suas próprias campanhas. Foi a assistência de algumas pessoas-chave em momentos decisivos que ajudou a empurrar, convencer e instigar Bobby a encontrar o seu destino. Não se esqueçam do telefonema do Dr. Henry Kissinger que fez Bobby embarcar no avião para a Islândia. Sem ajuda? Por favor!</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-ftWE7N3HOmM/V7hHUm1I1xI/AAAAAAAAU6s/opeW4TY_yMkdm7mq22XnpY_EgQvr8JVRQCLcB/s1600/Karpov%2B013.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-ftWE7N3HOmM/V7hHUm1I1xI/AAAAAAAAU6s/opeW4TY_yMkdm7mq22XnpY_EgQvr8JVRQCLcB/s1600/Karpov%2B013.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">O mito de Karpov e da igualdade de condições</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Bobby Fischer foi o pior pesadelo da máquina de xadrez soviética que se tornou realidade. Eles precisavam de um Karpov e, parafraseando um velho ditado, se Karpov não tivesse existido, teriam que inventá-lo. Inventaram? Karpov era um grande enxadrista mas, como porta-bandeira do xadrez soviético e do Estado soviético, ele foi plenamente apoiado com o máximo de privilégios possível. Nenhum enxadrista jamais desfrutou tanto as doações oferecidas pelo Estado e pela FIDE quanto Anatoly Karpov. Poderia tê-lo feito sozinho? Karpov superou a sombra de Fischer sendo um “Campeão ativo” que, merecidamente, deixava que suas peças e peões falassem por si? Como veremos, Anatoly usufruiu de todas as vantagens possíveis e depois de algumas que jamais tinham sido imaginadas antes.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>O “apoio do Estado” a Anatoly parece ter começado desde o início de sua carreira. Depois o “trem da alegria” só acelerou. Ele obteve permissão para se mudar com a família para Moscou – permissão não concedida sem um bom motivo na União Soviética. Vamos recapitular os simples fatos do ciclo de três anos de 1972-1975, que o levou ao título por forfeit [falta]:</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>1. Anatoly qualificou-se no Zonal soviético.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>2. Disputou no Interzonal soviético de 1973 em Leningrado, empatando invicto em primeiro lugar com Victor Korchnoi.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>3. Disputou três matches de Candidatos, derrotando Polugaevsky pela primeira vez em sua cidade natal de Moscou.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>4. Derrotou Spassky em Leningrado na Semifinal.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>5. Derrotou Korchnoi na Final de Candidatos de 1974 em Moscou por 3 a 2, com 19 empates. A cidade natal de Korchnoi era Leningrado, e Karpov morava em Moscou. O match foi em Moscou.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>6. Por fim, obtendo o título em 1975 por muita desistência graças às maquinações da Federação de Xadrez da URSS na Assembléia Geral da FIDE. A USCF estava no outro lado das maquinações, apoiando o Campeão Mundial Bobby Fischer.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Em parte porque o Interzonal de que participou foi realizado em Leningrado e porque seus adversários nos torneios de Candidatos (Polugaevsky, Spassky e Korchnoi) eram todos enxadristas soviéticos (na época), aconteceu que Anatoly Karpov tornou-se Campeão Mundial sem jogar uma única partida fora da União Soviética; ou, melhor dizendo: ele jogou todas as suas partidas na Rússia, e a maioria de suas partidas, incluindo a final de Candidatos, foi disputada em sua cidade, Moscou. Como eufemisticamente diriam os britânicos, “isso ajuda”.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Ainda posso ver Bent Larsen queixando-se de que, para uma fase do prolongado ciclo de três anos, o Interzonal em que ele seria obrigado a competir seria disputado dentro da URSS. Fico pensando em como Larsen se sairia se todo o ciclo de três anos tivesse ocorrido em Copenhague.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Serei absolutamente claro: não estou fazendo acusações de fraude ou trapaça. Na época, Karpov já estava entre os dez melhores do mundo. Estou apenas dizendo que seus esforços contaram com o total amparo e apoio da Federação Soviética de Xadrez e sem esse apoio ele poderia não ter sido bem-sucedido.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Depois que Karpov foi declarado Campeão Mundial da FIDE e a questão do empate em 9 a 9 de Fischer estava sendo debatida, a questão era: de que vantagem, se houver alguma, o Campeão deveria usufruir? As autoridades da FIDE decidiram dar ao Campeão Karpov uma imensa vantagem: uma cláusula de revanche. Caso Karpov perdesse um match pelo título, ele teria direito a uma revanche – precisamente o direito que Botvinnik exerceu com êxito antes de ser tirado dele por ser uma vantagem muito grande. O direito a uma revanche era simplesmente uma imensa vantagem para o Campeão Mundial e certamente muito maior do que qualquer coisa que Bobby tivesse pedido. Da perspectiva de Karpov, isso era muito natural. Por que ele iria se opor? Realmente, por quê? Com sua ascensão ao trono do xadrez, Anatoly Karpov tornou-se uma figura de liderança nos círculos do esporte soviético e da cultura soviética. Ele trouxera de volta a coroa que tinha sido levada pelo arrivista Bobby Fischer. Foi premiado com a Ordem de Lênin e duas vezes eleito Esportista Soviético do Ano – uma realização digna de consideração em um país que produziu Campeões Mundiais em praticamente todos os esportes. Na época do match de 1978 com Victor Korchnoi, e especialmente no de 1981, a influência de Karpov na URSS era muito forte. Seu adversário, um desertor, oficialmente um criminoso do Estado soviético aguardando julgamento, era o perfeito contraste para Anatoly. Ele empunhava a bandeira, preservava a honra da URSS e mantinha a coroa. Os Comissários tinham que ficar absolutamente encantados com Anatoly Karpov – ele era o perfeito “herói nacional da pátria.”</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Karpov nunca jogou contra Fischer, mas três vezes derrotou o demonizado Victor Korchnoi, de maneira justa e honesta. Ou não? Em 1976, Korchnoi desertou da União Soviética enquanto disputava um torneio em Amsterdã. Deixou para trás uma esposa e um filho na União Soviética. Ele implorou ao Estado soviético que permitisse que seus familiares saíssem e se unissem a ele no Ocidente, mas sua solicitação foi rejeitada muitas vezes. Em entrevistas à imprensa, Korchnoi explicou que sua família estava sendo deliberadamente mantida como “refém” pelo Estado soviético e que, na véspera de suas partidas contra Karpov, seu filho Igor foi mandado para um campo de prisioneiros, como de fato aconteceu em 1981.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>É aqui que as coisas se tornam especialmente interessantes: Korchnoi alegou que Karpov, se quisesse, poderia intervir e pedir ao Estado que libertasse seus familiares. Foi uma acusação que considerei muito convincente. O simples respeito por seu adversário deveria exigir que Karpov fizesse este pedido e permitir que a família se reencontrasse e pôr um fim a uma acusação muito forte e emotiva, ao mesmo tempo garantindo que a importante questão da supremacia do xadrez soviético fosse resolvida no tabuleiro.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Foi somente anos depois de Korchnoi ter deixado de ser uma ameaça ao título do Campeonato Mundial que sua esposa Bella e seu filho Igor tiveram permissão para sair da União Soviética e viver no Ocidente. Victor acabou se divorciando e casando novamente. Que eu saiba, Karpov jamais intercedeu em nome dos familiares de Victor.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Karpov era um enxadrista formidável, mas ele não adquiriu sua força sem ajuda. A União Soviética era a maior usina de xadrez do planeta. Os melhores enxadristas do mundo vieram da URSS e Karpov passou sua vida inteira competindo com eles. O Estado patrocinava-o, seus treinadores e as sessões de treinamento, supria-o de livros e materiais de xadrez e garantia que ele fosse um profissional de xadrez em tempo integral e bem cuidado. Ele podia dedicar seu tempo e energia ao estudo e jogo e era simplesmente inevitável que seu talento lhe permitisse emergir como um forte Grande Mestre.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Em diversas ocasiões, li palavras de pessoas esclarecidas dizendo que Bobby Fischer foi “o primeiro profissional do xadrez” do mundo, como todos temos uma “dívida” com ele por seu “profissionalismo” e como ele preparou o caminho para que outros também se tornassem profissionais. Bobby tinha uma postura profissional, mas é risível considerá-lo o primeiro profissional do xadrez. A URSS tinha enxadristas profissionais além de atletas profissionais muito antes de Bobby ter aprendido uma abertura. Os Grandes Mestres e Campeões soviéticos tinham apartamentos, rendas, ordenados, carros, casas de verão, férias, treinadores, técnicos e pensões por décadas antes de Bobby. Esses enxadristas dedicavam suas vidas ao seu ofício. Eles eram o epítome dos profissionais.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>O que Bobby fez foi popularizar o xadrez no Ocidente e possibilitar que seus partidários no Ocidente vivessem modestamente disso. Os profissionais orientais andavam muito bem muito antes disso, com rendas muito superiores à do “homem comum” na rua.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Só para dar um exemplo, meu amigo e Mestre Internacional Nikolay Minev formou--se em Medicina na Bulgária. Depois de exercer a medicina por alguns anos, ele mudou de profissão. Tornou-se editor da revista Shakhmatna Misl da Federação Búlgara de Xadrez, além de ter um cargo fixo nos campeonatos búlgaros e na equipe nacional. Por quê? Nikolay ganhava três vezes mais como enxadrista do que como médico e, além disso, trabalhava menos horas. Como enxadrista, Nikolay tinha permissão para viajar para o exterior, o que era simplesmente impossível como médico. Os profissionais de xadrez viviam muito bem nos países comunistas e, quando seus melhores dias de jogo acabavam, podiam facilmente passar aos postos de técnicos e treinadores recebendo assim apartamentos, salários e pensões. Não estou dizendo que viver nos países comunistas era fácil; mas viver em um país comunista era muito mais fácil se você fosse um Grande Mestre. Anatoly Karpov era um enxadrista profissional e devia sua subsistência ao Estado Soviético. À medida que foi acumulando sucessos, seus privilégios também aumentaram. Ele dispunha dos melhores treinadores, dos melhores técnicos e das melhores bibliotecas de xadrez que a URSS podia oferecer. Uma lista muito longa de enxadristas, incluindo Mikhail Botvinnik, Igor Zaitsev, Lev Polugaevsky, Efim Geller, Semyon Furman, Mikhail Podgaets e Mischa Tal, trabalhou para e em nome de Anatoly Karpov. A nata dos treinadores soviéticos ajudou Anatoly a afiar seu jogo. Se Bobby contava “só consigo mesmo” em seu treinamento e preparação, Anatoly era o extremo oposto e contava com o trabalho de muitos em seu auxílio. Mais uma vez, estamos falando sobre o melhor dos melhores – no mundo inteiro. Anatoly estava no ápice de uma vasta pirâmide onde todas as coisas boas fluíam da base para o topo. Como o diretor de cinema Mel Brooks diria, “é bom ser rei!” Como resultado de todo o treinamento rigoroso, auxílio de fortes Grandes Mestres e estudiosos de aberturas e competição com e contra os melhores enxadristas do mundo diariamente, não é de surpreender que Anatoly tenha se tornado um dos melhores enxadristas do mundo. E, sempre que possível, as autoridades soviéticas não deixavam nada para o acaso. De seu ponto de vista, fazia todo o sentido que “seu” Campeão Mundial tivesse o melhor de tudo. Outra paráfrase vem à cabeça, desta vez de George Orwell: “Algumas igualdades de condições são mais iguais do que outras...” Com todas essas vantagens, poderia haver outro desfecho? Mais um detalhe merece ser mencionado: Anatoly era incrivelmente talentoso. Isso também ajuda, é claro.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-GDlJhNNfgOE/V7hH1fu3gJI/AAAAAAAAU60/Mk15pFekH-siju1p4xd0M8RNbZq9vzyNACLcB/s1600/Karpov%2B016.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-GDlJhNNfgOE/V7hH1fu3gJI/AAAAAAAAU60/Mk15pFekH-siju1p4xd0M8RNbZq9vzyNACLcB/s1600/Karpov%2B016.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Karpov como enxadrista</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>O que quero dizer quando digo que Anatoly era “talentoso”? Em minha concepção, Anatoly tinha talentos que poucos possuíam. Ele tinha uma grande memória (todos os grandes enxadristas têm); tinha fantásticas habilidades de cálculo, identificando variantes prolongadas com clareza, calculando com precisão e julgando as posições resultantes muito bem. Além dessas habilidades que podem ser ensinadas, ele tinha algo inato: uma capacidade de harmonizar suas peças que poucos jamais possuíram. Anatoly jogou centenas e centenas de grandes e bons lances, cometeu pouquíssimos erros e ainda menos erros graves e, durante todo o tempo em que fazia seus lances, também ia tecendo uma alegre composição harmônica baseada em seu maravilhoso talento intuitivo. Suas partidas eram a um só tempo uma mistura poderosa de arte, lógica e cálculo. Esta “coesão de forças” era quase instintiva para ele. Era uma habilidade que ninguém jamais foi capaz de imitar. Karpov não era perfeito; ele tinha estilo. Um estilo que ninguém jamais viu antes nem depois. Derrotar Karpov era uma tarefa quase impossível. Por quê? Bem, a profundidade de seu conhecimento de aberturas era impressionante. Sua defesas e aberturas foram aprimoradas em profundidades nunca igualadas. Para vencer, você precisava obter uma vantagem na abertura, e seus treinadores trabalhavam noite e dia para garantir que isso não acontecesse.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Caso você conseguisse uma vantagem na abertura, então você teria que nutri-la durante o meio-jogo. De alguma forma, você teria que jogar melhor do que um dos enxadristas mais talentosos e diligentes que já se viu.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Depois de ter sido capaz de manter sua vantagem até um adiamento, você teria outra desvantagem completamente diferente: a formidável equipe de treinadores e assistentes de Karpov analisava a posição com uma profundidade nunca igualada. Essa equipe de treinadores de elite só ajudava a aperfeiçoar o esplêndido final de jogo de Anatoly. Possivelmente, ele foi o melhor jogador de finais desde Vassily Smyslov, talvez o melhor jogador de finais de todos os tempos.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Para recapitular, como se costumava dizer sobre Alekhine, para derrotar Anatoly era preciso vencer três vezes para ganhar uma partida: na abertura, no meio-jogo e no adiamento/final. Além disso, você precisava derrotar não apenas Anatoly, mas, com efeito, seu exército de ajudantes. As derrotas de Karpov em algum ano entre 1975 e 1985 geralmente poderiam ser contadas com os dedos de uma mão. E ele era um enxadrista muito ativo.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Anatoly tinha dois amargos rivais, além da sombra de Fischer: Victor Korchnoi e Garry Kasparov. Enquanto Mohammed Ali tinha seu Joe Frazier, Anatoly tinha dois inimigos mortais e as disputas que eles produziam uns contra os outros. No fogo de seus três matches com Victor Korchnoi, pareceu-me que Karpov se aperfeiçoou, ao passo que, nos cinco matches pelo Campeonato Mundial sem precedentes entre Karpov e Kasparov, pareceu-me que Kasparov se aperfeiçoou.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-09NqBwSB4ds/V7hIPdN1AnI/AAAAAAAAU64/e1M9x58bvDE8P589hcK0pCiyGmx_Z08GACLcB/s1600/Karpov%2B002.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" src="https://4.bp.blogspot.com/-09NqBwSB4ds/V7hIPdN1AnI/AAAAAAAAU64/e1M9x58bvDE8P589hcK0pCiyGmx_Z08GACLcB/s320/Karpov%2B002.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Encontrando Karpov</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Não é de surpreender que meu primeiro encontro com Anatoly Karpov esteja inesquecivelmente aliado a Garry Kasparov. Retornamos à Olimpíada de 1980 em Malta. Como mencionado, as equipes americanas estavam alojadas em um complexo de apartamentos fora de Valletta; as equipes soviéticas, em contraste, estavam no melhor hotel de Valleta, do qual era fácil ir a pé até o local de jogos. Fora das rodadas de jogo, quase não víamos as equipes soviéticas. Lembro-me da ocasião que gravou em minha mente muito bem a impressão que tive destes campeões: eu estava observando diretamente a equipe soviética masculina; eles estavam jogando contra a Bulgária, e os jogadores búlgaros estavam de costas para mim. Naquela rodada, os Estados Unidos jogavam contra a Hungria na “Mesa 1”. Eu podia observar as mesas dos jogadores desde Karpov no primeiro tabuleiro, jogando contra Evgeny Ermenkov ligeiramente à minha direita, até Garry Kasparov no quarto tabuleiro, jogando contra Krum Georgiev um pouco mais à esquerda. Eu tinha visão perfeita de tudo que estava acontecendo.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Eu sabia que Garry tinha cometido um erro grave na abertura/início do meio-jogo e estava em péssima posição. (Eu já tinha andado em volta das mesas antes observando as partidas em andamento.) Anatoly deu seu lance no primeiro tabuleiro, levantou-se, atravessou para o “lado búlgaro” da mesa e começou a percorrer os tabuleiros, verificando as partidas até chegar à mesa junto à parede. Parou no tabuleiro de Kasparov e começou a rir da difícil situação de Garry. Garry ficou furioso. Enrubesceu e disse rispidamente algo em russo acenando com a mão, “convidando” Anatoly a sair. Foi chocante, falando-se em espírito de equipe. Anatoly entendeu o recado e saiu arrastando os pés para pegar uma xícara de café.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Até aqui as coisas tinham sido apenas “divertidas”, mas agora elas se tornam realmente sublimes. Garry decidiu-se por seu lance, fez um movimento drástico com a mão e a peça (no sentido físico), esmurrou o relógio, levantou-se e foi diretamente olhar a posição no primeiro tabuleiro. Estudou-a por alguns minutos e depois aproximou-se de Evgeny e sussurrou algo em seu ouvido.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Eu fiquei excitado. Esperei Garry sair e fui até Evgeny perguntar-lhe o que havia acontecido. Evgeny me contou que Garry dissera-lhe em russo: “Você está melhor. Em breve Karpov irá oferecer um empate. Não aceite!” Era muito engraçado. De passagem, devo mencionar que somente um regime comunista totalitário conseguiria manter estes dois homens na mesma equipe. Fala-rei mais sobre isso nos capítulos a seguir. A propósito, Garry estava absolutamente certo, e alguns lances depois Anatoly ofereceu mesmo um empate. Contudo, Evgeny não seguiu o conselho de Garry e aceitou a oferta de empate.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Encontrei tanto Garry quanto Anatoly oficialmente durante a 11 a rodada do match de União Soviética contra Estados Unidos, quando enfrentei Mischa Tal. Houve vários apertos de mão, e minha recordação era de que tanto Anatoly quanto Garry se comportaram (ao menos naquela ocasião) muito profissionalmente, pelo menos comigo. Meu companheiro de equipe, Lev Alburt, jogando no primeiro tabuleiro, sentiu de outra forma. Lev tinha desertado da União Soviética e vinha se “fortalecendo” para jogar contra Karpov no primeiro tabuleiro. Estivera ansioso para apertar a mão de Karpov – seria seu modo de dizer: “Veja. Estou aqui. Eu desertei, mas ainda estou vivo.” Karpov não aceitou. Quando Lev estendeu a mão para cumprimentá-lo, Karpov deixou claro que não haveria gestos de cordialidade e recusou a mão. Lev ficou totalmente murcho e jogou uma péssima partida. Talvez a pior de sua carreira. Fiquei decepcionado com Karpov por causa deste incidente. Muitos anos depois eu o questionei sobre isso. “Por que nem apertar a mão de Lev?”, perguntei inocentemente. Sua explicação revelou a quantos mundos de distância vivíamos: “Yasser, aquilo foi na época da União Soviética. Não se esqueça de que estávamos sendo constantemente vigiados. Tudo que fazíamos e dizíamos era monitorado ou ‘registrado’ de alguma forma. Lev era um desertor. De acordo com o Estado, oficialmente um criminoso. Se eu tivesse sido visto apertando sua mão, isso teria sido relatado e eu enfrentaria um inquérito e teria que me explicar. ‘Por que você apertou a mão de um criminoso de Estado?’, perguntariam. Seria uma mancha na minha ficha.”</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Vista daquele ângulo, compreendi a decisão de Anatoly. Eu não iria querer uma mancha na minha ficha na CIA. Mas eu tenho uma ficha na CIA? A vez seguinte em que encontrei Anatoly foi mais confusa. Lembro que eu estava na Espanha, talvez de férias, e que fiquei entediado e decidi por impulso dar uma chegada no torneio de Linares de 1981. Como Larry Christiansen e Lubomir Kavalek estavam participando, eu tinha um motivo para vadiar por uns dias. Enquanto estava lá, eu ajudava Larry um pouco a se preparar para suas partidas e também dizia palavras de incentivo antes de cada rodada. O que quer que tenhamos feito não foi mau. Larry empatou com Anatoly em primeiro lugar. O incidente do qual me recordo (e realmente penso que ele aconteceu em Linares durante esta visita) é que estávamos numa partida de bridge com apostas muito pequenas em pesetas espanholas, quase insuficientes para pagar uma rodada de bebidas. Larry era meu parceiro e estávamos jogando com Kavalek e Karpov. Eu era de longe o pior jogador da mesa e Larry tinha que carregar a dupla, mas não estava sendo bem-sucedido o suficiente, infelizmente, pois eu e ele estávamos sendo arrasados. (Ou seja, provavelmente estávamos devendo duas rodadas de bebida.) Em um determinado momento, Lubosh foi até o bar para pegar uma rodada de bebidas enquanto Anatoly foi ao banheiro, de modo que eu e Larry ficamos sozinhos. “Vamos mexer no baralho,” sussurrou Larry para mim. “Que?” “Vamos arrumar a próxima mão de cartas. Quando eles apostarem, você dobra, certo?” Bom, vamos dizer que o diabo ficou por cima desta vez, e eu concordei. Num instante Larry tinha arrumado o baralho. Vamos ser claros, este não foi um momento de Ian Fleming, em que James Bond faz a troca por um baralho falso. Larry fez a coisa quase instantaneamente. Ele tinha prática? Quando Anatoly começou a caminhar de volta para a mesa, ele pôde ver que eu fiz um show ao “cortar” as cartas como ardil de que tudo estava direito. Lubosh voltou com as bebidas e ficou contente ao descobrir que uma mão muito boa aguardava sua chegada. Entre si, eu acho que eles tinham 34 pontos e começaram a “jogar” ligeirinho. Eu, é claro, dobrei – sem absolutamente nenhum motivo. As ofertas tinham sido totalmente unilaterais. Isso provocou um “redobre”, que causou muitas risadas, pois nossos adversários começaram a reclamar que aquilo era um insulto... No fim, Anatoly jogou o contrato, e Lubosh ficou feliz à beça de mostrar suas figuras. Anatoly começou com as palavras “Ai-ai-ai.” Compreendeu imediatamente que suas cartas duplicavam as figuras e que ele seria sem dúvida sortudo de fazer o contrato. Bom, quis a sorte que todas as finesses deram contra ele. Anatoly, que Deus o abençoe, praguejou a cada vaza perdida. Eu definitivamente tive a impressão de que o russo é uma língua rica em que se pode praguejar muito bem. Foi uma curtição e tanto.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Até hoje não sei como eu e Larry nos seguramos e não explodimos em risadas convulsivas. Lubosh deu a volta na mesa para ver o dilema de Anatoly e disse algo como “Ah, meu Deus. Vou pegar outra rodada...” e saiu. Bom, Anatoly desceu feio, algo como quatro vazas, vulneráveis, dobradas e redobradas. Quando Lubosh voltou, Anatoly começou uma explicação tortuosa do quanto suas cartas estavam horríveis. Eu e Larry ficamos empacados – as queixas eram tão vociferantes que não conseguimos confessar. Em vez disso, continuamos jogando calmamente como bons cristãos. Suspeito que aquela única mão levou-nos a equilibrar o placar... Essa história tem uma continuação, mas vamos deixar isso em suspense por enquanto.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Uma outra aventura daquele torneio em Linares: em um dos dias livres, os enxadristas foram convidados pelos organizadores a lutar contra touros. Eu e Larry aceitamos, e assim fomos até o campo de touradas. Quero ser extremamente claro aqui: os “touros” contra os quais tínhamos que lutar eram bezerros. Falo de animais de dois anos. Mesmo nesta idade, eles são animais grandes e muito rápidos e travessos. Não direi que fiquei “apavorado” de enfrentá-los, mas meus sinais de perigo estavam em alerta máximo e com frequência eu me virava e corria para trás de uma laje de concreto para me proteger. Nas fotos que tenho, Larry pareceu ter provado ser um toureiro melhor do que eu. Ele certamente tinha estilo. Uma coisa que posso definitivamente dizer sobre a experiência toda, qualquer que seja a opinião do leitor sobre as touradas, é que os toureiros que se colocam em frente a um touro adulto precisam ser absolutamente destemidos. Eu jamais trocaria de profissão por um único momento sequer.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>A vez seguinte em que encontrei Anatoly foi no match do Campeonato Mundial em 1981 com Victor Korchnoi. Lembro-me de estar no Hotel Palace em Merano quando Petra nos informou: “Os soviéticos chegaram.” Eles tinham chegado em um grande ônibus de viagem do aeroporto de Milão. O que mais a impressionara? “Contei 35 malas”. Era realmente um número impressionante. Quantas pessoas? Por que tanta bagagem? E sim, Karpov havia chegado em um carro especial também. Nas palavras de Johnny Walker, um mestre de xadrez de Seattle, quando um patrocinador calculava um prêmio em dinheiro, “isso é o que eu chamo de patrocinador!” Em alguns aspectos, a notícia fez nossa pequena equipe de ajudantes de Korchnoi pensar. Estávamos enfrentando uma grande equipe com muitas pessoas.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b>Minha primeira partida contra Anatoly Karpov aconteceu em 1982 na primeira rodada de um torneio realizado no famoso balneário de Mar del Plata, Argentina. Conheci sua primeira esposa lá também. Em geral, Anatoly estava muito calmo em Mar del Plata. Ele não jogou bem, possivelmente seu pior torneio em anos, e eu também não o vi muito; meus olhos estavam focados nas praias. Todo mundo tem histórias de “um (peixe) muito, muito grande que escapou”. Bem, esta partida é uma dessas histórias. Na verdade, é a pior história de minha carreira de algo grande que escapou. Até hoje, lembrar desta partida dói. Dói como a dor de uma antiga cicatriz feia. Só posso fazer uma careta e desviar os olhos. Ainda não acredito que perdi esta partida; Anatoly estava tão perdido! Publiquei comentários para esta partida na The Weekly, uma revista local de Seattle (edição de 10-17 de março de 1982, página 31), em um artigo intitulado, The Assault on Mt. Karpov (O Ataque ao Monte Karpov).</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-MK-Gea9g4OA/V7hJbk1m3zI/AAAAAAAAU7E/aPOz_J0SRoYwyKkjdyoGgjccOqM8zNA8QCLcB/s1600/Xadrez%2BLivro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-MK-Gea9g4OA/V7hJbk1m3zI/AAAAAAAAU7E/aPOz_J0SRoYwyKkjdyoGgjccOqM8zNA8QCLcB/s1600/Xadrez%2BLivro.jpg" /></a></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><b>Fonte: “Duelos de Xadrez Minhas Partidas com os Campeões Mundiais” Yasser Seirawan</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><b>https://pt.scribd.com/doc/316900478/YASSER-SEIRAWAN-Duelos-de-Xadrez-Minhas-Partidas-com-os-Campeoes-Mundiais-pdf</b></span></div>
<div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-4467503355384032262016-01-06T10:21:00.003-08:002016-05-27T09:28:13.529-07:00O XADREZ NA UNIÃO SOVIÉTICA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/--XpNU1JWQ8g/Vo1Nd2lZajI/AAAAAAAATpc/XUfY5An9wXM/s1600/Tal-Bronstein-Keres-Kotov-y-Petrosian-Sentados-Smyslov-y-Botvinnik-URSS-1958.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="233" src="https://1.bp.blogspot.com/--XpNU1JWQ8g/Vo1Nd2lZajI/AAAAAAAATpc/XUfY5An9wXM/s320/Tal-Bronstein-Keres-Kotov-y-Petrosian-Sentados-Smyslov-y-Botvinnik-URSS-1958.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="color: red; font-size: large;">O XADREZ NA UNIÃO SOVIÉTICA</span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Por Alexandre Garcia<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"> "O xadrez fornece uma prova incontestável
da superioridade da cultura socialista sobre a cultura decadente das sociedades
capitalistas". (Alexander Kotov)</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">"O
xadrez é um instrumento de cultura proletária". (Yuri Averbakh)</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-_9gpSeeWpPE/Vo1OM3oqraI/AAAAAAAATpk/g71VZ_SBIkU/s1600/Russia%2Brevolucao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://3.bp.blogspot.com/-_9gpSeeWpPE/Vo1OM3oqraI/AAAAAAAATpk/g71VZ_SBIkU/s320/Russia%2Brevolucao.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Este artigo
tem a intenção de mostrar a contribuição soviética para o desenvolvimento do esporte
mental mais popular no mundo. Todo mundo está ciente da supremacia que atingiu
a União Soviética em competições mundiais de xadrez de alto nível,
especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Se olharmos para as vinte edições
do campeonato mundial da FIDE realizados desde 1948 até a última edição antes
da dissolução da União Soviética, podemos constatar que o título de campeão do
mundo só foi obtido uma vez por um não-soviético, especificamente pelo Americano
Bobby Fischer (que junto com Karpov e Kasparov disputa o título de melhor
jogador da história) no histórico match contra Boris Spassky em 1972. Todos os
outros campeonatos foram ganhos por jogadores de nacionalidade soviética, e
ainda hoje, após o colapso do socialismo na Europa Oriental, muitos jogadores
nascidos nas ex-repúblicas soviéticas continuam a ocupar um lugar de destaque
na elite mundial. O mesmo pode ser dito das Olimpíadas de xadrez organizado
pela FIDE desde 1927, quando a União Soviética tem mantido uma supremacia indiscutível
ininterrupta desde 1952 (com exceção das Olimpíadas de 1964 em Tel Aviv, onde a
União Soviética não participou em boicote e Buenos Aires em 1978 que a Hungria
foi a surpresa). Isto é igualmente verdade no que diz respeito ao campeonato
mundial feminino, em que as jogadoras soviéticas foram proclamadas vencedoras
em todas as edições celebrar entre 1950 e 1991. Algo semelhante acontece com a
versão feminina das Olimpíadas, que são realizadas simultaneamente com a
masculina desde o ano de 1957, e cujas edições a União Soviética foi ganhadora continuamente,
exceto para a edição de Tel Aviv de 1964 e as duas últimas edições antes de sua
dissolução em 1988 e 1990, onde o vencedor também foi a Hungria.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Embora hoje
o primeiro lugar no ranking da FIDE é ocupado pelo jovem prodígio norueguês Magnus Carlsen,
em termos gerais a hegemonia global dos antigos países da União Soviética
continua até hoje, coisa que podemos ver com a recente vitória da equipe
liderada pelo armênio Levon Aronian em Istambul nas olimpíadas de 2012.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Durante a
segunda metade do século XX, esta supremacia no xadrez se traduziu, além dos
títulos, nos inúmeros jogadores que deixaram a União Soviética, e a importante
contribuição dos soviéticos em termos de teoria e técnica neste esporte mental
que, como o expõe o campeão mundial Tigran Petrosian, "é um jogo por sua
forma, uma arte por seu conteúdo e uma ciência por sua dificuldade".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A União
Soviética foi o único país onde o xadrez alcançou a condição e o status de esporte
nacional, o que é um marco em si. Este enorme popularidade de que gozava o jogo
entre as nacionalidades da União Soviética, e o importante lugar que ocupava no
desenvolvimento intelectual da sociedade, só foi possível com o enorme empenho
do Estado soviético, através da sua política de captação e o treinamento de
talentos infantis desde a escola, e do cuidado com que tratava os jogadores para
que pudessem desenvolver até os níveis profissionais. O próprio Bobby Fischer
sempre invejou a respeito, especialmente o apoio financeiro que os jogadores soviéticos
recebiam do Estado. Como um indicador do grau de popularidade que teve o xadrez
na União Soviética, basta dizer que, na república da Geórgia, onde a escola nacional
de xadrez dava especial importância ao xadrez feminino, foi tradição nativa em
casamentos a oferta de tabuleiro de Xadrez no enxoval da noiva.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-vePdDks86TE/Vo1Oej89HwI/AAAAAAAATpw/cPE4Y1r7ukI/s1600/Russia%2BLenin%2BRevolu%25C3%25A7%25C3%25A3o-Russa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://3.bp.blogspot.com/-vePdDks86TE/Vo1Oej89HwI/AAAAAAAATpw/cPE4Y1r7ukI/s320/Russia%2BLenin%2BRevolu%25C3%25A7%25C3%25A3o-Russa.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Depois de
tomar o poder em outubro de 1917, V. I. Lenin, para quem o xadrez era "a ginástica
da mente", e o Partido Bolchevique, em geral, tomaram decididamente medidas
para alcançar estes resultados, buscando desta maneira prestigiar a nova
República Soviética através do xadrez. Depois de vencer a guerra civil de
1918-1921, a Rússia Soviética permanecia isolada do resto do mundo. Não estava
reconhecida pela liga das Nações. De alguma forma, <span lang="PT">tinha de dar um golpe em cima da mesa, em um esforço para demonstrar
que, em um esporte intelectual, os soviéticos poderiam ser os melhores. E os
líderes soviéticos conseguiram generosamente.</span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">ANTECEDENTES</span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-0RvFgmN0lXo/Vo1OrL5aKcI/AAAAAAAATp4/EdbzBtGEYok/s1600/Russia%2BChigorin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="198" src="https://1.bp.blogspot.com/-0RvFgmN0lXo/Vo1OrL5aKcI/AAAAAAAATp4/EdbzBtGEYok/s320/Russia%2BChigorin.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">É verdade
que na velha Rússia czarista já se encontrava um terreno fértil para o que surgiria
depois da Revolução de Outubro. Desde o século XVIII, Império Russo se praticava
o xadrez com certa dedicação, embora tenha sido restrita a umas poucas elites.
Das 70 milhões de pessoas que habitavam o império, apenas um par de mil praticavam
o xadrez com regularmente, e apenas algumas centenas freqüentavam clubes e
torneios. A escassez de recursos era tal que as pessoas que tinham algum livro
sobre xadrez não ultrapassavam as 150. Portanto, a prática do xadrez não era
fácil na Rússia czarista, não tendo também muitos torneios para jogar. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">No entanto,
nos séculos XVIII e XIX surgiram uma vintena de jogadores que jogavam em um
nível magistral, como Alexander Petrov, Ilya Shumov, Emmanuel Schiffers, e o
mais importante deles Mikhail Ivanovich Chigorin (1850-1908), considerado o pai
da chamada ”escola russa de xadrez”. Apesar de nunca ganhar o título de campeão
do mundo oficial, Chigorin estava na elite mundial no período entre 1883 e
1898, competindo com jogadores do nível de Wilhelm Steinitz ou Emmanuel Lasker,
e até mesmo disputando um match pelo Campeonato Mundial em Havana em 1892
contra o mesmo Steinitz. Sabe-se que o grande escritor realista Leon Tolstoy,
ele próprio um amador, era um amante do jogo de Chigorin. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Chigorin era
um jogador criativo, algo irregular nas competições, mas que fez grandes contribuições
à teoria. Partidário do jogo aberto e da beleza como um meio de obter a vitória,
foi um dos poucos que se atreveram a refutar algumas das ideias posicionais
Steinitz que estavam começando a predominar na época. Chigorin argumentava que
a chave era um rápido desenvolvimento de peças para atacar rapidamente o roque
o adversário, ao invés de ir acumulando pequenas vantagens. Respondia as
aberturas fechadas defendida por Steinitz com defesas que não estavam na teoria,
mas transformavam-se em partidas com posições muito abertas, como que por arte
de magia. Dessas inovações nasceu, por exemplo, a defesa Chigorin. Embora esta,
precisamente, não alcançou grande popularidade, suas ideias foram um avanço na teoria
de aberturas, e serviram de base sobre a qual se desenvolveria mais tarde a
escola soviética.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Chigorin teve
um destacado trabalho para que o xadrez ganhasse popularidade na Rússia,
organizando, por exemplo, os primeiros torneios exclusivos para jogadores
russos. Com seus ganhos, impulsionou várias revistas de xadrez, como "O
arauto de xadrez" e "folha de Xadrez", que tinham algumas centenas
de exemplares e mal eram mantidas financeiramente. Nelas colaboraram
assiduamente grandes mestres russos, graças ao tempo livre deixado pela falta
de torneios.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">No início do
século XX, graças a seus esforços e os outros colaboradores, já havia cerca de
500 aficionados praticando de forma organizada o xadrez, dos quais cinqüenta eram
capazes de competir com mestres de outros países europeus. Mas o nível de
Rússia ainda estava longe de alcançar o da Alemanha ou o do Império
Austro-Húngaro, uma situação que iria começar a mudar na época da construção do
socialismo. A contribuição de Chigorin ao xadrez soviético seria lembrada mais tarde,
em 1958, quando a União Soviética emitiu um selo comemorativo deste jogador. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Chigorin influenciou
especialmente o próximo jogador a ser observado: Alexander Alexandrovich
Alekhine (também conhecido como Aliojin), campeão mundial quatro vezes em 1927,
1929, 1934 e 1937. Quanto a Alekhine não podemos relacionar diretamente com a
era soviética, uma vez que no momento em que ganhou o quarto título mundial já havia adquirido a nacionalidade francesa,
mas sua carreira se sobrepõe com o surgimento da União Soviética. Apesar de ter
sido um personagem controverso e politicamente condenável, a escola soviética
sempre considerou que havia uma linha evolutiva entre o xadrez dinâmico
Chigorin e Alekhine e apreço para o jogo de ataque dos soviéticos, o que se
refletiu no jogo de David Bronstein e Mikhail Tal.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Antes da
Primeira Guerra Mundial, Alekhine já tinha colhido sucesso regularmente em
torneios de xadrez, tendo sido dado o título de Grande Mestre pelo próprio
Czar. Proveniente de uma família aristocrática, após a Revolução de Outubro,
emigrou para a França e em 1925 adotou a nacionalidade francesa. Grande
inovador da teoria de xadrez, seu jogo era de uma grande riqueza de idéias. De
acordo com Kasparov foi "provavelmente o primeiro profissional de xadrez."
Jogador muito sério e dinâmico, com uma grande capacidade de trabalho e estudo
teórico, foi excelente em muitas facetas do jogo. Virtuoso do xadrez de ataque,
foi neste aspecto do jogo, um dos melhores jogadores táticos da história, algo
que combinava com técnica requintada e um sentido estratégico profundo. Como um
expoente da chamada escola hipermoderna de xadrez, seu jogo transbordava em fantasia.
Sua contribuição foi extremamente enriquecedora, especialmente no que diz
respeito à técnica de finais, que dominava de tal forma que graças a ela pode
vencer José Raúl Capablanca no campeonato mundial de 1927. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Outubro 1917: começa a decolagem<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-J3aQtnzLJf8/Vo1PAg72FjI/AAAAAAAATqA/m-Cx6nexmC8/s1600/Russia%2Blenin_1908.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-J3aQtnzLJf8/Vo1PAg72FjI/AAAAAAAATqA/m-Cx6nexmC8/s320/Russia%2Blenin_1908.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Como já
mencionado, no momento em que Alekhine aprendeu a jogar xadrez no início do
século XX, o jogo foi destinado para uma elite. Esta situação começou a mudar
radicalmente a partir da Revolução de Outubro. Por Indicações de V. I. Lênin, os
bolcheviques orientaram o xadrez para a maioria da população, promovendo-o no
ensino primário, onde xadrez tornou-se um assunto complementar. Os líderes
bolcheviques viram na prática do xadrez um meio para conduzir as ideias, ao comportamento
e a disciplina comunista, já que os valores deste esporte mental (paciência,
disciplina, capacidade intelectual e espírito coletivo, porque não podemos esquecer
que o xadrez é um jogo de equipe, em que cada peça deve ser coordenação com as outras)
se ajustava bem ao sistema de valores que propunha a nova sociedade proletária.
O xadrez foi tomado como um projeto de prestígio, em que todos deviam trabalhar
juntos para realizá-lo. Além disso, era uma forma de demonstrar com o tabuleiro
a validade do materialismo dialética como concepção de mundo, aspecto do xadrez
que por razões de espaço não podemos abordar neste artigo. Mas as palavras de
Nikolai Krylenko, Comissário do Povo para Assuntos Militares, para quem xadrez
que era "uma expressão das formas marxistas de pensamento" são ilustrativos
a este respeito.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Além disso,
as condições econômicas da nova Rússia Soviética empurrando-o para ele. Nós
todos sabemos que o contexto que ocorreu na época: depois de três anos de
guerra com a Alemanha, durante e depois do comunismo de guerra, a pobreza e a devastação
da economia eram terríveis. Os líderes bolcheviques viram no xadrez um meio
barato de prestígio da União Soviética em um esporte. O xadrez não exigia um
grande investimento. Para promover o xadrez, não se exige quase nada, não há
necessidade de pistas de atletismo, ginásios nem estádios de futebol, apenas um
tabuleiro de madeira e umas peças.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Anatoli
Karpov descreve aquela época com estas palavras: "[o xadrez] fazia parte
da vida da alta sociedade russa e também jogavam alguns dos grandes escritores
e cientistas na era imperial. Depois da Revolução, o novo governo percebeu que
a Rússia era um país com baixo nível educacional, porque após a revolução muitos
intelectuais deixaram o país. Isso significava que tinha que construir algo
novo, por assim dizer, uma nova intelectualidade ou uma população bem formada.
Eles achavam que uma das maneiras mais simples e inteligente de fazê-lo era
através de xadrez... O novo governo decidiu usar xadrez para educar as pessoas
e conseguiu."</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A grande
tarefa de divulgar o xadrez caiu sobre Alexander Iliin-Zhenevski, comissário do
Conselho Geral da Organização reservistas de Moscou, grande entusiasta do jogo,
introduziu o xadrez no Exército Vermelho. Iliin-Zhenevski estava convencido de
que o xadrez pode desempenhar um papel importante no plano político e deve ser
subordinada à luta ideológica.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Os primeiros
progressos demoraram pouco em surgir. Antes da guerra civil, os próprios
sindicatos já organizavam um pequeno torneio na República Soviética da Transcaucásia.
Depois, em plena guerra civil, Iliin-Genevski organizou a primeira Olimpíada de
Xadrez da RSFS da Rússia em outubro de 1920. Esse evento marcou a ressalva
inicial para muitos outros em Moscou e Leningrado, como o torneio internacional
de Moscou em 1925 que Iliin-Genevski se tornou o primeiro Soviético a derrotar
o campeão mundial, Capablanca.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em 1924 foi
criado o departamento de xadrez do Conselho Supremo de Cultura Física. O
comandante Nikolai Krylenko, no comando de tudo, o slogan: "Levar xadrez para
os trabalhadores!". Departamentos semelhantes foram fundados nos conselhos
de Cultura Física locais. "Temos de acabar de uma vez por todas com a
neutralidade de xadrez, devemos organizar brigadas de choque de jogadores de xadrez
e imediatamente começar a cumprir o plano qüinqüenal de xadrez". Foi
colocada em marcha a chamada escola soviética de xadrez, caracterizada por sua
ânsia de descobrir jovens talentos desde cedo, com um sistema de formação ao
mais alto nível. Conseguiu-se um grande progresso em técnicas de ensino: surgiram
treinadores de xadrez de alta especialidade como Romanovsky, Levenfish e Rabinovich,
que, aconselhado por especialistas em psicologia e pedagogia como Vygotsky,
Luria e Leontiev, idealizaram um sistema de ensino de máximo desempenho. Assim,
o xadrez chegou a ter um lugar reservado nos palácios de pioneiros, entidades
culturais centralizadores atividades juvenis, em que sempre havia sempre uma
seção de xadrez constituído por crianças entre 6 e 17 anos.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">O número de aficionados
disparou durante os anos 20 e 30. De uns 1000 jogadores registrados em 1923, aumentou
para 150 000 em 1929. Os sindicatos e os clubes dos trabalhadores eram a alma
deste movimento de paixão pelo jogo. No final dos anos 1920, cada sindicato
tinha uma equipe com 28 jogadores registrados. Para se ter uma idéia do lugar
que ocupava o xadrez entre grande parte do proletariado soviético, basta dizer
que a indústria automobilística Likachov de Moscou contava com 26 diferentes
clubes desportivos, xadrez sendo o maior deles.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">O resultado
de décadas de dedicação ao esporte mental era que, em meados dos anos 1980, um total
de 4,2 milhões de pessoas estavam inscritas na Federação Soviética de Xadrez,
das quais mais de uma centena dessas
pessoas tinha o título de Grande Mestre. A cada ano, centenas de milhares de crianças
que participam do torneio 'Torre Branca'. No total, estima-se que 12 milhões de
pessoas jogam xadrez regularmente.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Botvinnik: sistema de preparação precursor
Soviético<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-sJ_JgoBtb6Q/Vo1PMgXjqNI/AAAAAAAATqI/9gzVik2vdII/s1600/Russia%2BMikhail-Botvinnik.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="186" src="https://2.bp.blogspot.com/-sJ_JgoBtb6Q/Vo1PMgXjqNI/AAAAAAAATqI/9gzVik2vdII/s320/Russia%2BMikhail-Botvinnik.jpg" width="320" /></a></div>
<b style="text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;"> </span></b><br />
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Foi depois
de Alekhine, após a Segunda Guerra Mundial, quando os anos de trabalho para
promover o xadrez pelo Estado soviético começou a mostrar claramente seus
frutos.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Geralmente,
quando falamos sobre a Escola de Xadrez Soviética costumam pensar em jogadores de
ataque com um estilo de jogo dinâmico, rápido e agressivo. No entanto, uma das
exceções foi o primeiro pioneiro da nova escola: o engenheiro Mikhail Moiseyevich
Botvinnik (1911-1995), patriarca do xadrez soviético, ao qual seguiram todos os
outros grandes jogadores. De acordo com Gary Kasparov, com Botvinnik se
produziu no xadrez “salto verdadeiramente revolucionário". Seis vezes
campeão da União Soviética e cinco vezes campeão mundial em 1948, 1951, 1954,
1958 e 1961. É verdade que temos de reconhecer que Botvinnik foi ajudado pela
eclosão da II Guerra Mundial, que abriu o caminho até o cume. No ano de 1948,
quando ocorre o primeiro torneio do campeonato mundial após o fim da guerra, tinha
apenas Botvinnik entre os jogadores de alto nível.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Zb2DnzhGumc/Vo1PaJOv94I/AAAAAAAATqc/NzioLrALpuE/s1600/Russia%2BBotvinnik70.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="218" src="https://3.bp.blogspot.com/-Zb2DnzhGumc/Vo1PaJOv94I/AAAAAAAATqc/NzioLrALpuE/s320/Russia%2BBotvinnik70.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Botvinnik
foi o grande expoente do sistema de preparação soviético, aspecto do jogo que
em si é uma das contribuições da União Soviética ao jogo. Este cuidadoso sistema
de preparação só foi possível principalmente pelo apoio que os jogadores
receberam do Estado. Poucos jogadores no Ocidente poderiam dedicar tanto tempo
ao treinamento e preparação. Os jogadores soviéticos receberam o apoio
financeiro e material necessário, e eles podiam se colocar cientes da prática e
das inovações teóricas em todo o mundo, facilitada pela grande quantidade de
livros, revistas, boletins informativos, etc., que se publicavam permanente na
União Soviética. Em seu livro “A Escola Soviética de Xadrez”, Botvinnik explica:
"Deve dar-se crédito aos mestres soviéticos por desenvolverem métodos de
preparação. O nosso está disponível para todos e podemos supor que a maioria
dos mestres soviéticos usa quando se preparava para uma grande competição. A
parte mais importante do sistema consiste na preparação de aberturas, o treinamento
físico, prática para corrigir defeitos; também questões relacionadas com a rotina
de torneios".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Os manuais
de preparação da União Soviética davam ênfase especial a importância de ter uma
boa condição física. E aconselhava os jogadores que participavam dos programas
de treinamento físico GTO (“Preparação para o Trabalho e a Defesa da URSS").
Os treinadores tomam este aspecto do jogo tão a sério que os preparativos para
os torneios chegam a ser feitas em balneários. Em 1953, em preparação para o
torneio de candidatos para o título Mundial de Zurique, a equipe Soviética
(composto por Smyslov, Keres, Bronstein, Petrosian, Geller, Kotov, Taimanov,
Averbakh e Boleslavski) passou duas semanas a dedicar-se somente a preparação
física com treinadores de atletismo, natação e com nutricionistas. Somente a
partir da terceira semana eles começaram a tocar num tabuleiro. De fato, alguns
grandes mestres soviéticos se destacaram em outros esportes. Pode-se mencionar
Keres, campeão de tênis várias vezes na Estônia, Geller, notável jogador de
basquete, e Spassky, que fazia os 100 metros em 11 segundos.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A próxima
característica a destacar do sistema de preparação foi o estudo detalhado das aberturas.
Botvinnik conta que, quando ele se preparava para jogar o match com a
Checoslováquia Salomon Flohr em 1933, analisou mais de 100 partidas de seu
adversário antes de decidir que abertura tinha que jogar. Quase 30 anos depois,
Botvinnik atribuiu sua vitória no match revanche com Tal a precária preparação dele
em aberturas. Só o estudo das partidas já consumia do enxadrista soviético
centenas de horas, meses de estudo. Isso lhe permitia tirar conclusões sobre as
qualidades e defeitos dos adversários. Também jogavam partidas de treinamento,
nas quais eram submetidos a testes de novas variantes e podiam corrigir os
defeitos do jogador, levando as partidas a posições no tabuleiro que não eram
do seu agrado.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A dedicação
de Botvinnik ao treinamento era tal, que ele, que detestava a fumaça de
cigarro, se acostumou a jogar partidas de treinamento com Ragozin, pedindo-lhe
para fumar constantemente.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-a8fGnc5vFOQ/Vo1PaOtTQ7I/AAAAAAAATqY/08m_a-8AWUY/s1600/Russia%2BBotvinnik8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="185" src="https://2.bp.blogspot.com/-a8fGnc5vFOQ/Vo1PaOtTQ7I/AAAAAAAATqY/08m_a-8AWUY/s320/Russia%2BBotvinnik8.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Quanto ao estudo
teórico, os soviéticos davam muita importância ao estudo das três fases do jogo
(abertura, meio jogo e final), de acordo com o modo marxista de pensamento que
não vê as fases de jogo tão isoladas umas das outras. Seguindo o conselho de
Capablanca, que dizia "o xadrez se aprende começando pelos finais",
com muita razão, pois o objetivo do jogo é dar xeque-mate, nas escolas se
enfatizava os finais com as crianças para manejar os vários tipos de finais de
jogo, para aprender a autonomia das peças e sua técnica (coisa que levou ao
termo jornalístico "a técnica soviética se impõe nos finais"), e
saber sobre quando um bispo é superior a um cavalo, etc. E, quando a abertura tinha
ligação com o meio jogo, ou até mesmo um possível final de partida, em que cada
lado tem uma desvantagem estrutural. Na verdade, a importância é dada hoje para
o fato de que após os primeiros movimentos um dos lados fica com dois peões
isolados e o outro com três ilhas, deixando-o em inferioridade estrutural, é
uma contribuição única dos soviéticos. Ao estudar este aspecto do jogo, eles
queriam saber quais variantes de abertura permitiam obter uma vantagem ganhadora.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-F-RRYozc6Zk/Vo1SIr6x7fI/AAAAAAAATrA/WCecGDa3Xw0/s1600/Russia%2Bajedrez%2B1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://4.bp.blogspot.com/-F-RRYozc6Zk/Vo1SIr6x7fI/AAAAAAAATrA/WCecGDa3Xw0/s320/Russia%2Bajedrez%2B1.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Antes da
escola soviética, havia uma tendência para analisar superficialmente as
variantes de uma abertura, e apenas dizer que este ou aquele lado tinha a vantagem.
Os soviéticos queriam ir mais longe, e experimentavam com as aberturas até levá-las
para o meio jogo, para averiguar como essa vantagem estratégica pode se
transformar em vitória. Este grande avanço no estudo do desenvolvimento do meio
jogo foi comprovado em um match entre os Estados Unidos e a União Soviética em
1945 na partida entre Reschevsky e Smyslov, que após o movimento 20 Smyslov
tinha apenas usado 6 minutos, enquanto que Reschevsky, que era um gênio, já se encontrava
apurado pelo tempo.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A
importância que chegou a ter o xadrez soviético no nível da teoria era de tal
forma que o próprio Fischer aprendeu russo para ler tratados de teoria da União
Soviética, e graças ao qual o norte americano refinou muitos aspectos do seu
jogo.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Finalmente,
os especialistas soviéticos acreditavam que outro requisito para atingir o
nível enxadrístico mais alto era para ter um bom conhecimento de cultura geral
e interesses intelectuais variadas. Pode-se lembrar sobre capacidade de lingüística
de Alekhine, os trabalhos de Botvinnik no campo da engenharia elétrica, o
talento musical de Taimanov e Smyslov, ou o fato de que Karpov permanece atualmente
como professor de Economia na Universidade Estadual de Moscou. Isto está em
contraste com o limitado horizonte intelectual de muitos jogadores do Ocidente,
como Fischer, que abandonou a escola para dedicar-se ao xadrez.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Anos 1950: Início da supremacia soviética<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-afumoYmG6Pw/Vo1QOWaWQeI/AAAAAAAATqs/uHNILNV5qJU/s1600/Russia%2Bajedrez.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="197" src="https://3.bp.blogspot.com/-afumoYmG6Pw/Vo1QOWaWQeI/AAAAAAAATqs/uHNILNV5qJU/s320/Russia%2Bajedrez.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Nos anos 1930
o contato com o ocidente tinha sido restaurado, com a organização nas décadas de
20 e 30 de torneios internacional de Moscou, onde foram convidados Lasker e Capablanca.
No entanto, os mestres soviéticos eram desconhecidos no Ocidente. A FIDE era
vista com desconfiança pelos soviéticos, considerada uma organização pró-capitalista, e a
União Soviética mantinha seus jogadores longe dela. Até o aparecimento de
Botvinnik, aquém se deu permissão para jogar torneios da FIDE, com condições de
ganhar. Assim, nos anos 1930 Botvinnik já se encontrava na elite mundial, o que
ele mostrou ao vencer o torneio em Moscou 1935, à frente de Lasker e Capablanca,
com suas vitórias contra Alekhine no torneio AVRO na Holanda 1938, onde
terminou em terceiro. Ele era o líder de uma nova geração. Sua popularidade foi
imensa. As pessoas ainda analfabetos, durante os anos 1930, conhecia em cada canto
da União Soviética quem era Mikhail Botvinnik.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Botvinnik foi
membro da equipe nacional que venceu todas as olimpíadas de xadrez de 1952 a
1964. É precisamente nos Jogos Olímpicos de Helsinque de 1952, quando ele
começou a ver que o país começaria a ter a hegemonia mundial. Foi a primeira
vez que a União Soviética participou como uma equipe nacional, juntamente com a
incorporação da Estônia na pátria soviética, com o que a equipe nacional ganhou
também a incorporação do jogador de ataque Paul Keres. Nesse torneio foi observado o que todo mundo já sabia: em 1948, dos cinco candidatos título
mundial individual (que em teoria deveria ter ainda seis, mas o Reuben Fine
americano renunciou ao seu assento), foram Euwe e Reshevsky como jogadores não
Soviéticos, e os outros três foram Botvinnik, Keres e Smyslov. Era normal para
suspeitar que, em termos de alta competição de xadrez na União Soviética algo
estava prestes a explodir.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Então,
quando entrou plenamente em sua primeira competição da equipe em 1952, a União Soviética
esmagou as outras equipes, incluindo os Estados Unidos, que havia vencido as
quatro edições anteriores. A diferença com outras nações já era abismal.
Desejos de Lênin tinha se tornado realidade. Essa hegemonia da União Soviética
nas Olimpíadas seria interrompida brevemente com a vitória da República Popular
da Hungria na edição de 1978 de Buenos Aires, onde os húngaros empataram em 2 a
2 com os soviéticos, que não foram capazes de superar uma derrota contra a
Alemanha Ocidental, enquanto os húngaros não falharam. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Cabe
destacar, para constatar o nível que tinha atingido os soviéticos, era mais difícil
ganhar o campeonato da União Soviética que o próprio título mundial. Isso
aconteceu porque para se qualificar para o campeonato do mundo jogar-se um
torneio zonal, em seguida, outro interzonal de 8 jogadores classificados para
disputar o torneio de candidatos ao título mundial, e que não poderia ser
classificada mais de 3 jogadores da mesma nacionalidade. Mas naqueles anos
jogando o campeonato nacional da União Soviética significou enfrentando Keres,
Smyslov, Geller, Petrosian, Bronstein, Taimanov, Averbakh, Kotov, Tal, Tolush, Boleslavski,
e assim por diante. Na décima nona edição do campeonato em 1951, Keres ficou com
título de campeão nacional, ao passo que Botvinnik, que era o atual campeão
mundial, foi o quinto na competição! Outro ponto para ilustrar que o campeonato
era extremamente competitivo é que o próprio Gary Kasparov nunca foi capaz de
vencer sozinho: em suas quatro participações, foi o nono em 1978, segundo em 1979
e empatou em primeiro lugar com Psajis em 1981 e com Karpov em 1988. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-wsVIPVMHzwA/Vo1PWaBX3lI/AAAAAAAATqQ/S2f_bg8S2wo/s1600/Russia%2BBotvinnik7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="228" src="https://4.bp.blogspot.com/-wsVIPVMHzwA/Vo1PWaBX3lI/AAAAAAAATqQ/S2f_bg8S2wo/s320/Russia%2BBotvinnik7.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Botvinnik,
considerado na época como o melhor jogador da história, era, portanto, o
paradigma do jogador Soviético: jogador muito teórico e muito estudioso, que se
preparava com empenho para as partidas, com um estilo muito profissional. Com
ele, o xadrez tornou-se uma verdadeira ciência, e demonstrou que uma boa
preparação é a chave para o sucesso duradouro. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em termos de
estilo, era um jogador posicional. A chave para seu sucesso estava em seus estudos
rigorosos das aberturas, bem acima de qualquer outro jogador na época, em uma técnica
de cálculo profundo e aguda técnica de finais. Francamente, eu devo dizer que
seu estilo de jogo não foi muito emocionante, suas abordagens foram muito lógicas,
mas se aprofundou como ninguém nas posições, por isso era muito difícil de vencê-lo,
devido ao seu jogo sólido. Sabia como explorar a menor vantagem de lhe concedia
o adversário, o estilo de jogo mais tarde imitado por jogadores como Karpov e
Petrosian. De 1960 se dedicaria ao desenvolvimento de programas de xadrez de
computador e formação de jovens jogadores de xadrez. Gary Kasparov e Anatoly
Karpov estariam entre seus alunos.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Para os
curiosos, note que uma variação da abertura Inglesa leva o seu nome, que surge
através dos movimentos 1.c4 e5, 2.Cc3 Cc6, 3.g3 g6, 4.Bg2 Bg7, 5.e4</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Lenda de Campeões<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Vamos
continuar este artigo com um breve resumo da vida de outros grandes jogadores soviéticos
que surgiram após Botvinnik. Não podemos, por razões de espaço, mencionar todos
os grandes jogadores, por isso, limitar-nos a aqueles que conquistaram o título
de campeão mundial. Assim, queremos deixar claro que nós deixamos na prateleira
grandes jogadores do calibre de Paul Keres, David Bronstein ou Efim Geller,
alguns dos quais são considerados "campeões sem título”, jogadores que por
dimensão eram merecedores de ganhar o título mundial, mas por uma série de
circunstâncias eles ficaram muito próximos do título.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d; font-size: large;">Vasili Vasilievich Smyslov</span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-pxKi17HNyl0/Vo1Sh50wB7I/AAAAAAAATrI/Ykaxu_VcAC0/s1600/Russia%2BVassily_Smyslov.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-pxKi17HNyl0/Vo1Sh50wB7I/AAAAAAAATrI/Ykaxu_VcAC0/s320/Russia%2BVassily_Smyslov.jpg" width="212" /></a></div>
<b style="text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;"> </span></b><br />
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Vasili Vasilievich Smyslov (1921-2010)
foi campeão mundial em 1957, em sua segunda tentativa, depois de perder contra
Botvinnik em 1954, foi campeão da União Soviética em 1949, empatou em primeiro
lugar com Bronstein. Aos 6 anos começou a jogar xadrez, passando a ganhar em
1938 o campeonato juvenil na União Soviética. Além de xadrez, era um barítono destacado.
Vassili veio dizer que a sua vida era "metade xadrez, metade cantar".
Às vezes em torneios, ele oferecia recitais, sendo acompanhado em ocasiões pelo
pianista e grande jogador Mark Taimanov. Entre 1952 e 1972, Smyslov ganhou 17
medalhas em nove olimpíadas para a União Soviética, fazendo dele o jogador mais
bem sucedido na história das Olimpíadas.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-I6R_M360t0Q/Vo1SisLl8DI/AAAAAAAATrM/anVL9gO7XaU/s1600/Russia%2BVasily-Smyslov-001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://4.bp.blogspot.com/-I6R_M360t0Q/Vo1SisLl8DI/AAAAAAAATrM/anVL9gO7XaU/s320/Russia%2BVasily-Smyslov-001.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;">A pouca
sorte é que Smyslov coincidiu com Botvinnik, em um momento em que as regras que
regiam o campeonato mundial prejudicavam-o claramente. Estas regras estipuladas
que, em caso de empate o campeão mantinha o título. Botvinnik pode assim
defender seu título empatando com Bronstein em 1951 e com Smyslov em 1954. Em
1957, Smyslov conquistou o título mundial, mas na época havia a famosa regra
"match revanche”, o que lhe permitiu o campeão do mundo disputar outro
match. Graças a esta outra regra, Botvinnik recuperou o título em 1958 ao derrotar
Smyslov para 7 a 5. Esta mesma regra, Botvinnik faria com Tal a revanche em 1961.
Após esta derrota, Smyslov disse: "Eu acho que levei a vida toda
enfrentando Botvinnik". Destes três campeonatos mundiais entre os dois,
Botvinnik foi vitorioso em dois deles, mas se vemos os pontos de cada um, observa-se
que Smyslov ganhou uma partida a mais no total.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Artista
tanto fora como dentro do tabuleiro, para Smyslov "a maestria no xadrez
significa um lado criador e outro científico". Tecnicamente jogador muito
bom, especialmente nos finais, onde ele era um excepcional jogador. Caracterizava-se
por um jogo muito simples, lógico e natural. A clareza de sua mente levou-o a
simplificar posições, trocando peças para chegar a posições de finais, onde era
como um peixe na água, sendo a este respeito um sério adversário para Botvinnik.
Sua contribuição para a teoria de abertura é imenso, tendo desenvolvido novos sistemas
em várias aberturas, ou revivendo outra variante de sucesso, como a variante do
fianqueto na abertura Ruy Lopez, que surge com movimentos 1.e4 e5 2.Cf3 Cc6
3.Bb5 g6. Há também diferentes variações de abertura com o seu nome,
especificamente na Defesa Grunfeld, na Defesa eslava e na Ruy Lopez cerrada (1.e4
e5, 2.Cf3 Cc6, 3.Bb5 a6, 4.Ba4 Cf6, 5.0-0 Be7, 6.Te1 b5, 7.Ab3 d6, 8.c3 0-0,
9.h3 h6).</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Admirado por
seu “senso de posição”, o seu jogo destacado pela grande harmonia com a qual
colocava as peças, demonstrando que o xadrez é um jogo de beleza e que muitas
vezes ganha com a máxima simplicidade. Ele costumava brincar que ele jogou
"mãos" em vez de com o cérebro, como se não precisava movê-las para
esta ou aquela casa, por causa da naturalidade com que movia as peças.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-VCiFsqqZ87I/Vo1Sp-TYDEI/AAAAAAAATrY/a4-qSwu0-Co/s1600/Russia%2BSmyslov.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-indent: 37.7953px;"><img border="0" height="213" src="https://2.bp.blogspot.com/-VCiFsqqZ87I/Vo1Sp-TYDEI/AAAAAAAATrY/a4-qSwu0-Co/s320/Russia%2BSmyslov.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em 1984, ele
quebrou todos os recordes de longevidade ao enfrentar Kasparov na final de candidatos
ao título mundial com a idade de 63 anos. Faleceu em 2010 em um hospital de Moscou
por causa de complicações cardiorrespiratórias.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<b style="text-indent: 37.7953px;"><span style="color: #0c343d; font-size: large;">Mikhail Nezhemiévich Tal</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-llfkNj1eszQ/Vo1UTLCo5AI/AAAAAAAATrk/NSJuO-8FM0c/s1600/Russia%2Bajedrez%2Btal%2B1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="223" src="https://4.bp.blogspot.com/-llfkNj1eszQ/Vo1UTLCo5AI/AAAAAAAATrk/NSJuO-8FM0c/s320/Russia%2Bajedrez%2Btal%2B1.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Mikhail Nezhemiévich Tal (1936-1992)
nasceu em Riga, em uma família judia com somente dois dedos na mão direita (o que
não o impediu de tocar piano excelentemente). Ele é um dos jogadores mais queridos
na comunidade enxadrística. Todo mundo gosta de Mikhail Tal, porque era magia.
Seu estilo, uma imaginação vívida, era inigualável até hoje. Kasparov não tem
medo de dizer que é o jogador mais talentoso que existiu. O que está claro é
que ele foi o melhor jogador de ataque de todos os tempos. Desde a infância sua
ascensão foi meteórica. Em 1957, com a idade de 21 anos, já conseguiu ganhar o
campeonato da União Soviética, além de obter o prêmio de beleza por um empate
contra Aronin, considerado por Euwe como "o empate mais brilhante da
história". O campeão mundial em 1961, diante de Botvinnik (contra quem perdeu
o match revanche no ano seguinte) com a idade de 23 anos, então o mais jovem
campeão mundial da história, e 6 vezes campeão da União Soviética, empatado com
Botvinnik . Seus problemas de saúde e a vodka impediram seu talento para
desenvolver níveis mais elevados. Um jogador deste tipo já seria algo raro hoje
em dia, por isso é difícil imaginar o impacto que teve na década de 50 do
século passado. Seu estilo, revolucionário e romântico, cheio de energia, foi
uma torrente que varreu os conceitos estagnados de xadrez posicional de Botvinnik.
Depois de um jogador tão sério e rígido, era natural que alguém apareceria para
trazer um sopro de ar fresco.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Jogador de
ataque muito agressivo, com partidas cheias de golpes táticos, iniciando
ataques violentos, gostava de buscar a máxima complicação no tabuleiro, que
atordoava seus oponentes. Tal incendiava o tabuleiro desde a primeira busca de ataque,
tornando-se um campo minado onde o mínimo de interrupção pode explodir tudo. Assim
descreveu-o o próprio Botvinnik: "... Fiquei surpreso que, em vez de jogar
posicionalmente, como me foi ensinado na minha juventude, o meu adversário pudesse
fazer jogadas de aparência ilógicas. Sua lógica tinha, na realidade, um valor
prático rigoroso: colocar para o adversário os maiores problemas possíveis. E
quando ele estava errado, Tal sábio encontrar soluções elegantes e inesperadas".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Tal gostava
de agradar o público com jogadas ariscadas, deixando o final em segundo plano.
De repente, em uma partida, Tal entregava uma peça, ou mesmo várias, sem motivo
aparente. Nesses sacrifícios, havia um monte de psicologia. Na verdade, eles
eram muitas vezes incorretos, coisa que posteriormente se mostrava em suas
partidas, mas isso é precisamente o que o torna um grande jogador! Seus
adversários estavam tão nervosos e ficavam tão embaraçados, que eram incapazes
de encontrar o caminho certo a seguir. E uma coisa é para refutar um jogo de
Tal calmamente em uma sala, vários meses depois, usando um programa de
computador, e outra coisa é estar lá na frente de Tal, em um torneio, com o
relógio contando os minutos, tentando procurar a melhor resposta no menor tempo
possível. Então, ele explicava: "xadrez de torneio e matemática são duas
coisas distintas".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-DUCETTSW6K0/Vo1UdTTt3VI/AAAAAAAATrw/YXI6ibvf578/s1600/Russia%2Bajedrez%2Btal%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://4.bp.blogspot.com/-DUCETTSW6K0/Vo1UdTTt3VI/AAAAAAAATrw/YXI6ibvf578/s320/Russia%2Bajedrez%2Btal%2B2.jpg" width="320" /></a></div>
<b style="text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;"> </span></b><br />
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Tal costumava
brincar com seu estilo peculiar ditado: "Existem apenas dois tipos de
sacrifícios, que são corretos e os meus". Uma vez, lhe perguntaram como
podia pendurar tantas peças, ao que ele respondeu: "só me podem comer uma
de cada vez".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Sua obsessão
pelo ataque a todo custo, independentemente de peças deixadas pelo caminho, chegou
a tal ponto que em um jogo com o dinamarquês Bent Larsen em 1969, pode realizar
um sacrifício de peão duvidoso que lhe custou o jogo. Mais tarde, analisando o
jogo com Geller, este lhe disse: "E agora, Misha, por que você não toma em
e6? Obtém um peão na troca e a posição não é completamente desesperada".
Ao que Tal respondeu: "Eu só olhava o rei preto! Não tinha pensado por um
momento nessa possibilidade!".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Nos últimos
anos de sua carreira, Tal trabalhou como comentarista de rádio e televisão,
onde ele estava comentando os jogos do match entre Karpov e Kasparov de 1984.
Em 1988, ele ganhou o primeiro Campeonato Mundial de blitz, em que Karpov e
Kasparov também participaram.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-5nHqXBxzCpI/Vo1UdLFPHQI/AAAAAAAATrs/TavmO95NOj0/s1600/Russia%2Bajedrez%2Btal%2B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="215" src="https://2.bp.blogspot.com/-5nHqXBxzCpI/Vo1UdLFPHQI/AAAAAAAATrs/TavmO95NOj0/s320/Russia%2Bajedrez%2Btal%2B3.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Excelente
pessoa, o seu humor marcou a sua personalidade para a eternidade: nas Olimpíadas
de Leipzig em 1960, foi abordado por Fischer e ao estilo cigano leu sua mão
dizendo o futuro: "Eu vejo que você é um bom jogador, campeão mundo, mas também
vejo que perderá o título para um jovem Grande Mestre dos Estados Unidos"
(referindo-se a si mesmo). Então Tal se aproximou de Lombardy, que ganhou
recentemente o título de Grão-Mestre, e pegou sua mão: "Parabéns, William.
Você vai ser o próximo campeão do mundo".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Tal foi o
protagonista de muitas curiosidades e anedotas durante sua carreira. Certa vez,
em um torneio no ano de 1947, Tal disputou uma partida em que estava perdido e
que pensava em abandonar. Mas, na jogada 40 o jogo foi adiado para o dia
seguinte. Naquela noite ele sonhou que se livrava da derrota, no dia seguinte
ele decidiu aplicar o sonho e conseguiu salvar a partida.</span></b><b style="text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;"> </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-z_speRaToZ0/Vo1Ux2ePS6I/AAAAAAAATr8/lOcQevQOZ8Y/s1600/Russia%2Bajedrez%2Btal%2B4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://1.bp.blogspot.com/-z_speRaToZ0/Vo1Ux2ePS6I/AAAAAAAATr8/lOcQevQOZ8Y/s320/Russia%2Bajedrez%2Btal%2B4.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em 1969, os
médicos removeram um rim. Naqueles dias ocorreu rumores de que ele tinha sido incapaz
de superar a operação e morreu. Mesmo na Jugoslávia (o país onde ele era muito
conhecido) seu obituário apareceu na imprensa. Um mês após a operação Tal voltou
à competir em torneio de Tbilisi e ganhou o primeiro prêmio, fazendo uma grande
partida contra Suetin, que fez um sacrifício maravilhoso. Depois de vencer o
jogo, comentou: "Não está nada ruim para um homem morto."</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Ele morreu
em um hospital de Moscou em 1992, com a idade de 55 anos.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><span style="font-size: large;">Tigran Vartanovich Petrosian</span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-j0h4C7AZ16k/Vo1XYN_HQSI/AAAAAAAATsg/FV1xuMmOxm0/s1600/Russia%2BTigran_Petrosian%2B1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="280" src="https://2.bp.blogspot.com/-j0h4C7AZ16k/Vo1XYN_HQSI/AAAAAAAATsg/FV1xuMmOxm0/s320/Russia%2BTigran_Petrosian%2B1.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Tigran Vartanovich Petrosian
(1929-1984) nasceu em Tbilisi, na Geórgia, apesar de ter sido etnicamente
armênio. Embora seu pai fosse analfabeto, na escola era um excelente aluno,
como seus irmãos. Ficou órfão durante a II Grande Guerra, foi forçado durante a
mesma a varrer as ruas para sobreviver. Nessa época teve início a uma surdez em
um dos ouvidos. Durante a guerra, com sua ração comprou a obra “A pratica do
meu sistema” de Nimzowitch, que acabaria por ter uma forte influência sobre o
seu jogo.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-cl0MOlBXWeg/Vo1XPVhV1_I/AAAAAAAATsY/QuFvPcMjn_M/s1600/Russia%2BTigran_Petrosian%2B4.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://4.bp.blogspot.com/-cl0MOlBXWeg/Vo1XPVhV1_I/AAAAAAAATsY/QuFvPcMjn_M/s320/Russia%2BTigran_Petrosian%2B4.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">O campeão
mundial em 1963 e 1969 e campeão da União Soviética quatro vezes. Possivelmente,
o melhor jogador de conceitos defensivos da história. Depois de Tal, precisava
de alguém mais frio para completar o quadro evolutivo de xadrez, que estabelece
as bases para a formação de futuros campeões, que seria mais universal do que
todos os jogadores anteriores.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Como um
estudante de teorias Nimzowitch teve uma compreensão do jogo posicional como
poucos (talvez Karpov seja o único, então que faria sombra a este respeito).
Ele provou que esperar um ataque do adversário também pode ser uma boa tática.
Em vez de lançar-se ao ataque conseguia pequenas vantagens que aproveitava com
precisão matemática, o que lhe valeu o apelido de "jibóia". Petrosian
obsessivamente queria enfrentar o plano do adversário, antecipando seus movimentos,
o que não é fácil. Nesse sentido, ele era famoso por sua compreensão da profilaxia.
Se defendia tão bem que neutralizava as ameaças do adversário antes que ele percebesse.
M. Tal chegou a dizer, com seu humor típico: "Petrosian vê chegar o perigo
vários dias antes". Fischer dizia dele: "Ele tem um senso tático
incrível, e um sentido excepcional de perigo... Não importa o quão profundo
você calcule... Ele sentirá o perigo 20 movimentos antes que você".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-mrtrtRDLu48/Vo1XNw7-01I/AAAAAAAATsM/L2Z29oQ6sEM/s1600/Russia%2BTigran_Petrosian%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="194" src="https://2.bp.blogspot.com/-mrtrtRDLu48/Vo1XNw7-01I/AAAAAAAATsM/L2Z29oQ6sEM/s320/Russia%2BTigran_Petrosian%2B2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;">No entanto, ganhou
muito poucos torneios, porque fazia muitos empates e porque, ao contrário dos
matchs individuais, nos torneios tinha pouca chance de ganhar contra jogadores
agressivos, coisa que combinava com o caráter conformista que modelava seu estilo
de jogo. No entanto, foi um jogador muito difícil de bater: ele não perdeu um
único jogo em todas as suas participações nas Olimpíadas (79 vitórias e 50
empates).</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Petrosian
era um especialista na luta contra a Defesa Índia do Rei, contra o qual
desenvolveu a variante chamada Petrosian (1.d4 Cf6, 2.c4 g6, 3.Cc3 Bg7, 4.e4 d6
5.Cf3 0-0, 6.Be2 e5, 7.d5). Há outras aberturas onde desenvolveu variantes que
agora levam seu nome, notavelmente em na Defesa Índia da Dama (1.d4 Cf6 2.c4 e6
3.Cf3 b6 4.a3), na Defesa Grunfeld (1.d4 Cf6, 2.c4 g6, 3.Cc3 d5, 4.Cf3 Bg7,
5.Bg5) e na Defesa francesa (1.e4 e6, 2.d4 d5, 3.Cc3 Bb4, 4.e5 Dd7). Ele também
é creditado a ele, juntamente com Smyslov, uma variante da Defesa Caro-Kann,
conhecido como Petrosian-Smyslov (1.e4 c6, 2.d4 d5, 3.Cc3 dxe4, 4.Cxe4 Cd7).</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Os Problemas
de audição de Petrosian o levaram por vezes a situações estranhas. Em um jogo, ofereceu
empate a Gligoric, este rejeitou e depois mudado de opinião em instantes.
Mas ao fazê-lo Petrosian não ouviu e no final ganhou a partida.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-WCklW5uoWDg/Vo1XNiWfKlI/AAAAAAAATsI/y55_mxxaMgg/s1600/Russia%2BTigran_Petrosian%2B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="211" src="https://2.bp.blogspot.com/-WCklW5uoWDg/Vo1XNiWfKlI/AAAAAAAATsI/y55_mxxaMgg/s320/Russia%2BTigran_Petrosian%2B3.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Faleceu em
Moscou em 1984 devido a um câncer de estômago. Em 07 de julho de 2006 foi
inaugurado um monumento em sua honra no distrito Davtashen do capital da
Armênia, Yerevan.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d; font-size: large;">Boris Vasilievich Spassky</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-eclap2DlF6s/Vo1YO76Y6WI/AAAAAAAATsw/65wf5TzCQVY/s1600/Russia%2BBoris_Spassky%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="181" src="https://4.bp.blogspot.com/-eclap2DlF6s/Vo1YO76Y6WI/AAAAAAAATsw/65wf5TzCQVY/s320/Russia%2BBoris_Spassky%2B2.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Boris Vasilievich Spassky nasceu em
1937 em Leningrado. Campeão mundial em 1969 e campeão </span></b><b style="text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;">da URSS duas
vezes, em 1961 e 1973. Este jogador tem a infelicidade de ser conhecido por ter
perdido para Bobby Fischer no campeonato mundial de 1972, fato que foi recebido
na União Soviética como uma tragédia nacional. Sua infância também foi
traumática: em 1943, com a idade de 8 anos, teve de fugir de Leningrado durante
a II Grande Guerra.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b style="text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-2NjLw1h-2AI/Vo1YRaLRbNI/AAAAAAAATtA/jMVA-1bqWjE/s1600/Russia%2BBoris_Spassky%2B5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="236" src="https://1.bp.blogspot.com/-2NjLw1h-2AI/Vo1YRaLRbNI/AAAAAAAATtA/jMVA-1bqWjE/s320/Russia%2BBoris_Spassky%2B5.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Um jogador
de estilo belíssimo e universal, possivelmente o mais completo que tenha
existido. Depois de regressar a Leningrado, ingressou no Palácio dos Pioneiros
da cidade, desenvolvendo um estilo de jogo frio e posicional sem riscos. Isso
restringia sua criatividade e decidiu mudar de treinador, passando a ser
treinado Alexander Tolush, que lhe ensinou outra forma de entender xadrez, transformando-se
assim em um jogador mais ousado e agressivo. Em 1965, passaria a ser treinado
por Igor Bondarevsky, graças ao qual o seu estilo voltou ao posicional e melhorou
seu repertório de aberturas consideravelmente. Mesmo como em ocasiões brilhava
com alguma partida espetacular.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-pAmPA5u-fsU/Vo1YTFUEydI/AAAAAAAATtY/cSqHUwSEmHo/s1600/Russia%2BBoris_Spassky%2B7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="199" src="https://4.bp.blogspot.com/-pAmPA5u-fsU/Vo1YTFUEydI/AAAAAAAATtY/cSqHUwSEmHo/s320/Russia%2BBoris_Spassky%2B7.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A verdade é
que se esperava muito mais dele do que deu durante sua brilhante carreira. Pensava-se
que seria campeão mundial antes dos 25 anos, mas a derrota para Tal no torneio interzonal
em Portoroz em 1958 lhe afetou profundamente. Em 1964 logrou vencer o torneio de
candidatos para o título mundial, batendo Keres, Geller e Tal, mas perdeu para Petrosian
no match pelo título mundial. Título que ganharia em 1969 ao enfrentar
novamente o jogador armênio.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em 1972
Spassky tem de defender em Reykjavik o título ante a jovem estrela em ascensão
mundial, Bobby Fischer, que tinha passado um rolo compressor ao derrotar
Taimanov, Larsen, e Petrosian. Em plena guerra fria, mundo inteiro respirava a
celebração deste confronto que ficou conhecido como o "jogo do século".
Porém o match começa mal: quando Spassky tinha chegado, Fischer não se encontra
em Reykjavik, reclamar do prêmio pelo título mundial, diz que é insuficiente.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-_HHCBmO3uTI/Vo1YRktF10I/AAAAAAAATtE/ihjGWEzk3M0/s1600/Russia%2BBoris_Spassky%2B4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="192" src="https://1.bp.blogspot.com/-_HHCBmO3uTI/Vo1YRktF10I/AAAAAAAATtE/ihjGWEzk3M0/s320/Russia%2BBoris_Spassky%2B4.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">O
Departamento de Estado dos EUA interveio para convencer Fischer a jogar o match.
Depois de perder a primeira partida (por um erro básico de capturar um peão com
o bispo na cassa "h2"), Fischer continua com suas extravagâncias: exige
que as câmeras de televisão sejam removidas do torneio. Ao não satisfazerem o
seu pedido, ameaça voltar para a América. Na segunda partida, o árbitro bota o
relógio para funcionar, mas Fischer não aparece. A Federação Soviética
considera que seu campeão está sendo humilhado. Nesse momento, Spassky é
pressionado a partir de Moscou para solicitar a suspensão do match. Os membros
do Politburo sabiam que, se assim for, Spassky iria desfrutar do apoio da opinião
pública internacional.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Mas Spassky se
recusou a obedecer. Consciente de que podia perder, quis ganhar de Fischer no
tabuleiro. No final Spassky perdeu o match por 12,5 pontos para 8,5, e Fischer acabou
com 24 anos de hegemonia Soviética. Spassky caiu em desgraça na união Soviética,
sendo acusado pelo Partido Comunista de desleal e de não ter se preparado a
fundo. Spassky voltou jogar torneios de classificação para o título mundial,
mas nunca voltou ou ser o mesmo, caindo em uma espécie de conformismo que havia
desistido de lutar pelo título. Em 1984, emigrou da União Soviética e
nacionalizou-se francês.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Expoente de
um estilo universal: o seu jogo não era nem claramente combinativo nem
claramente posicional. Graças aos treinadores tão diferentes que teve, era
capaz se destacar em todas as facetas do jogo. Tinha uma visão muito ampla do
xadrez, com um grande senso de adaptação. Sentia-se confortável em uma
variedade de posições: era capaz de ganhar um jogo posicional de Petrosian e ganhar
de Tal com um Gambito do Rei, (que surge com as jogadas 1.e4 e5, 2.f4 ),
abertura arriscada e as vezes agressiva, muito raro em nível magistral, com a
qual ele conseguiu muitos êxitos. Foi excelente no meio-jogo, empregava um jogo
muito imaginativo, embora por sua vez com profundidade, que às vezes estourava
em golpes táticos. De acordo com Kasparov, seu estilo era um progresso
"abriu uma nova etapa para o xadrez profissional."</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-8kKYwPEn0Go/Vo1YSq4IeYI/AAAAAAAATtQ/n6le4xnYcBA/s1600/Russia%2BBoris_Spassky%2B6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="213" src="https://3.bp.blogspot.com/-8kKYwPEn0Go/Vo1YSq4IeYI/AAAAAAAATtQ/n6le4xnYcBA/s320/Russia%2BBoris_Spassky%2B6.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Além disso,
a sua contribuição para a teoria de abertura é notório. Fez grandes
contribuições ressuscitando a variante Marshall da Abertura Ruy López (1.e4 e5,
2.Cf3 Cc6, 3.Bb5 a6, 4.Ba4 Cf6, 5.0-0 Be7, 6.Te1 b5, 7.Bb3 0-0, 8.c3 d5), o desenvolvimento
da variante Leningrado da Defesa Nimzoíndia (1.d4 Cf6, 2.c4 e6, 3.Cc3 Bb4, 4.Bg5),
a variante fechada da Defesa Siciliana (1.e4 c5 2.Cc3). Algumas outras
variantes levam seu nome, nomeadamente a variante Spassky da Defesa Indiana do
Rei (1.Cf3 Cf6, 2.g3 b5).</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Ele será
lembrado por seu comportamento cortês e educado durante as partidas, o que fez
dele um dos campeões mais populares no mundo na memória recente. Curiosamente,
Spassky sempre disse que o xadrez não era sua vida. Na verdade, sabe-se que ele
dedicou muito tempo ao atletismo, a natação, ao tênis, música clássica russa,
literatura... Com isso você pode entender sua falta de ambição depois de perder
para Fischer, especialmente depois de conquistar seu objetivo, que era ser
campeão mundial.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-VyV9-B6vPn8/Vo1YO4IMl1I/AAAAAAAATss/ktIlh2IIuuM/s1600/Russia%2BBoris_Spassky%2B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="165" src="https://1.bp.blogspot.com/-VyV9-B6vPn8/Vo1YO4IMl1I/AAAAAAAATss/ktIlh2IIuuM/s320/Russia%2BBoris_Spassky%2B3.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em 1992 jogou
um match revanche amistoso com Fischer, que voltaria a ser derrotado. Em 2010
ele sofreu um ataque que o deixou paralisado do lado esquerdo do corpo. Depois
de um longo período de reabilitação na França, regressou para a Rússia após 28
anos. É o campeão mundial mais velho na atualidade. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><span style="font-size: large;">Anos 1980: ditadura da “dupla K”</span><o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-1sc4jWFYQ_k/Vo1ZhNorE6I/AAAAAAAATto/B7nfQDaEjgE/s1600/Russia%2BKarpov%2B8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://3.bp.blogspot.com/-1sc4jWFYQ_k/Vo1ZhNorE6I/AAAAAAAATto/B7nfQDaEjgE/s320/Russia%2BKarpov%2B8.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Finalizamos
esta breve revisão dos grandes jogadores de xadrez da União Soviética, passo a
falar de uma dupla de jogadores dominou mundo do xadrez durante os anos 1980 e
boa parte da década de 1990: os chamados "dois Ks, Gary Kasparov e Anatoly
Karpov, que por muitos anos protagonizaram a maior e mais longa rivalidade na história
do esporte (sim, você leu bem, a história do esporte, não só de xadrez). O seu
confronto atingiu dimensões gigantescas, não só pelo fato de que no tabuleiro se
enfrentavam duas concepções radicalmente diferentes de xadrez, mas também pelas
conotações políticas que tem sua rivalidade, em um momento em que a União
Soviética estava em caminho para a restauração do capitalismo: Karpov era o campeão
do regime soviético, o campeão designado para propagar as vantagens do socialismo.
Kasparov, no entanto, foi escolhida como símbolo das forças favoráveis a
perestroika assim como pelas forças nacionalistas dos países transcaucasianos.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d; font-size: large;">Anatoli Yevguénevich Karpov</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-FKa9vzvWk0Y/Vo1Zzxun9MI/AAAAAAAATt4/O827gI7PFuk/s1600/Russia%2BKarpov%2B1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://3.bp.blogspot.com/-FKa9vzvWk0Y/Vo1Zzxun9MI/AAAAAAAATt4/O827gI7PFuk/s320/Russia%2BKarpov%2B1.jpg" width="320" /></a></div>
<b style="text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="color: #0c343d;"> </span></b><br />
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Anatoli Yevguénevich Karpov nasceu em
Zlatoust nos Urais, em 1951. Quatro vezes campeão mundial em 1975, 1978, 1981 e
1984, e tricampeão mundial pela FIDE após o cisma dos anos 1990, em 1993, 1996
e 1998. Três vezes campeão da URSS em 1976, 1983 e 1988. Uma marca excepcional.
Sem qualquer dúvida poderia ter sido campeão do mundo por mais tempo, se não
houvesse Kasparov cruzaram seu caminho.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-qYbkwFwCO7I/Vo1Z10PrSlI/AAAAAAAATuY/23zw7FziVdI/s1600/Russia%2BKarpov%2B5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="192" src="https://3.bp.blogspot.com/-qYbkwFwCO7I/Vo1Z10PrSlI/AAAAAAAATuY/23zw7FziVdI/s320/Russia%2BKarpov%2B5.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em meio ao frio
clima dos Urais, desde pequeno, problemas pulmonares lhe causaram grandes dificuldades,
sendo xadrez uma válvula de escape. Na idade de quatro anos aprendeu a jogar
aos sete já ganhava do melhor jogador em sua cidade natal. Em 1966, com a idade
de 15 anos, ela se tornou o mais jovem Mestre Nacional na história. Em 1970,
adquiriu o título de Grande Mestre. Além de xadrez, ele desempenhou diferentes
tarefas políticas. Muito comprometido com o Komsomol (era a organização juvenil do Partido Comunista da União Soviética), ele era um membro da Comissão de Assuntos
Estrangeiros dos Soviet Supremo. Em 1982 ele foi eleito presidente da Fundação Soviética
pela Paz, uma ONG soviética.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Karpov teve
a honra de ser aquele que devolveu o orgulho nacional a URSS após a derrota para
Fischer em 1972. Em 1975, foi o grande trunfo do Partido Comunista para
disputar o título mundial contra o americano. No entanto, o match não se
realizaria devido às extravagâncias de Fischer, que até então já estava
bastante transtornado: o americano impôs a FIDE algumas condições impossíveis
para a celebração do match: pretendia que para ser campeão do mundo Karpov
tinha que vencer por dois pontos, algo inaceitável para FIDE. Fischer não se
apresentou ao match. Ao contrário de Spassky, Karpov seguiu as diretrizes do
Partido Comunista e foi declarado o novo campeão mundial. Muitos acreditam que Fischer
impôs essas condições porque tinha medo de perder título mundial que havia sido
sua obsessão durante toda vida.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-AniK_Hz_qhc/Vo1ZzKbdSeI/AAAAAAAATtw/PkWCWELOZLI/s1600/Russia%2BKarpov%2B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="157" src="https://3.bp.blogspot.com/-AniK_Hz_qhc/Vo1ZzKbdSeI/AAAAAAAATtw/PkWCWELOZLI/s320/Russia%2BKarpov%2B3.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Esta vitória
foi simultaneamente amargo e doce para Karpov, que ficaria para o resto de sua
carreira, com o desejo de provar que ele era o melhor, demonstrando com
resultados. Isso se traduziria posteriormente com os mais de 160 vitórias em
torneios que ganhou. Espetacular!! Em 1978 e 1981 rivalizou o seu título mundial
contra o exilado dissidente da União Soviética, o feroz inimigo do regime
soviético Victor Korchnoi, que competiu sem uma bandeira.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1cm;">
<o:p><b style="text-indent: 37.7953px;"><span style="color: #0c343d; font-size: large;">Gary Kimovich Kasparov</span></b></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-OBgBVJL0mok/Vo1ak_99ERI/AAAAAAAATus/Z4Sd_42kQBg/s1600/Russia%2BKasparov%2B1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://3.bp.blogspot.com/-OBgBVJL0mok/Vo1ak_99ERI/AAAAAAAATus/Z4Sd_42kQBg/s320/Russia%2BKasparov%2B1.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Gary Kimovich
Kasparov nasceu em Baku, no Azerbaijão em 1963. Nascido como Gary Kimovich Veinshtéin
de mãe armênia e pai russo-judeu. Quando seu pai morreu, tinha a idade de 7
anos, sua mãe decide colocar seu nome, Kasparian, russificando, passando o
jovem para sobrenome Gary Kasparov. A partir desse momento, sua mãe terá uma só
obsessão: convertê-lo em campeão de xadrez.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Campeão
mundial quatro vezes, em 1985, 1986, 1987 e 1990, e duas vezes campeão pela
organização que ele mesmo criou, a PCA em 1993 e 1995. Para alguns é o melhor jogador
da história. Ganhou 9 vezes o torneio de Linares, na época o mais forte do
mundo.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Aos 10 anos,
ele se matriculou na Escola Botvinnik de Moscou. Com 12 anos, ele enfrenta o
campeão mundial Karpov em uma partida de simultânea em que acabou perdendo, mas
apresentando luta até o final. Em 1978, se qualifica para o campeonato da União
Soviética, com a idade de 15 anos, o mais jovem a conseguir até então. Seu
grande salto para a fama vem em 1979 no torneio de Banja Luka (Iugoslávia). Os
organizadores do torneio ficaram chateados com os soviéticos por escalar um
jogador tão jovem, mas Kasparov calou todos os críticos levando o primeiro
prêmio com a idade de 16 anos e obtenção da norma Grande Mestre.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-3mUJuvELKNI/Vo1Z1PPtYMI/AAAAAAAATuM/D9cb6zMdarc/s1600/Russia%2BKarpov%2B6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="218" src="https://1.bp.blogspot.com/-3mUJuvELKNI/Vo1Z1PPtYMI/AAAAAAAATuM/D9cb6zMdarc/s320/Russia%2BKarpov%2B6.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em setembro
de 1984, foi realizado o match onde disputou o cetro de campeão do mundo contra
Karpov, após haver eliminação na fase preliminar Beljavski, Smyslov e Korchnoi.
Se antes Karpov teve que enfrentar Korchnoi, o melhor jogador “não-soviético”
da época, o encontro entre os dois 'Ks' voltou a confirmar a supremacia da
União Soviética no esporte. No tabuleiro, eles demonstrar duas filosofias
diferentes para entender xadrez.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Karpov, mais
do que um jogador, é um computador. Quando ele joga, ele é mais frio que um iceberg,
você nunca se sabe se está ganhando ou perdendo. Daí a ser conhecido como
"o gélido Tolia". Seu estilo, é de uma precisão milimétrica, é muito
posicional, sem risco de qualquer tipo, mas reage rapidamente a quaisquer erros
de seu adversário. Ele é um especialista quando se trata de compreender a
essência da posição, sabendo converter uma mínima vantagem em uma enorme
vantagem, encurralar o seu oponente por um trabalho artesanal. Pode tirar água de
uma pedra. Ele descreve o próprio Tolia com estas palavras instrutivas:</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-L3IFY-YAkII/Vo1Z0mayvoI/AAAAAAAATuA/FVwPjtaOAcc/s1600/Russia%2BKarpov%2B4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="192" src="https://1.bp.blogspot.com/-L3IFY-YAkII/Vo1Z0mayvoI/AAAAAAAATuA/FVwPjtaOAcc/s320/Russia%2BKarpov%2B4.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">"Vamos
dizer que o jogo pode evoluir de duas formas, uma das quais é uma bela
implantação tático que resulta em variantes que não permitem um cálculo preciso;
o outro é uma clara precisão posicional que leva a um final de partida com
microscópicas chances de vitória... Eu escolho a última sem pensar duas vezes.
Se meu oponente planeja um jogo agressivo, não me oponho; mas nesses casos eu obtenho
uma menor satisfação, mesmo quando eu ganho, do que em uma partida conduzida de
acordo com as regras da estratégia, com a sua lógica fria e cruel".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Kasparov, no
entanto, é um jogador mais agressivo extremamente combinativo, que planeja um
ataque turbilhão, tentando matar o inimigo arrematando as partidas com belas
combinações. Segundo o jornalista Leontxo Garcia, "representa as forças da
natureza inclinada para um tabuleiro", um ganhador nato luta pela vitória
até o fim. Um jogador apaixonado, fisicamente e mentalmente muito forte,
caracterizado por jogar com muito risco, mesmo em competições de alto nível.
Mas o melhor é a sua grande técnica, e como Karpov, com facilidade de
compreender as posições. Para isto deve ser adicionado o seu profundo conhecimento
da teoria de aberturas, um maiores a este respeito. Para os mais curiosos podem
estar interessados em saber que existe uma variante do famoso Defesa Nimzoíndia
que leva seu nome, que surge com os movimentos 1.d4 Cf6, 2.c4 e6, 3.Cc3 Bb4,
4.Cf3.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Para o match
de 1984, a FIDE toma uma decisão questionável: lança um sistema de disputa sem
precedentes, os empates não contam: ganhará o primeiro a obter seis vitórias,
sem limite de partidas. Kasparov, que só tem 21 anos, começa forma muito
impetuosa, independentemente dos pontos fortes do seu adversário, e leva uma
grave bronca. Nas nove partidas, Karpov já vencia por 4 a 0. Na partida 27
Kasparov já perdia por 5-0, e na 31ª partida está prestes a ser aniquilado, mas
consegue defender de forma brilhante um jogo completamente perdido, terminando
em um empate. História do xadrez e, possivelmente, a carreira de Kasparov,
teria sido totalmente diferente se Karpov tivesse arrematado essa partida.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A partir
dali Kasparov tem uma mudança. O lendário treinador Yuri Averbakh, que era o árbitro
nessa competição, descreve com estas palavras: "Vi como Kasparov mudou durante
o primeiro match. No começo era um jovem garoto. No fim do mesmo ele tinha se tornar
um homem adulto, um lutador forte. Karpov não percebeu essa mudança". Na
partida 32 Kasparov vence e obtém sua primeira vitória.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">O match se
prolonga até Abril de 1985. Kasparov chega as 3 vitórias, e o campeão Karpov
começa a mostrar sinais de esgotamento físico e psicológico. Ele não estava em
boa forma. Kasparov, no entanto, deu muita importância à preparação física: praticado
regularmente esportes: atletismo, natação, futebol, hóquei no gelo... Certamente
Mikhail Botvinnik continuava sendo treinador de Kasparov. Quando esse perdia
por 4-0, ele disse: "joga como se você tivesse ganhando, não tenha medo de
fazer empate. Ele tem menos resistência física que você, e se cansará antes".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Um dia antes
de completar os seis meses do campeonato, o presidente da FIDE, Florêncio
Campomanes, por medo de o match terminar em um teste de resistência física,
decidiu suspender o match, declarando sem vencedor. Assim, Karpov [que vencia
por 5-3] manteve o título mundial. A notícia foi um escândalo mundial, que acabou
extrapolando o plano político. Após a decisão da FIDE, ambos os jogadores se acusaram
mutuamente de querer suspender o match. Kasparov acusou Karpov de receber apoio
de Politburo enquanto Karpov acusou Kasparov de ter o apoio na KGB de Heydar
Aliyev, que havia intercedido por seu compatriota. A tensão, como você pode
imaginar, era grande na época do acontecido.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">O match pelo
título mundial voltaria a ser realizado em setembro do mesmo ano no Teatro Tchaikovsky
de Moscou. A expectativa mundial tinha aumentado. O sistema de competição foi novamente
o habitual: ganha o melhor de 24 partidas. Até então o jogo Kasparov tinha amadurecido
muito. Ele aprendeu a usar contra Karpov os mesmos truques que ele tinha usado
contra ele, fazendo um jogo mais lento e meditado. Kasparov chega confessar:
"Eu tinha o melhor professor que poderia ter desejado".</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">[Em 1985] Ante
de uma platéia lotada de Azerbaijanos, armênios e judeus, Kasparov tomou o
título mundial com a idade de 22, superando o recorde de Tal.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A “dupla K” voltaria
novamente para jogar o campeonato mundial em três ocasiões em 1986, 1987 e em 1990
Kasparov volta a ganhar. No ano de 1987 em Sevilha na Espanha ocorre um empate
no match. Em 1993, após a ruptura dos candidatos pelo título mundial Kasparov e
Nigel Short. A FIDE organiza um match com os dois semifinalistas Karpov e o holandês
Jan Timman. Assim Karpov se tornou novamente [após vencer Timman] campeão
mundial oficial.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">No entanto, em
cinco campeonatos do mundo Kasparov esteve à frente de Karpov em três deles, suas
vitórias foram sempre extremamente difíceis. Em 144 partidas do campeonato mundial,
o balanço de vitórias de Kasparov só é de duas partidas. A diferença é ínfima.
Karpov voltou a demonstrar sua força em 1994, no torneio de Linares uma das
melhores performances na história, arrasando com todos os adversários e ficando
em primeiro lugar com 2,5 pontos à frente do favorito, Kasparov.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-AIgMC9NSHGY/Vo1Z2Q6VsvI/AAAAAAAATug/tRlJVgAfY0c/s1600/Russia%2BKarpov%2B7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" height="186" src="https://2.bp.blogspot.com/-AIgMC9NSHGY/Vo1Z2Q6VsvI/AAAAAAAATug/tRlJVgAfY0c/s320/Russia%2BKarpov%2B7.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<o:p><b><span style="color: #0c343d;"><br /></span></b></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Após ser
proclamado vencedor no mesmo torneio em 2005, Kasparov anunciou a sua
aposentadoria do xadrez profissional para dedicar-se inteiramente à política.
Karpov segue competindo, embora suas aparições tornaram-se mais raras.
Atualmente está classificado como o nº 191 no ranking mundial da FIDE.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Embora sua
atividade política seja mais moderada do que a de Kasparov, é um membro da
Câmara dos Comuns da Rússia como um representante das associações, presidente
da Comissão para as vítimas de Chernobyl, e mantém seu cargo de presidente da antiga
Fundação Soviética para a Paz, embora na sua versão homóloga da Federação Russa,
do Fundo Internacional para a Paz. Em 2010, ele apresentou sua candidatura a presidência
da FIDE, com apoio de Kasparov. Ainda segue exercendo a função de professor de
economia na Universidade de Moscou.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Um legado que sobrevive<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Em 1991, o
socialismo sofreu uma derrota temporária com a dramática desintegração da União
Soviética, que vai colocar um ponto final no longo processo de degeneração revisionista
Partido Comunista. Contudo, a influência de xadrez Soviética permanece 21 anos
depois, tanto em termos de competições de nível escolar como de alto nível.
Escolas de Moscou e São Petersburgo na Rússia, as de Kiev, Odessa e Lvov, na Ucrânia
permanecer entre as líderes mundiais, mas as escolas de países anteriormente
pertencentes à União Soviética, nomeadamente a Armênia, a Geórgia e o
Azerbaijão, competindo com sucesso com as russas e ucranianas. Hoje, é impossível
falar sobre a história do xadrez sem mencionar os grandes mestres da era soviética,
e quanto ao enriquecimento da teoria do xadrez e é patrimônio de todas as
academias e escolas de todo o mundo.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Essas
conquistas imensas da União Soviética na área de xadrez, enquanto muitas outras
realizações nas áreas científicas, culturais e do bem-estar da população, são
inseparáveis do socialismo como formação social e econômica superior ao sistema
capitalista. Há uma ligação estreita entre socialismo e o xadrez, tanto por
seus benefícios na educação das crianças, desenvolvendo neles valores éticos,
como sendo um esporte que estimula à mente, além de desenvolver a capacidade de
análise, de reflexão, a capacidade de tomada de decisões, criatividade e
espírito crítico. O xadrez estava intimamente ligada à construção do socialismo
na União Soviética, e vai ocupar uma posição privilegiada na formação intelectual
da classe operária quando o socialismo se espalhou pelo mundo.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Devido à
influência soviética, a popularidade do xadrez conheceu ou um boom crescente em
outros países da comunidade socialista e em países que pelo menos foram
socialistas um dia. Assunto que não se pretende abordar neste artigo, mas
podemos oferecer algumas pinceladas.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">O xadrez soviético
hoje ainda deixa uma marca durável em competições de alto nível. E quando
falamos da União Soviética, nos referimos a todas as nações que a compuseram.
Após os jogos que caracterizam a “dupla k”, todas as edições do Campeonato do
Mundo situadas entre 1993 e 2005, quer FIDE ou da PCA [organização criada por
Kasparov], foram proclamados vencedores jogadores nascidos nos países
socialistas (exceto a vitória do Hindu Viswanathan Anand em 2000 contra o
espanhol-letão Alexei Shirov) Note, por exemplo, o russo Vladimir Kramnik, o
búlgaro Veselin Topalov ou uzbeque Rustam Kazimdshánov. Se tomarmos os 20
melhores jogadores de acordo com o ranking mundial da FIDE, vemos que 14 deles
são de países como a Rússia, Ucrânia, Armênia, Azerbaijão e China (além do finalista
do campeonato de 2012, Bielorrusso de nascimento o israelense Boris Gelfand).</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">A China, de
fato, emergiu como uma potência mundial graças ao impulso de treinadores ex-soviéticos.
Isto pode ser visto especialmente no xadrez feminino, onde a China é uma superpotência,
um fato refletido nas vitórias nos campeonatos mundial por Xie Jun de 1991 e
1996 e Zhu Chen de 2001 e 2004, e o mais recentes em 2010 e 2012 pela muito
jovem Hou Yifan, apenas 18 anos, mulher mais jovem a ganhar o título de Grande
Mestre com a idade de 14 anos. A húngara Susan Pulgar, a búlgara Antoaneta
Stefanova e a russa Alexandra Kosteniuk completar a lista do campeonato mundial
feminino.</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Seguindo
xadrez feminino, vale a pena mencionar a nº 1 do mundo, Judit Pulgar irmã de
Susan, a melhor jogadora mulher de todos os tempos, única jogadora de xadrez
feminino que chegou a estar entre os 10 melhores do ranking mundial FIDE,
sucedendo em 1996. Não possui o título de campeã mundial feminino, porque,
devido à educação não-sexista que recebeu do seu pai, estava sempre envolvida
exclusivamente em torneios mistos. Atualmente ela ocupa a classificação 45º no
ranking mundial FIDE (misto).</span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">E quanto à
outra grande competição organizada pela FIDE, as Olimpíadas de xadrez notamos
que todas as edições a partir de 1991 foram se proclamaram vencedores Rússia,
Ucrânia e Armênia. Particularmente relevante foram na última edição de 2012, em
Istambul, Turquia, o quarto lugar e sétimo obtido por China e Vietnã,
respectivamente, e o 11º lugar conquistado por Cuba, à frente de países como a
Alemanha, Itália e Inglaterra. </span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<b><span style="color: #0c343d;">Fonte: http://amistadhispanosovietica.blogspot.com.br/2012/11/el-ajedrez-en-la-union-sovietica.html </span></b></div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-75077150956243342962013-04-06T06:21:00.005-07:002013-04-06T06:21:53.196-07:00 Misérias e Glórias do Xadrez - Final<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-Ybl1zVN-C0I/UWAgf0-jzhI/AAAAAAAAQEs/RWON8NPj_7M/s1600/Pintura+Cuadro+Faven+Antti.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="204" src="http://2.bp.blogspot.com/-Ybl1zVN-C0I/UWAgf0-jzhI/AAAAAAAAQEs/RWON8NPj_7M/s320/Pintura+Cuadro+Faven+Antti.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;"> Misérias e Glórias do Xadrez - Final</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Enquanto promovia, com uma cobertura maciça da mídia, o rompimento de qualquer limite ou regra no xadrez mundial - e, não tenhamos dúvida, a falta de limites e regras não favorece a maior democratização ou igualdade, mas à submissão a quem tem mais poder ou dinheiro - Kasparov continuava posando de libertário: “Eu não preciso do reconhecimento de uma organização burocrática como a FIDE. Sou o melhor do mundo e prefiro demonstrá-lo nos torneios e com o reconhecimento das pessoas”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-j_Ip0HUSvEM/UWAggGpJ-sI/AAAAAAAAQE4/p_x__gdKX_o/s1600/Pintura+Cuadro+Georg+Rauch.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="251" src="http://1.bp.blogspot.com/-j_Ip0HUSvEM/UWAggGpJ-sI/AAAAAAAAQE4/p_x__gdKX_o/s320/Pintura+Cuadro+Georg+Rauch.jpg" width="320" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Um “Luis XIV de pacotilla”, classificou José Luis Rescalvo, em seu artigo “História de uma infâmia”. Com efeito.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, provavelmente, é pior. Em nome de ser “o melhor do mundo”, ele não pretendia, como Luís XIV, ser a encarnação da organização coletiva. Pelo contrário, pretendia estar acima de qualquer organização coletiva - pois não era dos entraves burocráticos da FIDE que estava falando, mas da própria FIDE como instituição. Essa linguagem, muitos não terão dificuldade em reconhecer: a de considerar “burocrático” não o que realmente é, mas a coletividade em si mesma, porque ela impõe limites, antes de tudo limites morais. Certamente, a coletividade só deixará de ser “burocrática” quando estiver submetida ao “melhor”... Em suma, a linguagem mais chula do fascismo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Valery Salov tem razão ao dizer que “Kasparov é um embusteiro em série”. Evidentemente, Salov estava falando em termos políticos. No entanto, a única credencial de Kasparov como político é sua carreira no xadrez. Portanto, estamos diante de uma questão enxadrística importante: ele tem sido promovido insistentemente a melhor jogador da história, porque, segundo argumentam seus partidários, nenhum teria ficado tanto tempo acima de todos os outros. O fato de que nenhum outro, desde Alekhine, tenha se colocado acima de qualquer regra, não parece aturdir esses cavalheiros. </span></b><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-eXrobCyGR_o/UWAggwGrFoI/AAAAAAAAQFA/6jBlmu31KDM/s1600/Pintura+Cuadro+Henry+Caro+Delvaille.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-eXrobCyGR_o/UWAggwGrFoI/AAAAAAAAQFA/6jBlmu31KDM/s320/Pintura+Cuadro+Henry+Caro+Delvaille.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div>
<b><span style="color: #20124d;">Nem, muito menos, o fato de que afastou possíveis desafiantes e desafetos declarados, usando o poder econômico dos patrocinadores. E, por último, nem o fato completamente inédito de que no lugar de onde poderia vir contestação, os países que antes formavam a URSS, a estrutura do xadrez, principalmente a que formava os jogadores, pela primeira vez desde 1945 estava em frangalhos ou deixara de existir. Some-se a isso o apoio de uma tremenda cobertura de mídia, dinheiro a rodo e oponentes intimidados – e temos aqui as condições em que Kasparov se impôs.</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, examinemos o argumento sem outras considerações. Veremos que também não é verdadeiro: Steinitz e Lasker tiveram predominância por mais tempo que Kasparov. E o fato de Capablanca ter sido campeão mundial durante apenas seis anos não torna Kasparov melhor do que Capablanca. Ou melhor do que Fischer, campeão durante três anos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas é aí nesse instante que aparece o outro argumento dos kasparovistas: o rating ELO. Vejamos o que significa.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">ELO</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;">Em 1970, a FIDE resolveu adotar, para medir a força relativa dos jogadores, o sistema usado desde 10 anos antes pela Federação dos EUA (USFC), denominado ELO devido ao autor do modelo matemático, Arpad Elo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É fato que a FIDE precisava de um método menos subjetivo de estabelecer ratings (isto é, números que expressam a força relativa dos jogadores) do que o adotado até então - e optou pela proposta de Elo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-UsKDI5FX5Yk/UWAghrdVPrI/AAAAAAAAQFM/znLOOjvN67k/s1600/Pintura+Cuadro+Isidor+Kaufmann.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="230" src="http://2.bp.blogspot.com/-UsKDI5FX5Yk/UWAghrdVPrI/AAAAAAAAQFM/znLOOjvN67k/s320/Pintura+Cuadro+Isidor+Kaufmann.jpg" width="320" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Gligoric, que esteve presente à reunião da FIDE que adotou o sistema, afirmou, em entrevista ao GM Alexander Baburin, que o próprio Arpad Elo, nessa reunião, alertou sobre a necessidade de correções futuras, pois, por sua fórmula, os ratings tendiam à inflação. Hoje, inclusive, a maior parte das organizações que utilizam o sistema já incluiu correções para evitar distorções maiores.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em poucas palavras: como a base do modelo é estatística, o significado do rating muda de acordo com a base estatística - o que equivale a dizer: de acordo com a época. Assim, o próprio Elo, em seu livro “The Rating of Chessplayers, Past and Present”, de 1978, escolheu os cinco melhores anos das carreiras dos jogadores como base para estabelecer ratings. Poderia ter escolhido outra base - e o resultado seria diferente.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Reparemos que, mesmo considerando um único critério, isso, na prática, não evita algumas deformações importantes: com a mesma base estatística, Elo concede o rating 2.690 tanto para Alekhine quanto para Smyslov quanto para Morphy. No entanto, o último, Paul Morphy, um jogador norte-americano de origem hispânica do século XIX, simplesmente arrasou todos os seus contendores, nos EUA e na Europa, entre 1849 e 1869, vencendo 83% das partidas que disputou em competições, sem absolutamente ninguém que pudesse chegar perto, o que não é o caso nem de Alekhine nem de Smyslov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Pelo menos, o professor Elo tem algum senso do ridículo. Usando uma base diferente, outro autor calculou uma lista dos mais altos ratings já atingidos por jogadores de hoje e de ontem, onde Mikhail Tahl está em 38º lugar, Lasker em 27º, Botvinnik em 26º e Capablanca em 27º. O primeiro, claro, é Kasparov. Mas, o leitor já ouviu falar, por exemplo, em Dmitry Jakovenko? Trata-se de um promissor jovem de 24 anos, mas não há nada que tenha feito para que esteja quatro lugares acima de Capablanca (!), cinco acima de Botvinnik (!!), seis acima de Lasker (!!!) e 17 lugares acima de Tahl!!!! (O polonês Przemek Jahr é mais modesto: sua lista omite Capablanca, Lasker e Botvinnik; Tahl, no entanto, está em 27º – atrás até mesmo de Kasimdzhanov e outros que, convenhamos, estão muito longe de ser grandes jogadores no sentido em que Tahl foi grande).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não continuaremos mais a mostrar as distorções do cálculo de rating. Resta apenas observar que, com o comercialismo desenfreado, instituiu-se uma verdadeira ditadura do rating. É impressionante a obsessão de alguns com esse número. A origem dessa obsessão é evidente: cada vez mais os torneios são organizados em função dele. Alguém poderia dizer que, antes do sistema ELO, já eram. Sem dúvida é necessária uma forma de fazer com que os enfrentamentos sejam entre jogadores de força semelhante. No entanto, algumas das melhores coisas acontecidas em xadrez estiveram em partidas entre jogadores presumivelmente de força diferente. Se o sistema ELO existisse na época de Capablanca, como ele poderia, em 1911, ter jogado em San Sebastián, um torneio onde passou de desconhecido para vencedor em algumas semanas? No entanto, o problema não está essencialmente no sistema ELO, mas no modo como é usado - e manipulado. No momento, a situação é tal que até entre os Grandes Mestres – cujos critérios para a obtenção do título foram relaxados - existem os de primeira e os segunda categoria (ou, talvez, de primeira, segunda e terceira categorias...), dependendo do rating. O que não ajuda nem um pouco a enriquecer o desenvolvimento do jogo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">As conseqüências práticas – que, no final das contas, é o que importa - foram muito bem resumidas pelo GM armênio Serguei Movsesian, um dos finalistas do mundial de 1999, em carta aberta a Kasparov, respondendo à tentativa de enxovalhamento deste a essa disputa, organizada pela FIDE em Las Vegas. Por isso, transcrevemos alguns trechos:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“A questão não é: 'por que jogam sempre os mesmos em tais torneios?', mas, 'por que devem considerar-se a elite do xadrez, quais os critérios que dizem que eles são melhores que os demais mortais?'. Se nos basearmos nos ratings, então esses jogadores sem dúvida têm vantagem, porque ao jogar continuamente em torneios de alta categoria, sem o risco de perder pontos, redistribuem-nos entre si (....), enquanto os jogadores 'mortais' estão lutando por subir seus ratings, como é obrigação dos verdadeiros desportistas. Na realidade, você [Kasparov] e seus fornecedores de pontos abusam das imperfeições do sistema Elo (....). Por certo que o sistema de torneios com uma composição permanente de participantes já tem seguidores de 'êxito', [mas] se nos basearmos na força de jogo, não creio realmente que os componentes da 'élite' sejam melhores que os 'mortais' (....). Creio que você está condenado a proteger a seus favoritos, que pensam que você é Deus, sem os quais estaria obrigado a jogar com os 'plebeus'.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“É divertido que você compare os acontecimentos enxadrísticos com o tênis: 'Não posso recordar um torneio do Grand Slam sem a participação dos números 1, 2, 3 y 4 do ranking oficial, além do vencedor da edição anterior'. Mas você se 'esquece' imediatamente de dizer o mais importante: em todos os torneios de tênis os jogadores da 'élite' começam sua participação na segunda eliminatória e lutam pela vitória com os jogadores 'que andam a pé'. (....) Mas o que temos no xadrez? Seus torneios de 'élite', com uma composição permanente de participantes, fiéis súditos de Sua Majestade”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">SOFTWARE</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Voltando ao aspecto enxadrístico, se compararmos a contribuição de Kasparov com a de Botvinnik, Petrosian ou até mesmo Karpov, não é difícil concluir que seu predomínio deveu-se a outros fatores que não a profundidade estratégica. Este aspecto essencial do jogo ele absorveu bem, de Botvinnik e outros. Mas nunca se notabilizou por desenvolvê-lo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Ele foi o primeiro jogador, em nível magistral (ou seja, em nível de mestre e grande mestre), a se beneficiar do uso de computadores. Numa de suas entrevistas, diz ele que tinha armazenadas em seu computador 4 mil variantes. Se é verdade ou se era uma fanfarronada, não sabemos. Mas é perfeitamente possível. Junto com uma memória digna de um idiot savant, isso, pelo menos no começo de sua carreira, não foi pouca vantagem - Karpov, por exemplo, até hoje parece pouco adaptado aos computadores.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas o significado disso está, antes de tudo, no aspecto tático, o aspecto em que a maioria dos softwares de xadrez consegue bom desempenho. E, realmente, Kasparov, como Alekhine, foi antes de tudo um tático – o que não quer dizer, evidentemente, que não conhecesse estratégia (apesar do que já dissemos acima, essa ressalva é necessária em razão dos kasparovistas na mídia estarem sempre dispostos a usar um mal entendido - portanto, não venham argumentar que nós dissemos que se trata de um ignorante em estratégia, porque não foi isso o que dissemos). O match de 1995 contra Anand - este um jogador mais estratégico, “posicional” - é bem característico do que estamos dizendo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, o mais importante é que, declarando-se campeão mundial por fora da FIDE, isto é, acima de qualquer regulamentação, Kasparov escolhia seus oponentes. Assim, em 1998, com sua associação algo no ridículo, e sem que houvesse regra alguma para apontar o desafiante ao seu suposto título, ele quis organizar um match entre Anand e o então jovem Vladimir Kramnik. Qual o critério? Como ficou evidente depois, o critério era a vontade dele: Anand, ele já havia derrotado uma vez e Kramnik havia sido seu “segundo”. Portanto, devia achar que enfrentar o vencedor desse match era o menor risco.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, Anand, que tinha um contrato com a FIDE, recusou. Acertou-se, então, um match entre Kramnik e Alexei Shirov, na época em grande forma. O vencedor enfrentaria Kasparov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas Shirov tinha Valery Salov como treinador. Apesar de ser um jogador excepcional, Salov teve sua carreira encurtada pelas freqüentes recusas dos organizadores de torneios a convidá-lo: esta era uma condição imposta por Kasparov à sua própria participação. No entanto, ele havia sido campeão mundial sub-16 (1980); campeão europeu junior (1984); primeiro lugar (empatado com Alexander Beliavsky) no Campeonato da URSS de 1987; segundo lugar (empatado com Artur Yusupov) no Campeonato da URSS de 1988 (atrás apenas de Karpov e Kasparov, que terminaram empatados em primeiro lugar); e duas vezes esteve entre os candidatos a desafiante do campeão mundial (1988 e 1996).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Apesar dessa trajetória, como ele declarou em 2000, numa entrevista coletiva em León, “vetado por Kasparov, não tive um só convite nos últimos três anos aqui na Espanha e praticamente nada em todo o mundo”. Não era uma queixa: “sou muito otimista quanto às perspectivas”, disse ele. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, aconteceu o que Kasparov não esperava. Shirov derrotou Kramnik. Então, Kasparov recusou-se a cumprir o contrato que o obrigava a enfrentá-lo. Segundo suas palavras, Shirov “não era comercial” e isso dificultava conseguir patrocinadores. Além disso, a empresa de Kasparov e associados jamais pagou a Shirov o prêmio acordado para o match com Kramnik, enquanto que este recebeu a sua parte. Em suma, o match valia, desde que o vencedor fosse quem Kasparov queria... Mas exatamente aí ele se enganou: ao achar que Kramnik seria mais fácil do que Shirov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Seja como for, esse critério da falta de comercialidade de Shirov nem mesmo necessita de comentários. Imagine-se o que seria de qualquer esporte submetido de forma absoluta a esse critério. No mínimo, a Ana Maria Braga seria campeã olímpica de alguma coisa.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, Shirov é um daqueles táticos espetaculares - seria difícil achar que um jogador mais sólido, como Kramnik, pudesse ser, nessa época, mais “comercial” do que Shirov. É inevitável chegar à conclusão de que Kasparov queria evitar o confronto com Shirov por outra razão - sabe-se lá o que podia acontecer num match com um jogador tão imprevisível quanto ele... Em suma, o problema era medo de perder, o que não era impossível - o resultado do match com Kramnik demonstrava que não era.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em meio a uma grita geral - Shirov, antes soviético e letão, naturalizara-se espanhol e era o principal jogador de seu novo país - Kasparov anunciou que “preferia” jogar com Anand do que com o vencedor de Kramnik. Mas Anand respondeu outra vez, e publicamente, que tinha contrato com a FIDE e era “homem de palavra”. Algo que, provavelmente, Kasparov não entendeu. Afinal, oferecia-se um prêmio de US$ 2 milhões, com o vencedor levando 2/3. Que história é essa de palavra?, deve ter pensado.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">Depois de dois anos de confusão, em que empresas-fantasmas entravam e saiam de cena, realizou-se o match entre Kasparov e Kramnik - e Kasparov perdeu.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A derrota (não conseguiu vencer nenhuma partida, enquanto Kramnik, um excelente jogador posicional, isto é, estratégico, venceu a 2ª e a 10ª) selou o destino das siglas inventadas por Kasparov. Na verdade, nunca se tratou de um verdadeiro campeonato mundial, mas da promoção dele como herói da reação numa área em que os soviéticos – isto é, para todos os efeitos, os comunistas – tiveram longa hegemonia.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">FIDE</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Para terminar esta série - que nunca pretendemos fosse tão longa - restam algumas palavras sobre a época posterior à falência do mercantilismo desregrado no xadrez, época que ainda não foi inteiramente superada, mas cujo período mais selvagem e obscurantista já ficou para trás.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em 1995, com o pires na mão, a FIDE mudou seu presidente. Florencio Campomanes fui substituído por Kirsan Ilyumzhinov, também presidente da República da Kalmykia, um pequeno país às margens do Mar Cáspio, antes parte da URSS e hoje integrante da Federação Russa (os kalmíkios não chegam a 200 mil pessoas - somando-se os cidadãos de outras nacionalidades, principalmente russos, a república tem menos de 300 mil habitantes).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Aqui, mais uma vez, é necessário um cuidado especial para atermo-nos somente aos fatos, pois a propaganda contra Ilyumzhinov é algo fenomenal. O que sabemos de seguro é que ele tornou-se bilionário da mesma forma que os outros bilionários da ex-URSS: apropriando-se do patrimônio público. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É verdade que em relação às pretensões estrangeiras sobre o petróleo, o gás natural e o carvão, que são abundantes em seu pequeno país, ele tem mantido uma atitude de recusar a sua entrega.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Salov, que, diante da confusão no xadrez mundial, advogou a reunificação em torno da FIDE, ao ser interpelado sobre Ilyumzhinov pelo Mestre Internacional Ricardo Calvo, que acusava o presidente da Kalmykia, entre outras coisas, de mandar assassinar uma jornalista, por sinal, reacionaríssima, deu uma resposta interessante: “O Sr. Yeltsyn, o ex-presidente da Rússia, se encarregou pessoalmente de matar cinco mil civis em outubro de 93, de fuzilar o Parlamento legitimamente eleito, violando todos os princípios democráticos. E o que estavam escrevendo todos os nossos livres e democráticos jornalistas? - que ele era a única garantia da democracia na Rússia, que era algo necessário, que havia sido um mau Parlamento (....). A esse assassino em série estavam apoiando todas as forças 'democráticas' do mundo. (....) Então... Vamos deixar de demagogia (....). O Sr. Ilyumzhinov investiu mais de 20 milhões de dólares no mundo do xadrez. É a única diferença que há entre o Sr. Ilyumzhinov e qualquer outro político russo e, inclusive, diria eu, qualquer outro político americano”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-nnf7wwpfj4c/UWAggK8uLUI/AAAAAAAAQE0/yEvu8y8LI-s/s1600/Pintura+Cuadro+Gerard+Porftielje.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="246" src="http://2.bp.blogspot.com/-nnf7wwpfj4c/UWAggK8uLUI/AAAAAAAAQE0/yEvu8y8LI-s/s320/Pintura+Cuadro+Gerard+Porftielje.jpg" width="320" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Que o xadrez mundial esteja dependendo, em boa parte, de Ilyumzhinov, não é a melhor coisa do universo. O próprio Salov, comentarista oficial da FIDE nos matches de candidatos deste ano, em Elista (capital da Kalmykia), recebeu uma censura pública da entidade por entrar em assuntos políticos ao entrevistar, para o boletim do evento, a chinesa Xie Jun, duas vezes campeã mundial feminina. Salov havia comentado que “o Ocidente da Europa e os EUA são países totalitários (...). A imprensa está totalmente controlada”. Xie Jun lembrou que na China “temos só um partido, o comunista”. E Salov: “Nos EUA também só tem um partido, mas com dois nomes diferentes”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Realmente, era demais para Ilyumzhinov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Apesar disso, o torneio de San Luís, Argentina, em 2005, do qual o GM búlgaro Veselin Topalov saiu campeão mundial, o match de 2006, em que Kramnik venceu Topalov, e o recente torneio da Cidade do México, do qual Viswanathan Anand saiu campeão, são fatos, como diria alguém antigo, alvissareiros e auspiciosos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, a principal esperança do xadrez é a força coletiva dos enxadristas. Não é uma frase vazia: o movimento contra a guerra no Iraque, a que, em massa, os enxadristas aderiram, mostrou que essa força é real. Na época, houve apenas uma exceção: Kasparov, que advogou não somente o bombardeio e a invasão do Iraque por Bush, quanto a extensão da guerra à Síria e ao Irã. Mas isso, leitores, é uma voz do além. Que o diabo se encarregue dele.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">E por aqui ficamos, agradecendo a audiência - e a paciência. </span></b><br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriasegloriasfinal.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriasegloriasfinal.htm</a></b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-46525299486332481572013-04-06T06:16:00.000-07:002013-04-06T06:16:00.597-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 17<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-tILrCTCWScE/UWAdx-fbGYI/AAAAAAAAQD0/wSaFSMJzVjA/s1600/Karpov+27.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-tILrCTCWScE/UWAdx-fbGYI/AAAAAAAAQD0/wSaFSMJzVjA/s1600/Karpov+27.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 17</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Kasparov conseguiu ser preso pela polícia, no sábado, em Moscou. Seu retrato, acenando da janela de um ônibus da polícia, é suficiente. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Pode acreditar, leitor, e nós temos alguma experiência no assunto: ninguém que é realmente preso - isto é, preso contra a sua vontade - se dá ao luxo desse tipo de salamaleque, até porque o humor nessas horas não é muito propício a essas coisas. Mas, seu único programa eleitoral é posar de perseguido, tal como fazia nos tempos da URSS. Ele acha que isso pode funcionar agora, como funcionou antes. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A diferença é que, nesse intervalo de tempo, os russos tiveram a experiência do governo Yeltsyn e daquilo que Putin chamou de “ditadura das oligarquias”, isto é, a ditadura dos que se tornaram bilionários ao roubar o patrimônio público construído em 70 anos pelos povos que compunham a URSS. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Como já dissemos, sua oposição a Putin não é pelos seus defeitos - e não faltaria o que criticar, se sua candidatura fosse séria - mas pelas limitações que o atual presidente da Rússia estabeleceu para o império desses nababos. Obviamente, defender que seu verdadeiro programa é acabar com essas limitações, até Kasparov deve perceber que não rende voto. Daí a exumação da postura de perseguido.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-5HfUYoc6QtE/UWAdxx3XD1I/AAAAAAAAQD8/IfHkV4WwFXo/s1600/Karpov+28.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-5HfUYoc6QtE/UWAdxx3XD1I/AAAAAAAAQD8/IfHkV4WwFXo/s1600/Karpov+28.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não foi muito diferente a atitude de Kasparov em 1993. Como não existia mais a URSS, o escolhido como perseguidor foi a FIDE, mais concretamente, o seu presidente, Florencio Campomanes.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-jxPVDL7Qqb8/UWAdyhHuu9I/AAAAAAAAQEM/KOxsIXXO8qs/s1600/Karpov+29.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-jxPVDL7Qqb8/UWAdyhHuu9I/AAAAAAAAQEM/KOxsIXXO8qs/s1600/Karpov+29.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Pela primeira vez em 18 anos, Karpov não era um dos contendores no match final para decidir o campeão mundial. Perdera, na semifinal, para o inglês Nigel Short. O ex-campeão, nessa época, já havia entrado naquela que Botvinnik chamou de “idade perigosa” para um grande enxadrista – já tinha mais de 40 anos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">KRYLENKO</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Com o fim da URSS, acabara também a escola soviética de xadrez. Maiztegui Casas, no artigo que mencionamos na parte anterior deste artigo, considera-a “o movimento enxadrístico mais importante da história”, no que está certo. Nas suas palavras, “partindo da base de que o destino da revolução era gerar o homem novo, mais solidário, mais culto, mais inteligente e mais livre que o produzido pelo capitalismo (...) o xadrez era o terreno ideal para mostrar a superioridade do comunismo sobre o capitalismo. Por seu caráter eminentemente intelectual, por seu aspecto de luta e confrontação direta e por seus elementos dialéticos, o xadrez se prestava, como nenhuma outra atividade, a servir como teste da formação e desenvolvimento do homem novo e para constatar, passo a passo, seu predomínio sobre os burgueses” (grifos do autor).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Há algumas imprecisões nessa descrição: dificilmente os dirigentes soviéticos, sobretudo os da década de 30, achariam que “o xadrez era o terreno ideal para mostrar a superioridade do comunismo sobre o capitalismo”, o que colocaria o nosso jogo acima, por exemplo, da economia e da cultura... Além disso, Stalin, Molotov, e outros, não andavam procurando um aparelho para medir o “homem novo”. Por isso, não é prudente atribuir a eles a crença de que “o xadrez se prestava, como nenhuma outra atividade, para servir como teste da formação e desenvolvimento do homem novo”. Até porque, voltando ao argumento anterior, não faltavam atividades humanas mais decisivas para a Humanidade.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, Maiztegui Casas atribui essas concepções não a Stalin ou Zhdanov, principais teóricos do PCUS, mas ao então Comissário do Povo para a Justiça, Nikolai Krylenko. É possível, e Krylenko, sabidamente, supervisionou o xadrez soviético até o final de 1937 (ver as menções a ele nas memórias de Botvinnik, “Achieving The Aim”). Mesmo assim, isso necessita de comprovação.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Maiztégui Casas faz algumas considerações sobre a trajetória de Krylenko. Umas fazem parte daquilo que podemos chamar, caridosamente, de “lendas da CIA”. Outras, nem tanto. Portanto, é necessário dizer algo sobre o assunto, com base nos fatos conhecidos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Sabe-se que Krylenko, julgado como traidor e condenado no final da década de 30, esteve entre os primeiros casos a serem revistos na URSS. É interessante observar que, ao contrário da maioria, isso se deu em 1955, portanto, antes do 20º Congresso do PCUS e do relatório “secreto” de Kruschev (25 de fevereiro de 1956), numa época em que a história anterior ainda não havia se tornado anátema, e em que Molotov, Kaganovitch, Malenkov, e outros que depois foram afastados por Kruschev como “stalinistas”, ainda estavam na direção do partido e do Estado soviético. Sabe-se, também, que esses casos foram revistos após o afastamento de Lavrenti Béria da direção do partido e do ministério do interior, em 1953, e que o ataque inicial a Krylenko partiu de Bagírov, um dos mais chegados amigos de Béria, durante a sessão do Soviet Supremo de janeiro de 1938.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A acusação de Bagírov parece bastante mal fundamentada - mas não é possível um juízo definitivo, pois só conhecemos dela os trechos reproduzidos por Roy Medvedev (cf. a coletânea “Stalinism: Essays in Historical Interpretation”), que dificilmente pode ser considerado uma fonte isenta, ou, mesmo, com alguma confiabilidade ou solidez - seja nas conclusões, seja na reprodução de documentos históricos, seja quanto à coerência.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Por outro lado, Béria somente seria transferido da longínqua Geórgia para Moscou em agosto de 1938, portanto, seis meses depois do discurso de Bagírov e do afastamento de Krylenko - e somente em novembro desse mesmo ano ele substituiria Nikolai Yezhov no Comissariado do Interior (NKVD). </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Aparentemente, é impossível a interpretação de que partiu de Béria o ataque a Krylenko. Qual o seu interesse, em janeiro de 1938, no afastamento de Krylenko? É perfeitamente possível a existência de algum fato que desconhecemos que explique porque Béria queria afastar Krylenko, mas isso seria fazer uma especulação totalmente destituída de base factual. Simplesmente, não há prova disso.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, tudo o que foi dito acima pressupõe como segura a premissa de que Krylenko era inocente. Como essa é, em geral, a premissa dos anticomunistas ao abordar os processos e condenações ocorridos na URSS após 1934, é preciso, pois, acautelar-nos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Primeiro, porque Krylenko foi réu confesso. E sua trajetória não era a de um homem que confessaria, se não reconhecesse a sua culpa. A história de que ele teria sido torturado não foi provada, assim como não foi em relação aos outros réus dos “processos de Moscou”, e ela tem uma única fonte – um cartapácio denominado “Livro Negro do Comunismo”, que, como o leitor pode julgar pelo título, é uma obra muito isenta. Além disso, a presunção de que a tortura leva o torturado a confessar qualquer coisa, é uma crença muito conveniente aos torturadores, mas nem por isso é verdadeira. Apenas, não é um acaso que os anticomunistas doentios e os torturadores tenham esse credo em comum...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em segundo lugar, houve, realmente, na época, dirigentes do partido e do Estado que se tornaram culpados de traição. Em 1938, a URSS, sob pressão conjunta da Alemanha, da Inglaterra e da França, além de seus satélites no Leste europeu, estava à beira da guerra - uma guerra que, mesmo na direção do PCUS, muitos achavam que era impossível vencer. Daí, as tentativas, baseadas no medo e na ilusão, de fazer concessões, inclusive territoriais, para evitar a guerra - o que somente seria possível se fossem eliminados os principais dirigentes do partido e do Estado. Como sabemos, essas tentativas não foram bem sucedidas. Mas existiram, e não foram pouco importantes os que se envolveram nelas.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Por último, a “reabilitação” de Krylenko também é insuficiente como prova de sua inocência. Tukhachevsky, vice-comissário da Defesa até 1936, foi também “reabilitado” (é verdade que somente em janeiro de 1957, portanto, depois do 20º Congresso), apesar de todas as provas contra ele, inclusive provenientes de fontes anticomunistas, e da admissão atual de vários autores de que ele realmente tramava um golpe de Estado para barganhar, em seguida, com os alemães (para as fontes mais antigas, ver, p. ex., “Moscow 41”, de Alexander Werth; ou o próprio Churchill, “The Gathering Storm”; e a anotação feita por Goebbels, em seu diário, a respeito dos comentários de Hitler sobre a “oposição” de Tukhachevsky a Stalin).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Embora não tenhamos uma resposta completa para a significação do caso de Krylenko, é necessário levar em consideração os fatos, e não as lendas, ao se referir tanto a ele quanto a outras figuras da época. Botvinnik traça dele um retrato não isento de ambigüidade: “os jogadores ao mesmo tempo tinham medo e gostavam de Krylenko”. Ou: “não participei do campeonato da URSS de 1937 porque estava defendendo a minha tese. (....) Krylenko enviou-me um telegrama ameaçador: 'vou discutir sua conduta no Comitê Central'”, o que parece algo tanto autoritário quanto, simplesmente, bobo. Imagine-se o Comitê Central do PCUS, em 1937, assoberbado por problemas políticos nacionais e internacionais extremamente complexos, dedicar-se a discutir se Botvinnik agiu certo ou errado ao não participar do Campeonato Soviético de Xadrez daquele ano para dedicar-se à sua tese universitária...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, o mais importante é que, embora escrevendo 40 anos depois, Botvinnik não faz comentários sobre o afastamento e posterior condenação de Krylenko, o que, visto que ele foi “reabilitado” em 1955, seria natural esperar. Aliás, considerando a cúpula soviética da época em que escreveu suas memórias, se ele fizesse isso, até seria bem visto. No entanto, a impressão que ele passa é a de que se sentiu aliviado com o afastamento de Krylenko.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">CONFUSÃO</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;">Fomos obrigados a essa digressão pelos problemas históricos colocados pelo texto de Maiztegui Casas. Entretanto, isso não lhe retira o mérito de haver percebido que a escola soviética de xadrez era a aplicação, em um campo específico, de uma visão geral de mundo. Obviamente, isso incluía um freio ao comercialismo e tinha no centro a idéia de que jogadores de xadrez não são apenas jogadores de xadrez, mas seres humanos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Este último aspecto estava implícito quando Botvinnik disse que Fischer era “uma máquina de calcular”. Apesar de Fischer ter sido o jogador ocidental que mais absorveu as pesquisas soviéticas em xadrez, isso não o fazia membro da escola soviética - nada mais estranho a ela do que um sujeito que só jogava xadrez, só pensava em xadrez e somente lia sobre xadrez.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Assim, Botvinnik foi um dos cientistas mais importantes na área elétrica e, depois, na informática. Smyslov era um cantor lírico de méritos. Taimanov era um excepcional pianista. Tahl, apesar de seu quase vício pelo xadrez, um professor de literatura. Talvez o único que dedicou-se somente ao xadrez tenha sido Petrosian, que, devido às circunstâncias da vida, era antes um trabalhador braçal pouco qualificado.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Hoje em dia é mais ou menos habitual que alguns jovens, estilo Magnus Carlsen, abandonem a escola para dedicar-se ao xadrez. Antes de Fischer, até no ocidente isso era inadmissível: ver a sentença da Justiça americana que separou o então menino-prodígio Samuel Reshevsky dos pais, que, em vez de cuidar de sua educação, dedicaram-se a ganhar dinheiro com as exibições do filho. Mas isso, é claro, foi no governo Roosevelt...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A escola soviética de xadrez compreendia também uma estrutura, que tinha por base as instituições dos “pioneiros”. Mas tudo isso deixou de existir com a URSS.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">PCA & ETC.</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em 1993, o conflito de Kasparov com a FIDE era basicamente o conflito do mercantilismo sem limites com os freios a ele que ainda existiam - em suma, com o que restava da escola soviética de xadrez. A FIDE, apesar de sua trajetória de curvar-se aos ditames ocidentais da “guerra fria”, ainda conservava algum respeito pela esportividade.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Ao negociar com Alekhine, em 1938, um match pelo título mundial, Botvinnik surpreendeu-se com a desenvoltura do então campeão em questões monetárias. E comentou, sobre si mesmo: “eu não tinha necessidade de dinheiro”. Ou seja, jogar xadrez, para ele, não era um meio de vida, muito menos de enriquecer.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mais de cinquenta anos depois, Kasparov e Short resolveram passar por cima da FIDE e realizar um match, sob os auspícios do “The Times”, de Londres, pelo título de campeão mundial - e, naturalmente, Short não era páreo para Kasparov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A associação paralela fundada por Kasparov, a PCA (Professional Chess Association), que sucedeu a GMA e antecedeu o WCC (todas essas siglas rotulando um mesmo conteúdo, apenas com contratos comerciais algo diversos) poderia ser definida por duas características: a) um mercantilismo sem limites - o xadrez em função dos patrocinadores, isto é, do dinheiro; b) uma corte para Kasparov - tanto assim que deixou (ou deixaram) de existir logo que Kasparov perdeu um match organizado por ela: contra Kramnik, em outubro de 2000. Não era para isso que ela existia.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-z_Fbdkm4t90/UWAdx0BuLpI/AAAAAAAAQD4/EIs4GoZlhE8/s1600/Karpov+26.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-z_Fbdkm4t90/UWAdx0BuLpI/AAAAAAAAQD4/EIs4GoZlhE8/s1600/Karpov+26.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div>
<br /></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, após 1993, o que se tornou inviável foi a FIDE. Sem a URSS, também ela passou a depender de patrocinadores. Mas estes, a começar pela Intel, preferiram a associação de Kasparov - que, afinal, havia sido fundada para servi-los, em troca de algumas migalhas (e, se o leitor achar exagerado essa palavra, diríamos que, para esses financiadores, o que passaram para a PCA não merece outro nome).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Da mesma forma, a mídia. O leitor que não é um aficionado em xadrez já deve ter ouvido que Kasparov continuou campeão do mundo ao vencer Short em 1993. Mas certamente ignora que o campeão da FIDE, ao vencer Timman, foi, outra vez, Karpov. Que Kasparov venceu o indiano Viswanathan Anand no campeonato seguinte, mas não que Karpov foi outra vez o campeão, ao vencer Kamsky. Nem que, em 1998, o mesmo Karpov venceu o mesmo Anand que havia perdido de Kasparov, pelo título de campeão do mundo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em suma, instaurou-se a confusão geral. Jogadores iam da FIDE para a PCA e da PCA para a FIDE, sem que esta mantivesse a mínima autoridade moral sobre o xadrez mundial. No meio dessa confusão, Kasparov ainda arrumou um match pelo título mundial com... um programa de computador, o famoso Deep Blue. Obviamente, não é essa a versão de Kasparov, mas alguém recordou que ele havia escrito: “Usando os modos geralmente aceitos de contar os campeões, Garry Kasparov é o 13º campeão; o único modo de alguém tornar-se o 14º é derrotar o 13º” (Chess Life, 08/1993). Ele não se advertiu de que, por esse desregrado critério, Fischer ainda seria o campeão mundial. Mas, quando Kasparov perdeu para o Deep Blue, num match em 1997, vários saudaram o novo campeão...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-rNYvYNTEIag/UWAd131Q7nI/AAAAAAAAQEU/MFA4gKZR58A/s1600/Bronstein+5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-rNYvYNTEIag/UWAd131Q7nI/AAAAAAAAQEU/MFA4gKZR58A/s1600/Bronstein+5.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Na verdade, os supostos duelos “homem x máquina” são outro capitulo dessa comédia. É evidente que jogar com um computador é jogar com uma criação humana. Portanto, não se justifica tal alarido em torno desses matches, senão como forma de ganhar dinheiro. Além do mais, como observaram Karpov, Susan Polgar e outros, um duelo desse tipo somente seria justo se o programa de computador contasse apenas com seus próprios recursos. No entanto, isso não é verdade: os programas de computador, até hoje, não conseguem jogar bem uma abertura nem um final de jogo. A solução foi dar a ele livros de abertura e de finais (“tablebases”) onde as posições já estão determinadas, além, evidentemente, de um banco de partidas, jogadas por humanos, cada vez maior. Em um jogo onde, além do mais, o tempo é decisivo, isso torna a partida cada vez mais desigual - não para a “máquina” em relação ao “humano”, mas para os humanos que criaram o programa em relação ao jogador humano que o enfrenta sem livro de aberturas, sem livro de finais e sem poder consultar um banco de dados de partidas.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-XFO8Je2_x34/UWAe8rajGMI/AAAAAAAAQEc/IUv7q6poDCs/s1600/Kasparov+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-XFO8Je2_x34/UWAe8rajGMI/AAAAAAAAQEc/IUv7q6poDCs/s1600/Kasparov+4.jpg" /></a></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Esse é o aspecto falso mas não fraudulento desses duelos. Porém, há outro: em 2003, quando outro duelo “homem x máquina” foi promovido, com Kasparov recebendo US$ 500 mil e mais uma bolsa de igual magnitude (60% se vencesse, 40% se perdesse), pagos pela Technologies Corporation para promover o seu “Deep Júnior”, aconteceram algumas coisas incríveis.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Na primeira partida, o “Deep Júnior” fez uma tenebrosa 17ª jogada e perdeu a partida. Na terceira, Kasparov resolveu retribuir a gentileza e competir com a máquina em cálculo - o que ele sabia, desde o Deep Blue, que é praticamente impossível. Programas de computador podem ser vencidos porque sua análise da posição não é acurada, mas jamais no cálculo de seqüências de jogadas - afinal, é para calcular coisas semelhantes que os computadores e seus programas existem.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Pjec26pBDqg/UWAe8hKeOsI/AAAAAAAAQEg/GPrVI6GzY0o/s1600/Kasparov+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Pjec26pBDqg/UWAe8hKeOsI/AAAAAAAAQEg/GPrVI6GzY0o/s1600/Kasparov+3.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Na 5ª partida, o computador simplesmente sacrificou uma peça sem compensação, ou seja, fez um sacrifício errado, algo inédito, pois se trata de um grosseiro erro de cálculo. Mas nem por isso perdeu a partida. Na 16ª jogada, numa posição ganhadora, Kasparov ignorou a óbvia continuação e o computador forçou o empate. Depois disso, na última partida, estando numa posição superior, Kasparov propôs o empate, o que deixou o match igualado.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Escrevendo no site “Jaque”, Amador Cuesta Robledo resumiu: “a palhaçada do match Kasparov x Deep Júnior só é comparável a outra pantomima, também sem graça nenhuma, que foi o match Kramnik x Deep Fritz”, também finalizado com empate. Cuesta Robledo nota que esses empates entre “homem” e “máquina” só serviam para que houvesse “outros matches e mais dinheiro para esses espertalhões”. E, sobre a última partida: “mesmo com posição superior, Kasparov propôs empate, igualando o match em definitivo. E logo teremos uma revanche, porquanto nunca faltarão imbecis para prestigiar esses ridículos despropósitos” (citações de Cuesta Robledo em Hélder Câmara, “A Festa Circense”, 15/02/2003).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Quanto ao último item, Cuesta Robledo parece que não tinha razão: já há algum tempo estão escasseando os imbecis para essas finalidades. Mas acertou em relação a “outros matches”. No mesmo ano, Kasparov conseguiu outro confronto “homem x máquina”, dessa vez para promover uma versão do programa alemão “Fritz”. Naturalmente, o match terminou empatado. Por que o fabricante iria pagar a ele US$ 175 mil? Para ter a propaganda de sua mercadoria prejudicada? Mas é sintomático que o cachê tenha descido de preço, razoavelmente, em poucos meses.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias17.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias17.htm</a></b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-65035830861065245782013-04-06T05:57:00.002-07:002013-04-06T05:59:49.743-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 16<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-o-I5NGVP528/UWAYG7k-BhI/AAAAAAAAQDg/IwHHp0XVFdU/s1600/Karpov+17.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-o-I5NGVP528/UWAYG7k-BhI/AAAAAAAAQDg/IwHHp0XVFdU/s1600/Karpov+17.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 16</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;">A avaliação de que o encerramento do primeiro match favoreceu a Kasparov não é somente nossa. Em artigo publicado pela revista espanhola “Jaque”, o enxadrista e historiador uruguaio Maiztegui Casas, depois de mencionar que foi o socorro de Botvinnik que salvou seu “aluno predileto” da derrota, refere-se à atitude do velho campeão diante da decisão da FIDE: “Sem dúvida, consciente de que o verdadeiro favorecido naquela decisão era seu aluno (fato que somente se pode negar por fanatismo ou estupidez), ele apoiou a decisão de Campomanes e levou Kasparov pela mão até o título mundial” (Lincoln R. Maiztegui Casas, “Mijaíl Botvínik o la muerte de un superviviente – Un régimen, una escola, un hombre”).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Devemos o conhecimento deste artigo a um amigo, Fabrício Teixeira, ex-campeão estadual master do Rio de Janeiro e ás do xadrez rápido – único grande jogador de partidas de 1 minuto que conheço. Fabrício, conhecido nas polêmicas da Internet pelo pseudônimo de Romário, é uma inestimável fonte de informações e documentos sobre a história do xadrez.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-Dr1HAEnPSUc/UWAazd5_8BI/AAAAAAAAQDk/elG4bi0sNCA/s1600/Karpov+24.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-Dr1HAEnPSUc/UWAazd5_8BI/AAAAAAAAQDk/elG4bi0sNCA/s1600/Karpov+24.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, continua o professor Maiztegui Casas, sobre a relação entre Kasparov e o maior dos jogadores soviéticos:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Kasparov lhe deu o agradecimento da vaca atolada no pântano [fábula sobre a ingratidão equivalente à nossa do escorpião]. Quando Botvinnik discordou de alguns aspectos da sua conduta desportiva, rompeu com ele e dedicou-se a criticá-lo, vilipendiá-lo e até ridicularizá-lo de maneira permanente.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“No entanto, ninguém foi capaz de adivinhar a que extremos ele podia chegar. Em uma atitude que constitui todo um monumento à mesquinhez e à ingratidão, Kasparov se opôs a que Botvinnik fosse convidado a assistir as Olimpíadas de 1994 em Moscou, pretendendo que, se ele queria ver as partidas, que pagasse o seu ingresso, como qualquer um”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Por desnecessário, não faremos comentários. Apenas acrescentaremos a informação de que Kasparov foi o principal organizador dessa Olimpíada, por sinal, a mais caótica de todas elas. Daí seu poder de determinar ou de vetar quem seria ou não convidado, em um evento que, oficialmente, era promovido pela FIDE – precisamente, a entidade contra a qual Kasparov estava abertamente amotinado desde 1993.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Por último, Botvinnik não esteve lá. Nem Karpov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">MOSCOU</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em 1990, cheguei a Moscou no mesmo dia em que começava, em Nova Iorque, o quinto match entre Karpov e Kasparov pelo título mundial. Impressionou-me, imediatamente, como os jovens – quase todos enxadristas, mais ou menos como no Brasil quase todos os jovens batem uma bola – torciam por Kasparov. Eles repetiam histórias que já haviam saído cinco anos antes na imprensa ocidental como se fossem fatos e verdades – mesmo depois que, em nosso lado do mundo, a destrutiva e empulhadora autobiografia de Kasparov, “Filho da Mudança”, nas palavras do GM Jonathan Tisdall, “foi muito eficiente para causar uma lenta, mas crescente onda de popularidade em direção a Karpov, que continua até hoje” (cf., Seirawan e Tisdall, “Five Crowns”, I.C.E., 1991 – a edição brasileira, de 2004, é uma tradução bastante ruim).</span></b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-BgybPinrx8k/UWAYHAFf4kI/AAAAAAAAQDc/KftnUqI0SCs/s1600/Karpov+18.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-BgybPinrx8k/UWAYHAFf4kI/AAAAAAAAQDc/KftnUqI0SCs/s1600/Karpov+18.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em Moscou, perguntei a Dimitri, um jovem bastante inteligente – com apenas 20 anos ele dominava bastante bem o português e tinha um conhecimento extenso, ainda que não muito profundo, da obra de Lenin e dos clássicos da literatura mundial - porque ele dizia que Karpov era um protegido da burocracia. Não soube explicar. Karpov era um protegido porque era óbvio que ele era um protegido.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">Que Deus nos livre das coisas “óbvias”! Em resumo, interpretei depois, aquilo era o que a imprensa dizia e, portanto, para Dimitri isso era o equivalente da verdade. Aliás, era a própria verdade.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não era mais apenas a imprensa estrangeira que elevava Kasparov a um pedestal mais alto que Capablanca - e, principalmente, apresentava Karpov como um privilegiado por Brezhnev e outros dirigentes. A imprensa soviética - que, de facto, já havia deixado de ser soviética -, também. A rigor, ela repetia o que a outra publicara e continuava publicando. O que em uma era tentativa de usar um renegado em prol de seus interesses, na outra era repulsiva bajulação por parte daqueles que, no socialismo, achavam que o ideal maior de suas vidas era ser capitalistas. A isso, sob Gorbachev, se denominava “glasnost”. Kasparov, naturalmente, era o ídolo dessa gente.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Cinco anos antes, em 1985, a situação não era exatamente essa – mas já era indisfarçável o favorecimento a Kasparov também na imprensa soviética, o que não era um problema fácil para Karpov. Até mesmo Botvinnik, quando enfrentou Tahl, havia arfado sob o peso do apoio da imprensa a um oponente. Petrosian, falecido no ano anterior, ressentira-se disso durante, praticamente, toda a sua carreira no xadrez. E Karpov, do ponto de vista tanto ideológico quanto psicológico, não era um Botvinnik. Nem mesmo era um Petrosian.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, sua reação, durante o match, surpreendeu.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Na primeira partida, estava claramente inseguro. Demorou demais logo no quarto lance, claudicando na abertura – e, no entanto, estava jogando a Defesa Nimzoíndia, que alguns (por exemplo, Ludek Pachman, que já foi o autor mais lido entre os enxadristas) consideram, com alguma razão, a base do xadrez moderno. Na 20ª jogada, não reconheceu um erro de Kasparov – respondeu a esse erro com outro erro. Logo em seguida, perdeu um peão – e, com esse peão, a partida.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Na segunda, Karpov conseguiu evitar a derrota – ou, talvez, o mais correto seja dizer que, devido a seus erros, Kasparov desperdiçou a vitória, e não passou de um empate. Logo em seguida, Karpov pediu adiamento da próxima partida, um adiamento muito precoce, antes que um décimo do match fosse disputado.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A terceira foi um empate em 20 jogadas – por proposta de Kasparov, e aceito pelo campeão.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-IS4cupi4wD4/UWAaz-GT8vI/AAAAAAAAQDo/CNCEbo03vP8/s1600/Karpov+25.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-IS4cupi4wD4/UWAaz-GT8vI/AAAAAAAAQDo/CNCEbo03vP8/s1600/Karpov+25.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, quando as previsões em relação a Karpov já eram as mais pessimistas, na quarta partida ele partiu para o ataque. Depois de 63 movimentos, com um adiamento pelo meio, ganhou a partida. O match estava empatado. Na seguinte, conseguiu rechaçar o ataque de Kasparov e venceu outra vez. Karpov estava, agora, à frente no score. Depois da quinta partida, derrotado seguidamente duas vezes, foi Kasparov quem pediu adiamento do próximo jogo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Seguiram-se 5 empates, mas Karpov parecia ter-se recomposto.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, na 11ª partida, quando o jogo estava equilibrado, Karpov cometeu um erro incrível para um Grande Mestre no 22º lance. Os nervos pareciam falhar no momento decisivo. O match estava, outra vez, empatado.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Depois de quatro empates, Kasparov realmente fez um jogo excepcional na 16ª partida, e venceu, depois de 40 movimentos, passando à frente no score. Mas, na 19ª, quando venceu outra vez, nitidamente foi Karpov que causou sua própria derrota, com mais um erro muito pouco característico dele.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Foi nesta partida que Kasparov, ao adiar a continuação, encontrou uma forma de demonstrar seu desrespeito ao oponente: jogou no tabuleiro o lance que selava no envelope, isto é, o lance que deveria ser secreto. Não houve medida por parte da arbitragem – do ponto de vista formal, revelar o próprio lance secreto não era proibido. Mas era evidente a intenção: passar desdém pela capacidade de análise do outro jogador, e de sua equipe. Portanto, um atitude anti-esportiva. Não foi por acaso que ele havia feito uma campanha tão escandalosa para afastar Gligoric da arbitragem.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Kasparov fez a mesma coisa no jogo seguinte, também sem protestos (nem isso) do árbitro. Nesta partida, Karpov tinha uma ligeira vantagem quando foi adiada a continuação, e, quando retomada, tentou a vitória até o 83º movimento, quando o empate foi inevitável.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, na partida que veio a seguir, foi Kasparov quem fracassou e jogou a vitória pela janela, devido a um erro no 40º movimento. Outro empate, e ele ainda estava à frente no score.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas a 22ª partida foi, finalmente, uma vitória típica de Karpov, isto é, uma vitória estratégica. Assim, ele diminuiu a distância e, com o empate na 23ª partida, a decisão foi para o último jogo do match. Para manter o título, Karpov precisava ganhar. Para conquistá-lo, bastava a Kasparov empatar.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">A ESCOLHA</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Essa última partida condensa os problemas de Karpov nessa época. A começar pela escolha da abertura. Certamente, a idéia de abrir com o peão do rei era partir para o ataque desde o início. Mas, numa partida decisiva, em que se precisa ganhar, isso é uma temeridade contra um forte jogador tático, como era o caso de Kasparov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Além disso, é evidente que esta não é a única forma de atacar – sobretudo quando a força de Karpov sempre foi alicerçada na estratégia e a debilidade de Kasparov não está na tática. A abertura que Karpov escolheu facilita os recursos táticos e, sobretudo, as ameaças táticas, em que seu oponente é muito forte. Ou seja, Karpov escolheu o terreno do adversário para travar a luta, não o seu terreno.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É possível que essa escolha tenha sido determinada por considerações psicológicas – Bronstein, em 1951, surpreendeu Botvinnik ao escolher as linhas favoritas do oponente. Se foi essa a razão, a avaliação sobre Kasparov estava inteiramente errada e pior ainda estava a avaliação sobre a situação em que se travava a partida. Daremos um exemplo clássico, para que o leitor não aficionado em xadrez tenha idéia da questão a que estamos nos referindo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Existe uma famosa partida decisiva de Lasker, travada contra ninguém menos do que Capablanca, em que a complexidade desses problemas de avaliação psicológica são particularmente nítidos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No torneio de St. Petersburg de 1914, em que participaram todos os grandes jogadores da época – dando origem ao título de Grande Mestre, como foi mencionado na primeira parte deste artigo – Capablanca estava à frente de todos, quando, na 18ª rodada, enfrentou Lasker, então campeão mundial.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Com apenas dois jogos para completar a tabela (enquanto Capablanca tinha ainda mais três – contra Tarrasch, Marshall e Alekhine – que, posteriormente, venceu), a única chance aritmética de Lasker ser o vencedor do torneio era bater Capablanca nessa partida. Já para o grande jogador cubano, bastava um empate com Lasker para conquistar o primeiro lugar.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Como Karpov na 24ª partida do segundo match com Kasparov, Lasker jogava com as brancas, ou seja, iniciava o jogo. Precisando vencer, e com a vantagem de começar a partida, esperava-se que ele fosse logo para o ataque. Surpreendentemente, Lasker escolheu uma linha, a chamada “variante das trocas” da Abertura Ruy López (ou Abertura Espanhola), conhecida por ser pouco agressiva – a rigor, notória como uma boa escolha quando o jogador com as brancas queria apenas empatar. No entanto, ele precisava da vitória – e contra Capablanca!</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Demolindo os prognósticos dos que assistiam ao torneio, Lasker ganhou o jogo – e o primeiro lugar no torneio, deixando Capablanca em segundo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em seu livro “Os Grandes Mestres do Tabuleiro” (1930), Ricardo Reti, o mestre tcheco que, 10 anos depois de St. Petersburgo, pôs fim a oito anos de invencibilidade do cubano (ver a segunda parte deste artigo), analisa a partida de Lasker em 1914 e faz a seguinte observação:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Não é admissível que Lasker considere essa variante como forte (....). Portanto, é preciso supor que novamente são motivos psicológicos que o induzem a empregar essa variante em momentos transcendentais. Examinando-se as circunstâncias em que se encontrava Lasker, conclui-se que ele escolheu essa variante sempre que pôde supor em seu oponente a intenção de limitar-se a conseguir um empate. Se jogamos uma partida com a firme intenção de não empreender um ataque e de não arriscar-se, de só simplificar [ou seja, trocar peças, eliminando-as do tabuleiro]; se já tomamos de antemão essa determinação, tendo chegado a um estado de ânimo pacífico; então é muito difícil mudar de intenção durante a partida e jogar repentinamente com base num acirrado ataque. Porém, é inerente à 'variante das trocas' que as negras devem jogar no ataque e pela vitória, não pelo empate, pois, se decidimos pela simplificação, esta conduzirá para onde as brancas querem: a um final perdido para as negras. Este é o motivo psicológico pelo qual Lasker adota a 'variante das trocas' em partidas decisivas, quando acredita que desde o início seu oponente joga com a intenção de empatar”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Ou seja, se Capablanca queria, ao menos, empatar, deveria, diante da linha escolhida por Lasker, ter jogado pela vitória. Ele não o fez – e perdeu a liderança do torneio, que mantinha desde seu início, no último momento.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Avaliações psicológicas desse tipo não são fáceis. Trata-se de escolher o terreno psicológico mais favorável para si e menos favorável para o oponente. Por isso, determinadas linhas que teoricamente (ou seja, lógica e matematicamente) são pouco sólidas, continuam sendo praticadas com sucesso - pois a escolha da linha tem de levar em consideração não apenas o elemento puramente teórico, ou seja, abstrato, mas a figura concreta do oponente, seu estilo, conhecimento, preferências, e, sobretudo, as condições reais em que se trava a partida.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não parece ter sido por motivos desse tipo que Karpov, na última partida do segundo match, escolheu abrir com o peão do rei. Ou, mais exatamente, não parece ter sido em função de uma avaliação psicológica precisa de Kasparov que a linha de Karpov foi escolhida. Pelo contrário, a motivação psicológica parece ter sido a oposta – tentar vencer o oponente em seu campo de batalha favorito, talvez exorcizasse as ofensas e infâmias que ele, Karpov, vinha sofrendo, diariamente, já havia mais de um ano.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Infelizmente, esse é um mau motivo, determinado por uma auto-estima em estado de conservação algo precário. Kasparov sacrificou dois peões para criar uma posição dificílima, e Karpov errou, perdendo uma peça, a partida e o título de campeão mundial de xadrez.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">SEVILHA</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não tomaremos o tempo do leitor com a descrição em minúcias dos cinco matches entre Karpov e Kasparov. Nem com as mesquinharias, que não foram em número modesto.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Diremos apenas que o match-revanche, no ano seguinte, seguiu mais ou menos o padrão deste, e que, na disputa seguinte, Karpov foi outra vez o oponente de Kasparov, que não conseguiu vencê-lo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas Karpov também não conseguiu vencer – o match em Sevilha terminou empatado, devido a seus erros. Na 11ª partida, quando em nenhum momento anterior Kasparov conseguiu estar à frente do score, houve o que Tisdall, com razão, chamou de “erro gritante” por parte de Karpov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Entretanto, na 16ª partida, Karpov igualou, vencendo de forma brilhante. A partir daí, Kasparov tentou empatar – se o score se mantivesse igualado até o fim das 24 partidas, ele manteria o título. Karpov aumentou a pressão, pois precisava de mais uma vitória e um empate para reconquistar o título. E, realmente, na penúltima partida, depois de uma jogada brilhante de Karpov, Kasparov ficou em desvantagem e acabou por cometer um erro crasso. Em situações de pressão, ele reagia pior do que Karpov. O problema é que, nos cinco matches, foi este que teve de agüentar a pressão.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Bastava a Karpov, agora, empatar na partida final. Foi um jogo em que ambos os jogadores tiveram a vitória e a desperdiçaram. Mas o último erro foi de Karpov, perdendo a partida e a oportunidade de reconquistar o título.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A partir desse momento – embora já tenha começado antes – Kasparov voltou-se abertamente contra o que restava da estrutura do xadrez mundial, construída após a II Guerra. De certa forma – aliás, de todas as formas – aquela também era uma criação soviética, com seus freios ao comercialismo, seus limites ao vale-tudo e seus ideais de uma comunidade mundial.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Sobretudo, a atividade de Kasparov iria voltar-se contra a escola soviética de xadrez, que não era um mero estilo de jogar, mas toda uma visão de mundo aplicada ao xadrez, que tinha por conseqüência uma determinada forma de jogar. Talvez por isso tenha se tornado tão raivoso em relação ao homem a quem devia a sua formação enxadrística, Mikhail Botvinnik. Aliás, devia a ele o título de campeão mundial. Talvez fosse exatamente isso o que ele não podia suportar em Botvinnik: dever algo a alguém – e, pior ainda, todos saberem o quanto ele devia. E Botvinnik era, precisamente, o fundador da escola soviética em xadrez.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não se tratava apenas de uma tendência sociopática de querer submeter a tudo e a todos – havia interesses bem concretos a açulá-lo e condições políticas novas, nas quais seriam muito úteis as suas tendências anti-sociais. Reagan – ou, melhor, os que usavam esse decrépito canastrão - já estava em campo. Na URSS, Kasparov foi um dos dois heróis que eles conseguiram arrumar. O outro era Bóris Yeltsin. Uma dupla interessante: um sociopata e um alcoólatra.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias16.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias16.htm</a></b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-85154229290017386382013-04-06T05:49:00.001-07:002013-04-06T05:49:04.273-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 15<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-BgybPinrx8k/UWAYHAFf4kI/AAAAAAAAQCk/t4vjWQtlC1g/s1600/Karpov+18.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-BgybPinrx8k/UWAYHAFf4kI/AAAAAAAAQCk/t4vjWQtlC1g/s1600/Karpov+18.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 15</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Em julho de 1985, a FIDE estabeleceu as regras para a nova disputa pelo título: o match entre Karpov e Kasparov voltaria a ter o número fixo de 24 partidas; em caso de empate, o campeão manteria o título; e, em caso de derrota, teria direito a um match-revanche.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em suma, a solução para o impasse na disputa pelo título mundial, causado pela regressão às normas de 1927, foi, simplesmente, voltar às normas elaboradas por Botvinnik e aprovadas pelo Congresso da FIDE de Paris, em 1949 - regras que haviam, sob pressão anti-soviética, sido alteradas pela própria FIDE desde 1963 e, especialmente, desde 1975. Nada poderia demonstrar de forma tão nítida a artificialidade daquelas mudanças: a FIDE parecia não saber o que fazer, senão repetir o que já havia sido feito.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-fwo0UbixCAs/UWAYHFnzTBI/AAAAAAAAQCo/Q4aaI0vOqV4/s1600/Karpov+19.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-fwo0UbixCAs/UWAYHFnzTBI/AAAAAAAAQCo/Q4aaI0vOqV4/s1600/Karpov+19.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Ao contrário do que disse Kasparov, a decisão não era uma concessão aos soviéticos, isto é, a Karpov. Ele conseguira o principal: garantir que o novo match começasse do zero, sem levar em consideração as 48 partidas anteriores. Era sobre Karpov que recaía esse golpe. Como já mencionamos, ele não pedira a anulação do match anterior – havia sido explicitamente contra a medida. No entanto, era penalizado com a anulação de cinco vitórias legítimas e duríssimas.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É verdade que o presidente da FIDE, Florencio Campomanes, havia, ao dar por terminado o primeiro match, em fevereiro, adiantado a proposta de que o novo match começasse em 0-0, mas essa questão dependia de aprovação posterior da entidade.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-o-I5NGVP528/UWAYG7k-BhI/AAAAAAAAQCs/R2KYQ1teyes/s1600/Karpov+17.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-o-I5NGVP528/UWAYG7k-BhI/AAAAAAAAQCs/R2KYQ1teyes/s1600/Karpov+17.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Apesar de claramente a seu favor, até hoje Kasparov repete que Campomanes, por pressão dos soviéticos, anulou o primeiro match para beneficiar Karpov. Pode ser que ele acredite nisso. É comum os charlatães, mais ainda os charlatães políticos, acreditarem na própria charlatanice. Porém, é difícil ver Campomanes, homem ligado à ditadura de Ferdinando Marcos – que, até quando se tornou um estorvo, foi o sustentáculo dos EUA no cerco à URSS a partir da Ásia - fazendo algo para beneficiar os soviéticos. Ainda mais com os norte-americanos concordando.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, não é bom simplificar a questão, mesmo que não tenhamos, por enquanto, uma explicação completa para ela: no final do primeiro match, realmente, Karpov estava muito mais desgastado, física e psiquicamente, do que Kasparov. Este, inclusive, ganhara as duas últimas partidas. Certamente, esticar ao infinito o match, até exaurir o oponente, era a tática de Kasparov, não a de Karpov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">ENCERRAMENTO</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Como essa é uma questão que até hoje causa acirradas polêmicas, não poderemos evitar o exame de alguns detalhes.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-tRGT6XInuAg/UWAYJ_c0_tI/AAAAAAAAQDM/KJVC1P1Bxgw/s1600/Karpov+24.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-tRGT6XInuAg/UWAYJ_c0_tI/AAAAAAAAQDM/KJVC1P1Bxgw/s1600/Karpov+24.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Após a 47ª partida, jogada em 30 de janeiro, uma quarta-feira, Karpov pediu um adiamento da próxima, marcada para a sexta. Nesse dia, 1º de fevereiro de 1985, o presidente da FIDE, Florencio Campomanes, propôs a Yuri Mamedov, chefe da delegação de Kasparov, que o match fosse encerrado depois de mais oito partidas. Após esses oito jogos, se ainda não houvesse uma decisão (ou seja, se nenhum dos jogadores completasse as seis vitórias), Campomanes propunha a realização de um novo match, com número máximo de 24 partidas, e score começando em 0-0.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mamedov disse que ia consultar Kasparov. Em seguida, Campomanes viajou e o ex-presidente da federação da Alemanha Ocidental, Alfred Kinzel, também presidente do comitê de recursos do match, ficou encarregado, pela FIDE, das negociações.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Kasparov recusou a proposta por causa do risco: bastaria a Karpov vencer uma dessas oito partidas para manter o título, enquanto ele ainda precisaria vencer quatro delas. Ou seja, era bastante claro para ele o risco da continuação do match – o que, aliás, não demandava muita perspicácia. Reparemos que a sua argumentação também serve para a continuação do match tal como então estava sendo disputado, com número ilimitado de partidas até que um dos jogadores vencesse seis delas. Tanto num caso quanto noutro, ele precisaria, após a 47ª partida, vencer mais quatro, enquanto Karpov precisaria apenas de uma vitória. Mas é evidente que ele notou a tendência da cúpula da FIDE para realizar outro match, começando em 0-0. Isso, naturalmente, o livraria de correr o risco ao qual se referiu.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-g8dxiF5GdX0/UWAYIVoo6YI/AAAAAAAAQCw/DRnMCcbp_s4/s1600/Karpov+20.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-g8dxiF5GdX0/UWAYIVoo6YI/AAAAAAAAQCw/DRnMCcbp_s4/s1600/Karpov+20.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Depois de mais um adiamento, dessa vez por razões administrativas – o match iria mudar de local - a 48ª partida foi jogada no dia 8 de fevereiro, outra sexta-feira. Kasparov venceu e pediu um adiamento da seguinte, que estava marcada para a segunda-feira, dia 11. No mesmo dia, o presidente da FIDE voltou a Moscou e, por sua iniciativa, a partida, agora marcada para a quarta-feira, dia 13, foi novamente adiada.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No dia imediatamente posterior, Campomanes e o árbitro do match, Svetozar Gligoric, reuniram-se com Kasparov para discutir um pedido do presidente da Federação de Xadrez da URSS, Vitaly Sevastianov. Este, por sinal, não era um cartola a la Averbakh ou Kotov. Além de enxadrista, Sevastianov era um cosmonauta, famoso por haver jogado, com Adrian Nikolayev, a primeira partida de xadrez no espaço sideral - durante a missão da Soyuz 9, em junho de 1970 -, que durou duas órbitas ao redor da Terra. Era também engenheiro espacial, um dos projetistas das naves Soyuz e da estação espacial Salyut e o chefe do treinamento das tripulações espaciais soviéticas. Em síntese, um homem respeitadíssimo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Ffvg_hsNqFE/UWAYIrPiyaI/AAAAAAAAQC4/AZEv5WJ9IVw/s1600/Karpov+21.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-Ffvg_hsNqFE/UWAYIrPiyaI/AAAAAAAAQC4/AZEv5WJ9IVw/s1600/Karpov+21.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Sevastianov pedia um intervalo de três meses no match, para que os jogadores se recompusessem. Diretamente, isso dizia respeito, sobretudo, a Karpov. Mas também era um problema das condições gerais da disputa, ou seja, significava privilegiar a capacidade dos jogadores no tabuleiro, e não um resultado obtido pela exaustão de um deles.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Obviamente, Kasparov respondeu a Campomanes e Gligoric que, se Karpov não queria continuar, devia abandonar o match. Ele interpretara o pedido de Sevastianov como uma fraqueza de Karpov. E não seria ele quem deixaria de se atirar sobre uma fragilidade do oponente.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Pode ser que, nestes tempos de vale-tudo monopolista e mercantil, alguns considerem a resposta de Kasparov muito normal, pois se tratava de uma competição, e ele queria ganhar. No entanto, tratava-se de uma competição de xadrez, e não de uma competição para ver quem saía vivo – ou para matar o oponente. Mas essa diferença, realmente, ele jamais foi capaz de entender. Aliás, sempre fez questão de não entender - pelo menos, quando achava que quem poderia sair morto era o outro.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Além disso, com a lastimável exceção de Alekhine, que não primava pela esportividade – nem pela beleza de caráter - essa nunca foi a tradição do xadrez. Pelo contrário. Xadrez é esporte, e não uma guerra onde não há limites em relação ao oponente. Para ser exato, até na guerra existem limites – motivo pelo qual, após a II Guerra, alguns criminosos foram julgados e enforcados na aprazível cidade alemã de Nuremberg.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Certamente, sempre existiram jogadores de xadrez que estavam dispostos a tudo para ganhar – e qualquer enxadrista conhece, pelo menos, um ou outro. Porém, jamais essa conduta foi incensada como virtude, e sim execrada como lepra moral. Os grandes jogadores, mesmo Fischer – ver a sua atitude quando Tahl foi hospitalizado, durante o Interzonal de 1962 – sempre respeitaram esses limites, que são a essência mais pura do respeito ao adversário e, de resto, ao próprio esporte. Nisso, realmente, como em relação a muito mais, o único “grande predecessor” de Kasparov foi Alekhine.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, inclusive por boa fé (mas principalmente por má-fé - e, entre estes, sobretudo o próprio Kasparov), houve quem descrevesse essa atitude em relação à proposta da Federação soviética como um ato de coragem e (cáspite!) até mesmo de heroísmo. Lamentavelmente, isso é uma bobagem. Somente para pessoas muito simplórias, dessas que acreditam no equivalente político da mula-sem-cabeça, ou para bajuladores da mídia reacionária, a URSS era aquela ditadura totalitária pintada pela propaganda da “guerra fria”. Se fosse, não teria durado mais de 70 anos, vencendo, inclusive, a máquina de guerra nazista. É verdade que, como em qualquer sociedade, havia limites, e é verdade que, ainda que confusamente a partir do final da década de 50, os soviéticos percebiam que estavam em meio a uma guerra – e isso determinava a natureza de boa parte desses limites. Mas Kasparov sabia perfeitamente que nada lhe aconteceria de muito grave por discordar da Federação da URSS – no máximo, teria de arcar com as conseqüências que, em qualquer país, arcam os que discordam publicamente da entidade ou do coletivo de que fazem parte.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">COLETIVO</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, era essa noção, a de coletivo, que lhe faltava - e sempre lhe foi estranha. Ainda mais quando sabia que contava com o apoio dos inimigos do seu país e do seu povo, como ficou evidente na conferência de imprensa que Campomanes convocou, no dia 15 de fevereiro. Assim, suas tendências anti-sociais estavam em plena consonância com aqueles que há muito tempo queriam destruir a sociedade soviética. Hoje, quase 20 anos depois que a sociedade soviética foi realmente destruída, a questão das intenções imperialistas já não é mais matéria passível de dúvida ou discussão. Na verdade, também não era na época, pois essas intenções eram explícitas. Mas era com essa gente que Kasparov acumpliciava-se.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, ninguém ainda conhecia muito bem o oponente de Karpov. Na tarde do dia anterior, isto é, 14 de fevereiro, Campomanes avisou a Mamedov que, como Kasparov recusava um acordo sobre o encerramento do match, usaria de sua autoridade para terminá-lo. No dia 15, quando o presidente da FIDE começou a ler sua declaração para a imprensa, Kasparov estava sentado na bancada dos jornalistas estrangeiros.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Estranhamente, Campomanes afirmou, na declaração, que os dois jogadores estavam de acordo com o encerramento do match. Provavelmente, achava que a cúpula do xadrez soviético – ou alguma instância do governo – mandavam em Kasparov, e também em Karpov. Devia ser essa a idéia que as elites filipinas faziam da URSS... Porém, aberta a entrevista coletiva, teve que se desmentir. Perguntado pelos jornalistas, disse que havia se reunido com Karpov pouco antes da conferência de imprensa e que o campeão estava contra a suspensão, e queria jogar a próxima partida de acordo com a agenda. Respondendo a outra pergunta, disse que Kasparov também tinha a mesma posição.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Anatoli Karpov chegou à conferência de imprensa no meio da entrevista de Campomanes. Ao lado do presidente da FIDE, confirmou que era contra a decisão e que, se dependesse dele, o match seria retomado logo. Kasparov, em meio aos enviados e correspondentes estrangeiros, interpelou Campomanes com a pergunta óbvia: se os dois jogadores queriam continuar, por que não continuar?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É difícil saber o que ele realmente queria. Talvez pensasse, após o pedido de Sevastianov e de sua segunda vitória consecutiva, que Karpov estava nas últimas. Mas não é garantido que fosse esta a sua principal motivação. Pode ser, também, que, diante do encerramento do match, apesar da decisão da FIDE não lhe ser desagradável, tenha visto uma oportunidade de fazer o papel que a mídia estrangeira estava esperando dele... Seja como for, tanto numa quanto noutra hipótese, uma coisa é certa: era uma encenação para a mídia. O que ficou bastante claro quando Campomanes sugeriu que se aproveitasse a presença dos dois jogadores, convidando-os a discutir a questão em outra sala, a portas fechadas. Kasparov recusou. Mas, depois que Karpov e os dirigentes mantiveram a reunião e se retiraram, deixando-o só com a imprensa, mudou de posição e resolveu entrar na sala. Não era possível continuar a encenação sem a presença dos outros.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O campeão acatou a decisão da FIDE. O desafiante recusou-se a assinar o acordo que encerrava o match. Nenhum dos dois poderia adivinhar que o match encerrado era apenas o primeiro de cinco entre eles, ao fim dos quais jogariam 144 partidas pelo título mundial.</span></b><br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">GLIGORIC</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Karpov havia feito um esforço quase sobre-humano. Mais uma vitória e ele fecharia o match, enquanto Kasparov, depois da 48ª, ainda precisaria vencer três partidas e, ao mesmo tempo, impedir que seu oponente ganhasse qualquer uma. Em suma, um altíssimo risco.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Do ponto de vista de Karpov, de que valera o seu esforço? Agora, tudo começaria do zero, com Kasparov tendo suas cinco derrotas apagadas do score. Não é preciso dizer com quem estava a vantagem psicológica, que não era pequena. Qualquer um que já tenha disputado uma competição enxadrística sabe como algo assim pode interferir, e interfere, no desempenho de um jogador.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas as coisas não ficaram por aí. Em seguida, Kasparov levantou suspeição contra o árbitro do primeiro match, o iugoslavo Svetozar Gligoric.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não era qualquer suspeição. Gligoric havia sido um dos maiores jogadores de todos os tempos. Durante anos, foi, provavelmente, o melhor jogador fora da URSS – sem dúvida, melhor do que aqueles que, antes de Fischer, disputavam esse título no ocidente: o polaco-americano Reshevsky, o polaco-argentino Najdorf e, depois, o dinamarquês Bent Larsen. Era, além disso, unanimemente considerado um grande teórico e um grande analista, um dos poucos que era respeitado até por Fischer.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, mais do que suas qualidades enxadrísticas, Gligoric era (e é, hoje, com 84 anos) um herói da guerra contra o nazismo, onde lutou na guerrilha iugoslava – os famosos “partisans”, que, na batalha do Neretva, em 1943, haviam quebrado o moral das divisões alemãs, italianas e fascistas croatas. O caráter de Gligoric jamais foi matéria de dúvida ou discussão. Pode-se discordar dele – mas não desrespeitá-lo. Sua atitude posterior, já idoso, de opor-se ao esquartejamento de seu país, que lhe causou tanta amargura, somente confirma o que estamos dizendo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Kasparov, porém, como sabemos, não era dotado desse tipo de escrúpulo diante de pessoas com estatura moral imensamente superior. Acusou Gligoric de haver favorecido Karpov. Onde e quando, ninguém sabe, e a única coisa que Kasparov apresentou contra ele foi sua posição favorável ao encerramento do primeiro match, que já naquela época apresentava como uma medida com o exclusivo objetivo de prejudicá-lo. No entanto, que árbitro de bom senso não seria favorável a acabar com o que parecia uma loucura interminável?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-d3sdfWqndL4/UWAYJYn1WnI/AAAAAAAAQDE/b__ZYTCWAys/s1600/Karpov+23.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-d3sdfWqndL4/UWAYJYn1WnI/AAAAAAAAQDE/b__ZYTCWAys/s1600/Karpov+23.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Apesar desse alarido, Campomanes anunciou que Gligoric seria o árbitro do novo match. No final de julho, atacado por Kasparov, o iugoslavo renunciou. A FIDE, numa declaração oficial no dia 6 de agosto de 1985, não aceitou a renúncia e confirmou Gligoric. Porém, duas semanas depois, recuou: designou o alemão Lothar Schmid, que havia sido árbitro do match Fischer-Spassky. Mas, dessa vez, foi Schmid que não aceitou. A FIDE acabou por nomear dois árbitros: o búlgaro Malchev e o soviético Mikenas – originário da Lituânia – para se revezarem na função.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O próximo passo foi uma campanha na mídia fora da URSS. Nunca a mídia ocidental, até então, concedeu tanto espaço para um jogador supostamente soviético – naturalmente, para atacar um compatriota muito mais identificado com seu próprio país. Da “Playboy” até o mais obscuro pasquim reacionário, para não falar da TV, estavam todos à disposição de um soviético e membro do PCUS...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">E, então, na Sala de Concertos Tchaikovsky, em Moscou, a 3 de setembro de 1985, começou o segundo match entre Karpov e Kasparov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias15.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias15.htm</a></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-76834748851410143602013-04-06T05:35:00.001-07:002013-04-06T05:35:07.514-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 14<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-sSMqiC128oQ/UWATXBjwKfI/AAAAAAAAQB8/mGiqMs3Er54/s1600/Karpov+15.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-sSMqiC128oQ/UWATXBjwKfI/AAAAAAAAQB8/mGiqMs3Er54/s1600/Karpov+15.jpg" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 14</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Devido à sua importância para o tema de que nos ocupamos na parte anterior deste artigo - e, inclusive, pelo marcante estilo literário - tomamos a liberdade de, parcialmente, reproduzir a seguinte mensagem de mestre Hélder Câmara. Para os não aficionados em xadrez, o Mestre Internacional Hélder Câmara, duas vezes campeão brasileiro, três vezes vice-campeão, integrante da equipe brasileira nas Olimpíadas de Lugano, Siegen, Nice, La Valetta e Tessalônica, além de participante em vários outros eventos internacionais, relevante teórico - a ele se deve a Defesa Câmara, também chamada de Defesa Brasileira – é uma das glórias do xadrez brasileiro. Porém, sobretudo, é homem de profunda cultura humanista. Eis a sua mensagem:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“SP. 13 nov 2007.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Caro Carlos Lopes, apenas algumas observações sobre o seu precioso e preciso trabalho: o Zukhar era realmente um eficientíssimo parapsicólogo, com PhD na Universidade de Leningrado, onde havia uma cadeira específica nessa área, que foi estimulada até em demasia pelas autoridades soviéticas, mas que agora está desativada.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Zukhar, que já trabalhara com Korchnoi, sentava-se na primeira fila de espectadores do match Karpov x Korchnoi e, não obstante espesso vidro colocado no proscênio, ele teria conseguido influenciar negativamente na atuação de Korchnoi - segundo alegavam os secundantes do descarado apátrida. Daí, porque ele se valeu desses dois aventureiros da seita Ananda Marga para criar uma pantomima em Baguio, ameaçando também abandonar o match, se Zukhar não fosse colocado, no máximo, na oitava fileira de cadeiras distante do palco - para que as suas ondas mentais não influenciassem negativamente na mente de Korchnoi. E assim foi feito!</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Quando o match ficou igualado em 5 x 5, foi a vez da Delegação Soviética fazer suas exigências: se Zukhar não se sentasse onde quisesse, aquilo seria considerado como uma acusação espúria contra Karpov e ele (Karpov) não jogaria mais! Aí, foi a vez da FIDE ceder, e Zukhar sentou-se na primeira fila do teatro. É claro que isso valia muito mais como provocação e, quem sabe, como uma insinuação de que Zukhar podia realmente interferir no resultado da partida - capaz de perturbar uma mente sempre deturpada como a de Korchnoi. Se isso teve influência ou não sobre Korchnoi (é possível que tenha tido, não por causa de Zukhar, mas pela cabeça fraca do próprio Korchnoi), o fato é que ele jogou uma defesa inédita em seu repertório, a Pirc - sendo facilmente derrotado.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Depois disso, criou-se a lenda de que a KGB ameaçara a esposa e o filho (Igor) de Korchnoi para que ele perdesse a partida. E, mais, eles seriam proibidos de deixar a URSS para se encontrar com o 'papai' Korchnoi (que há muito estava amancebado com uma coroa chamada Petra - com quem vive até hoje). Aqui, vem a parte cômica dessa história: a KGB (....) liberou mulher e filho de Korchnoi para deixarem a URSS e se unirem a ele, desmascarando com isso o seu blefe (!). E o que fez Korchnoi? Recusou-se terminantemente a recebê-los na Suíça, sendo que todos conhecem o processo que o seu filho Igor moveu contra ele, por danos morais e materiais!</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">(....)</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Um abraço amigo, Hélder Câmara.”</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Com esta inestimável ajuda, encerramos as nossas considerações sobre Korchnoi e sua entourage. Naturalmente, elas não seriam necessárias se até hoje não houvesse alguns incautos – outros, nem tão incautos assim – que ainda repetem a propaganda reacionária de 30 anos atrás, como se fosse o supra-sumo da verdade. Embora, é forçoso reconhecer que, na atualidade, esse besteirol permanece insepulto principalmente devido a Kasparov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">KARPOV</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Já que começamos por um rescaldo da parte anterior deste artigo, voltemos por um momento às relações entre Botvinnik e Karpov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Há um ano, quando Karpov esteve no Brasil, um amigo, Ubirajara Nascimento Rodrigues, diretor do Clube de Xadrez Virtual (CXV), entidade que se dedica ao xadrez por e-mail, pediu-me que formulasse alguma pergunta ao ex-campeão mundial. De pronto, sugeri a ele a única pergunta que veio à mente: “qual foi a influência de Botvinnik em sua carreira?”. Transcrevemos a resposta de Karpov, na entrevista a Ubirajara:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Por algum tempo estudei na Escola de Botvinnik e a coisa mais importante que ele me passou foi que você tem que trabalhar muito o xadrez e se preparar muito seriamente, trabalhar todos os dias. Isso é muito importante (o conjunto da entrevista pode ser encontrado em: http://www.cxv.com.br/html/varios/AnatolyKarpov.htm).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Isso foi tudo. Nem uma palavra a mais. Nenhuma observação sobre estilo ou sobre análise, ou sobre escolhas de linhas ou planos estratégicos – um conceito que Botvinnik desenvolveu e ao qual Karpov sempre foi rigorosamente fiel.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Bruce Pandolfini (mais conhecido, pelos que assistiram ao filme “Lances Inocentes”, como o treinador, interpretado por Ben Kingsley, do garoto Josh Waitzkin) escreveu que as partidas de Karpov são sempre “didáticas”, ou seja, são claras de uma tal forma que sempre ensinam alguma coisa a quem as refaz. É verdade. Mas essa é uma característica comum entre Karpov e Botvinnik.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Havia outras características em comum. Ambos eram membros do PCUS. Karpov, além de deputado eleito para o Soviete Supremo, foi membro do Comitê Central do partido.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, é verdade que, nisso, tanto pode haver uma fonte de identidade quanto de discrepâncias: os comunistas da época em que Botvinnik se formou eram aqueles que ergueram um país arrasado; que, sob cerco, construíram uma indústria poderosa e coletivizaram o campo; que enfrentaram uma luta feroz dentro do país contra a quinta-coluna capitulacionista; que, logo em seguida, tiveram de resistir e vencer a invasão nazista, com rios de sangue encharcando a sua terra; e que, depois de tudo isso, comandaram a nova reconstrução do país. Em suma, gente que estava próxima dos personagens de Ostrovsky, em especial o Pavel Korchagin de “Assim Se Forjou o Aço”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Karpov, nascido em 1951, não conheceu essas épocas de sofrimento e heroísmo, exceto de forma indireta. Como alguns outros milhões de membros do PCUS dessa época, Karpov viu o país ser corroído por dentro - pelo acomodamento, espírito burocrático, bajulação ao ocidente e, simplesmente, pela traição - sem saber o que estava acontecendo, e, portanto, sem saber o que fazer diante do cada vez mais cinzento ambiente que surgiu a partir de 1956. No entanto, mesmo sem saber o que fazer, mesmo paralisados e intimidados, eles não eram trânsfugas. Faziam, e fizeram, o que podiam – isto é, o que a sua consciência lhes permitiu fazer – pelo país e pelo seu povo. O papel de trânsfuga estaria destinado a uns poucos, os Gorbachev, Yeltsyn e Kasparov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">POLÍTICA</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É interessante, do ponto de vista histórico, observar que a partir de 1972 a disputa pelo título de campeão mundial de xadrez torna-se abertamente política. Mesmo com o abandono de Bobby Fischer, não se voltou ao estado anterior, em que a luta política ficava em segundo plano em relação à disputa enxadrística. Daí, ser totalmente inútil – e mentiroso – ignorar essa dimensão agudamente política que o xadrez, em especial a luta pelo título mundial, adquiriu. Não por acaso, Kasparov não a ignora. Seu ponto de vista é, somente, o da direita em relação a essas disputas. Na verdade, “Meus Grandes Predecessores” somente pode ser lido como uma auto-justificativa da posição reacionária e colaboracionista do autor. O resto, inclusive o xadrez, é apenas uma espécie de excipiente químico.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O caráter de Kasparov começou a ficar nítido logo depois de encerrado o primeiro match com Karpov. E, notemos, ele foi precoce: tinha apenas 22 anos. Em relação a Korchnoi, ele possuía algumas lastimáveis vantagens, além da precocidade de caráter, ou da ausência dele: não era um histérico, exceto em momentos extremos; sempre esteve mais para a conduta fria. Ou, diria um psiquiatra, estava mais para sociopata do que para neurótico. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Logo depois do primeiro match, Kasparov propôs que o lugar de campeão fosse considerado vago. Era uma proposta absurda. Depois de cinco meses e 48 partidas, quando o match foi anulado pelo presidente da FIDE, o resultado estava em 5-3 para Karpov, que, inclusive, havia sido contra a anulação. Por que, então, considerar vago o título?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não era apenas a popular “guerra de nervos”. A pressão era para que o próximo match começasse do zero, sem considerar os resultados do primeiro. Evidentemente, o principal prejudicado com isso seria Karpov, uma vez que teria cinco vitórias desconsideradas e, Kasparov, apenas três.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Quanto à “guerra de nervos”, o problema é que os soviéticos, em geral, não estavam acostumados com isso dentro do seu próprio país – e, menos ainda, dentro do PCUS, ainda que ela existisse. Fazia 30 anos que toda a ideologia oficial era uma negação das formidáveis tensões inerentes à construção de um novo regime social. E, relembremos, não apenas Karpov, mas também Kasparov, eram membros do PCUS. O último, além do mais, era dirigente nacional da Juventude Comunista (Komsomol). O fato é que tanto Karpov quanto a maioria dos soviéticos não conseguia entender o sentido do que Kasparov fazia. Em suma, subestimavam – ou, mesmo, ignoravam totalmente – a malignidade de suas ações, seu oportunismo e falta de escrúpulos. Daí a sua popularidade nesse momento, em especial entre os jovens, criados, fazia anos, no culto à ilusão.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, a mídia imperialista – e, provavelmente, os serviços de “inteligência” ocidentais – perceberam logo qual era a questão. Isso, aliás, foi o mais peculiar no caso. Desde o início de sua carreira, os inimigos da URSS perceberam que podiam contar com Kasparov. No entanto, este jamais foi algum “dissidente”. Como podiam, então, estar tão bem informados sobre Kasparov?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-TTRrOoOOvwE/UWATY7vLWBI/AAAAAAAAQCY/pyDKuEPiS90/s1600/Kasparov+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><b><span style="color: #20124d;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-TTRrOoOOvwE/UWATY7vLWBI/AAAAAAAAQCY/pyDKuEPiS90/s1600/Kasparov+2.jpg" /></span></b></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Se algum espiroqueta reacionário interpretar essas questões como tentativa nossa de dizer que Kasparov já era, antes dos 22 anos, um agente da espionagem ocidental, isto será apenas porque se trata de um espiroqueta.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A questão é outra. Na década de 80, após a chegada de Ronald Reagan à Casa Branca, houve uma mudança no foco da política imperialista em relação à URSS. Até então era nos chamados “dissidentes” - algumas almas penadas sem quase respaldo algum dentro do país – que se depositavam as esperanças da mídia e dos órgãos de governo dos EUA.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Nos anos 80, isso mudou. Percebeu-se que com essa gente pouco se poderia fazer para sabotar a URSS por dentro. Os chamados “dissidentes” eram uma quinta-coluna, mas de uma ineficiência tremenda, que faziam questão de colocar um rótulo na testa e estar longe de qualquer atividade pública real – ou seja, faziam questão de cortar suas ligações com o povo e com os órgãos que detinham o poder na URSS.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Assim, o foco mudou para dentro do próprio PCUS e do governo. De certa forma, era a volta da política seguida pelos alemães nos anos 30 do século XX. Nesses anos, como registraram pessoas insuspeitas como Joseph Edward Davies, embaixador dos EUA em Moscou, e até pelo príncipe e lorde Mountbatten – que, além de primo do rei da Inglaterra, era sobrinho da última czarina – os soviéticos haviam acabado com o espaço para a quinta-coluna dentro do Estado soviético e do PCUS.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Isso teve efeitos duradouros. O foco nos “dissidentes” não era apenas uma opção dos governos imperialistas. Era também porque não tinham outra opção. Esta somente surgiria nos anos 80, quando os 30 anos anteriores de progressivo culto ao mercado, defensiva ideológica e conciliação começaram a brotar em frutos amargos e, de resto, venenosos – finalmente havia, depois de três décadas de gestação dentro do PCUS e do Estado soviético, uma camada que poderia ser aproveitada com muito mais sucesso do que aqueles indigentes, quer dizer, “dissidentes”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">PRIVILÉGIO</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Portanto, incensar Kasparov era plenamente coerente com essa nova política imperialista. Para muitos, era algo estranho, pois eles nunca agiram dessa forma quando o título mundial de xadrez era disputado por dois soviéticos. Mas, também, jamais houve antes um “soviético” da marca de Kasparov disputando o título.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Assim, quando Kasparov comparou a situação depois do match anulado com a situação após a morte de Alekhine, em 1948, as moscas, que já voejavam em torno dele há algum tempo, ficaram particularmente assanhadas. Evidentemente, havia uma diferença entre a situação de 1985 e a de 1948: Karpov estava vivo. Mas o problema era exatamente esse: Karpov era um representante do regime que queriam matar.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Logo, Kasparov se tornou, na propaganda, um perseguido pelos soviéticos, que estariam prejudicando sua preparação e, especialmente, negando a ele a ajuda de analistas do mesmo porte daqueles que estavam com Karpov. Hoje, ninguém sério repete mais essas coisas. Kasparov escolheu e demitiu quem ele quis da sua equipe – isto é, naturalmente, dentre aqueles que aceitaram fazer parte dela. Porém, há outro aspecto: o GM Valery Salov demonstrou convincentemente que Kasparov foi privilegiado em relação a Karpov na assistência durante os matches. O que era perfeitamente coerente com a defensiva em relação à campanha deflagrada a partir do ocidente. Aliás, não era a primeira vez que acontecia algo semelhante.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">E, agora, leitor, como o espaço acabou, o resto fica para a próxima.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias14.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias14.htm</a></b></div>
<div>
<br /></div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-41240588060423003392013-04-06T05:29:00.002-07:002013-04-06T05:29:20.029-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 13<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-QEamYe8L5xU/UWATPGBsZAI/AAAAAAAAQBM/5KfZfCiMGjk/s1600/Karpov+7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-QEamYe8L5xU/UWATPGBsZAI/AAAAAAAAQBM/5KfZfCiMGjk/s1600/Karpov+7.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: red; font-size: large;"><b>Misérias e Glórias do Xadrez - 13</b></span></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: red; font-size: large;"><b>Carlos Batista Lopes</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<span style="color: #20124d;"><b>No match entre Anatoli Karpov e Garry Kasparov, em Moscou, 1984, depois de apenas nove partidas, o score já estava em quatro a zero a favor de Karpov. Nem mesmo um mês havia se passado desde o início do match – a primeira partida foi em 10 de setembro; a nona, em 5 de outubro.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Tudo indicava que o campeão manteria o título pela terceira vez. No entanto, seguiu-se uma série impressionante de 17 empates. Pelas regras vigentes no passado, 26 partidas com o score de 4-0 seriam mais do que suficientes para que Karpov mantivesse o título - e por uma das diferenças mais dilatadas de toda a história do xadrez.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Mas as regras haviam sido mudadas – desde 1978. Não havia mais número fixo de partidas – venceria o match quem ganhasse seis partidas, independente do número total. Em suma, aceitaram-se as exigências de Fischer em 1975, embora nem assim ele enfrentara Karpov, perdendo o título por abandono.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-JqLKTYEZJIg/UWATXwcOc6I/AAAAAAAAQCE/XlqOgpcpmJ4/s1600/Karpov+16.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-JqLKTYEZJIg/UWATXwcOc6I/AAAAAAAAQCE/XlqOgpcpmJ4/s1600/Karpov+16.jpg" /></a></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Bem mais importante do que o autor das exigências – Fischer, como agora parece ter em parte percebido, foi um joguete na guerra contra os soviéticos – era o significado dessa mudança de regras: voltara-se, exatamente, à regra do match entre Capablanca e Alekhine, travado em 1927, ou seja, 57 anos antes.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Naturalmente, já se sabia no que redundava essa regra, quando os oponentes eram razoavelmente equilibrados: num oceano de empates e na decisão pelo esgotamento de um dos contendores. Uma espécie de maratona da morte enxadrística. A nova regra, instituída quando os soviéticos voltavam a ter a hegemonia do xadrez mundial, favorecia o desafiante contra o campeão, quanto mais não seja pelo ímpeto em conquistar o título – ninguém é capaz de ter o mesmo ímpeto para conservá-lo, sobretudo depois de fazer isso mais de uma vez.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-OuvihuJ_Bk4/UWATPVDq_7I/AAAAAAAAQBQ/m96I14klCqU/s1600/Karpov+8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-OuvihuJ_Bk4/UWATPVDq_7I/AAAAAAAAQBQ/m96I14klCqU/s1600/Karpov+8.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="color: #20124d;"><b>Como nos antigos filmes de Hollywood, o pistoleiro mais jovem tem muito mais gana de matar o pistoleiro veterano, do que este de matar o mais jovem. Além disso, há uma vantagem intrínseca de ser mais jovem. Os campeões, como é óbvio, com o passar dos anos tendiam a ter mais idade do que os desafiantes – e vencer seis partidas, em um match de número ilimitado, passaria a ser cada vez mais, para o campeão, algo parecido com o suplício de Tântalo.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>No caso de Karpov, pior ainda, pois se sabia que a saúde do campeão, apesar de não alcançar os extremos de Mikhail Tahl, não era, propriamente, o que se chama uma saúde de ferro.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-voZq0eyOej0/UWATWOhf_tI/AAAAAAAAQBg/NJO9Nyw0oLk/s1600/Karpov+10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-voZq0eyOej0/UWATWOhf_tI/AAAAAAAAQBg/NJO9Nyw0oLk/s1600/Karpov+10.jpg" /></a></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Apesar disso, na 27ª partida, Karpov venceu outra vez. Agora o match estava em 5-0. Nenhum campeão conseguira antes uma tal façanha, sobretudo quando tinha contra si toda a mídia mundial e, inclusive, boa parte da soviética, que torcia sem inibições por Kasparov, assim como a maior parte da audiência que comparecia quase todos os dias à Sala das Colunas da Casa dos Sindicatos, onde se travava o match. Bastava mais uma vitória para que continuasse com o título.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Depois de mais três empates, na 31ª partida, Karpov conseguiu outra vez ficar em posição superior. Era possível tentar a vitória – e fechar o match. O próprio Kasparov, posteriormente, admitiu que as chances de Karpov vencer essa partida eram mais do que boas. No entanto, o campeão acabou por aceitar o empate proposto pelo oponente e, segundo várias testemunhas, parecia “aliviado” quando o jogo terminou. Essa partida foi jogada no dia 7 de dezembro de 1984 – portanto, o match já durava três meses.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-6bn11-OJRWo/UWATWFIIHGI/AAAAAAAAQBc/_xnosfphum0/s1600/Karpov+11.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-6bn11-OJRWo/UWATWFIIHGI/AAAAAAAAQBc/_xnosfphum0/s1600/Karpov+11.jpg" /></a></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Na partida seguinte, a 32ª, Karpov perderia pela primeira vez.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>No decorrer das 48 partidas do match – finalmente anulado pelo presidente da FIDE, o filipino Florencio Campomanes – o campeão perderia 10 quilos e não estava mais à beira da exaustão. Já havia passado esse limite. Quando o match foi interrompido, o score estava em 5-3.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-TTRrOoOOvwE/UWATY7vLWBI/AAAAAAAAQCU/6C7TYiZ5k0o/s1600/Kasparov+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-TTRrOoOOvwE/UWATY7vLWBI/AAAAAAAAQCU/6C7TYiZ5k0o/s1600/Kasparov+2.jpg" /></a></div>
<br />
<span style="color: #20124d;"><b>Porém, bem antes disso, havia começado a cruzada. Ou, melhor, a cruzada que havia começado com o artigo de Arrabal (ver parte 1 deste artigo), quando Kasparov nem era conhecido no ocidente, de repente agudizou-se.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Depois da 12ª partida, quando Kasparov propôs o empate no 21º lance, o GM Harry Golombek, um conhecido – por desastrado – árbitro da FIDE, publicou no “Times”, de Londres, um artigo. Segundo ele, seu preferido, Garry Kasparov, estava empatando porque os comunistas ameaçavam a sua família, e prometiam cumprir as ameaças, se ele vencesse o match. Hoje, que conhecemos bem a sra. Clara Kasparov, essa história parece um delírio. E parece um delírio pela simples razão de que é um delírio. Diante da ilustre genitora de Kasparov, o mais provável é que os comunistas soviéticos, havia duas décadas cultivando o apaziguamento, saíssem correndo...</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">ALBURT</span></b></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Em março de 1985 – portanto, um mês após a última partida deste match - Lev Alburt, um desertor da URSS que se transformara em campeão dos EUA, escreveu em “Chess Life” (a revista da Federação dos EUA – USCF) que Karpov ingeria estimulantes durante o match. Era isso, supõe-se, o que explicava o fato de não haver se rendido a Kasparov, apesar do suplício de Tântalo em que a FIDE transformara a disputa do título mundial.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-nWAVDf_RnKE/UWATXLHrS2I/AAAAAAAAQBw/ZkApzh3GcB8/s1600/Karpov+14.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-nWAVDf_RnKE/UWATXLHrS2I/AAAAAAAAQBw/ZkApzh3GcB8/s1600/Karpov+14.jpg" /></a></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<b style="color: #20124d;">A prova, segundo Alburt, era a presença do dr. Vladimir Zukhar no match em que Karpov defendera o título pela primeira vez, sete anos antes, em Baguio, Filipinas, contra Korchnoi. O artigo de Alburt afirmava que, ao contrário do que se pensava, Zukhar era um especialista em estimulantes.</b><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Esse “ao contrário do que se pensava” era sacado para resolver um grave problema da história de Alburt: em 1978, durante o match de Baguio, o mesmo dr. Vladimir Zukhar foi acusado de ser um parapsicólogo da KGB, que faria parte da delegação de Karpov com a função de hipnotizar, ou influenciar por telepatia, o seu oponente. Toda a imprensa americana e européia havia publicado e republicado esse suposto currículo de Zukhar. Agora, seu nome reaparecia no artigo de Alburt como especialista em estimulantes...</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Era pouco provável que Zukhar mudasse de profissão em apenas sete anos. Mas não era isso o que Alburt dizia: segundo seu artigo, já em 1978, Zukhar era responsável por administrar estimulantes a Karpov. Portanto, supõe-se, estavam também explicadas as derrotas de Korchnoi – só podiam ser porque Karpov usava estimulantes.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Porém, Alburt desertara para os EUA em 1979. Se sabia de alguma coisa sobre Zukhar, levara seis anos calado, enquanto a imprensa norte-americana fazia um carnaval com a história do “parapsicólogo da KGB”. Mas Alburt poderia ter recebido informações, ou boatos, mais recentes da URSS. No entanto, ele não se preocupou com essas minudências conhecidas como fontes, ou com detalhes tais como critérios de verossimilhança, esse negócio que só serve para atrapalhar a vida de propagandistas aplicados.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Em meio a uma mistura de abacaxis com rodas de velocípedes, Alburt, porém, disse algo interessante. É verdade que, para isso, ele torce mais uma vez o parafuso, por pouco não ingressando no torneio de candidatos do velho Juqueri. Diz ele que Zukhar passou a trabalhar com a equipe de Kasparov. Como podia ser isso? Quem estava tomando estimulantes era Karpov; a prova disso era que Zukhar, que o acompanhou no match de 1978, era “especialista em estimulantes”, e não “parapsicólogo”; mas, agora, era com Kasparov que ele trabalhava. Por acaso, Kasparov estava usando estimulantes? Não, segundo Alburt. Era Karpov quem usava os estimulantes. Se o amigo leitor não entendeu, não fique preocupado. Isso não tem a menor importância.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Mas, continua Alburt, Zukhar havia revelado a Kasparov e sua equipe que Karpov “entraria em colapso” se o match fosse muito longo. Logo, concluía Alburt, por isso Kasparov esticou o match, inclusive propondo empate atrás de empate.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>A história pode ser, e era, absurda, mas não a descrição da tática de Kasparov. Foi mais ou menos – ou, talvez, foi exatamente – o que ele fez.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Quanto a Zukhar, era apenas um psicólogo, professor da Universidade Central de Moscou, que há longos anos acompanhava o campeão. Somente isso (cf. Karpov e Baturinsky, “From Baguio to Merano”, Pergamon Press, 1986).</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Note-se que o indefectível coronel Edmonson, em seu livro sobre o match de 1978, também refere-se a Zukhar apenas como “consultor psicológico”, apesar de seu ponto de vista ser, naturalmente, oposto ao de Karpov e Baturinsky – chefe da delegação soviética em 1978 – no livro citado. A CIA estava, evidentemente, informada sobre quem era Zukhar. Mas, certamente, não foi por isso que Edmonson manteve-se fiel à verdade quanto a ele. O motivo de sua moderação ficará claro em seguida (cf., E. B. Edmonson, “Chess Scandals: The 1978 World Championship Match”, Pergamon Press, 1981).</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>MUDANÇA</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Kasparov não começou o match com essa tática. Pelo contrário, nas sete primeiras partidas jogou nitidamente para decidir o match o mais rápido possível. Na oitava, pela primeira vez, propôs o empate depois de apenas 20 jogadas. Mas, na seguinte, confiando na sua preparação doméstica contra a linha pela qual Karpov optou, reincidiu em tentar decidir logo – e o final foi ganho pelo campeão, um dos melhores finalistas da história do xadrez.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>A partir daí, Kasparov, nitidamente, mudou. O que teria acontecido?</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Somente muitos anos depois, soube-se que seu ex-professor, Mikhail Botvinnik, num erro pelo qual pagaria caro, havia ido em socorro de Kasparov, propondo exatamente que ele esticasse ao máximo o match, pois, argumentou, com isto a vantagem passaria para o lado do desafiante. Certamente que, nisso, entrava em consideração, também, a diferença de idade. Mas não principalmente. Kasparov tinha 21 anos, mas Karpov tinha apenas 33. Não era isso o mais relevante.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Botvinnik conhecia Karpov tão bem quanto conhecia Kasparov. Os dois eram produtos da sua escola. No entanto, nessa hora, preferiu um de seus pupilos contra o outro. Resta saber porquê. Nisso temos apenas hipóteses.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Mas, antes que aventemos essas hipóteses, resta dizer que Karpov era um excelente jogador de torneio – até hoje, ele é o jogador que mais venceu torneios, e o campeão que durante o seu reinado mais jogou e ganhou em torneios. No entanto, Botvinnik sabia que ele não tinha um desempenho semelhante em matches.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Desde que ganhara o título, após a recusa de Bobby Fischer em defendê-lo, Karpov havia mantido o título nada menos que duas vezes – mas as duas contra Korchnoi, um jogador vinte anos mais velho. E ele era, sem dúvida, um jogador melhor do que Korchnoi.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Este, aliás, quando soviético, já era o mais detestado pelos colegas, basicamente por problemas de caráter. Depois de sua deserção para o ocidente, fizera o possível para bater os recordes de todos os anti-comunistas anteriores, juntos e somados. Sua posição política parecia, para que os leitores tenham uma idéia, um pouco à direita do reverendo Moon, dono do jornal favorito de Reagan, o “Washington Times”. Em 1978, até mesmo Mikhail Tahl, que geralmente não tinha inimizades, somou-se à equipe de Karpov para ajudá-lo a derrotar Korchnoi.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>(Aqui, achamos necessário um parênteses. Alguns leitores podem estranhar a forma como nos referimos a Alburt e Korchnoi - como desertores - apesar dos próprios americanos assim os tratarem. Hoje, muitos que não viveram aqueles anos não têm – e não podem ter – consciência de que havia uma guerra entre os EUA e a URSS. Não se chamou àquele período de “guerra fria” por acaso. Talvez o adjetivo “fria” fosse inapropriado. Mas não o substantivo “guerra”. Passar para o outro lado, e essa era a questão de Alburt e Korchnoi, no meio de uma guerra, tem o nome de deserção, embora possa haver nomes piores.)</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>O fato é que no primeiro match com Korchnoi, em Baguio, Filipinas, onde o psicólogo Vladimir Zukhar foi acusado de ser um parapsicólogo da KGB, Karpov não permitiu que acontecesse com ele o que acontecera com Spassky.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Em meio a um batalhão da mídia, Korchnoi apareceu para a primeira partida com óculos de lentes espelhadas. Karpov reclamou que o reflexo nos óculos de Korchnoi estava atrapalhando a sua visão (“Os óculos eram como dois espelhos, e, quando Korchnoi levantava sua cabeça, a luz das numerosas lâmpadas sobre o tablado era refletida nos meus olhos”, descreveu Karpov em “From Baguio to Merano”). Mas os árbitros decidiram a favor dos óculos de Korchnoi.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Quatorze jogos depois, Korchnoi reclamou que Karpov estava girando a sua cadeira. O árbitro dirigiu-se a Karpov, que respondeu: “eu paro de girar, se ele tirar os óculos”. Mas a FIDE decidiu proibi-lo de girar a cadeira.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Não nos deteremos em cada questão ridícula aprontada por Korchnoi. Basta observar que o aparato montado em torno do desafiante, uma campanha de mídia que repetia a história de como a família de Korchnoi estava sendo perseguida na URSS - e ocultava o fato de que ele é que abandonara a família - acabou ruindo depois da descoberta de dois criminosos em sua entourage.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>PROCURADOS</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Eram dois pilantras, sempre vestindo batas indianas, que eram chamados de Dada e Didi. Os nomes verdadeiros eram Steven Dwyer e sua presumível mulher, Victoria Shepherd. Os dois americanos eram membros de uma seita indiana denominada “Ananda Marga” e estavam condenados a 17 anos de cadeia, por tentativa de assassinato. A seita, aliás, tinha um símbolo muito interessante: uma estrela de seis pontas tendo em seu interior um sol com uma suástica no centro.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Na 18ª partida, quando o score já estava em 4 a 1 para Karpov, Dada e Didi fizeram uma palhaçada na platéia, supostamente à guisa de meditação para neutralizar os poderes de Zukhar. Na partida seguinte, apesar da segurança filipina querer barrá-los, a FIDE deixou-os entrar mais uma vez.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Até o fim do match, que durou mais 14 partidas, a presença dos criminosos foi um elemento extra de tensão. O próprio “segundo” de Korchnoi, o GM Raymond Keene, demitiu-se em função da presença dos dois condenados (“eu declinei de qualquer pagamento pelo match vindo da parte de Korchnoi no prêmio e sugeri que ele doasse o dinheiro para seus gurus da Ananda Marga” - Keene, “Karpov-Korchnoi: Massacre in Merano”, Batsford, 1981).</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Mesmo assim, Korchnoi não se separou deles, e nem a FIDE impediu sua ação, mesmo quando seu presidente, Florencio Campomanes, denunciou, após a 21ª partida, que sua esposa havia recebido um telefonema ameaçando-a de morte. Estranhamente, Campomanes parecia ter perdido o poder.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Enquanto isso, Korchnoi apareceu na 20ª partida vestido com uma bata indiana. Depois, promoveu uma entrevista coletiva em que Dada e Didi mostraram os exercícios de yoga que vinham ensinando ao seu patrão.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Não é espantoso que, em meio a essa confusão, Karpov tenha permitido que Korchnoi empatasse o match em 5-5 na 31ª partida. Porém, logo na partida seguinte, completou as seis vitórias que fechavam o match. A atitude de Korchnoi foi não reconhecer o resultado. Mas isso não tinha, também, a menor importância.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Três anos depois, em 1981, o desafiante seria outra vez Korchnoi. O que demonstra que, com exceção de Karpov, o xadrez soviético – e, de resto, o mundial – ainda não havia saído da entressafra.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Mas, desta vez, Korchnoi não teve a menor chance. Em apenas 18 partidas, o campeão conseguiu vencer seis, contra duas do desafiante.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">ERRO</span></b></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>A recuperação do xadrez soviético devia-se, outra vez, ao fundador da escola soviética de xadrez. Juntamente com suas pesquisas na área da informática, onde se dedicara ao que, então, parecia impossível – elaborar um programa de computador que analisasse as posições no tabuleiro - Botvinnik havia fundado uma escola no sentido literal da palavra. Os dois próximos campeões mundiais seriam seus alunos, Karpov e Kasparov, além de vários outros grandes enxadristas da nova geração. Mesmo afastado das competições a partir de 1970 – e da disputa do título mundial a partir do início da década de 60 – ele continuava sendo o esteio do xadrez soviético. A falta de consideração mostrada para com ele era capaz de feri-lo, mas não de abatê-lo – em 1970, no match URSS x resto do mundo (um evento de que Botvinnik, com razão, não gostava), designaram para ele o oitavo tabuleiro.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Voltamos aqui à questão: por que Botvinnik resolveu ajudar Kasparov contra Karpov?</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-vnZvFU0cBpI/UWATYG5PFyI/AAAAAAAAQCM/Rbry_alNMxE/s1600/Kasparov+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-vnZvFU0cBpI/UWATYG5PFyI/AAAAAAAAQCM/Rbry_alNMxE/s1600/Kasparov+1.jpg" /></a></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>O historiador estoniano Valter Heuer relata uma entrevista que fez com Botvinnik em 1990. Nela, perguntou sobre as acusações de que o velho campeão teria “instigado” a suposta prisão de Keres. A resposta de Botvinnik foi que essa história fora abanada por Karpov quatro anos antes – portanto, em 1986 – numa entrevista ao jornalista alemão Bernd Nielsen-Stokkeby. Em “The Keres-Botvinnik Case”, Taylor Kingston cita as conclusões de Nielsen-Stokkeby, após pesquisar a acusação: “Eu considero que as palavras de Karpov são uma mentira”.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Resta saber porque Karpov mentiu – ou, talvez, tenha apenas repetido algo que ouviu. Mesmo assim, ele conhecia Botvinnik bastante bem – e devia muito a ele. Por que, então, fez essa declaração?</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>As datas não podem deixar de ser levadas em consideração. Teria Karpov dado a declaração ao jornalista alemão em função de seu ressentimento pela ajuda de Botvinnik a Kasparov?</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Sabe-se que Karpov não foi um aluno fácil para Botvinnik. Durante os primeiros tempos, ele resistiu ao aprofundamento na teoria do xadrez, o forte de Botvinnik. E também a recíproca foi verdadeira: o jovem Anatoli Karpov, então com 12 anos, a custo suportou Botvinnik como professor. Este, segundo alguns, subestimava o aluno. Posteriormente, Karpov diria que o trabalho de casa passado por Botvinnik realmente o ajudou, forçando-o a consultar livros de xadrez e a ser mais disciplinado. Mas, nessa declaração está embutida uma certa crítica a Botvinnik, ao se referir especificamente ao “trabalho de casa” - e nenhuma palavra sobre as aulas e a escola propriamente dita.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-n3-qjQrcNEg/UWATWUAP-kI/AAAAAAAAQBs/u9Ix3Vvcby4/s1600/Karpov+13.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-n3-qjQrcNEg/UWATWUAP-kI/AAAAAAAAQBs/u9Ix3Vvcby4/s1600/Karpov+13.jpg" /></a></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Mas, terão sido esses precoces problemas entre Botivinnik e Karpov que determinaram a decisão de ajudar Kasparov – e a declaração posterior de Karpov? Não sabemos com certeza, mas nos parece que há algo de verdadeiro nisso. No entanto, como veremos, havia mais identidade entre Karpov e Botvinnik do que entre este e Kasparov.</b></span><br />
<br />
<span style="color: #20124d;"><b>Carlos Batista Lopes</b></span><br />
<br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<b><span style="color: #20124d;">Fonte: </span><a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias13.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias13.htm</a></b><br />
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-90729494893311347842013-04-06T05:17:00.006-07:002013-04-06T05:17:59.274-07:00 Misérias e Glórias do Xadrez - 12<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-IAFckv7MKIE/UWAQfjDbLmI/AAAAAAAAQAA/mEaXe_IiAsw/s1600/Fischer+Spassky+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-IAFckv7MKIE/UWAQfjDbLmI/AAAAAAAAQAA/mEaXe_IiAsw/s1600/Fischer+Spassky+3.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 12</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">O espírito de Spassky durante o match com Fischer pode ser bem aquilatado pela quinta partida (equivalente à sexta rodada, pois Fischer faltou à segunda). O norte-americano, que, quando jogava com as brancas, considerava um “princípio” começar pelo avanço do peão do rei, pela primeira vez na vida preferiu o chamado “gambito da dama” (a frase exata de Fischer, em seu livro de 1968, “My 60 Memorable Games”, é: “eu jamais comecei uma partida com o peão da dama – por princípio”).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Era um lance psicológico - no entanto, não pouco arriscado. Spassky, após seu match de 1969 com Petrosian, era considerado o maior conhecedor no mundo de uma das variantes dessa linha, a variante Tartakower (alguns enxadristas a chamam “sistema T.M.B.”, sigla que vem do nome de seus principais desenvolvedores: Tartakower, Makogonov e Bondarevsky). Mais do que isso, a reputação de Spassky era a de jamais haver perdido um único jogo com essa linha (e, até onde pudemos verificar, essa reputação era justificada).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Por outro lado, em 1968, em seu livro “My 60 Memorables Games”, comentando sua partida com o iugoslavo Bertok (ed. cit., pág. 207), Fischer havia publicado uma análise dessa linha - e a seguiu, na partida de 1972 com Spassky.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-ozRaWogHNcc/UWAQgqOYp2I/AAAAAAAAQAQ/Rik8avyO8vo/s1600/Fischer+Spassky+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-ozRaWogHNcc/UWAQgqOYp2I/AAAAAAAAQAQ/Rik8avyO8vo/s1600/Fischer+Spassky+4.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, depois de entrar em sua linha favorita, o campeão escolheu um caminho já refutado, dois anos antes, por seu compatriota Semyon Furman, em um famoso jogo pelo campeonato soviético. Era impossível que Spassky não conhecesse essa partida e, mais do que isso, não conhecesse o estudo que Furman publicou na URSS sobre o tema. Praticamente todas as revistas soviéticas de xadrez haviam registrado a partida e a análise de Furman.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, pior ainda, o oponente que Furman derrotou na partida de 1970 foi Geller, que em Reikjavik era, exatamente, o principal analista de Spassky. E, naquela altura dos acontecimentos, Geller também já havia analisado minuciosamente essa partida, em especial seu erro na 14ª jogada das negras – e descoberto uma alternativa, que aplicou com sucesso no ano seguinte, contra o holandês Jan Timman.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-0frd9I6UVN8/UWAQf_EgjYI/AAAAAAAAQAE/qqZEV4HyRyg/s1600/Fischer+Spassky+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-0frd9I6UVN8/UWAQf_EgjYI/AAAAAAAAQAE/qqZEV4HyRyg/s1600/Fischer+Spassky+1.jpg" /></a></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Mas Spassky, no entanto, repetiu, em 1972, o erro de Geller em 1970, como se tudo isso não existisse. E, frisamos mais uma vez, numa linha que era sua favorita – portanto, presumivelmente, sobretudo em se tratando de um jogador de seu nível, deveria estar interessado nas novidades a respeito dela, ainda mais quando as análises foram tão divulgadas.</span></b><br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Evidentemente, Spassky sabia de tudo isso. Sua derrota nesta partida não foi por ignorância, mas pelo estado psicológico em que se encontrava – e já na quinta partida, de um match programado para 24.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"> O ERRO </span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-lznSupRzMCI/UWAQfg4_WyI/AAAAAAAAQAI/fj4oEgLEf9o/s1600/Fischer+Spassky+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-lznSupRzMCI/UWAQfg4_WyI/AAAAAAAAQAI/fj4oEgLEf9o/s1600/Fischer+Spassky+2.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, o match não havia começado mal para Spassky. Na primeira partida, um erro de Fischer, tomando um peão desprotegido, lhe custou uma peça (um bispo) e dera a vitória ao campeão. Há muita coisa escrita sobre esse erro, aparentemente um erro crasso; a melhor análise, em nossa opinião, é a do próprio Fischer: segundo ele, simplesmente calculou errado, achando que o bispo poderia ser salvo depois de tomar o peão. O importante, aqui, é o motivo desse erro: Fischer, muitas vezes, tinha dificuldade em resistir a uma aparente vantagem material. Não por acaso, jogadores dispostos a sacrificar material (isto é, peões e peças) para obter uma posição melhor, ou um ataque, sempre foram, para ele, seus oponentes mais difíceis. O exemplo mais evidente é, naturalmente, Mikhail Tahl.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O que é revelador de um efeito da insegurança de Fischer. Por isso seu “calcanhar de Aquiles” eram as posições incertas. Ele necessitava estar seguro das seqüências e posições que surgiriam. Avaliações gerais não eram suficientes para ele. Porém, tanto no xadrez quanto em qualquer outro campo da vida, muitas vezes é necessário tomar decisões sem que se esteja completamente seguro da sua correção, e às vezes até pouco seguro. Era nesses momentos que Fischer tendia a fracassar – inclusive, como nessa primeira partida do match de 1972, tendia a cometer o que os americanos chamam de “blunder”, isto é, um erro crasso.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, muitos diriam que a posição em que ele cometeu esse erro na primeira partida não era incerta, mas uma posição empatada. Pelo menos quando jogou – e errou – Fischer, provavelmente, não tinha essa avaliação. Mas, vamos admiti-la, porque, do ponto de vista objetivo, ela é verdadeira. Aqui está outra debilidade de Fischer: a dificuldade em se conformar com situações em que não é possível ganhar. Ele não tinha problemas em empatar uma partida perdida – v. seus comentários à partida com Walther, em “My 60 Memorable Games”. Mas, não era tranqüilo diante de posições realmente empatadas. E, aí, ao forçar uma posição que não podia ganhar, a possibilidade de erro aumentava, como notou o mestre cubano Eleazar Jimenez-Zerquera, na análise de sua partida com Fischer na 15ª rodada do Memorial Capablanca de 1965.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É provável que Spassky fosse o jogador do mundo em melhores condições, do ponto de vista puramente enxadrístico, para colocar Fischer diante de situações do tipo das que mencionamos, em especial as do primeiro tipo. O problema é que não existe o “puramente enxadrístico”. Pelo menos não em jogos entre seres humanos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Para vencer Fischer, Spassky teria que ser outro Spassky. Não outro enxadrista, mas outra pessoa. Diante de um oponente convicto – na época – de que era necessário “bater os russos pela América”, Spassky não estava convencido de que o lado em que estava, não o enxadrístico, mas o político, era o melhor. Isto, para dizer o mínimo. A impressão que ele passava – e ainda passa – é que achava o lado em que estava, pior do que o do seu oponente.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não era verdade, mas isso, também, não é culpa de Spassky – ou, pelo menos, não é somente, ou inteiramente, ou fundamentalmente, culpa de Spassky. Afinal, era essa a cultura que vinha se gestando na URSS desde 1956. Toda a ideologia de “emulação com os EUA” (no momento em que a URSS estava, depois do Sputinik, tecnologicamente à frente!) conduzia ao rebaixamento soviético diante dos norte-americanos. E este é apenas um aspecto secundário da questão: por que, na cabeça de muitos soviéticos como Spassky, valeria a pena defender um país cuja história, na versão oficial, isto é, na versão de Kruschev, era uma história de crimes em massa? Somente muitos anos depois essa versão seria abalada – e, hoje, encontra-se em frangalhos, daí a nova onda de livros anti-comunistas sobre a história da URSS, que não seriam necessários, pois apenas repetem os anteriores, se não fosse para tentar costurar esses frangalhos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Provavelmente, era pedir demais a Spassky que percebesse essas coisas, que na época não estavam claras nem para gente de muito mais responsabilidade do que ele.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Assim, Spassky entrou no match já derrotado. Não enxadristicamente derrotado, mas ideologicamente derrotado, numa guerra em que o xadrez era a forma sob a qual se travava uma batalha ideológica. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">MEMORIAL </span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Pretextando a presença de câmeras de televisão, Fischer não compareceu à segunda partida do match. Não voltaremos, aqui, à questão da interferência de Kissinger, já abordada na parte anterior, nem nos deteremos em todas as miudezas levantadas ou provocadas por Fischer durante o match. Que Spassky haja se abalado tanto com elas, apenas demonstra o quanto ele já entrou batido nessa luta.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Para tornar sua situação mais complicada, houve uma série de desastres na preparação para o match. O maior deles, em nossa opinião, foi a realização, em novembro de 1971, de um torneio público, o Memorial Alekhine (logo com esse nome, e nessa hora!) com alguns dos principais jogadores soviéticos e de outros países – inclusive o americano Robert Byrne e o islandês Olafsson, conhecido amigo de Fischer. A atuação de Spassky, que chegou em sexto lugar (aliás, sétimo, pois, pelos critérios de desempate, Tahl acabou em sexto), somente serviu para fornecer uma demonstração pública de fraqueza. Mais ainda porque Petrosian, derrotado por Fischer no mês anterior, ficou em quinto lugar. Se os responsáveis pela preparação de Spassky queriam espargir um pouco de sangue para estimular o apetite dos tubarões, dificilmente encontrariam forma melhor. Se queriam esmagar psicologicamente o próprio jogador que preparavam, também seria quase impossível idéia mais brilhante.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não por acaso, o chefe da preparação de Spassky era Alexander Kotov. Eis uma personalidade muito pouco abordada nos livros sobre história do xadrez. Já conhecemos (v. parte 6 deste artigo) o relato de Botvinnik, de como, nas Olimpíadas de Munique, Kotov, capitão da equipe soviética, tentou impor a ele, então campeão mundial, a submissão ao desejo americano de que pontuasse em branco contra Reshevsky.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Como jogador, o prestígio de Kotov era devido principalmente à sua vitória no Interzonal de Estocolmo, em 1952, a maior diferença de um primeiro colocado num Interzonal até que Fischer, em Palma de Mallorca, batesse o recorde por meio ponto. Mas, no ano seguinte, ficara em oitavo lugar no Torneio de Candidatos de Zurique, embora tenha sido o único a ganhar uma partida do vitorioso naquele torneio, Vassily Smyslov.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É verdade que seu prestígio era sombreado por uma história, segundo a qual tentara subornar o GM Alexander Tolush no campeonato soviético de 1945, não conseguindo o seu intento – Tolush ganhou a partida contra Kotov, o que fez com que este perdesse o terceiro lugar (acabou em sexto). Segundo outra versão, teria sido Tolush a oferecer-se para ser subornado, com o que concordou Kotov, mas não aceitou o preço - o total do prêmio correspondente ao terceiro lugar. Na duas versões, o papel de Kotov não é propriamente edificante.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Como autor, Kotov era responsável pela tentativa - aliás, bem sucedida após 1956 - de reabilitar Alekhine na URSS, com quatro volumes de uma alentada biografia enxadrística.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, as obras mais conhecidas de Kotov são “Pense como um Grande Mestre” e “Jogue como um Grande Mestre”, os dois primeiros volumes de uma trilogia que se encerrou com o menos conhecido “Treine como um Grande Mestre”. Sobre este último livro, não podemos dar uma opinião, pois não o lemos. Os outros dois nos parecem exemplares daquilo que Lenin, falando de Bukharin, chamou de “pensamento escolástico”, ou seja, não dialético. Se os GMs raciocinassem apenas daquela forma, ou essencialmente daquela forma, o xadrez seria um jogo muito chato. Até mesmo o GM inglês John Nunn, autor que está mais longe da dialética e do comunismo que Bobby Fischer, notou a fragilidade da concepção de Kotov (cf. Nunn, “Secrets of Practical Chess”, Gambit Publications, 1998, págs. 7 e seguintes). Além disso, como observou um jogador brasileiro, Kotov parece ignorar, e mesmo desprezar, toda a dimensão psicológica do xadrez, o que não é pouca coisa, em se tratando de um livro sobre xadrez.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A partir do final da década de 50, Kotov tornou-se um dos principais dirigentes da Federação de Xadrez da URSS. Ao que parece, ele deu-se muito bem com as mudanças que ocorreram no país a partir dessa época.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Como chefe da preparação de Spassky, ele foi autor de algumas das mais arrogantes e histéricas declarações dessa época. Mas nada se comparou à idéia de colocar Spassky no Memorial que homenageava o ídolo de Kotov, Alekhine. Ao que parece – mas disso não temos certeza, embora nos pareça provável – ele foi um obstáculo a que Spassky levasse Geller como seu “segundo” para Reikjavik. E, nesse caso, a escolha de Spassky era inteiramente correta. Aliás, era a melhor possível: Geller não somente era um dos mais capazes analistas da URSS, respeitado pelo próprio Botvinnik, como era, também, um dos poucos jogadores que tinham derrotado Fischer - nada menos do que 5 vezes (contra 3 derrotas e 2 empates), e conseguira esse resultado jogando sempre as linhas favoritas de Fischer, ou seja, lutando no terreno do oponente. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">KARPOV </span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-tvY7V9ZJUJs/UWAQqK9WarI/AAAAAAAAQAg/7zMP_y-wljk/s1600/Karpov+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-tvY7V9ZJUJs/UWAQqK9WarI/AAAAAAAAQAg/7zMP_y-wljk/s1600/Karpov+2.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: start;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
</div>
<div style="text-align: start;">
<b><span style="color: #20124d;">Nesse sentido, Spassky foi capaz, em 1972, de uma partida brilhante, a 13ª do match, onde arrasou Fischer em 31 movimentos, usando a famosa Variante Gotemburgo da Defesa Siciliana (hoje conhecida como “variante do peão envenenado”), desenvolvida primeiramente pelos soviéticos, mas colocada em evidência pelo norte-americano desde 1961.</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, num confronto que não era fundamentalmente enxadrístico, ganhou o lado mais decidido a derrotar o outro – Fischer venceu 7 partidas, empatou 11 e perdeu três, uma delas por W.O., fechando o match na 21ª partida.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-7PbyF-GevBg/UWAQrCJLQgI/AAAAAAAAQA0/TzBqwRTLiLk/s1600/karpov+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-7PbyF-GevBg/UWAQrCJLQgI/AAAAAAAAQA0/TzBqwRTLiLk/s1600/karpov+4.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Nos anos que se seguiram, a ascensão de Anatoli Karpov no xadrez mundial, sua vitória em 1974 nos matches contra Polugayevsky, Spassky e Korchnoi, a série de exigências de Fischer para disputar o título com Karpov, a aceitação da FIDE de quase todas essas exigências, e mesmo assim a recusa do campeão em enfrentar o desafiante, são fatos demasiado conhecidos para que tenhamos de nos debruçar sobre eles.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não pretendemos analisar em profundidade os motivos de Fischer para não defender seu título. Faremos apenas uma observação: em quase todos os relatos sobre essa época, ressalta-se o medo pânico que Fischer tinha de perder, após a conquista de 1972.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Parece-nos que este medo existia, como existia antes do título – e, no entanto, nos momentos decisivos, Fischer sempre conseguiu encontrar forças para superá-lo. Além disso, não nos parece indiscutível que Karpov estivesse em condições de derrotar Fischer num match já em 1975. Embora, a verdade é que esta é uma daquelas questões para as quais cabe o verso de T. S. Eliot: “o que poderia ter sido é abstração”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-tNM4aSJX_aA/UWAQq-J-T-I/AAAAAAAAQAw/1eMnyQ_h3Go/s1600/Karpov+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-tNM4aSJX_aA/UWAQq-J-T-I/AAAAAAAAQAw/1eMnyQ_h3Go/s1600/Karpov+3.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Portanto, em nossa opinião, há outro elemento - que, em geral, é subestimado, e, na maior parte das vezes, totalmente omitido.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Fischer havia empreendido a caça ao título, fundamentalmente, para, nas palavras do sutil Henry Kissinger, “bater os russos pela América”. E ele o tinha feito, não pela América, mas pelo establishment dos EUA. Três anos depois, é difícil considerar que essa motivação continuava a existir com a mesma intensidade. Nesse intervalo, houve Watergate, a queda de Nixon e Kissinger, os escândalos da CIA e a revelação de como os EUA estavam agindo no Vietnã.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No mesmo intervalo, Fischer havia se reaproximado da mãe, Regina, que não era propriamente, como já vimos, uma ardorosa defensora do status quo, muito pelo contrário. Não que tenha sido Regina a influenciá-lo a não disputar o título. Ao inverso, nos parece que foi o desencanto de Fischer com o uso de sua conquista pelo establishment, que fez com que ele se reaproximasse de sua mãe.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-in-aPkeHZ8s/UWAQqfX02kI/AAAAAAAAQAo/2HXL_xdvaxE/s1600/Karpov+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-in-aPkeHZ8s/UWAQqfX02kI/AAAAAAAAQAo/2HXL_xdvaxE/s1600/Karpov+1.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Se Spassky, três anos antes, tinha dúvidas sobre se valia a pena lutar pela URSS, agora era Fischer que não via grandes razões para empenhar-se em lutar por algo que já não lhe parecia a mesma coisa daquela época em que recebeu o telefonema de Kissinger.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias12.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias12.htm</a></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-79410448048676810192013-04-06T05:07:00.004-07:002013-04-06T05:07:53.898-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 11<div style="text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-bSHDC1ptIf4/UWAPL9GRDTI/AAAAAAAAP_0/nkRfBM5uf64/s1600/Fischer+7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-bSHDC1ptIf4/UWAPL9GRDTI/AAAAAAAAP_0/nkRfBM5uf64/s1600/Fischer+7.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<b><span style="color: red;">Misérias e Glórias do Xadrez - 11</span></b><br />
<b><span style="color: red;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Nosso relato da trama que permitiu a Fischer enfrentar Spassky não tem, evidentemente, o objetivo de negar que ele fosse - e, provavelmente, ainda seja - um grande enxadrista, dos maiores que já existiram. Porém, as regras têm de valer até para os melhores – mesmo para o melhor do mundo. Aliás, sobretudo para este. Caso contrário, instaura-se o vale-tudo e, se nos permitem as senhoras e senhoritas que nos lêem, segue-se o popular pega-pra-capar.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">O atropelo das regras, por razões puramente políticas, extra-enxadrísticas, para colocar Fischer como candidato ao título foi mais um prego no caixão da estrutura estabelecida após a morte de Alekhine, em 1946. Naturalmente, era possível aperfeiçoar e mesmo mudar, se fosse necessário, aquela organização, desenhada fundamentalmente por Botvinnik. Desde que fosse para outra. Mas o rumo a partir do final da década de 50 não levava a outra estrutura, fosse melhor ou pior – levava a nenhuma, como ficou claro em 1993, quando Kasparov resolveu passar por cima, não mais das regras, mas da própria FIDE, com as conseqüências que até hoje não foram inteiramente superadas.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">É necessário ressaltar, porém, que a anarquia implantada nos anos 90 – que tem relação direta com aquilo que se chama “a anarquia do mercado” - só foi possível porque a FIDE havia, no correr dos anos, atingido um grau de desmoralização que lhe tornou impossível resistir ao ataque daqueles a quem ela havia cedido paulatinamente durante 35 anos: basicamente, a cúpula e a mídia dos países centrais, que agora sustentavam Kasparov contra a FIDE.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">O atropelo dos anos 70 foi, portanto, um prego no caixão da própria FIDE – que somente a partir de 2005, com o Torneio de San Luís, conseguiu algum sucesso em suas manobras de ressuscitação.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">A semente desse estado de caos e desmoralização havia sido plantada pelas interferências em função da mal chamada “guerra fria” - facilitadas pela defensiva dos soviéticos, a chamada política de apaziguamento, inaugurada por Kruschev. Porém, esta semente não conseguiu cair em solo fértil logo no início do plantio. Pelo contrário, para isso foram necessários mais de 30 anos de adubagem – começando pela revogação do direito ao match-revanche, pela abolição do torneio de candidatos e, com destaque, para a forma como Fischer chegou a campeão mundial.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;">KISSINGER</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-GkDHp_FWZYo/UWAHpsUm7DI/AAAAAAAAP-E/BmpRj8DBwGs/s1600/Fischer+9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-GkDHp_FWZYo/UWAHpsUm7DI/AAAAAAAAP-E/BmpRj8DBwGs/s1600/Fischer+9.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">No artigo de Al Lawrence que já mencionamos, um dos relatos mais importantes de Leroy Dubeck, presidente da Federação de Xadrez dos EUA (USFC) de 1969 a 1972, é o de que “foi um telefonema do Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente Nixon, Henry Kissinger, que colocou Fischer em posição de sentido. ‘O Dr. Kissinger disse a Bobby que ele devia derrotar os russos pela América’, disse Dubeck. ‘A face de Fischer foi subitamente tomada por um olhar de determinação, como se ele estivesse indo para uma batalha’. Bobby seguiu para cumprir sua missão” (cf., Al Lawrence, “Fischer: fame to fallout”, Chess Life Magazine, 09/2007).</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Não é muito difícil, diante disso, compreender o ressentimento atual de Fischer com os EUA, depois que seus bens – inclusive os direitos autorais de seus livros – foram confiscados e sua prisão foi decretada pelo governo americano por ter rompido o bloqueio à Iugoslávia, medidas totalmente ilegais, baseadas apenas numa “ordem executiva” de Bush, o pai. Fischer, aliás, tem bastante razão quando diz que, antes que vencesse o match pelo campeonato do mundo, os EUA eram conhecidos como “um país do baseball ou do futebol americano”, esportes, digamos assim, de prestígio intelectual menor do que o xadrez. Para ser rigoroso, de prestígio, inclusive intelectual, menor do que o futebol que nós criamos a partir do que antes era o “rude esporte bretão”...</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Lawrence localiza o telefonema de Kissinger nos momentos que antecederam a ida de Fischer para Reikjavik, onde foi o match com Spassky. E, pela forma como conta a história (“a face de Fischer”, etc.), Dubeck estava presente. No entanto, no relato deste, não há menção ao momento desse telefonema.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Certamente, as coisas podem ter acontecido do modo como diz Lawrence. Mas não é provável que isto seja tudo. Havia, sem dúvida, dificuldades de última hora, colocadas por Fischer, para viajar à Islândia. Mas, nesse momento, Fischer já havia vencido o Interzonal de Palma de Mallorca, já havia batido, por um placar inédito (6 a 0), dois outros candidatos a desafiante (Taimanov e Larsen), já havia derrotado Petrosian, último concorrente no seu caminho para chegar ao match com o campeão – e, para completar, Spassky já havia, no Torneio Memorial Alekhine, que os soviéticos, desastradamente, organizaram para sua preparação, chegado em sexto lugar. Não havia outro momento melhor para que ele chegasse a campeão do mundo.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Kissinger pode muito bem haver telefonado nesse momento, e deve tê-lo feito. Mas dificilmente foi o seu primeiro contato com a questão – e, de resto, com Fischer. Até porque suas funções como “conselheiro de segurança nacional” eram, sobretudo, as de coordenação da CIA e outros aparelhos semelhantes, como se tornou evidente um ano depois, no sanguinário golpe contra o presidente Allende, no Chile. Seja como for, sua interferência é a hipótese mais provável para a mudança de Fischer após o campeonato dos EUA, sua súbita decisão de aceitar as irregulares gestões para colocá-lo no Interzonal de Palma de Mallorca.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Nos detivemos especificamente nessa questão porque os telefonemas de Kissinger, recentemente, foram matéria de polêmica, depois do lançamento de “Bobby Fischer Goes to War”, dos ingleses David Edmonds e John Eidinow, em 2004. O livro é bem característico de certo tipo de jornalistas – não necessariamente ingleses ou norte-americanos: um pires de superficialidade com uma coleção de preconceitos anticomunistas. Entretanto, mesmo para essa espécie de obra, os dois autores são muito exagerados: até mesmo o “Washington Post”, numa resenha assinada por Andrew Meier, não conseguiu deixar de, pelo menos de passagem, registrá-lo.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">A documentação de “Bobby Fischer Goes to War” é bastante débil. Por exemplo, a KGB é acusada de cobras e lagartos, sem que nenhum documento dos seus arquivos (abertos desde 1992, portanto, 12 anos antes da publicação do livro) seja sequer mencionado. Mas, no livro, são relatados dois telefonemas de Kissinger para Fischer. Um deles antes da viagem para Reikjavik, que parece ser o mesmo citado por Dubeck, e outro depois da segunda partida do match – à qual Fischer, derrotado na primeira partida, não compareceu, arriscando-se a ser desclassificado, não fosse a complacência infinita da FIDE. Quantos outros telefonemas ou contatos do governo americano com Fischer houve nessa época, é questão que ainda não é clara.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Totalmente claro é que o coronel Ed Edmonson se transformou num verdadeiro controlador de Fischer nessa época. Quando não conseguia controlar, como nos dois casos citados, apelava para instâncias mais acima.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">TURBILHÃO</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Fischer venceu o Interzonal de Palma de Mallorca com 18,5 pontos, uma diferença excepcional de 3,5 pontos em relação aos segundos colocados - o dinamarquês Bent Larsen, o soviético Efim Geller e o alemão ocidental Robert Hubner. Além desses, saíram classificados do Interzonal, para disputar os matches com os candidatos já pré-classificados (Petrosian e Korchnoi), o soviético Mark Taimanov e o alemão oriental Wolfgang Uhlmann. A única derrota de Fischer havia sido para Larsen, durante a nona rodada. Como a maioria dos jogadores estratégicos (“posicionais”), como Capablanca ou Botvinnik, Fischer podia ser surpreendido, numa partida de torneio, por um jogador tático, como Larsen. Num match, este não perderia por esperar...</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Esse resultado de Fischer seria apagado da memória de todos apenas cinco meses depois, quando, no match das quartas de final, derrotou o GM soviético Mark Taimanov por 6 a 0 (ou seja, num match previsto para 10 partidas, venceu seis partidas seguidas, sem nenhum empate e sem nenhuma derrota), um resultado completamente espetacular em confrontos entre Grandes Mestres.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Taimanov, também um grande pianista clássico, não tinha, até pela idade – 45 anos – condição de enfrentar Fischer num match. Na verdade, seu auge havia sido na década de 50. O fato de ter saído do Interzonal como um dos candidatos soviéticos, demonstra, mais uma vez, os problemas de renovação que o xadrez da URSS enfrentava na época.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">O próprio Taimanov, ao descrever a terceira – e decisiva – partida do match, fornece uma descrição das dificuldades, e, antes de tudo, da intimidação dos jogadores soviéticos diante de Fischer: “O terrível sentimento de que eu estava jogando contra uma máquina que nunca cometia qualquer erro quebrou minha resistência. Fischer jamais permitia alguma debilidade em sua posição, ele era um defensor incrivelmente tenaz. (....) Depois de uma bela seqüência tática, coloquei meu oponente diante de sérios problemas. Numa posição que eu considerei ganhadora, não pude achar um caminho para romper suas defesas. Para cada idéia promissora, eu achava uma resposta para Fischer. Fiquei profundamente absorvido em pensamentos, que não produziram resultado positivo algum. Frustrado e exausto, eu evitei a linha crítica no final e perdi o fio do jogo, o que, em conseqüência, levou à minha derrota. Dez anos depois, pelo menos eu descobri como poderia ter vencido esse jogo fatal, mas, infelizmente, isso não tinha mais nenhuma importância” (entrevista de Taimanov ao GM francês Joel Lautier, Chessbase, 23/05/2002 – NOTA para os não enxadristas: “linha crítica” é aquela na qual, teoricamente, os dois lados realizam as melhores jogadas possíveis em cada posição que surge).</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Fischer, havia muito, respondera a essa acusação (feita pela primeira vez, num acesso de ranzinzice, por Botvinnik) do seu jeito: “Não sou uma máquina. Sou apenas um homem, mas um homem extraordinário”.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Mas ele era um jogador muito preciso – Taimanov ressalta, corretamente, seus méritos como defensor, quando, geralmente, ele é conhecido como um jogador de ataque. No entanto, Fischer se arriscava pouco – como Capablanca, com quem foi comparado por Spassky, ele gostava de posições claras e seqüências rigorosamente lógicas.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Fischer tinha, porém, como todo jogador, seu calcanhar de Aquiles: as posições incertas, em que é difícil calcular as seqüências de jogadas e avaliar as posições que sairão delas. Ao contrário de Tahl - e, inclusive, de Smyslov - a intuição jamais foi a sua praia. O problema, como na época de Capablanca, é que havia muito poucos jogadores no mundo que conseguiam criar posições “incertas” jogando contra Fischer. Um deles, o citado Mikhail Tahl, não era candidato ao título (acometido por seus problemas de saúde, ficara em 15º lugar no campeonato soviético de 1969, não conseguindo vaga para o Interzonal). Mas havia outro que já demonstrara essa capacidade: Boris Spassky, o campeão mundial, detentor de um retrospecto de três vitórias, dois empates e nenhuma derrota contra Fischer.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">LARSEN</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-6eM_skmmeoM/UWAO9cxEtSI/AAAAAAAAP_U/90DMl3tOcqc/s1600/Larsen+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-6eM_skmmeoM/UWAO9cxEtSI/AAAAAAAAP_U/90DMl3tOcqc/s1600/Larsen+1.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Embora isso não tenha sido enfatizado na época, era evidente que o sistema de matches favorecia Fischer, assim como o antigo sistema, o Torneio de Candidatos, era-lhe menos favorável. Não pelas razões que Fischer havia apontado em 1962. Enfrentar um só jogador várias vezes seguidas, para uma mente como a de Fischer, capaz de um vasto conhecimento das partidas do oponente, mas com repertório de aberturas razoavelmente restrito - ainda que alcançasse profundidade incomum em cada uma de suas linhas favoritas -, era um terreno mais fácil do que enfrentar oponentes diferentes a cada dia, com suas distinções de estilo e várias especialidades. O que não quer dizer que ele não pudesse, no início dos anos 70, sair vencedor num torneio de candidatos. Mas não deixa de ser verdade, por outro lado, que para jogadores mais velhos os matches são particularmente desgastantes.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Nos outros matches das quartas de final, Korchnoi venceu Geller, Larsen venceu Uhlmann e o ex-campeão Tigran Petrosian venceu Hubner. Nas semifinais, enfrentar-se-iam Fischer contra Larsen e Petrosian contra Korchnoi.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-aizqdJlXynk/UWAO9_PodUI/AAAAAAAAP_c/jFkM-SYYblc/s1600/Larsen+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-aizqdJlXynk/UWAO9_PodUI/AAAAAAAAP_c/jFkM-SYYblc/s1600/Larsen+2.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Muito poucos jogadores na história conseguiram os resultados de Bent Larsen: quatro vezes candidato a desafiante do campeão, Larsen foi primeiro colocado em três Torneios Interzonais (Amsterdã, em 1964; Sousse, em 1967; e, depois dos acontecimentos que estamos relatando, Biel, em 1976). Com exceção do próprio Fischer, ele era o mais forte jogador ocidental. Apesar disso, sua escolha de linhas pouco comuns – e, sobretudo, duvidosas – assim como seu retrospecto contra Fischer (5 derrotas, 2 vitórias e 1 empate), não prometiam uma surpresa contra o norte-americano.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Porém, assim mesmo, houve uma surpresa: o que se viu foi um massacre, o segundo em poucos meses. Fischer venceu outra vez por 6 a 0. Aqui, permitam-nos os leitores emitir uma opinião, sem dúvida discutível: Larsen nunca foi um jogador sólido, o que, do nosso ponto de vista, é uma função da profundidade do pensamento. A escolha excêntrica de aberturas escondia – ou, talvez, expunha – essa falta de profundidade.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Certas escolhas de Larsen mostram um evidente decolamento da realidade. Um fenômeno, aliás, ao qual ele nunca foi estranho – basta ver suas explicações para a derrota, em que, parece, ele acredita que o culpado foi o clima de Denver, onde se realizou o match (“Os organizadores escolheram a época [do ano] errada para esse match. Eu estava lânguido com o calor e Fischer estava melhor preparado para tais circunstâncias...”) ou sua subestimação de Capablanca (“apenas jogava bem xadrez. E daí?”), que mostra o quanto ele não conseguia se desligar do meramente espetaculoso.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">PETROSIAN</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-kVUiElnZqDg/UWAPBncdqhI/AAAAAAAAP_k/DjH2jZ4cjIM/s1600/Petrosian+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-kVUiElnZqDg/UWAPBncdqhI/AAAAAAAAP_k/DjH2jZ4cjIM/s1600/Petrosian+1.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: start;">
<br /></div>
<div style="text-align: start;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Petrosian era um jogador de qualidade diferente de Taimanov e Larsen. Não por acaso – e contra um suposto favoritismo de Korchnoi – havia chegado ao match final dos candidatos. É verdade que já havia conquistado em xadrez todas as glórias possíveis. Exceto, naturalmente, ser campeão por uma terceira vez. Mas essa ambição, em si, parece jamais tê-lo mobilizado. Apesar disso, estava na final e seria um oponente mais difícil para Fischer do que qualquer um dos anteriores.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Logo na primeira partida, Petrosian refutou uma das linhas favoritas de Fischer, seguindo um estudo realizado por jogadores soviéticos, e ficou claramente melhor no tabuleiro. Foi então que aconteceu um fato único nos campeonatos mundiais: as luzes do Teatro General San Martín, em Buenos Aires, se apagaram. Os árbitros, então, paralisaram os relógios. Mas Fischer insistiu em continuar, no escuro, a análise da posição. Os árbitros permitiram. Quando as luzes se acenderam, a partida continuou de uma forma inusitada: o melhor atacante do xadrez mundial se defendendo com unhas e dentes e, atacando, estava o melhor defensor da história do xadrez. Mas o tempo foi fatal para Petrosian: com poucos segundos para terminar, ele erra - e Fischer acaba por ganhar a partida.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Mas, na segunda partida, Petrosian envolve o rei de Fischer numa perseguição que acaba no 32º lance. O score está igualado.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Na terceira, Petrosian outra vez consegue vantagem, mas Fischer escapa da derrota através de um empate por repetição de jogadas.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Na quarta partida, insolitamente, é Fischer quem oferece empate após alguns poucos lances. Seu conhecido espírito de luta parece arrefecido.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-RThB0kXlOXI/UWAPCZeF0vI/AAAAAAAAP_s/LMwbwEyNUUI/s1600/Petrosian+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-RThB0kXlOXI/UWAPCZeF0vI/AAAAAAAAP_s/LMwbwEyNUUI/s1600/Petrosian+2.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Na quinta, depois de recusar o empate proposto por Petrosian, Fischer, logo em seguida, propõe o mesmo, que é aceito. Larry Evans, um dos “segundos” de Fischer, fez, então, um comentário revelador: “Petrosian está fazendo com que Bobby jogue o tipo de xadrez que ele joga”,</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Porém, na sexta partida, Petrosian joga mal, erra, e Fischer vence. O cansaço e a progressiva exaustão começam a ser fatores de peso - contra o soviético. Esse era, frisamos, o terceiro match que os jogadores disputavam no espaço de poucos meses (entre maio e setembro de 1971). E Petrosian tinha 14 anos a mais do que Fischer.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">A definição viria na partida seguinte – a decisiva do match. Fischer finalmente faz uma partida convincente e derrota Petrosian. Daí por diante, o cansaço e os problemas de saúde do soviético tornaram fácil para Fischer vencer mais duas partidas e fechar o match com 5 vitórias, uma derrota e três empates.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Com isso, só faltava Spassky no caminho de Fischer. Apesar de todos os seus problemas, o campeão não era um jogador fácil de derrotar, mesmo para Fischer.</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias11.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias11.htm</a></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-85948154094894384232013-04-06T04:58:00.004-07:002013-04-06T04:58:34.445-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 10<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-KeVPxKSV7P0/UWANJF-VXEI/AAAAAAAAP-4/ssNueuAckhc/s1600/Fischer+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-KeVPxKSV7P0/UWANJF-VXEI/AAAAAAAAP-4/ssNueuAckhc/s1600/Fischer+1.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: red; font-size: large;"><b>Misérias e Glórias do Xadrez - 10</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: red; font-size: large;"><b>Carlos Batista Lopes</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<span style="color: #20124d;"><b>A manobra era totalmente irregular: Fischer não havia participado do Campeonato dos EUA de 1969, que era ao mesmo tempo o torneio zonal que escolhia os participantes americanos no Interzonal de Palma de Mallorca. Portanto, não podia ir ao torneio e não podia estar entre os possíveis candidatos ao título mundial. No campeonato norte-americano, três jogadores haviam se classificado para o Interzonal: Reshevsky, Addison e Benko - naturalizado americano depois que, em 1958, abandonou a equipe da Hungria no Campeonato Mundial Estudantil por Equipes, na Islândia.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Pela desistência da vaga no Interzonal, Benko recebeu a módica quantia de US$ 2.000,00 da Federação de Xadrez dos EUA (USCF). É quase inevitável o pensamento de que os desertores do Leste europeu eram muito baratos...</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Benko, a julgar pelo incidente de 1962, no Interzonal de Curaçao, onde esmurrou seu colega de delegação, não era exatamente um amigo de Fischer. (Depois, Benko tentou fazer o papel, e talvez realmente tenha melhorado suas relações com Fischer. Porém, falar a verdade jamais foi um mandamento para ele: Benko demorou cinco anos para desmentir que tivesse recebido dinheiro para desistir do Interzonal, o que fez em julho de 1975 na "Chess Life & Review", onde afirmou que os US$ 2.000 eram referentes a serviços como "segundo" de Reshevsky e Addison. O que não impediu que o presidente da USFC na época do pagamento, Leroy Dubeck, assim como um ex-diretor-executivo da entidade - isto é, o tesoureiro de facto - reafirmassem posteriormente que o dinheiro foi em troca da desistência).</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">EDMONSON</span></b></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Ainda não é totalmente claro como foram as articulações para colocar Fischer no Interzonal. O fato é que desde antes do Campeonato dos EUA (novembro de 1969), o manda-chuva da USCF, coronel Ed Edmonson, fazia gestões para ter Fischer como candidato ao título, o que não havia feito no Interzonal de Sousse, nem quando o jogador norte-americano, apesar de estar à frente dos concorrentes, ameaçou abandonar o torneio - e, depois, cumpriu a ameaça.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Porém, dessa vez Edmonson, um "oficial de inteligência" da Força Aérea, tentou convencer Fischer - a correspondência entre os dois é hoje pública – a participar do campeonato americano, onde seria, certamente, classificado para o Interzonal: desde 1957, Fischer somente não havia sido campeão dos EUA nos anos em que não participou do campeonato.</b></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-d-wknzmsQTE/UWAHokiPcII/AAAAAAAAP94/Mm20sfiGnQ8/s1600/Fischer+6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-d-wknzmsQTE/UWAHokiPcII/AAAAAAAAP94/Mm20sfiGnQ8/s1600/Fischer+6.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span></div>
<br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Antes que apareçam acusações de que estamos possuídos por uma "visão conspirativa da história" (como se as conspirações, as verdadeiras, não existissem na luta política, e, portanto, na História), esclarecemos que o coronel Edmonson realmente interessava-se por xadrez. É verdade que a única partida que conhecemos dele é medíocre, mais ainda considerando as condições em que foi jogada: numa simultânea contra Koltanowsky, em que este, "às cegas" (ou seja, sem tabuleiro, apenas com a memória), enfrentou 56 jogadores. Mas, dirigentes de entidades, sejam de xadrez ou de futebol, não necessitam ser bons jogadores - senão, o Duailibe e o Eurico Miranda não poderiam chegar a presidentes do Corinthians e do Vasco.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>No entanto, parece que havia alguma razão além das enxadrísticas para que um "oficial de inteligência", um coronel aposentado da Força Aérea, tenha se tornado presidente da USCF, e, depois de encerrado o seu mandato, tenha assumido um cargo criado especialmente para ele – o de "diretor-executivo" - com poderes reais acima da autoridade formal do presidente.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Não se trata de uma especulação, ou de mera opinião. Vejamos o que diz um dos sucessores de Edmonson na "diretoria-executiva" da USCF, Al Lawrence, em artigo publicado na edição de setembro último da revista da entidade, "Chess Life Magazine".</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Lawrence lembra que, pelas regras, era "irremediável" (sic) que Fischer não podia participar do Interzonal de Palma de Mallorca. E, continua: "O mais importante é que não havia dispositivo algum do estatuto da USFC que permitisse substituir por Fischer um dos legitimamente classificados. Dubeck e Edmonson tiveram que engendrar a criação de uma regra que permitisse isso. Eles, então, pagaram US$ 2.000 ao GM Pal Benko para sair fora. Além disso, tiveram que fazer uma artimanha política na FIDE para ganhar o controle da diretoria (....). Dubeck é rápido em dar todo o crédito às bem sucedidas estratégias fora do tabuleiro de Edmonson, um coronel aposentado da Força Aérea" (cf., Al Lawrence, "Fischer: fame to fallout", Chess Life Magazine, setembro/2007 - grifos nossos).</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>A "artimanha" para controlar a diretoria da FIDE foi um encontro clandestino de Edmonson e Dubeck com um delegado soviético. Segundo o depoimento de Dubeck a Lawrence, esse delegado queria "fazer um acordo com Edmonson". Por quê com Edmonson e não com Dubeck, que era o presidente da USFC?</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Não era apenas porque todos sabiam que quem mandava na USFC era Edmonson. A questão é que este era quem tinha as ligações subterrâneas, ou seja, com os órgãos de espionagem norte-americanos. Caso contrário, não poderia saber - como Dubeck, até então, não sabia - que havia um delegado soviético querendo "fazer um acordo".</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>É o que explica que Dubeck acrescente que o obstáculo para realizar o acordo era a KGB. Segundo ele, o intérprete do delegado soviético era um agente da KGB (no original, "um reputado assassino da KGB" - para certos norte-americanos, isso é a mesma coisa que "um agente da KGB"; que diabo estaria fazendo nessa história um "assassino"? Que utilidade teria? Essa questão não parece ter ocorrido a Dubeck; mas Edmonson sabia, como veremos, que esse "assassino" servia apenas para contemplar a fantasia e os escrúpulos de Dubeck - cobrindo um ato de corrupção com uma capa de ato heróico).</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>"Edmondson treinou Dubeck sobre o que fazer". Quando se encontraram com o delegado soviético e seu intérprete, no ponto marcado pelo primeiro, "Dubeck subitamente puxou o perplexo agente para dentro de uma loja de roupas, insistindo em obter o conselho do russo sobre uma compra. Não se preocupe, Edmonson havia dito a Dubeck, é improvável que ele se arrisque a matar o presidente da USCF. ‘E funcionou’, disse Dubeck a Lawrence, "eu tirei o agente da KGB do caminho e Ed fez o acordo. Ele foi eleito para a diretoria da FIDE, e, desde que devia sua posição a nós, seu voto estaria à disposição mais tarde’". (Al Lawrence, art. cit.).</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>O que há de verdade nessa história, não sabemos. O ilustrativo nesse relato é o papel de Edmonson. Qualquer semelhança com um agente da CIA, NSA ou agências semelhantes não parece ser mera coincidência.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Dubeck não parece um mentiroso. Pelo contrário, o que conta é muito comprometedor, inclusive para ele, e sempre relata os acontecimentos da maneira que se esperaria, isto é, naquele estilo algo elíptico que se tornou uma característica do fariseu norte-americano, e que alguns ingênuos, por mimese, também acabaram por adotar. Por exemplo, sobre os telegramas que enviou a Max Euwe (o ex-campeão substituíra Rogard como presidente da FIDE) a respeito da participação de Fischer: "Alguns deles não eram, devemos dizer, completamente honestos".</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Não há como saber, com os dados disponíveis, se era realmente o suposto soviético "da KGB" que Edmonson queria afastar, para que pudesse fazer o acordo com o outro. Pois, se há algo estranho no relato de Dubeck é um soviético que - em linguagem sem rebuços - queria trair, comparecer a um encontro clandestino com dois americanos, levando, ou sendo acompanhado ostensivamente, por um agente da KGB. Quase tão estranho é os dois americanos comparecerem a esse encontro. Será que o suposto "agente da KGB" era mesmo quem Edmonson queria afastar do encontro com o delegado soviético? Ou era Dubeck quem ele queria que não tomasse conhecimento do acordo? Pois o presidente da USCF somente soube do acordo através de Edmonson. Não estava presente quando foi fechado, pois estava ocupado em impedir que o suposto "assassino", que mais parecia um dos Três Patetas do que um agente da KGB, continuasse grudado no delegado soviético... Mas, com esse ato indômito, para o qual tinha sido "treinado" por Edmonson, também Dubeck ficou fora do encontro.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Nos parece difícil que um delegado soviético na FIDE votasse contra a posição da Federação de Xadrez da URSS, assim como qualquer delegado em relação à posição de sua federação nacional. Mas talvez não fosse necessário: a postura dos soviéticos já era demasiado conciliadora. Dubeck está se referindo, nesse caso, a impedir que alguma atitude inusitada de Fischer provocasse sua desclassificação pela FIDE. Assim, o suborno de um delegado soviético seria uma tentativa de conseguir uma garantia a mais de que o plano para derrotar a URSS não viesse por água abaixo devido a alguma atitude antiesportiva do seu próprio jogador. Além do que, é bom lembrar, os membros da diretoria da FIDE não teriam tempo de consultar sua federação a respeito de quaisquer questiúnculas levantadas por Fischer. Sobretudo numa época em que as comunicações de longa distância eram feitas pelo antigo telefone e pelo telégrafo, eles teriam alguma autonomia para decidir as várias - e foram inúmeras - questões levantadas.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Sobre isso, é interessante uma observação de Dubeck, em seu depoimento para Al Lawrence, sobre a atitude do presidente da FIDE: "Ele devia ter desclassificado Fischer, mas não o fez".</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">ENTRESSAFRA</span></b></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Em resumo, o xadrez não parece ter sido, desde cedo, uma área negligenciada pelo establishment dos EUA no confronto com a URSS.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>O que não se sabe - ou, melhor, nós não sabemos - é até que ponto a ação de Edmonson, no início, estava articulada com escalões mais altos do governo e dos órgãos de "inteligência" americanos. É possível que tenha sido ele o primeiro a perceber que os norte-americanos, diante da entressafra que acometia o xadrez soviético, tinham, afinal, uma chance de golpear o prestígio da URSS numa área onde ele jamais havia sido abalado, apesar de todas as renitentes tentativas anteriores.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Mas também é possível que essa situação tenha sido avaliada primeiramente em nível mais alto. Afinal, entre os 200 mil funcionários que, segundo o Congresso dos EUA, havia na CIA e órgãos congêneres nessa época, devia haver algum, ou alguns, que estavam dedicados a analisar a situação no xadrez soviético e podiam perceber o que estava acontecendo: Botvinnik já havia se retirado das competições; Keres, Petrosian, Smyslov e Geller não tinham, até pela idade, condições de se opor a Fischer; Tahl apresentava uma saúde demasiado frágil; e Korchnoi, cada vez mais histérico, não era um competidor sério.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Porém, havia à disposição dos norte-americanos algo ainda mais concreto do que essa avaliação geral.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b>O campeonato soviético de 1969 ocorreu em Moscou, entre 6 de setembro e 12 de outubro daquele ano. Já o campeonato dos EUA aconteceu em Nova Iorque, de 30 de novembro a 17 de dezembro. Ambos valiam como torneios zonais, ou seja, classificavam jogadores do país para o Interzonal de Palma de Mallorca que, por sua vez, decidiria seis dos candidatos a desafiante de Spassky, além de Petrosian e de Korchnoi, que já estavam classificados, o último por ter sido finalista nos matches entre candidatos do campeonato anterior). </b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Portanto, quando o coronel Edmonson deu a partida para o campeonato norte-americano, já sabia quem eram os jogadores soviéticos que haviam sido qualificados para o Interzonal: Smyslov, Polugayevsky, Taimanov e Geller.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>O primeiro, pela idade e pelo retrospecto desfavorável (5 derrotas, 5 empates e apenas uma vitória contra Fischer), não era páreo, sobretudo num match longo, quanto mais em três matches longos - pois esta era a forma de decidir, após a abolição do Torneio de Candidatos, quem seria o desafiante do campeão mundial; o segundo, jamais havia enfrentado Fischer (no Interzonal de Palma de Mallorca, eles empataram) e, apesar de excelente jogador, dificilmente alguém pensaria em colocá-lo no mesmo nível do norte-americano; o terceiro, já era considerado um veterano no final da década de 50 - pelo menos assim o chamou, naquela época, Vasily Panov, em seu famoso livro sobre as aberturas do xadrez; restava Geller, um dos três jogadores soviéticos com retrospecto favorável diante de Fischer (ou outros eram Tahl e o próprio campeão, Boris Spassky). Mas Geller já estava a caminho dos 50 anos, enquanto Fischer nem havia completado 30. Num match longo, para não falar em três, essa é uma diferença fatal.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Além dessa avaliação sobre os que concorriam com Fischer, dificilmente os problemas específicos de Spassky deixaram de merecer atenção nos EUA. Era público o desconforto de Spassky com a política soviética, sobretudo após os acontecimentos na Tcheco-eslováquia em 1968, e, desgraçadamente, não porque fosse partidário de outro caminho para o socialismo. Como outros, apenas esmagava-se diante da campanha que pintava a URSS como uma tirania e os EUA como uma democracia, assim como a área de influência do último - aquela coleção de ditaduras que tão bem conhecemos - como "mundo livre". </b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Em suma, no momento em que, para enfrentar Fischer, era necessário acreditar que valia a pena defender a URSS, pois a luta enxadrística havia se transformado numa guerra política, o melhor jogador soviético, para usar uma expressão moderada, não tinha certeza sobre isso.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>BOBBY</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>No entanto, o problema de Edmonson e do establishment norte-americano era Fischer. Apesar da FIDE, depois de suas acusações aos soviéticos em 1962, haver mudado a forma de disputa do título - e exatamente no sentido que ele havia proposto – Fischer não disputara mais o campeonato mundial. Não comparecera ao Interzonal de Amsterdã, em 1964, apesar de estar classificado (foi campeão dos EUA no ano anterior) e abandonara o Interzonal de Sousse, em 1967 - um escândalo que rendeu não poucas páginas às revistas de xadrez, causado pela perplexidade: Fischer estava em primeiro lugar, com um resultado impressionante (em 10 partidas havia ganho sete e empatado três), quando se retirara, mesmo com a FIDE cedendo às exigências de que sua agenda de jogos – e, portanto, também a de seus oponentes - estivesse submetida aos dogmas da Igreja Mundial de Deus.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Edmonson não conseguira que Fischer disputasse o Campeonato dos EUA de 1969. Mas, então, providenciou a esquisita interpretação para inclui-lo no Interzonal de Palma de Mallorca: se um dos três americanos classificados para o Interzonal desistisse e os outros jogadores que participaram da final do Campeonato dos EUA - portanto, suplentes dos classificados - concordassem, isto é, também desistissem de substituir o desistente, Fischer poderia jogar em Palma de Mallorca.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-3ce7uNcel1I/UWANJBh9HzI/AAAAAAAAP_A/KVQNCzNUnoo/s1600/Fischer+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-3ce7uNcel1I/UWANJBh9HzI/AAAAAAAAP_A/KVQNCzNUnoo/s1600/Fischer+2.jpg" /></a></div>
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Restava apenas convencer Fischer. É nesse momento que a Casa Branca, isto é, Nixon e, sobretudo, Kissinger, na época Conselheiro de Segurança Nacional, parecem ter saído dos bastidores e entrado em cena.</b></span><br />
<span style="color: #20124d;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #20124d;"><b>Carlos Batista Lopes</b></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias10.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias10.htm</a></b><br />
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-14318121835302644152013-04-06T04:54:00.002-07:002013-04-06T04:54:14.000-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 9<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-PmMhJhAfYG4/UWALwQ5L9PI/AAAAAAAAP-U/8xA75CmnPA8/s1600/Spassky+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-PmMhJhAfYG4/UWALwQ5L9PI/AAAAAAAAP-U/8xA75CmnPA8/s1600/Spassky+1.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 9</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Tigran Petrosian foi, ao mesmo tempo, um dos jogadores de xadrez mais originais da história e um dos mais subestimados – sobretudo, na época, pela imprensa soviética. Por isso, vale a pena reproduzir o juízo do campeão que ele derrotou em 1963:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Petrosian possui um talento único em xadrez. Como Tahl, ele não esforça-se para jogar ‘de acordo com a posição’, no sentido em que antes isso era entendido. Mas enquanto Tahl tentava alcançar posições dinâmicas, Petrosian criava posições nas quais os eventos se desenvolviam como num filme em câmara lenta. É difícil atacar suas peças: as peças atacantes só avançam lentamente, atoladas no pântano que cerca o campo das peças de Petrosian. Se, finalmente, você arma um ataque, então resta pouco tempo, ou a fadiga entra em jogo. Para entender a força do novo campeão, é necessário também notar a excelente técnica de Petrosian na realização da vantagem posicional” (Botvinnik, “Achieving the Aim”, ed. cit., pág. 172 – o grifo é nosso).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Avaliação essa que tem algum parentesco com o comentário de Fischer, na análise de sua partida com Petrosian, no Torneio Interzonal de Portoroz: “Eu estava pasmado no transcorrer do jogo. Cada vez que Petrosian conseguia uma boa posição, ele manobrava para obter uma melhor” (Fischer, “My 60 Memorable Games”, ed. cit., pág. 27).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Botvinnik lembra, também, que, apesar de não haver “jogado muito bem” durante o match, “minha forma não era de todo má: três meses depois, na Spartakíada dos Povos da URSS, fiz 8 pontos em 9 possíveis!”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, a consideração de que Petrosian “não esforça-se para jogar de acordo com a posição” pode levar a uma idéia errônea do seu estilo. Ao contrário de Tahl, com quem Botvinnik o compara, Petrosian foi um jogador com um sentido de posição (ou seja, senso estratégico) além das concepções anteriores, daí a observação de que ele não jogava “de acordo com a posição no sentido em que antes isso era entendido”. Realmente, Petrosian extraiu, pode-se dizer, as últimas conseqüências do conceito de posição, formulado por Steinitz (v. parte 1 desta série) na segunda metade do século XIX. Ou seja, Petrosian subiu um novo degrau na estratégia em xadrez.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Para não dificultar a compreensão dos leitores que não são enxadristas, ficaremos por aqui a respeito dessa questão, acrescentando apenas a síntese de Petrosian: “Estou absolutamente convicto de que no xadrez – apesar dele continuar sendo um jogo – nada é acidental. Este é o meu credo”. Observemos que tal formulação vai além, por exemplo, da declaração de Capablanca: “não acredito em combinações que não sejam rigorosamente calculadas”, na qual o leitor poderá, sem prejuízo do conteúdo, substituir “combinações” por “seqüências de jogadas”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">DEFESA</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Petrosian foi, provavelmente, o único gênio defensivo do xadrez, e a maior demonstração desse talento é que conquistou duas vezes o título mundial – contra Botvinnik e, depois, contra Spassky, então em pleno auge. Como ele mesmo advertiu, “eu sou um sujeito cauteloso. Em meu estilo, como num espelho, está refletido o meu caráter. Entretanto, eu estou certo de que é impossível vencer dois campeões mundiais sendo apenas ‘cauteloso’” (Esta citação de Petrosian, como as posteriores, são do livro de G. Hakobyan, “Tigran Petrosian” - este livro só existe, atualmente, em armênio, mas alguns pequenos trechos foram traduzidos para o inglês no site “Chessgames”).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em suma, ele não via a defesa como algo passivo. São notáveis as suas partidas onde envolve progressivamente o oponente, deixando-o sem espaço e, cada vez mais, sem opções de jogadas (“pode ser que eu goste de defender mais do que de atacar. Mas quem provou que defender é menos perigoso do que atacar?”).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Sintomaticamente, Kasparov, que adotou e tentou rebatizar algumas das inovações de Petrosian (por exemplo, a chamada Variante Petrosian da Defesa Índia da Dama, que quase se tornou a “variante Kasparov”), diz, em “Meus Grandes Predecessores”, que o armênio era “o filho ideal de sua época. (....) [uma época] de completo sufocamento da liberdade de expressão, de diminuição na crença nos ideais comunistas, substituídos pelo conformismo, reticência, cautela e discrição. Em Petrosian, com sua infância difícil, quieta prudência e enorme talento natural, essas qualidades estavam presentes em plena medida” (grifos nossos).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Kasparov nem mesmo consegue perceber a contradição evidente entre “enorme talento” e as “qualidades” (?) de um burocrata cinzento, que atribui a Petrosian. Mas, por que ele acha que o talento de Petrosian era “natural”? Simplesmente porque é preciso que nenhuma característica positiva tenha a ver com a sociedade em que Petrosian nasceu e viveu. Por conseqüência, seu talento só pode ser um dom da natureza, um dom que, como raio em céu azul, a natureza pode conceder até a um “conformista”, ou seja, a uma mediocridade. Para completar esse mero mecanismo da propaganda reacionária, essa forjada mediocridade - e só ela - é que tem a ver com a sociedade em que Petrosian nasceu e viveu. Já o talento...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas isso é apenas mais um exemplo do vácuo moral de Kasparov, onde, há muito, a coerência e a integridade foram extirpadas pelo oportunismo sem escrúpulos. Para quem declarou, numa de suas viagens ao Brasil, que foi perseguido pelos comunistas porque era filho de um judeu e de uma armênia, tudo é possível. Já abordamos a suposta perseguição aos judeus e a consideração que Kasparov mostrou pelo pai. Resta agora apontar que, no livro que citamos, ele considera que a expressão maior no xadrez do regime que o teria perseguido por ser filho de uma armênia, era um armênio... Será que os comunistas só perseguiam os filhos de armênias, mas não os armênios?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Quanto à menção à “infância difícil” de Petrosian como origem de seu suposto “conformismo”, aqui entramos no terreno da infinita canalhice. Que, como quase sempre, é apenas uma projeção: Kasparov projeta, sobre um homem de caráter incomensuravelmente superior, os seus próprios problemas. Mas não é surpreendente que, por essa diferença de estatura, ele não consiga entender que as dificuldades nem sempre esmagam as pessoas, e que, ao contrário, muitos cresçam, e não pouco, ao enfrentar os desafios da vida.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">TRAJETÓRIA</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Realmente, o hoje famoso estilo defensivo de Petrosian parece ter profundas raízes psicológicas. Armênio, ele nasceu na Geórgia. Perdeu seus pais durante a II Guerra Mundial. Aos 15 anos, sem pai e sem mãe, assumiu a criação de seus irmãos. Sua única distração, durante essa época, parece ter sido o xadrez, descobrindo duas influências que o moldaram originalmente como jogador: as obras de Nimzowitsch, o teórico da escola “hipermoderna”, e as partidas de Capablanca. Sua primeira formação enxadrística, como a de Tahl, foi feita entre os Pioneiros Soviéticos – a instituição para-partidária que na URSS era dedicada às crianças.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Sua trajetória nunca foi fácil. Mas conseguiu sempre superar, com uma tenacidade impressionante, as dificuldades. Esteve 10 vezes entre os candidatos a desafiantes do campeão mundial - e venceu 4 vezes o Campeonato da URSS, não perdendo uma só partida em seis deles (nas Olimpíadas, de 129 partidas que jogou, perdeu uma). Era, além de tudo, um excelente caráter, a quem feria a incompreensão que seu estilo encontrou na época - como registrou o ex-campeão norte-americano Arthur Bisguier, um dos primeiros, após a morte de Petrosian, em 1984, a celebrá-lo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Apesar de todas as dificuldades, Petrosian foi um homem feliz. Em sua entrevista de 2003, a primeira mulher de Tahl, Sally Landau, lembra com admiração – e alguma inveja - o amor do casal Petrosian, Tigran e Rona Petrosian. Talvez o seu legado seja bem expresso por uma de suas observações: “Todo jogador de xadrez, quando enfrenta seu oponente, também enfrenta a si mesmo. Cada batalha é uma luta interior”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">SPASSKY</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-lT6kDvpxtpc/UWALw62qblI/AAAAAAAAP-c/aDNoHN2cTZQ/s1600/Spassky+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-lT6kDvpxtpc/UWALw62qblI/AAAAAAAAP-c/aDNoHN2cTZQ/s1600/Spassky+2.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É possível que somente muito tarde os responsáveis pelo xadrez soviético tenham advertido sobre a origem de certas debilidades de Boris Spassky. Se é que chegaram a alguma conclusão sobre isso. No entanto, essas debilidades eram sensíveis desde a primeira fase de sua trajetória – a fase que, depois, iria provocar a admiração de Fischer. Nessa época ele parecia sempre trair-se pelos nervos nos momentos decisivos. Sua derrota para Tahl na última rodada do Campeonato Soviético de 1958 ficou famosa: naquele ano a FIDE havia reduzido para quatro o número máximo de vagas para cada país no Interzonal de Portoroz, de onde sairiam os candidatos a desafiante do campeão mundial – uma decisão, por sinal, que afetava um só país: a URSS.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Spassky necessitava pelo menos empatar para disputar a quarta vaga soviética. Ou seja, não podia perder, mas não precisava, necessariamente, ganhar. Uma situação relativamente confortável, pois Tahl já estava classificado para o Interzonal – mesmo se perdesse a partida, iria a Portoroz. No entanto, é verdade, se Tahl quisesse garantir o bicampeonato soviético sem depender do resultado de outros jogadores, precisava ganhar. Para isso, o empate não lhe servia.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Spassky esteve em vantagem durante quase toda a partida – uma longa batalha que durou 73 movimentos, ou seja, 146 jogadas. Após o adiamento, Spassky conseguiu uma posição francamente ganhadora – e jogou a vitória pela janela na 62ª jogada. Tahl igualou o jogo e propôs o empate. Spassky recusou – e perdeu, depois de uma trinca de erros. Mais importante do que a derrota, para entendermos Spassky, foi sua reação, depois contada por ele mesmo: levantou-se da mesa chorando e assim percorreu, por horas e sem destino, as ruas de Riga, onde se realizou o Campeonato da URSS de 1958.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, poucos jogadores foram tão insistentemente promovidos no meio enxadrístico – ainda não era a época em que jogadores de xadrez se tornaram assuntos da mídia em geral – quanto Spassky. No início da década de 60, houve até quem propusesse um novo conceito: o “jogador universal”, isto é, aquele que é capaz de dominar igualmente a estratégia e a tática – e adaptar plasticamente o seu estilo ao do oponente. A base do suposto novo conceito eram as vitórias de Spassky.</span></b><b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-KAutXn37Crg/UWALxfrZlEI/AAAAAAAAP-k/gN4z06On7Rc/s1600/Spassky+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-KAutXn37Crg/UWALxfrZlEI/AAAAAAAAP-k/gN4z06On7Rc/s1600/Spassky+3.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em nossa opinião – que, sem dúvida, é discutível – tomava-se por qualidade o que era um subproduto dos problemas não-resolvidos de Spassky, problemas que lhe conferiam uma certa indefinição de personalidade, que seria fatal em 1972, no match com Fischer. Em suma, Spassky não era – e não é – um canalha, mas era – e é - um homem muito dividido. Não por acaso, apesar de seus pontos de vista políticos e os de Korchnoi serem aparentados, Spassky (aliás, como Petrosian, Karpov, Botvinnik, e até Judite Polgar), jamais o suportou. Ao contrário de Korchnoi, jamais traiu o seu país, mesmo quando, depois de casar-se com uma francesa, resolveu sair dele e naturalizar-se francês, em 1978. O que não quer dizer que não tenha – e hoje mais do que antes – dito algumas coisas que, simplesmente, não são verdade. No entanto, não parece que ele o faça por malignidade, mas por fraqueza e esmagamento.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Spassky aprendeu xadrez aos cinco anos, no trem em que viajava, quando Stalin decidiu que as crianças de Leningrado fossem retiradas da cidade, pouco antes que os nazistas fechassem o cerco que matou um milhão de seus habitantes. Seus primeiros triunfos causaram sensação. E, depois da primeira fase que mencionamos, ele pareceu se retemperar. No entanto, olhando para sua trajetória enxadrística do começo ao fim, alguém já disse que Spassky é o único jogador que chegou a campeão mundial e, apesar disso, sua história sempre causa a impressão de que não realizou todo o seu potencial – e por preguiça.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Este era, precisamente, um problema que Petrosian não tinha. Não é certeza que, em meio à promoção de Spassky na URSS, ele tenha pensado em não disputar o match de 1966 pelo título mundial. Segundo algumas versões, sua esposa, Rona Petrosian, é que o teria estimulado a enfrentar o desafiante. Sem dúvida, Rona deve tê-lo estimulado, como sempre fez. Porém, não nos parece típico de Petrosian abandonar o título sem luta.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, em março de 1966, quando os dois jogadores começaram o match, Spassky era o franco favorito. Surpreendentemente, em meio a uma série de empates (17 ao todo), Petrosian foi o primeiro a vencer, na sétima partida e, depois, na décima. Spassky igualou a contagem, ao vencer a 13ª e a 19ª partidas. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas a tenacidade e a força de vontade eram o campo de Petrosian, não de Spassky. Assim, logo na partida seguinte a que Spassky igualou, Petrosian venceu e ficou um ponto à frente. Em seguida, ganhou também a 22ª partida. Spassky conseguiu triunfar na 23ª e penúltima partida, mas não conseguiu vencer Petrosian na última. Assim, o campeão conservou seu título, vencendo por um ponto o desafiante – uma tarefa que nem Botvinnik havia conseguido cumprir em seus primeiros matches.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Do ponto de vista da teoria do xadrez, havia sido um massacre – o placar, por várias razões, inclusive o cansaço, nem de longe refletiu esse fato.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Pelo que ele mesmo conta, Spassky resolveu levar a sério a preparação teórica nos três anos seguintes. Nas suas palavras, “tornei-me um especialista no estilo de Petrosian”. Porém, para enfrentar Petrosian novamente, ele teria que passar pelos matches entre os candidatos. E, com efeito, derrotou Geller, Larsen e Korchnoi por contagens mais do que convincentes.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em março de 1969, quando começou o novo match entre Spassky e Petrosian, o primeiro estava realmente bem preparado, ainda que também o campeão. Porém, Petrosian já estava com 40 anos e Spassky apenas com 32. Não é uma diferença pequena em um match de 24 partidas. E, como observou Botvinnik, que, nesse particular, sabia, mais do que do que qualquer outro, do estava falando, “infelizmente [Petrosian] nunca foi um pesquisador. Para tais jogadores, 40 anos é uma idade perigosa. Com o inevitável declínio da capacidade para o cálculo, seu talento desbota muito – se não é polido novamente!” (“Achieving the Aim”, pág. 173).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mesmo assim, não foi um passeio: Petrosian ganhou a primeira partida e Spassky somente igualou na quarta. Depois disso, venceu também a quinta e a oitava, mas Petrosian não era um cachorro morto: venceu a 10ª e a 11ª. Spassky voltou a ganhar na 17ª e na 19ª, e Petrosian descontou na 20ª. Mas era tarde. Spassky ganhou a partida seguinte - e os empates na 22ª e 23ª selaram o resultado.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Todas as previsões eram de um longo reinado para Spassky. Simplesmente porque não havia nenhum jogador soviético no auge. Todos os outros grandes jogadores já tinham passado do apogeu, e não havia ainda, na geração seguinte à de Spassky, quem os substituísse à altura. Pela primeira vez desde o fim da II Guerra, o xadrez soviético passava por uma entressafra.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Entretanto, com o afastamento de Fischer, então dedicado a suas atividades religiosas, também não havia, entre os possíveis desafiantes estrangeiros, algum que fosse capaz de derrotar Spassky. Portanto, os soviéticos teriam algum tempo – pelo menos até 1975, com a conservação do título por Spassky em 1972 – para preparar a nova geração.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A realidade, porém, não caminha de acordo com as ilusões. Alguém nos EUA percebera a entressafra soviética e os problemas de Spassky, e não deixaria passar a oportunidade – ainda que fosse preciso passar por cima de estatutos, regulamentos, regras, e até de leis.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-upP-LiqG0Zo/UWALxEl8pEI/AAAAAAAAP-g/jyBX2wicRNk/s1600/Spassky+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-upP-LiqG0Zo/UWALxEl8pEI/AAAAAAAAP-g/jyBX2wicRNk/s1600/Spassky+4.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Fischer x Spassky, 1992</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Foi então que, pouco antes de começar o Interzonal de Palma de Mallorca, em novembro de 1970, um dos participantes dos EUA, o ex-húngaro Pal Benko, desistiu do torneio para dar o seu lugar, precisamente, a Fischer, que nem mesmo disputara uma vaga para ir ao Interzonal. Mas esse é o assunto da próxima parte deste artigo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes </span></b><br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias09.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias09.htm</a></b><br />
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-29945350545703930312013-04-06T04:40:00.002-07:002013-04-06T04:40:21.371-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 8<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-LD6AN84i-6Y/UWAHorOBFdI/AAAAAAAAP9s/tBcGzWI_Arg/s1600/Fischer+7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-LD6AN84i-6Y/UWAHorOBFdI/AAAAAAAAP9s/tBcGzWI_Arg/s1600/Fischer+7.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: red; font-size: large;"><b>Misérias e Glórias do Xadrez - 8</b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: red; font-size: large;"><b>Carlos Batista Lopes</b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Há um aspecto da personalidade e da vida de Fischer que foi muito pouco abordado no que se escreveu sobre ele: sua primeira tendência não foi a de antagonizar os jogadores soviéticos, mas a de tentar ser aceito por eles. O que é, aliás, coerente com seu estilo de jogo, desenvolvido a partir das pesquisas enxadrísticas soviéticas das décadas de 30, 40 e 50. No entanto, essas tentativas de aproximação não obtiveram sucesso – ou, para ser exato, compreensão. Mas que ele, ao seu jeito, tentou, não nos parece haver dúvida.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">No principal livro de Fischer, uma coleção de análises das suas partidas “memoráveis” até o fim da década de 60, há uma breve menção a um episódio significativo: comentando seu jogo com Arthur Bisguier no campeonato americano de 1963, ele conta que havia conversado anteriormente com David Bronstein (logo quem!) sobre a 17ª jogada, uma novidade em relação ao que o seu interlocutor havia jogado em 1953 contra Samuel Reshevsky, no Torneio de Candidatos, em Zurique: “Quando eu disse a Bronstein (em Mar del Plata, 1960) que a jogada era um tremendo [tremendous] melhoramento em relação à sua partida com Reshevsky, ele respondeu: 'Claro. Depois de sete anos alguém iria achar um melhoramento'” (Fischer, “My 60 Memorable Games”, Simon and Schuster, NY, 1969, pág. 293).</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Parece razoável a resposta, diante da atrevida palavra “tremendo”, usada por Fischer. No entanto, em 1960, Fischer era um desajeitado (e haja desajeitado nisso) jovem de 17 anos e Bronstein, com 36, era, desde 1950, um dos maiores jogadores do mundo. Nos parece evidente que Fischer queria a aprovação de Bronstein - e recebeu um corte brusco. O fato de que em 1969, quando publicou seu livro, tenha sentido necessidade de reproduzir, ou não tenha conseguido omitir, uma réplica de nove anos antes que o reduzia a “alguém”, ou seja, um qualquer, somente nos parece enfatizar o que acabamos de dizer – e o ressentimento que acumulou com a rejeição dos soviéticos. </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Infelizmente, não foi apenas Bronstein que tratou mal as tentativas de aproximação do jovem Fischer. O próprio Botvinnik repete tanto a palavra “arrogante” sempre que se refere a Fischer, que torna-se nítido que jamais se deteve a pensar no que essa arrogância significava em termos de insegurança, necessidade de aceitação - e medo à rejeição. Quanto a Tahl, um dos poucos soviéticos que não parece irritado com Fischer, a princípio se divertiu bastante com o ridículo do colega, o único mais jovem que ele entre os Grandes Mestres da época... Mas isso também não ajudou muito.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">MEMORIAL</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-WBT5zG65bJ0/UWAHnTb9EyI/AAAAAAAAP9Y/HYzUAdERcUM/s1600/Fischer+5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-WBT5zG65bJ0/UWAHnTb9EyI/AAAAAAAAP9Y/HYzUAdERcUM/s1600/Fischer+5.jpg" /></a></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Devido às implicações políticas do match Fischer-Spassky, em 1972, da interferência de Kissinger, e da quase incrível defensiva dos soviéticos, tem-se a tendência a ver o Fischer das décadas de 60 e 70 apenas como um direitista maluco, instrumento inconsciente do establishment norte-americano na “guerra fria” - para o que contribuiu, não pouco, o seu artigo de 1962 na “Sports Illustrated”.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
</div>
<br />
<br />
<br />
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, a realidade é (ou foi) mais complexa. Basta ver a sua atitude em relação a Cuba, precisamente o único país que, no início da década de 60, irritava mais a casta dominante nos EUA do que a URSS. </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Em 1965, Fischer estava inscrito no Torneio Memorial Capablanca, em Havana. Como aconteceria 27 anos depois em relação à Iugoslávia, o governo norte-americano proibiu que fosse a Cuba. Para o establishment, a participação do maior jogador dos EUA num evento em Havana estava longe de ser um acontecimento alvissareiro. Por outro lado, considerando o seu temperamento, proibi-lo de viajar era uma temeridade, até porque as condições políticas para puni-lo não eram as que surgiriam quase trinta anos depois: Johnson não era Bush (pai ou filho); o Partido Democrata na Casa Branca não era – e não é – a mesma coisa que o Partido Republicano na Casa Branca; o movimento pelos direitos civis estava na rua; e já se começava a gestar a rebelião contra a Guerra do Vietnã; em síntese, os EUA saídos do breve governo Kennedy não eram os EUA de 1992, após 11 anos de Reagan/Bush.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Foi nesse momento que entrou em ação o indefectível (nessas horas) “The New York Times”, com uma suposta notícia em que Fidel Castro capitalizava politicamente o Memorial.</span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">A “notícia” era uma fraude, as declarações de Fidel, falsas. Mas Fischer dirigiu ao líder cubano o seguinte telegrama:</span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-zecoZ-fcEHI/UWAHnbKyK7I/AAAAAAAAP9c/ydw1DEA5LtA/s1600/Fischer+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-zecoZ-fcEHI/UWAHnbKyK7I/AAAAAAAAP9c/ydw1DEA5LtA/s1600/Fischer+3.jpg" /></a></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;">“Primeiro-ministro Fidel Castro, </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">“Oponho-me às suas manifestações, publicadas hoje no 'New York Times', proclamando uma vitória propagandística, e, por este ato, me retiro do Torneio Capablanca. Somente voltarei a entrar no torneio se me enviar um telegrama assegurando-me que você e seu governo não buscam benefícios políticos de minha participação, e que não se produzirão no futuro mais comentários políticos de sua parte a respeito da minha participação. Bobby Fischer".</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">A resposta de Fidel não se fez esperar:</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">“Bobby Fischer, New York, USA.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">“Acabo de receber seu telegrama. Surpreende-me que você me atribua algum tipo de manifestação referente à sua participação no torneio. A este respeito não disse nem falei uma palavra com ninguém. Só tenho sobre isso notícias que li em despachos de agências norte-americanas. Nosso país não tem necessidade de tão efêmera propaganda. É seu o problema de participar ou não no mencionado torneio. Suas palavras são, portanto, injustas. Se você se assustou e arrependeu-se de sua decisão inicial, seria melhor que imaginasse outro pretexto e tivesse o valor de ser honesto. Dr. Fidel Castro, primeiro-ministro do Governo Revolucionário”.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Surpreendentemente, logo depois de receber a mensagem de Fidel, Fischer confirmou sua participação no Memorial Capablanca e anunciou que, se não podia ir a Havana, jogaria por teletipo, de Nova Iorque. Em suma, reconhecera a razão de Fidel – e percebera, de alguma forma e em algum grau, que esse templo da imprensa americana, o “The New York Times”, tinha algum parentesco com um lupanar.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">MARSHALL CLUB</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-d-wknzmsQTE/UWAHokiPcII/AAAAAAAAP9w/ZyTqz659YvU/s1600/Fischer+6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-d-wknzmsQTE/UWAHokiPcII/AAAAAAAAP9w/ZyTqz659YvU/s1600/Fischer+6.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Há um elemento psicológico importante, revelado por Fischer nesse episódio. Ele não conheceu o pai – e não porque este houvesse falecido, mas porque foi afastado dele, e já veremos como e porquê. O pai, falando de forma geral e algo esquemática, para as crianças é o representante do limite entre a fantasia e a realidade. Se a mãe é o objeto das fantasias mais primitivas da criança, o pai é aquele que estabelece o limite dessas fantasias – ou seja, a existência da realidade. Na troca de mensagens entre Fischer e Fidel, é claro quem estabeleceu esse limite – nesse caso, entre a falsidade da mídia imperialista, isto é, a fantasia fabricada por interesses político-ideológicos, e a realidade. O significativo é que Fischer haja reagido tão bem a este limite “paterno”. </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Jogando por teletipo, Fischer conquistou o segundo lugar no Memorial Capablanca (15 pontos em 21 possíveis), empatado com o iugoslavo Ivkov e com o soviético Geller, a meio ponto do primeiro colocado, Smyslov. Por teletipo, instalado no Marshall Club, de Nova Iorque, ele havia furado um bloqueio promovido pelo governo dos EUA – e, como se sabe, não seria a última vez.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Porém, houve coisa pior para o establishment: um ano depois, Fischer estaria, em pessoa, na capital cubana - e amistosamente ao lado de Fidel.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Ele havia conhecido Havana aos 13 anos, em 1956, quando fazia parte da equipe do Log Cabin Chess Club, de West Orange, Nova Jersey. Mas, naquela oportunidade, foi acompanhado pela mãe, e Havana era, então, uma cidade diferente: a capital de um país oprimido pela ditadura de Batista, pelas multinacionais e bancos norte-americanos - e pela Máfia.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Já em 1966, com 23 anos, Fischer era o primeiro-tabuleiro da equipe norte-americana na 17ª Olimpíada de Xadrez. No dia da abertura da Olimpíada, 25 de outubro, Fidel entrou na sala de jogos, no hotel Habana Libre. Ele e Fischer apertaram as mãos e, em seguida, o norte-americano fez algumas piadas sobre a troca de mensagens do ano anterior, o que foi correspondido com bom humor pelo líder cubano.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Fischer presenteou Fidel com um de seus livros, devidamente autografado, e, em seguida, disputaram uma partida “em consulta”, ou seja, em dupla. Fidel fez parceria com o campeão mundial Tigran Petrosian contra a dupla formada pelo mestre mexicano Filiberto Terrazas e Fischer. O líder cubano e o campeão mundial venceram a partida.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Note-se que esses acontecimentos se passaram três e quatro anos após a publicação do artigo em que acusava os soviéticos de trapaça (v. Barreras Merino, “Fischer y su vinculación a la Habana”, ext. de “Recorrido del Mundo del Tablero”, em “Ajedrez en Cuba”, vol. II-11, nº21, 06/1998. O autor foi diretor técnico da Olimpíada de Havana).</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">URSS-EUA</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-LD6AN84i-6Y/UWAHorOBFdI/AAAAAAAAP9s/tBcGzWI_Arg/s1600/Fischer+7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-LD6AN84i-6Y/UWAHorOBFdI/AAAAAAAAP9s/tBcGzWI_Arg/s1600/Fischer+7.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">A equipe dos EUA foi a segunda colocada em Havana, graças a Fischer, que venceu 14 partidas, empatou 2 e perdeu apenas uma – para o GM romeno Florin Gheorghiu. Um aproveitamento de 88,2% (15 pontos em 17 possíveis).</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">A primeira colocada, pela 8ª vez consecutiva, foi a equipe soviética (desde 1952, em 21 Olimpíadas, a URSS venceu 19; somente não venceu em 1976, quando não foi a Israel, e em 1978, quando não enviou a melhor equipe a Buenos Aires - e perdeu da Hungria).</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Em Havana, o primeiro-tabuleiro soviético, Tigran Petrosian, foi o único com resultado relativo melhor que Fischer: fez 11,5 pontos em 13 partidas - 10 vitórias, 3 empates e nenhuma derrota (aproveitamento de 88,5%). Fischer fez 15 pontos, mas em 17 partidas. A diferença no número de partidas é devida a que, nas olimpíadas de xadrez, há tabuleiros-reserva, ou seja, jogadores no banco, que podem jogar em determinados matches no lugar dos titulares. </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Porém, apesar das relações amistosas entre Fidel e Fischer, a luta política não amainou.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Os EUA, ao invés de boicotarem a Olimpíada de Havana – como fez, por exemplo, a Alemanha Ocidental – resolveram enviar seus melhores jogadores. Mas Fischer havia se convertido a uma seita evangélica que tinha entre seus dogmas um retiro espiritual que começava às 18 h de sexta-feira e ia até as 18 h de sábado. No match com a Dinamarca, os norte-americanos reivindicaram que as partidas começassem às 12 h, ao invés das 16 h, para que Fischer participasse. Os dinamarqueses recusaram – e também o árbitro-chefe da Olimpíada, Jaroslav Sajtar. Os norte-americanos tiveram que substituir Fischer pelo segundo-tabuleiro, Robert Byrne, na partida contra o primeiro-tabuleiro dinamarquês, Bent Larsen.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Porém, contra a URSS os norte-americanos não se comportaram com o mesmo respeito às regras. Repetia-se agora a comédia da Olimpiada de Munique, com uma diferença: Botvinnik não era mais o primeiro-tabuleiro soviético.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Em suma, os EUA ameaçaram retirar-se da Olimpíada se o match com a URSS não fosse reagendado. A resposta do árbitro foi: “de forma alguma”. A equipe dos EUA não apareceu na hora do match com a URSS, mas não foi embora. O presidente da FIDE, o Folke Rogard que já vimos em ação na parte 6 deste artigo, propôs que o match que os EUA haviam perdido por W.O. fosse considerado empatado em 2 a 2. Rogard já passara à fase do vale-tudo contra os soviéticos - seria o desbravador de uma trilha que levaria ao esfacelamento do xadrez mundial.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b><a href="http://2.bp.blogspot.com/-GkDHp_FWZYo/UWAHpsUm7DI/AAAAAAAAP98/m0xLGEQ3DnE/s1600/Fischer+9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-GkDHp_FWZYo/UWAHpsUm7DI/AAAAAAAAP98/m0xLGEQ3DnE/s1600/Fischer+9.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">O leitor que vem acompanhando esta série não terá muita dificuldade em adivinhar o que houve em seguida: os soviéticos concordaram em disputar outra vez o match. No xadrez, não havia mais obstáculo – Botvinnik já não estava lá - à política de apaziguamento, que, no final, conduziria à rendição.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">A MÃE</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Fischer tinha motivos, não somente enxadrísticos, mas inclusive familiares, para suas tentativas iniciais de aproximação com os soviéticos. Teremos de expô-los brevemente, pois Fischer, de todos os grandes jogadores, é o único que não pode ser descrito sem esse pano de fundo familiar.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Sua mãe, Regina, esteve entre aqueles norte-americanos que mudaram-se para a URSS na década de 30 – a maioria, buscando trabalho e oportunidade de estudar. Foi na URSS que Regina, depois de entrar para a Faculdade de Medicina, casou-se com Hans Gehardt Fischer, um biofísico alemão. Em Moscou, nasceu a primeira filha do casal, Joan, a irmã que depois ensinaria a Bobby o movimento das peças de xadrez.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Sobre algumas polêmicas a respeito da paternidade de Fischer, entraremos apenas em uma questão, porque ela extrapola o plano meramente pessoal. Mas, antes, reproduziremos a única declaração sobre seu pai que conhecemos de Fischer: “Meu pai deixou minha mãe quando eu tinha dois anos de idade. Eu nunca o vi. Minha mãe somente me disse que seu nome era Gerhardt e que ele era de origem alemã” (cf., Frank Brady, “In Defense of Bobby Fischer's Family: House of Cards in the World of Chess”, ChessCafe, 04/06/2002 – este artigo, do primeiro biógrafo de Fischer, é resposta a um tardio e debilóide panfleto macartista, “A mãe de Fischer era uma espiã comunista?”, de um certo Frank Dudley Berry, Jr).</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Mas, nos relatórios do FBI, surgiu o nome de Paul Felix Nemenyi, um físico de origem iugoslava falecido em 1952, como provável pai de Fischer. Sobre isso, nos parece que o FBI tinha demasiado interesse em que Nemenyi fosse o pai do filho caçula de Regina. Nessa época, J. Edgard Hoover (algumas das ordens para vigiar os Fischer vieram diretamente de seu gabinete) tentava provar que Regina era uma espiã soviética, apesar da mãe de Fischer trabalhar, modestamente, como enfermeira. No entanto, Nemenyi, com quem teria se relacionado, fez parte do Projeto Manhattan, que construiu a primeira bomba atômica. Para o FBI, não seria uma montagem muito diferente da que fez com o casal Rosenberg – por sinal, como Regina, de origem judaica e politicamente à esquerda.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Ao que parece, o biofísico Hans Gehardt Fischer foi impedido, por razões políticas, de viver com a mulher nos EUA. Ele jamais conseguiu entrar no país, segundo um relatório do FBI (Peter Nicholas e Clea Benson, “Files reveal how FBI hounded chess king”, Philadelphia Inquirer, 17/11/2002). </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Radicado no Chile, Hans Gehardt foi visitado pelo filho (então com 16 anos) em 1959, de acordo com testemunho do mestre chileno Eugenio Larrain, que foi seu cicerone nesta visita (v. Hélder Câmara, “Bobby 'Ahasverus' Fischer” - em comunicação pessoal, o autor relatou-nos que a visita de Fischer ao pai foi-lhe confirmada por outro mestre chileno, Pedro Donoso, homem de integridade indiscutível). Evidentemente, esse relato é discrepante com a declaração de Fischer transcrita acima. Mas isso não seria surpresa em quem sempre defendeu tenazmente a sua vida pessoal da espionagem midiática.</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-GVbmlFClvNo/UWAHpgL-LEI/AAAAAAAAP-A/RtnnGBQrusg/s1600/Fischer+8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-GVbmlFClvNo/UWAHpgL-LEI/AAAAAAAAP-A/RtnnGBQrusg/s1600/Fischer+8.jpg" /></a></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Rapidamente, para que não tenhamos que voltar aos aspectos familiares de Fischer: sua mãe interrompeu seus estudos de medicina em 1938; ao voltar para os EUA, sem o marido, aceitou vários empregos e, por fim, tornou-se enfermeira, sustentando a família dessa forma. Não há indício de que tenha sido uma mãe relapsa. Pelo contrário: não apenas sempre foi uma incentivadora de Bobby, como, em 1973, com ele já campeão mundial mas vivendo em Los Angeles quase em penúria, ela enviou seus cheques da Seguridade Social para ajudá-lo. Em seu testamento, estabelece que seja entregue “a meu filho Robert, quaisquer itens que ele possa pedir”.</span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Como disse Frank Brady, não apenas biógrafo, mas amigo na adolescência de Fischer, “o coração de Regina sempre esteve, realmente, do lado esquerdo”. Mais do que isso: ela jamais achou que devia alguma satisfação ao establishment. Em 1957, por exemplo, ela escreveu diretamente ao primeiro-secretário do PCUS, Nikita Kruschev, pedindo que convidasse Bobby para o Festival Mundial da Juventude. Kruschev respondeu, enviando o convite – que chegou tarde demais para que Bobby viajasse (cf. Bill Wall, “Robert James (Bobby) Fischer”).</span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Porém, um ano depois, ele seria convidado a ir a Moscou, onde esteve com Petrosian – mas queixou-se de que não conseguiu encontrar-se com outros mestres soviéticos. Foi depois dessa viagem que o FBI suspeitou que ele fosse um espião recrutado pelos soviéticos. Fischer tinha 15 anos...</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b><a href="http://1.bp.blogspot.com/--w57GJfK5E0/UWAHnCpKOwI/AAAAAAAAP9U/MChYR5v8NXk/s1600/Fischer+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/--w57GJfK5E0/UWAHnCpKOwI/AAAAAAAAP9U/MChYR5v8NXk/s1600/Fischer+4.jpg" /></a></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Regina teve uma vida difícil, perdendo empregos devido às entrevistas que o FBI promovia sobre ela com vizinhos, colegas e patrões. Mas dedicou-se sempre às causas em que acreditava. A última anotação, em 1973, nos papéis já conhecidos do FBI, é sobre sua oposição à Guerra do Vietnã. Nessa época, Fischer já era campeão do mundo. Mas sua mãe já não era mais enfermeira. Havia, em 1968, realizado o sonho de sua juventude: formou-se, aos 55 anos, em medicina – pela Universidade Friederich Schiller, na Alemanha Oriental. Depois, exerceu sua profissão na América Central. Morreu em 1997, aos 84 anos. Quatro anos antes, aos 85, Hans Gehardt havia falecido em Berlim.</span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Agora, voltemos ao match Petrosian-Botvinnik e aos seus desdobramentos posteriores. O que faremos na próxima parte de nosso artigo.</span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias08.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias08.htm</a></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-7730291132052001992013-04-05T05:13:00.002-07:002013-04-05T05:13:12.476-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 7<div style="text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-iMXvzytrTLs/UV6-lID_1CI/AAAAAAAAP88/VS-U0mZLfkQ/s1600/Fischer+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-iMXvzytrTLs/UV6-lID_1CI/AAAAAAAAP88/VS-U0mZLfkQ/s1600/Fischer+2.jpg" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 7</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<b><span style="color: #20124d;">O artigo de Fischer, “How the russians fixed world chess” (“Como os russos fraudam o xadrez mundial”), publicado na “Sports Illustrated” em agosto de 1962, pode ser resumido rapidamente: durante o Torneio de Candidatos de Curaçao, realizado dois meses antes, os soviéticos (havia cinco entre os oito competidores: Tahl, Petrosian, Keres, Geller e Korchnoi) combinavam os resultados, em geral empatando rapidamente entre si, enquanto jogavam para valer contra os outros, isto é, contra Fischer (nitidamente, ele não estava muito preocupado com os outros participantes não-soviéticos: o húngaro-americano Pal Benko e o tcheco-eslovaco Miroslav Filip. Mas como ninguém achava que o excelente Filip tivesse chances, muito menos Benko, a questão se resumia, realmente, a Fischer).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-IgkpV-O7FHw/UV6-k2g1wjI/AAAAAAAAP84/BiTehNrKUtU/s1600/Fischer+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-IgkpV-O7FHw/UV6-k2g1wjI/AAAAAAAAP84/BiTehNrKUtU/s1600/Fischer+1.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Assim, era através da trapaça que, supostamente, os soviéticos conseguiam vencer torneios e, sobretudo, manter o título de campeão mundial. Por conseqüência, essa também era a razão de Fischer não haver saído de Curaçao como o desafiante de Botvinnik: os soviéticos, isto é, os comunistas, trapacearam para impedi-lo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Note-se que, pelo menos explicitamente, Fischer não está se queixando de que os soviéticos se ajudavam mutuamente na análise de suas partidas, o que era público – e lícito. O próprio Botvinnik, na análise de sua única partida com Fischer (ocorrida no mesmo ano, na Olimpíada de Varna), declarou que obtivera o empate numa situação desfavorável, devido a uma idéia de seu colega Efim Geller. Explicitamente, não é disso que Fischer se queixa – embora esta nos pareça a verdadeira razão de seu inconformismo, como veremos até o final desta parte de nosso artigo.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-lTm50dlJWNc/UV6-UEZJ8rI/AAAAAAAAP8Y/HuxN-Gwsl8o/s1600/Fischer+Spassky+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-lTm50dlJWNc/UV6-UEZJ8rI/AAAAAAAAP8Y/HuxN-Gwsl8o/s1600/Fischer+Spassky+2.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<b><span style="color: #20124d;">A queixa explícita de Fischer é a de que os soviéticos combinavam seus resultados, o que não era lícito. Além disso, segundo ele, durante seus jogos os soviéticos rodeavam a mesa e, ignorando que entendia o idioma russo, davam sugestões e/ou instruções aos compatriotas que o enfrentavam, e o atrapalhavam com a tagarelice. Como este problema poderia ser resolvido simplesmente com uma queixa ao árbitro, não nos deteremos nele – assim como não se detiveram nenhum dos que apoiaram Fischer, exceto fugazmente.</span></b><br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, a primeira acusação perdurou por longos anos e, na verdade, ainda perdura. Ela ainda é, com as copiosas ampliações de Kasparov, uma das bases da campanha anti-comunista – e não apenas no xadrez. Livros e autores que se pretendem muito sérios, continuam repetindo-a. (v., p. ex., o livro de 2005 do GM holandês Jan Timman, “Curaçao 1962 - The Battle of Minds That Shook the Chess World” - e esse autor não é apenas Grande Mestre, mas um ex-candidato a campeão mundial, e editor-chefe da “New in Chess”, hoje, provavelmente, a mais lida revista sobre xadrez).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Sobretudo, a acusação de Fischer foi o pretexto para um atropelo geral nas regras do campeonato mundial. A FIDE, sob pressão norte-americana, acabou com o Torneio de Candidatos, substituindo-o por matches entre os pretendentes ao título – ou seja, tratou como verdadeira a acusação.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-9wBSSDRuKHs/UV6-UZIsSMI/AAAAAAAAP8g/dXsNv0AtkBQ/s1600/Fischer+Spassky+5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-9wBSSDRuKHs/UV6-UZIsSMI/AAAAAAAAP8g/dXsNv0AtkBQ/s1600/Fischer+Spassky+5.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;">O problema, evidentemente, não era que as regras não podiam ser alteradas. O problema é que quando elas são alteradas sob um pré-julgamento contra um dos lados em disputa – uma disputa que, inclusive, ia bem além do xadrez – e a favor de outro, está aberto o caminho para que ninguém respeite regra alguma. Assim, a alteração das regras, que começara com a revogação do direito do campeão ao match-revanche, deu mais um passo em direção à anarquia que seria alcançada com a cisão de Kasparov, em 1993.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O pior de tudo, provavelmente, foi que a acusação de Fischer colocou em defensiva não somente os soviéticos, mas pessoas que estavam bastante longe de concordar com a propaganda anti-comunista. O autor destas linhas deve confessar, honestamente, que foi um desses.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas isso não aconteceu por acaso: mesmo hoje, basta uma releitura do artigo de Fischer para perceber que o autor não está mentindo, pelo menos não no sentido em que, em geral, se usa a palavra “mentira”. Ele realmente tinha convicção no que dizia. Essa é a força maior do texto, pois não é uma experiência comum para a maioria das pessoas travar contato com alguém convicto, não de uma crença, mas de um fato, e, ao mesmo tempo, o suposto fato não ser verdade.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Para dificultar ainda mais a distinção entre fato e fantasia, entrou em cena a máquina da mídia e dos órgãos governamentais norte-americanos. Pouco tempo antes, em 1958, o FBI desconfiara que Fischer havia sido recrutado como espião pelos soviéticos. Agora, haviam conseguido um propagandista ideal, ainda que inconsciente (ou ideal por causa disso mesmo): alguém que acreditava no que dizia, e contava uma história, digamos, plausível.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-0gGa5YC_tTw/UV6-UZ3afiI/AAAAAAAAP8k/R0_0EqelGUM/s1600/Fischer+Spassky+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-0gGa5YC_tTw/UV6-UZ3afiI/AAAAAAAAP8k/R0_0EqelGUM/s1600/Fischer+Spassky+4.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Nessa época, evidentemente, não se sabia que o FBI vigiava a família de Fischer desde a década de 40. Os documentos referentes a isso somente seriam liberados, com inúmeras tarjas negras sobre o texto, em 2002. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A última dificuldade foram os desmentidos soviéticos (inclusive os de Keres e Petrosian), que não ajudaram a elucidar a questão. Eram desmentidos - o que é outro sinal da defensiva dos soviéticos a partir de Kruschev - genéricos. Não demoliam ou desmontavam as alegações do oponente – o que, sem dúvida, é o caminho seguro para a derrota, mesmo quando se está com a verdade, e o adversário, com a mentira. Se a verdade pudesse se impor somente porque é verdade - ou seja, sem o esforço dos que estão com ela para desmascarar a mentira – o nazismo e o macartismo não teriam existido, e o mundo de hoje seria um maravilhoso Shangri-La. Mas não é assim, sem luta, que as coisas funcionam.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">CURAÇAO</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">Examinemos as alegações. </span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em seu artigo, Fischer excetua Tahl da conspiração soviética. Até ele reparou que incluí-lo transformaria, antes de tudo para si próprio, a acusação num absurdo. Se há algo que Tahl jamais faria, era, precisamente, combinar um empate. Além disso, depois de 21 rodadas, ele abandonou o torneio, por motivos de saúde – e Fischer visitou-o no hospital, sendo recebido de forma muito amistosa pelo ex-campeão mundial. Portanto, para acreditar na conspiração, Fischer tinha que colocar Tahl fora dela. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, como observou o enxadrista e escritor holandês Tim Krabbé, também é necessário excetuar Korchnoi – não exatamente, como diz Krabbé, porque ele sempre negou, mas por razões políticas e também porque até hoje ninguém conseguiu incluí-lo nessa história (V. Tim Krabbé, “The legend of the Curaçao conspiracy”, in “Open Chess Diary”, nota 299, de 22/10/2005).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Com isso, a conspiração fica reduzida ao envolvimento de três jogadores soviéticos: Petrosian, Keres e Geller. Novamente, como em 1948, é sobre Keres que se concentra a intriga. Recentemente, buscou-se o apoio de Yuri Averbakh (coisa, aliás, bastante fácil – v. parte 5 deste artigo) para dizer que “é claro que foi tudo manipulado” para prejudicar Keres (entrevista de Averbakh para a Schaaknieuws, cit. por Krabbé).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">De onde se conclui que, em Curaçao, 1962, teria existido não apenas uma, mas duas conspirações soviéticas: uma, com a participação de Keres, contra Fischer; a segunda, dos outros soviéticos contra o próprio Keres...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Ao leitor que porventura comece a achar, como nós, que essa história é excessivamente absurda, pedimos um pouco de paciência. Lembremos que a suposta autoridade de Averbakh, nesse caso, estriba-se no fato de que ele estava em Curaçao como integrante da delegação soviética. Segundo diz, “os russos” não queriam Keres como desafiante do campeão, porque era um estoniano, nem Geller, porque era um ucraniano de origem judaica - portanto, o vencedor, escolhido de antemão, e favorecido pela trapaça, foi Petrosian.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O problema dessa versão “étnica”, ou, melhor, dessa versão em que os soviéticos (isto é, os comunistas, ou, “os russos”) trapaceavam por racismo, é que Petrosian era armênio. “Porque razão um estoniano e um judeu ucraniano (e o judeu russo Korchnoi!) não eram convenientes e um armênio era, Averbakh deixou, melancolicamente, de dizer”, observa Krabbé em seu “Open Chess Diary”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Nós acrescentaríamos algumas outras perguntas, sobre o que Averbakh “deixou de dizer”:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">1) Por que razão um russo de origem judaica, como Botvinnik, podia ser campeão do mundo, mas um outro russo de origem judaica, Korchnoi, não podia ser o seu desafiante?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">2) Por que razão, numa época em que o principal dirigente da URSS, Kruschev, era mais ucraniano que russo, um ucraniano de origem judaica, Geller, não podia ser o desafiante do campeão?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">3) Por que razão uma nação báltica, a Letônia, podia ter um campeão do mundo, Mikhail Tahl, mas outra nação báltica, a Estônia, não podia ter Paul Keres como desafiante do campeão?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">4) Por último: por que razão um judeu de ascendência alemã – o próprio Averbakh – podia ser presidente da Federação Soviética de Xadrez, mas ucranianos e russos de origem judaica, assim como estonianos, não podiam ser desafiantes do campeão do mundo?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">EMPATE</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A duas rodadas do fim do torneio, Keres estava em primeiro lugar. Era o virtual desafiante. Foi então que perdeu, não para um soviético, mas para o americano Pal Benko. Aliás, Keres somente perdeu duas partidas em Curaçao, ambas para norte-americanos - Fischer e Benko. Foram essas duas derrotas que o impediram de ser o desafiante do campeão – as duas, para os únicos jogadores norte-americanos presentes ao torneio.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Averbakh não diz que Keres perdeu de propósito, até porque isso seria insustentável diante da partida com Benko, mas afirma que a sua derrota “foi um alívio” para a delegação soviética, que assim não teria que se expor, recorrendo a algo mais escandaloso... Portanto, Averbakh está propugnando que a prova de que existiu a “manipulação”, consiste em que não foi necessário recorrer a ela. Em bom português (mas em péssima lógica): a prova de que “foi tudo manipulado” para excluir Keres é que a manipulação não aconteceu, mas aconteceria, se ele não perdesse para Benko...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, continuemos: uma das provas cruciais apresentadas por Fischer da existência de uma conspiração soviética contra si é a partida de Keres contra Petrosian, na 25ª rodada. Nessa partida, houve um empate em apenas 14 jogadas, algo, aliás, nada raro na trajetória de Petrosian – mais ainda, faltando três rodadas para o final, com os jogadores próximos da exaustão, sobretudo em um torneio no qual cada um enfrentava 4 vezes o mesmo oponente.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Segundo Fischer (e Timman, no livro de 2005), esse empate prova a sua tese, pois a partida estava ganha para um dos lados, e, no entanto, eles empataram rapidamente. Na análise, tanto Fischer quanto Timman procuram demonstrar, o que parece certo, que a partida estava ganha para as negras.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O problema, como ressaltou o GM inglês Raymond Keene, autor de “Petrosian vs the Elite” (Batsford, Londres, 2006), é que quem estava jogando com as negras era Petrosian, e não Keres. Portanto, se Petrosian aceitou ou propôs o empate, numa posição ganhadora, livrou Keres de uma derrota. Ou seja, o jogador estoniano foi beneficiado com a suposta conspiração, da qual, segundo Averbakh, era a vítima. Sobre isso, Krabbé faz outra excelente pergunta: “Se Petrosian era o indicado para ser o vencedor, e Keres não devia vencer, então, o que poderia ter sido mais fácil do que fazer Keres perder essa posição perdida, e dar o ponto a Petrosian?”. Pelo visto, as conspirações dos comunistas no xadrez eram só para empatar, mesmo que isso livrasse suas vítimas da derrota...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-SMGpOTWgcTs/UV6-TcEK4XI/AAAAAAAAP8Q/7SB0hWwxsAA/s1600/Fischer+Spassky+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-SMGpOTWgcTs/UV6-TcEK4XI/AAAAAAAAP8Q/7SB0hWwxsAA/s1600/Fischer+Spassky+3.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Entretanto, poderia acontecer que o empate de Petrosian e Keres tivesse o objetivo de prejudicar Fischer. Aliás, é o que se entende em seu artigo para a “Sports Illustrated”. Portanto, voltemos, aqui, à primeira conspiração.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Na 25ª rodada, quando foi jogada essa partida, Fischer já não tinha chance alguma, nem mesmo teórica, de ser o vencedor do torneio. Estava em quarto lugar, onde permaneceu até o fim do torneio. Já havia perdido para Petrosian, Keres, Geller (duas vezes), Korchnoi, e até mesmo para o seu naturalizado compatriota, Pal Benko. À sua frente estavam, e ficaram, precisamente, os três jogadores soviéticos sobre os quais ele lançou a acusação de trapaça: Petrosian, Keres e Geller. Logo, resta descobrir os motivos dos soviéticos para conspirar contra Fischer, a ponto de fraudar uma partida entre seus dois principais jogadores, numa situação em que o suposto alvo da conspiração já havia saído da pista, e em um jogo onde, se Petrosian vencesse, ao invés de empatar, aumentaria mais a diferença a seu favor, em relação ao jogador norte-americano. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, examinemos outra hipótese. Poderia acontecer que Fischer, em algum momento anterior do torneio, estivesse com chances de ser o vencedor e tenha sido alijado pela conspiração soviética. No entanto, não foi isso o que ocorreu. No início do torneio, Fischer estava mal – começou perdendo as duas primeiras partidas, para Benko e para Geller. Na 14ª rodada, isto é, na exata metade do torneio, Fischer estava atrás de cinco jogadores soviéticos: Petrosian e Geller, em primeiro; Keres, em segundo; Korchnoi, em terceiro.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mais especificamente: os dois primeiros estavam com 9 pontos; o segundo com 8,5; o terceiro com 8 pontos; e, Fischer, com 7 pontos. A única chance que Fischer tinha de superar os líderes, era se os soviéticos empatassem entre si. Foi, precisamente, o que ocorreu. Ou seja, mais uma vez, se a conspiração tivesse existido, teria sido a favor de Fischer.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A partir daí, o problema de Fischer foi que, mesmo com os empates dos soviéticos dando-lhe uma chance de ser o vencedor, ele perdeu para Keres (21ª rodada) e, embora haja vencido Korchnoi e Geller na 19ª e na 23ª rodadas, empatou duas vezes com Petrosian e também empatou a quarta e última partida tanto com Keres quanto com Geller. Ou seja, não conseguiu superar os jogadores soviéticos, exceto Korchnoi.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Reproduzimos a conclusão de Krabbé: “a forma de Fischer não era boa o suficiente para aproveitar essa vantagem [o empate entre os soviéticos] em seu benefício. Não há razão para pensar que em Curaçao havia algo além de que Geller, Keres e Petrosian, tendo grande respeito uns pelos outros, pensaram em alguns dias de descanso extra, e Petrosian teve mais sorte – ou, talvez, fosse o mais forte. Fischer nunca foi um problema”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-KMILmWDTNs4/UV6-THZHv2I/AAAAAAAAP8I/BRJbIvTuURg/s1600/Fischer+Spassky+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-KMILmWDTNs4/UV6-THZHv2I/AAAAAAAAP8I/BRJbIvTuURg/s1600/Fischer+Spassky+1.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, não havia sido apenas com os soviéticos que Fischer se chocara em Curaçao. Na 5ª rodada, Fischer e Benko adiaram a continuação de suas partidas. Só havia um “segundo” para analisar seus jogos adiados, o GM e ex-campeão norte-americano Arthur Bisguier, pois a Federação dos EUA não havia liberado dinheiro para contratar outro.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No dia seguinte, Fischer dirigiu ao comitê organizador do torneio um pedido para que Benko fosse “penalizado e/ou expulso do torneio”. Transcrevemos a fundamentação, porque ela é importante para avaliar o grau de maturidade de Fischer, com 19 anos na época: “Na noite de 9 de maio, um pouco antes da meia-noite, Benko entrou pelo quarto sem minha permissão (....). Eu imediatamente pedi a ele para sair e ele recusou-se. Eu repetidamente pedi que saísse e ele recusou-se a cada pedido. Ele ficou furioso quando recusei-me a permitir que meu segundo, Arthur Bisguier, o ajudasse a analisar seu adiamento com Petrosian. Ele insultou-me e, quando eu respondi, atacou-me quando eu estava sentado numa cadeira. Eu não revidei. Então, finalmente, ele deixou o quarto” (Hanon W. Russell, “The Fischer-Benko Slapping Incident”).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-s2_hwJHyoOI/UV6-U2vmKqI/AAAAAAAAP8w/Yc0F1DDq9yo/s1600/Fischer+Spassky+6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-s2_hwJHyoOI/UV6-U2vmKqI/AAAAAAAAP8w/Yc0F1DDq9yo/s1600/Fischer+Spassky+6.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Posteriormente, Arthur Bisguier exporia o cerne da questão nesse conflito de Fischer com Benko, o que também esclarece muito a respeito do conflito com os soviéticos. No fundo, era a mesma questão: “Apesar de que eu expressei minha disposição de também trabalhar para Benko, Fischer insistiu em que eu fosse unicamente seu segundo. Sua justificativa era que o Torneio de Candidatos é um torneio individual, não um evento de equipes, e Benko era outro oponente em perspectiva”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias07.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias07.htm</a></b><br />
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-81194483168949477312013-04-05T05:05:00.003-07:002013-04-05T05:05:31.921-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 6<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-iW4CugQE3Dk/UV68Fkl-X9I/AAAAAAAAP7c/hjxFYEiIEWA/s1600/Tal+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-iW4CugQE3Dk/UV68Fkl-X9I/AAAAAAAAP7c/hjxFYEiIEWA/s1600/Tal+1.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 6</span></b></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<b><span style="color: #20124d;">Kasparov parece ter escolhido o local adequado para iniciar sua campanha a presidente da Rússia: em Washington. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Zvs6cbWkOnc/UV68n7NYn7I/AAAAAAAAP78/94UgX3Q8MAM/s1600/H%C3%A9lder+C%C3%A2mara+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-Zvs6cbWkOnc/UV68n7NYn7I/AAAAAAAAP78/94UgX3Q8MAM/s1600/H%C3%A9lder+C%C3%A2mara+1.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Hélder Câmara</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mestre Hélder Câmara envia-nos a coluna de xadrez do “Washington Post” - que tem, como titular, Lubomir Kavalek, GM tcheco-americano. Na segunda-feira, dia 15, o colunista noticia que Kasparov está em Washington para lançar, no dia seguinte, seu novo livro, “How Life Imitates Chess” (“Como a Vida Imita o Xadrez”). </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O título é bastante sintomático, inclusive pela estupidez: como pode a vida imitar algo que é parte dela mesma? Ou será que o xadrez não faz parte da vida? Não é impossível que Kasparov tenha essa última opinião, uma vez que não sabe o que é a vida, porém o mais provável é que não se preocupe com essas minudências. No entanto, é evidente porque a vida tem de imitar o xadrez: para que ele seja presidente da Rússia, assim como foi campeão em xadrez. Para isso, vale tudo, inclusive publicar livros com títulos estúpidos. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No entanto, nos parece que ele, mais uma vez, subestima a inteligência dos outros - nesse caso, dos eleitores russos. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O lançamento em Washington é, naturalmente, para mostrar aos russos como o autor é respeitado pelo mundo. Não é uma surpresa que ele confunda o mundo com os EUA. E, mais ainda, que confunda o incensamento de seu ato de vassalagem com respeito. O que mostra, apenas, que também não sabe o que é respeito. Mas isso o leitor poderá comprovar por outros acontecimentos, nas próximas seções do nosso relato.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">O GOLPE</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Voltemos a Botvinnik. No Congresso da FIDE de 1959, ele, subitamente, tomou conhecimento da campanha que se desenvolvia “às suas costas”. A questão de abolir o direito do campeão ao match-revanche não estava na pauta divulgada antes do Congresso, o que era obrigatório. Também não havia sido discutida na diretoria – e por uma razão que hoje parece evidente: pelas regras de então, o campeão mundial era membro da diretoria da FIDE. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Botvinnik parece ter ficado completamente surpreso quando Folke Rogard, o sueco que presidiu a FIDE por 21 anos (1949-1970), propôs a revogação do direito ao match-revanche. Mais surpreso ainda deve ter ficado – é o que sugere o tom com que posteriormente abordou a questão – quando a delegação soviética não se opôs. Rogard, que sempre considerou um incômodo a hegemonia soviética, havia tentado acabar com o match-revanche em 1955, durante o Congresso de Gotemburgo. Mas, depois da defesa de Botvinnik, apoiado pela delegação soviética, a proposta contara com apenas um voto, além de Rogard. No entanto, algo mudara entre 1955 e 1959... </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-YmBYY2aglHw/UV68F-m9MNI/AAAAAAAAP7g/8myq8V4Z54Q/s1600/Tal+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-YmBYY2aglHw/UV68F-m9MNI/AAAAAAAAP7g/8myq8V4Z54Q/s1600/Tal+2.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Mikhail Tal</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Não se tratava de um problema de justiça formal e abstrata (a argumentação era a de que o match-revanche obrigava um desafiante a ganhar dois matches do antigo detentor do título, em vez de apenas um). </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Concretamente, a medida era diretamente dirigida contra Botvinnik. Como diria um advogado, faltava a ela a característica da “impessoalidade”, requerida pelo bom Direito. E não apenas porque só havia um único jogador sobre a face da Terra que podia reivindicar o direito que foi abolido. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No centro do método de Botvinnik estava um rigoroso estudo e uma rigorosa disciplina. Mas ele não era somente um enxadrista. A idéia – por sinal, monstruosa - de que jogadores de xadrez somente devem se preocupar com xadrez ainda não havia obtido o beneplácito atual. Ela seria, alguns anos depois, talvez a pior herança que Fischer deixou ao xadrez. Mas, em 1959, não era algo que parecesse razoável – como, aliás, não é. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Como todos sabiam, Botvinnik era também um pesquisador em áreas de fronteira da ciência e da tecnologia. Para disputar o match com Bronstein, interrompera suas pesquisas sobre geradores sincrônicos. Para enfrentar Smyslov, tivera que deixar de lado, por longos meses, o seu trabalho com motores à corrente alternada. Seu trabalho como pesquisador, em geral, interrompia sua participação em competições, o que não favorecia sua forma no primeiro match. A revanche era, justamente, sua oportunidade de dedicar um ano ao estudo do xadrez – e aí retomar o título. Sem ela, Botvinnik teria que enfrentar um problema a mais – e não era um problema pequeno, sobretudo na sua idade – para manter o título. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Tanto a extinção desse direito tinha um alvo certo, que, na hora de efetivar a medida na presença do próprio Botvinnik, a FIDE acabou por adiá-la: não valeria para a próxima disputa, só sendo instituída em 1963. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, aqui, é necessário entender porque a delegação soviética permitiu – e apoiou - um ataque direto à sua maior glória no xadrez. O problema não se explica apenas pela pressão de jogadores soviéticos aspirantes ao título, como Botvinnik deixa entender no terceiro volume de suas “Partidas Selectas”, embora observando que esta pressão “não era só dos meus colegas”. Também não se explica completamente pelo ódio dos kruschevistas a todo e qualquer “símbolo do stalinismo”, inclusive Botvinnik, uma vez que esse atropelo na FIDE era um desprestígio não para Stalin, que já havia falecido, mas para a URSS e, por conseqüência, para os seus dirigentes daquela época. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">A atitude soviética na FIDE, a partir da segunda metade da década de 50, era parte daquela política de apaziguamento em relação aos países imperialistas, sobretudo em relação aos EUA, que se tornara política oficial na URSS com Kruschev, especialmente após o XX Congresso do PCUS, em 1956 - e que, levada ao extremo por Gorbachev, acabaria numa catástrofe. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;">Não sabemos o grau de consciência a que Botvinnik chegou sobre a questão, mas é significativo que ele, em suas memórias publicadas em 1978, se detenha num acontecimento, pouco anterior à decisão da FIDE, em que isso é claro. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Na Olimpíada de Xadrez de Munique (1958), os norte-americanos fizeram uma proposta indecente. Seu primeiro-tabuleiro, Samuel Reshevsky, recusava-se a jogar aos sábados por motivos religiosos. Assim, eles propuseram aos soviéticos que seu primeiro-tabuleiro, Botvinnik, também não comparecesse ao match URSS-EUA. Assim, ambos pontuariam em branco, e a agenda seria cumprida. O único obstáculo a isso era Botvinnik: “Recusei-me a pontuar em branco, a despeito da pressão sobre mim do chefe de nossa delegação, D. Postinikov, e do capitão da equipe, A. Kotov. Eles alegavam estar com medo de que os americanos ameaçassem parar de jogar na Olimpíada e retornar para casa. Enquanto nós estávamos discutindo (isso foi no foyer do Hotel Metropol), o presidente [da entidade] dos jogadores da Alemanha Ocidental, E. Dehne, estava sentado próximo. 'Por que vocês têm medo de que os americanos vão embora? Quem tem que ter medo disso é Dehne, então, consultem-no', eu disse aos meus superiores. 'Se os americanos querem ir embora, então, que vão', disse o alemão, de um modo calmo. Obviamente, eu joguei no match contra os EUA!” (grifo nosso).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">TAHL</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No mesmo ano em que Smyslov conquistava o título mundial contra Botvinnik, 1957, o Campeonato Soviético foi vencido por Mikhail Tahl, um jovem de Riga, Letônia, então com 20 anos. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Tahl foi, provavelmente, o maior tático e o maior jogador de ataque da história do xadrez. São impressionantes, até hoje, seus sacrifícios de peças, as soluções que pareciam impossíveis em determinadas posições e, não menos importante, sua capacidade de ser bem sucedido em blefar, num jogo que parece pouco propício para isso (o próprio Tahl descreveu implicitamente essa capacidade, na sua maneira bem humorada: “Há 3 tipos de sacrifícios: os corretos, os incorretos, e os meus”). </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Independente de sua solidez, isto é, da profundidade ou coerência lógica das suas linhas de jogo, as partidas de Tahl até hoje provocam um prazer estético especial em quem as refaz. Foi com esse estilo espetacular que ele venceu seis vezes o Campeonato Soviético, marca que só foi atingida por um outro único jogador, Mikhail Botvinnik. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em seu livro autobiográfico, no qual aborda sua experiência como engenheiro, pesquisador e enxadrista, Botvinnik, sucintamente, destrincha aquilo que nas décadas de 50 e 60 era considerado um mistério - o estilo “mágico” de Tahl, chamado, por essa razão, “o bruxo de Riga”: “do ponto de vista da cibernética e da ciência da computação, Mikhail Tahl é um aparato de processamento de dados, um aparato que possui um banco de memória maior e uma velocidade de resposta mais rápida do que os de outros grandes mestres. Isso tem importância decisiva nos casos em que as peças têm grande mobilidade no tabuleiro. Tahl não estava muito interessado em avaliar objetivamente a posição em que estava metido. Podia mesmo ser que, objetivamente, ele ficasse pior ali, mas se somente suas peças estavam móveis, as ramificações de variantes são tão extensas, tão grande é o número de jogadas nessas ramificações, que o oponente não podia dar conta delas e a rápida reação e memória de Tahl falariam mais alto. Essa é a base completa do incomum, do fantástico jogo de Tahl. Ele é baseado em fatores perfeitamente prosaicos” (“Achieving the Aim”, pág. 158 – uma nota: traduzimos o termo técnico “analytical tree” por “ramificações” porque este não é um texto destinado apenas aos enxadristas). </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas essa compreensão de Botvinnik sobre o jogo de Tahl, é forçoso ressaltar, somente apareceu 18 anos após o primeiro match entre os dois. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Sob alguns aspectos, o jogador letão, um professor de literatura, era o oposto de Botvinnik: fumante inveterado, mais do que chegado a um copo, dado ao que chamou de “caça às moças”, indisciplinado a ponto de escapar à noite da concentração e levar uma garrafada na cabeça numa boate em Havana, com tendência a jogar para a platéia, desprezando a abordagem científica em xadrez (“xadrez é arte”), sempre disposto a fazer a tática sobressair em relação à estratégia. Não por acaso, Smyslov, um estrategista, disse que o estilo de Tahl “não era mais do que um conjunto de truques”. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Essa não era a opinião de Botvinnik, que compreendia melhor do que Smyslov a verdade enunciada por Lasker no final do século XIX: “xadrez é luta”. Se é lícita a comparação, Tahl é o Garrincha do xadrez (até em certas tiradas eles se parecem: em 1958, um jornalista perguntou-lhe quando seria campeão do mundo. Resposta: “primeiro preciso combinar com os outros grandes mestres”). Todos gostavam dele, até mesmo o próprio Smyslov, e outros jogadores que em tudo eram opostos – foi muito amigo de seu antípoda perfeito no xadrez, o futuro campeão Tigran Petrosian. Aliás, até Fischer, o que é quase um milagre, considerando-se a hostilidade deste em relação aos jogadores soviéticos – e não só aos soviéticos. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em 1958, além de vencer outra vez o campeonato da URSS, Tahl venceu o Torneio Interzonal de Portoroz, Iugoslávia, qualificando-se para o Torneio de Candidatos. No ano seguinte, ele venceria também esse torneio, e com um resultado espetacular: no confronto direto (os jogadores disputavam quatro partidas entre si), ele venceu 4 vezes Bobby Fischer, 2 vezes Smyslov e 3 vezes o iugoslavo Gligoric – provavelmente, na época, o jogador mais forte fora da URSS. Apenas o segundo colocado, Paul Keres, conseguiu um score favorável no confronto com Tahl – 3 vitórias e uma derrota. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-C6qBItvvnG0/UV68GOLeZzI/AAAAAAAAP7k/WAP-G_uApBE/s1600/Tal+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-C6qBItvvnG0/UV68GOLeZzI/AAAAAAAAP7k/WAP-G_uApBE/s1600/Tal+3.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">TaL</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Desafiante de Botvinnik, venceu-o em 1960 – derrotou o veterano campeão em 6 partidas, perdeu em apenas duas, e fechou o match já na 21ª partida, três antes do limite de 24 partidas. Era, depois disso, o mais jovem campeão mundial, até então. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas ainda havia o match-revanche. E Botvinnik, apesar da diferença de idade – 25 anos a favor de Tahl - resolveu enfrentá-lo. Não possuía toda a compreensão do jogo de Tahl que adquiriu depois, mas considerou suficiente a que, então, conseguiu chegar. Como escreveu, nas “Partidas Selectas”: “analisando o encontro sob um enfoque criativo, nosso [primeiro] match também proporcionou abundante material para identificar as debilidades de jogo do jovem campeão. Inclusive quando não estava em consonância com o espírito da posição, Tahl se esforçava para agudizar o jogo. Lançava-se em posições difíceis, só para alcançar maior mobilidade para suas peças, com o que podia mostrar sua capacidade única para o cálculo de variantes, assim como... a falta de tempo do adversário para pensar as jogadas. Este enfoque utilitário em relação ao xadrez lhe assegurou êxito, mas a um preço muito alto. Fechou-se em um estilo de jogo unilateral, estreitou as possibilidades criativas e engendrou a possibilidade de um futuro fracasso”. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, em 1961, Botvinnik era o único a fazer esse julgamento. As previsões eram todas a favor de Tahl, um jogador de quem Fischer disse ao iugoslavo Dimitrije Bjelica: “Pode-se esperar qualquer coisa de Tahl” (cf. o livro de Bjelica, “Bobby Fischer”, na série “Kings of Chess”). A imprensa soviética estava toda por Tahl e contra Botvinnik. Um dos poucos torcedores que este ainda mantinha era Leonid Brezhnev, na época presidente do Soviet Supremo. Mas, como Brezhnev disse depois a Botvinnik, foi uma torcida solitária dentro de sua própria casa... </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Infelizmente, já nessa época a frágil saúde do jovem campeão começou a tornar-se um problema. Tahl era portador, ou era acometido periodicamente, de uma série de doenças, entre as quais um problema renal que o acompanhou até a morte – ocorrida em junho de 1992, após, no dia anterior, fugir do hospital, comparecer a um torneio em cadeira de rodas, e vencer a partida com um brilho que lembrava o jovem do final da década de 50. Como lembrou, numa entrevista em 2003, sua primeira mulher, Sally Landau, um mês antes, em outra fuga do hospital, ele havia sido o único a derrotar Kasparov, então no auge, no Torneio de “Blitz” (partidas rápidas) de Moscou. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Com a notícia de que Tahl estava doente em Riga, Botvinnik propôs um adiamento, desde que o campeão, de acordo com as regras, apresentasse um atestado médico. Tahl recusou o adiamento. Provavelmente, ele sabia, ou sentia, que se tivesse de esperar pela recuperação completa, nunca mais jogaria xadrez em competições. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O match foi algo espetacular, mas não à maneira de Tahl. Nesse match, Botvinnik conseguiu aquilo que não conseguira no match com Bronstein: mostrar como um estrategista pode enfrentar e vencer um jogador tático – nesse caso, um tático bem maior do que Bronstein. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Simplesmente, ele não deu – ou quase não deu – oportunidade para que Tahl exercesse seu talento: “eu resolvi jogar trabalhando em duas direções: (1) aprender com Tahl a como ser um bom e astuto prático, e, (2) preparar o tipo de aberturas, e, associados a elas, planos de meio-jogo, em que a luta é de natureza fechada, o tabuleiro é cindido em seções separadas, as peças não são demasiado móveis. Nunca pensar se a minha posição é objetivamente pior nesse caso. Pelo menos meu oponente não seria capaz de explorar sua rápida reação e memória (e [assim] minha compreensão das posições falaria mais alto)” (“Achieving the Aim”, pág. 161). </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-ekUcZ600pE8/UV68GuDUsqI/AAAAAAAAP7w/ZnvwVlz5xJg/s1600/Tal+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-ekUcZ600pE8/UV68GuDUsqI/AAAAAAAAP7w/ZnvwVlz5xJg/s1600/Tal+4.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Tal e Fischer</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<b><span style="color: #20124d;">O match foi no terreno escolhido por Botvinnik – e, nesse terreno, a estratégia, ele era, realmente, e apesar da idade, superior a Tahl. Com 10 vitórias contra 5, o match terminou com a recuperação do título – e Botvinnik já estava com 50 anos, uma idade avançada para um campeão mundial.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">FISCHER</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No Torneio de Candidatos de Curaçao, em 1962, o armênio Tigran Petrosian saiu vencedor. </span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, logo que foi encerrado o Torneio de Curaçao, e antes do match de Petrosian com Botvinnik, a revista americana “Sports Illustrated”, em agosto de 1962, publicou um artigo que estabeleceria o eixo da campanha anti-soviética no xadrez pelas décadas seguintes. A força especial do artigo era dada pelo seu autor, o único jogador americano em condições de enfrentar os melhores jogadores soviéticos, Robert James Fischer – ou, simplesmente, Bobby Fischer. Por isso, é necessário que nos detenhamos agora nele – o que faremos na próxima edição.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias06.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias06.htm</a></b>Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-10109643590488410832013-04-05T04:53:00.002-07:002013-04-05T04:53:22.599-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 5<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-qTcWiCaDcV4/UV655SpXN6I/AAAAAAAAP6s/tlzcitxQ6t8/s1600/Bronstein+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-qTcWiCaDcV4/UV655SpXN6I/AAAAAAAAP6s/tlzcitxQ6t8/s1600/Bronstein+2.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="text-align: center;"><b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 5</span></b></span></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">A propaganda anti-soviética em torno do match Botvinnik-Bronstein não teria maior importância se não fossem as declarações posteriores de Bronstein. É nelas, e nas de Yuri Averbakh, que se baseia o atual qüiproquó sobre o assunto. Por isso, vale a pena um rápido exame dessas declarações. Na verdade, nos limitaremos a uma declaração de Bronstein, que nos parece especialmente elucidativa.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em “Aprendiz de Feiticeiro”, Bronstein, na ânsia por mostrar que os comunistas são trapaceiros, diz, sobre sua escolha como desafiante de Botvinnik, em 1950: “Isaac Boleslavsky estava liderando o Torneio de Candidatos, mas, depois de uma conversa com Boris Vainstein [então presidente da Federação Soviética de Xadrez], decidiu maneirar [to slow down – literalmente, “dar uma freada”] para permitir-me empatar com ele em primeiro lugar” (“The Sorcerer’s Apprentice”, pág. 107, Cadogan Books, 1995).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Em suma, Bronstein está dizendo que os soviéticos roubaram, isto é, trapacearam, a seu favor. Resta saber porque os comunistas iriam trapacear a favor de um anti-comunista, filho de um condenado por conspiração contra o Estado, preterindo um jogador (Boleslavsky) que não tinha nenhum desses problemas – e que sempre mostrou um respeito por Botvinnik de que Bronstein era realmente incapaz.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-MamKz0C78Tk/UV655yl03RI/AAAAAAAAP68/meqyjxbxQlA/s1600/Bronstein+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-MamKz0C78Tk/UV655yl03RI/AAAAAAAAP68/meqyjxbxQlA/s1600/Bronstein+4.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Resta saber, também, porque iriam trapacear para que o desafiante do campeão fosse um jogador que, fora de dúvida, ele teria muito mais dificuldade em vencer, se a intenção deles (essa é a tese de Bronstein) era facilitar a vitória de Botvinnik. Como observa Taylor Kingston, comentando o mesmo trecho do livro de Bronstein, em 1950 o retrospecto de Botvinnik era ruim em relação a Bronstein (uma derrota, um empate e nenhuma vitória), mas não em relação a Boleslavsky (7 vitórias, 4 empates e nenhuma derrota).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Então, qual o sentido dos soviéticos trapacearem a favor de Bronstein? Para complicar a vida de quem eles queriam que ganhasse? Ou para se arriscar a ter mais uma dor de cabeça – um “dissidente” como campeão do mundo, no esporte mais popular do país?</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Bronstein, nessa declaração, joga com o fato de que Boleslavsky era pai de sua terceira mulher, Tatiana. Logo, supõe-se, ele estaria informado da trapaça pela própria vítima. Mas, convenientemente, quando “Aprendiz de Feiticeiro” foi publicado (1995), já havia 18 anos que Boleslavsky não estava mais neste mundo. Porém, havia quase 40 anos (desde 1956) que qualquer declaração manchando a época de Stalin seria bem recebida pela imprensa e pela nova cúpula da URSS – sobretudo nos 10 anos anteriores, pois, desde 1985, Gorbachev era o secretário do PCUS. No entanto, essa declaração somente apareceu em 1995, alguns meses após a morte de Botvinnik.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">FRACASSO</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porque Bronstein deu essa declaração ridícula, não é difícil de perceber. Ele não tinha como dizer – e, realmente, não disse – que o match com Botvinnik havia sido uma trapaça: os soviéticos permitiram até mesmo que ele levasse uma claque para a sala onde se realizava o match – e os árbitros, Opocenski (Tchecoslováquia) e Stahlberg (Suécia), deixaram até que ele regesse pessoalmente a claque, como na decisiva 23ª partida, para aplaudi-lo e hostilizar o oponente.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-Bpfw0oUKnf8/UV656XPmfhI/AAAAAAAAP7I/0HsESUXbp3k/s1600/Bronstein+5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-Bpfw0oUKnf8/UV656XPmfhI/AAAAAAAAP7I/0HsESUXbp3k/s1600/Bronstein+5.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Bronstein também não podia dizer que, em algum momento do processo de sua escolha como desafiante, teria sido vítima de uma trapaça. Afinal, os soviéticos não fizeram objeções à sua participação no Interzonal - e ele ganhou tanto o Interzonal, quanto o Torneio de Candidatos. Assim, para mostrar que os soviéticos eram trapaceiros - e que, supostamente, ele tinha provas de tal coisa – não havia outra solução, senão escolher a si próprio como beneficiário da fraude e a seu falecido sogro como vítima, pois somente ele, Bronstein, e mais ninguém, teve um resultado superior ao de Boleslavsky. Logo, se houve trapaça, só poderia ser a seu favor. Portanto, a prova da trapaça dos soviéticos é a sua própria vitória na escolha do desafiante de Botvinnik.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Bronstein e algumas cabeças de alfinete que lhe seguiram não se aperceberam que, se essa história fosse verdade, ela, antes de tudo, provaria que os soviéticos da época de Stalin eram doidos varridos, que trapaceavam contra seus próprios interesses, para beneficiar os adversários...</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">As razões reais do fracasso de Bronstein foram sucintamente expostas por seu oponente: “Bronstein era na época indubitavelmente um jogador forte, mas seu talento era marcado por uma limitação. Ele era bom nas complicações do jogo de peças, e dispunha-as no tabuleiro de forma muito bem sucedida do ponto de vista das considerações gerais. (....) mas quando era necessária a precisão da análise para procurar exceções às regras, Bronstein não era tão forte. A análise precisa é necessária no final de jogo, quando um jogador não tem direito de cometer erros, exatamente como um sapador na guerra. Se Bronstein fosse forte nos finais, então, seguramente, eu teria perdido o match. Além disso, fui favorecido pelas deficiências humanas e competitivas do desafiante – uma inclinação para a excentricidade, afetação e ingenuidade em suas táticas de competição” (Botvinnik, “Achieving the Aim”, pág. 130, Pergamon Press, Londres, 1981 – a primeira edição russa é de 1978).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">HELSINQUE</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Uma sociedade dirigida por pessoas que admitem como verdadeira a versão de sua História forjada pelos que querem destruí-la, está, cedo ou tarde, destinada a ser destruída. Se foi isso o que ocorreu em geral na URSS, a partir de 1956, também foi verdade no restrito campo do xadrez soviético.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">No terceiro volume de suas “Partidas Selectas” (usamos a edição Eseuve, em castelhano), Mikhail Botvinnik relata como, após sua derrota para Vassily Smyslov, em 1957, “sofri pressões para convencer-me de que não pedisse a revanche”. No entanto, o match-revanche fazia parte das regras da FIDE, em caso de derrota do campeão. “Depois da análise das partidas do match, resolvi não queimar incenso aos deuses (....). O match-revanche celebrou-se na primavera de 1958. (....) A preparação foi simples, o match perdido me proporcionou abundante informação. (....) Na 15ª partida eu já tinha vantagem de 4 pontos”. Botvinnik conta, em seguida, como, nesta partida, depois de obter posição ganhadora antes do adiamento, subestimou o oponente e, no dia seguinte, tendo que analisar durante a partida o que deveria ter analisado durante a noite, perdeu porque ultrapassou o tempo permitido: “em vez de 5 pontos de vantagem, tive de conformar-me com três. (....) mas conquistei o título de campeão”.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O que vem logo em seguida é ainda mais significativo: “Meus colegas (e não somente eles) mostraram seu descontentamento. Compreendiam que ainda que pudessem superar o campeão vigente num match, depois, em um match-revanche, a preparação se fazia notar... e, às minhas costas, começou uma campanha pela supressão do match-revanche” (grifo nosso).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Botvinnik não relaciona essas pressões e essa campanha com os acontecimentos políticos ocorridos após o XX Congresso do PCUS. Porém, nos parece evidente a relação: os kruschevistas, a partir de 1956, estavam alucinados em sua cruzada “anti-stalinista”. Queriam apagar tudo o que tivesse o nome de Stalin – ou lembrasse a sua época. O fato disso ser impossível, apenas os deixava mais histéricos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Botvinnik, campeão soviético em 1931, 1933, 1939, 1944, 1945 e 1952, condecorado por Stalin após sua vitória de 1936 em Nottingham (a primeira de um jogador soviético no exterior), campeão do mundo em um esporte popular na URSS, e fundador da própria escola soviética de xadrez, era quase tudo o que eles detestavam: uma das personificações de uma época que eles, na impossibilidade de eliminá-la da História, queriam demonizar, o que faziam meramente repetindo, assumindo como verdadeira, a propaganda anti-soviética e anti-comunista da década de 30.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Foi então que começou a campanha contra Botvinnik, retratando-o como um ditador super-poderoso do xadrez soviético na época de Stalin. Uma idiotice completa. Basta lembrar a exclusão de Botvinnik da equipe soviética que jogou na 10ª Olimpíada de Xadrez, em Helsinque, 1952 – portanto, com Stalin ainda vivo. A exclusão foi articulada, entre outros, por Keres e Bronstein. Devido à campanha contra Botvinnik, da qual Kasparov tem sido um especial esbirro, relembramos brevemente os acontecimentos.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Durante o treinamento, a equipe foi chamada, subitamente, para comparecer à sede do Comitê de Esportes da URSS, na ausência de seu presidente, Romanov, que já estava em Helsinque – e que havia insistido para que Botvinnik, que mantivera recentemente o título mundial, fosse o primeiro-tabuleiro da equipe. Transcreveremos o relato de Botvinnik - e já diremos ao leitor porque este relato merece confiança:</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“O primeiro a ser chamado para falar com Ivanov, vice-presidente do Comitê, foi Keres. Então, Keres saiu e eu fui chamado, acompanhado do pessoal encarregado das sessões de treinamento e do staff de xadrez do Comitê. Em minha presença foi dado um informe a Ivanov, segundo o qual tudo estava indo bem, exceto que os membros da equipe consideravam que Botvinnik estava jogando muito mal.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Ivanov colocou-me a questão: ‘você pode garantir que será o primeiro lugar no primeiro-tabuleiro?’. Eu respondi: ‘peça a Keres para entrar, por favor’. Tinha se tornado claro para mim que Keres tinha acabado de dar tal garantia, em caso de substituir-me.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">“Depois de alguma confusão na sala, foi decidido chamar Keres de volta. Ele apareceu, pálido e embaraçado. Eu percebi, então, que depois dessa ‘acareação’, Keres não seria capaz de jogar bem em Helsinque – ele é psicologicamente instável. Jogar não é a mesma coisa do que dar garantias!</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">‘Eu solicito que este assunto seja considerado numa reunião da equipe’, declarei. E foi onde se ficou naquele momento” (cf. “Achieving the Aim”, págs. 136/137).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Depois de uma noite em claro, na manhã seguinte, quando Botvinnik entrou nos sanitários do local onde os jogadores estavam concentrados, encontrou outro integrante da equipe, Vasily Smyslov. Fez a pergunta à queima-roupa: “Vasily Vasilyevitch, você informou que considera que eu não sei como jogar xadrez?”. Smyslov estava escovando os dentes. E continuou escovando os dentes. Depois, respondeu: “Eu não sabia que isso tudo viria à tona” (“Achieving the Aim”, pág. 137 – Smyslov está vivo, e, evidentemente, também estava em 1978, quando foi publicado este relato de Botvinnik. No entanto, nunca o desmentiu).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Então, aceitando a proposta de Botvinnik, o Comitê de Esportes reuniu a delegação: “Keres disse que Botvinnik estava em má forma, e que não era possível melhorar a forma rapidamente (ele esqueceu de acrescentar que é possível a alguém perder a forma rapidamente!). Bronstein disse que se Botvinnik estivesse para perder um peão, ele perderia o jogo, mas que, se Keres perdesse um peão, ele faria uma coisa ou outra para conseguir um empate (um sábio pensamento!). Smyslov e Kotov simplesmente exigiram que eu fosse excluído da equipe. Somente Boleslavsky manteve-se ao lado do campeão do mundo. Eu fui substituído na equipe por Geller” (quando este relato foi publicado na Rússia, dos participantes desta reunião, além de Smyslov, estavam vivos Bronstein e Kotov – nenhum desmentiu Botvinnik).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Sobre a má forma do campeão mundial em 1952, notemos, somente de passagem, que em dezembro desse ano, portanto apenas alguns meses depois dessa reunião (e dos sofríveis resultados de Keres como primeiro-tabuleiro da equipe soviética na Olimpíada), Botvinnik venceu pela sexta vez o Campeonato da URSS. Keres foi o 10º colocado; Smyslov, o 9º; e Bronstein, o 7º. Kotov não participou. Mas Boleslavsky foi o quarto colocado.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Além de Bronstein, a outra fonte da campanha contra Botvinnik é Yuri Averbakh, principalmente através de suas entrevistas, onde procura avalizar cada uma das calúnias presentes e passadas, mesmo àquelas que nem autores ocidentais insistem mais, e mesmo àquelas que se referem a acontecimentos em que é impossível que ele tivesse algum conhecimento de primeira mão.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-0WzNX8buJHM/UV655dkNTxI/AAAAAAAAP7A/LxnVCfQUT8M/s1600/Bronstein+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-0WzNX8buJHM/UV655dkNTxI/AAAAAAAAP7A/LxnVCfQUT8M/s1600/Bronstein+1.jpg" /></a></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">As entrevistas atuais de Averbakh procuram passar a idéia, ainda que às vezes ambígua, de que ele foi um perseguido durante o socialismo. Nada mais longe da verdade. Averbakh foi, durante muito tempo, o editor-chefe da principal publicação soviética de xadrez – a revista “Xadrez na URSS” - e, depois, presidente da Federação Soviética de Xadrez. Em suma, depois de ter sido um bom jogador (foi campeão da URSS em 1953) e teórico, fez, depois de 1956, carreira como “cartola”. Poucos enxadristas foram tão prestigiados na URSS quanto Averbakh. E poucos se destacaram tanto pelo puxa-saquismo. Sua ascensão coincidiu, precisamente, com o início da campanha anti-soviética – ou contra a história soviética – dentro da URSS. Que ele atualmente use o prestígio adquirido naquela época para se cacifar junto ao que há de pior na Rússia e fora dela, é apenas um desdobramento lógico de sua carreira.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">O INVENCÍVEL</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">É interessante que o autor americano Fred Reinfeld haja escolhido para título de um de seus best-sellers enxadrísticos, “Botvinnik, o Invencível”. Pois, como o próprio Botvinnik diz acima, ele estava longe de ser invencível no tabuleiro. No entanto, ele dominou toda uma época, sem contestação, e é a isto que Reinfeld se refere, com razão. Mesmo quando Vassily Smyslov – uma rara vocação dupla, de cantor lírico e enxadrista – despontou com os melhores resultados do mundo na década de 50, Botvinnik, ao fim e ao cabo, manteve sua predominância.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">O próximo match pelo título mundial foi, exatamente, entre Botvinnik e Smyslov, que saíra vencedor do Torneio de Candidatos de Zurique, em 1953. Smyslov era, como Botvinnik, um estrategista (um “jogador posicional”, como dizem os enxadristas). Era excelente tanto na defesa quanto no ataque, preciso nas aberturas e, sobretudo, nos finais de partida. Além disso, como observou Botvinnik, tinha uma capacidade especial para refutar linhas de jogo preparadas de antemão – exatamente o elemento em que o seu oponente era famoso. Em resumo, era um jogador sem as limitações de Bronstein.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Outra vez, este match, disputado em 1954, foi um empate - com Botvinnik, conseqüentemente, retendo o título de campeão. Mas esteve longe de ser um match monótono. Nas seis primeiras partidas, Botvinnik tinha 3 vitórias contra nenhuma de Smyslov. Nas cinco partidas seguintes, Smyslov venceu 4 vezes. Ficou, portanto, um ponto acima do campeão. Então, nas próximas 5 partidas, Botvinnik venceu 4 delas – e ficou dois pontos à frente do desafiante. Porém, à beira do esgotamento, perdeu a 20ª e a 23ª partidas, e a decisão foi para a última partida do match – mas esta foi um empate, e, com 7 vitórias para cada um, o match de 24 partidas também terminou empatado, com Botvinnik mantendo-se campeão.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Porém, Smyslov venceu outra vez o Torneio de Candidatos (Amsterdã, 1956). E, no match de 1957, “a luta transcorreu com êxitos de um lado e de outro, mas depois não agüentei a dura prova, e V. Smyslov conquistou com brilhantismo o título de campeão. (....) No período 1953-1958, Smyslov não conheceu a derrota; este foi o cume de sua trajetória enxadrística” (Botvinnik, “Partidas Selectas”, vol. 3). A observação “não aguentei a dura prova” é uma referência de Botvinnik à sua idade: tinha 46 anos e Smyslov, 36. Dez anos de diferença na idade, num match de 24 partidas, são um peso difícil de neutralizar (em 1957, Botvinnik não chegou até a última partida - Smyslov, com 12,5 pontos contra 9,5, conquistou o título na 22ª partida).</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Mas, como já vimos, ele ganhou o match-revanche em 1958. Continuava insuperável na preparação teórica e psicológica, em especial na análise do estilo e das características do oponente.</span></b><br />
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Re9l0Z76Mq8/UV6555w59aI/AAAAAAAAP60/nLZFWSmd3aw/s1600/Bronstein+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Re9l0Z76Mq8/UV6555w59aI/AAAAAAAAP60/nLZFWSmd3aw/s1600/Bronstein+3.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Kasparov x Bronstein</span></b></div>
<b><span style="color: #20124d;"><br /></span></b>
<b><span style="color: #20124d;">Apenas um ano depois, no Congresso da FIDE, o campeão mundial seria surpreendido por uma decisão que explodiu no mundo do xadrez como uma bomba. A FIDE aprovou o que a revista inglesa “Chess” chamou de “a regra anti-Botvinnik” - com o apoio, para surpresa ainda maior de Botvinnik, da delegação soviética. Mas deixemos isso para a próxima edição, que o nosso espaço, por hoje, está no fim.</span></b><br />
<br />
<b><span style="color: #20124d;">Carlos Batista Lopes</span></b><br />
<br />
<br />
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias05.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias05.htm</a></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5787789864381671005.post-68067015357870490522013-04-05T04:42:00.003-07:002013-04-05T04:42:33.275-07:00Misérias e Glórias do Xadrez - 4<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-V91Qt73h11o/UV63SeP7VSI/AAAAAAAAP6E/RapUqYAt_bs/s1600/Botvinnik+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-V91Qt73h11o/UV63SeP7VSI/AAAAAAAAP6E/RapUqYAt_bs/s1600/Botvinnik+1.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Misérias e Glórias do Xadrez - 4</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">Carlos Batista Lopes</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: purple;">Depois da II Guerra, nenhum outro esporte – admitindo seja um esporte - se tornou um palco tão acirrado da luta político-ideológica quanto o xadrez. O que, sem dúvida, tem relação com o imaginário que o cerca, a que já nos referimos.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Voltemos a 1946, quando, num quarto de hotel no Estoril, Alekhine morria sem amigos, sem admiradores e sem mulheres, banido dos torneios e competições – depois de vencido o nazismo, todos preferiam ver a lepra em pessoa no salão de jogos do que ver Alexander Alekhine circulando por lá.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Muita coisa mudara desde o torneio A.V.R.O, de 1938. A começar pelos dois desafiantes do campeão apontados por esse torneio. O americano Reuben Fine não tinha mais o xadrez como interesse principal: era agora um psicanalista, e não queria mais disputar o título.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Como demonstrou Edward Winter, somente 27 anos depois, em seu livro sobre a vitória de Fischer, Reuben Fine iria aparecer com a história de que havia declinado da disputa porque pressentira uma conspiração soviética para empalmar o título (cf. “Bobby Fischer’s Conquest of the World’s Chess Championship”, NY, 1973, págs. 4/5), conspiração da qual ele forneceu uma nova versão em 1989, numa carta para “Chess Life”. </span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Em fevereiro de 1948, num telegrama à redação da “Chess Review”, Fine disse outra coisa: que suas “obrigações profissionais” (“professional duties”) o impediram de disputar o título. Em novembro do mesmo ano, na mesma revista, ele próprio escreveu que “eu estava trabalhando na minha dissertação de doutorado. Retirei-me [da disputa] porque não me preocupei em interromper minha pesquisa”. E, 10 anos depois, em 1958, ele reafirmaria, em seu livro “Lessons from My Games”: “Na época, eu havia iniciado minha nova profissão como psicanalista e estava impossibilitado de jogar” (págs. 151/152, cit. por Winter, “Unsolved Chess Mysteries - 9”).</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">As explicações bamboleantes de Fine não são apenas uma exibição de suas debilidades de caráter. São também a mostra de como a mal chamada “guerra fria” interferiu no xadrez. Somente quando Nixon e Kissinger – veremos depois a importância do último para a questão – chegaram à Casa Branca, é que Fine inovou os seus motivos para não disputar o campeonato mundial no imediato pós-guerra.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">O outro desafiante apontado pelo A.V.R.O. era o extraordinário jogador estoniano Paul Keres. Mas agora a Estônia era uma das nações da URSS. Keres se tornara, portanto, cidadão soviético. E recém escapara de um julgamento, por ter participado de torneios organizados pelos nazistas durante a ocupação. Ao contrário do que uma vasta propaganda afirma, Keres jamais esteve preso, nem nessa época nem depois (v. o artigo do historiador estoniano – e pouco disposto em relação aos russos - Valter Heuer, “The Troubled Years of Paul Keres, the Great Silent One”, publicado em “New In Chess” nº 4, 1995). Mas é evidente que ele esteve sob investigação após a guerra.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">A argumentação de Keres – que enviou uma carta a Molotov, ministro das Relações Exteriores – era a de que, estritamente, havia participado dos torneios promovidos pelos nazistas como jogador, sustentando-se durante a guerra com essa atividade. Jamais havia, ao contrário de Alekhine, passado desse limite. Não é inteiramente verdade, pois havia algumas declarações anti-soviéticas de Keres que foram publicadas pelos nazistas – mas, em geral, a tônica delas estava mais na independência da Estônia do que em ser contra a URSS. A questão política é que a Estônia estava ocupada pelos nazistas e não pelos soviéticos.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Também não é verdade, tal como alguns até hoje afirmam, que Paul Keres só tenha participado, durante a II Guerra, de torneios realizados em seu país. Cidades como Munique, Salzburg e Praga não ficam na Estônia. No entanto, Keres legitimou a vitória de Alekhine nos torneios que os nazistas organizaram nessas cidades, uma vez que era o único outro grande jogador a participar dessas promoções. O outros, eram mediocridades hoje esquecidas, exceto Bogolyubov – que, na época, descia aceleradamente o plano inclinado da decadência. Mas é necessário ressaltar que Keres recusou-se a disputar um match pelo campeonato mundial com Alekhine durante a guerra, um match que somente serviria para a propaganda nazista.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Posteriormente, o maior jogador soviético, Mikhail Botvinnik, faria uma defesa de Keres. Até por essa razão – embora não somente por ela - é impressionante que haja grassado a propaganda de que Keres foi impedido por Stalin de enfrentar Alekhine e, no torneio que decidiu, em 1948, o novo campeão mundial, foi obrigado a perder para Botvinnik. </span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">O conteúdo dessa propaganda é claro: Botvinnik não teria adquirido sua predominância sobre os demais por suas qualidades como jogador, mas porque era um privilegiado de Stalin, que até mesmo mandara a KGB (esta não existia ainda, mas o rigor histórico não é uma característica da propaganda anti-comunista) obrigar Keres - “com uma arma apontada para a cabeça”, diz um dos adeptos da tese - a perder para o oponente (cf. Taylor Kingston, “The Keres-Botvinnik Case: A Survey of the Evidence”, 1998. O autor, um anti-comunista, porém não um estúpido, faz uma ampla revisão do que foi escrito sobre o assunto. Depois de observar que não há prova, nem base nos resultados e no transcorrer das partidas, que sustente essa versão - e que tanto a viúva de Keres, Maria, quanto as pesquisas do estoniano Heuer, desmentem-na - ele conclui: “Francamente, poucas coisas me dariam mais prazer do que dizer que Keres, sob todos os aspectos um dos mais gentis cavalheiros que já avançaram um peão, foi trapaceado pelo mal-humorado stalinista Botvinnik. Poderia se chegar a isso, mas ainda não foi possível chegar a tanto [It may yet come to that, but has not quite yet]”. Nos 9 anos que decorreram desde que o artigo de Kingston foi publicado, todos os arquivos da URSS foram abertos - e nada foi descoberto que corroborasse a propaganda anti-comunista).</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Porém, esse tipo de coisa não depende da realidade. Depende da estupidez e da dominação ideológica que faz com que alguns aceitem a mais absurda propaganda como se realidade fosse.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">1948</span></b></div>
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">A partir de 1941, Botvinnik havia surgido como o maior jogador do mundo. De certa forma, os soviéticos haviam mudado a forma de se jogar xadrez. Como observou Andrew Soltis em seu livro sobre Fischer (“Bobby Fischer Rediscovered”, 2003), os soviéticos desenvolveram a estratégia no sentido de superar as concepções vigentes na primeira metade do século XX, que tiveram seu principal expoente em Capablanca – o cuidado em conservar o material (ou seja, evitando a desvantagem quanto ao número de peças e peões), a abertura tranqüila, da qual os oponentes saíam iguais ou quase iguais e, em seguida, o meio-jogo dirigido para obter um final superior. Em vez disso, os soviéticos começavam a luta mais intensa logo na abertura da partida, mesmo que fosse necessário temporariamente (ou não) perder algum material e criar algumas debilidades.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Porém, apesar de banido das competições, a FIDE não destituiu Alekhine do título, nem mudou a regra pela qual ele, e somente ele, poderia apontar o seu desafiante. Assim, quando Alekhine morreu, em março de 1946, o título estava vago. Chegou-se, então, a um acordo para a realização de um torneio que apontasse o novo campeão. O torneio foi jogado em Haia e Moscou entre os seis principais jogadores do mundo, que se enfrentaram cinco vezes entre si: o ex-campeão Max Euwe, os soviéticos Mikhail Botvinnik, Paul Keres e Vassily Smyslov, o polaco-americano Samuel Reshevsky e o polaco-argentino Miguel Najdorf – os dois últimos, considerados os melhores do continente americano, após a retirada de Fine.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Botvinnik venceu amplamente: conquistou 14 pontos em 20 possíveis, três pontos acima de Smyslov, segundo colocado. Começara um novo período para o xadrez. Em seguida, foram criadas regras para a disputa do título de campeão. Haveria torneios zonais, reunindo os países do mundo que eram membros da FIDE. Os vencedores desses torneios seriam classificados para o Torneio Interzonal, que apontaria os qualificados para o Torneio de Candidatos. O vencedor deste enfrentaria o campeão num match pelo título. O campeão manteria o título em caso de empate neste match e, em caso de derrota, teria direito a um match-revanche.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Essas novas regras mantiveram-se inalteradas até 1963, quando os kruschevistas permitiram o primeiro atropelo na disputa. Na época, não acharam ruim a conseqüência do atropelo: livraram-se de Botvinnik, para eles um “símbolo do stalinismo”. Mas estavam abrindo a porta do inferno, como se veria nos anos seguintes.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue;">BOTVINNIK</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-qRLGzLiNiqM/UV63SzGvm4I/AAAAAAAAP6Q/FoHOcZhXf6U/s1600/Botvinnik+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-qRLGzLiNiqM/UV63SzGvm4I/AAAAAAAAP6Q/FoHOcZhXf6U/s1600/Botvinnik+3.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Mikhail Botvinnik </span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b style="text-align: left;"><span style="color: purple;">O novo campeão foi, provavelmente, o mais difamado homem da história do xadrez. Vimos acima como um autor ocidental, apesar de contestar a acusações a ele, o descreve como um “mal humorado stalinista”. Por que “mal humorado”? Somente porque este é o estereótipo que está na cabeça de quem escreve essas coisas. Sem dúvida, Mikhail Moseievitch Botvinnik era comunista. É um fenômeno típico dos efeitos da propaganda que os mesmos que acusam Botvinnik – e os soviéticos – de trapacearem, não discutem o fato, pois é impossível colocar isso em dúvida, de que ele foi um dos maiores jogadores que já existiram. Aparentemente, não se importam em admitir as duas coisas ao mesmo tempo.</span></b></div>
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Botvinnik não era notável apenas no xadrez. Formado aos 20 anos (1931) em engenharia elétrica, ele foi um dos pioneiros da eletrônica e, depois, da informática. Após a conquista do título mundial, interrompeu várias vezes a sua participação nas competições em função desses interesses profissionais.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Em xadrez, foi o professor de gerações de soviéticos. A escola que fundou, em Moscou, funcionou durante muito tempo como uma graduação superior para os jogadores da URSS. Não por acaso, formaram-se lá tanto Karpov quanto Kasparov – dois campeões mundiais.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Um excelente jogador brasileiro disse uma vez a este autor que considerava o estilo de Botvinnik “muito humano”. Não poderia haver maior contraste com isso do que a descrição de Kasparov sobre o “estilo frio, impiedoso” de Botvinnik (ver a segunda parte deste artigo).</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Realmente, há algo no jogo de Botvinnik que é muito bem descrito pela palavra “humano”: ele não faz malabarismos ou ilusionismos no tabuleiro. Seus planos estratégicos são claros e inteligíveis e seus recursos táticos jamais se chocam com a estratégia. Como é evidente em seus textos, não se considera um gênio, mas um esforçado estudioso. Por isso, boa parte de suas vitórias foram devidas a uma rigorosa preparação anterior ao jogo, levando sempre em conta as características dos oponentes que ia enfrentar. </span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Referimo-nos acima ao inventado “caso Keres”. Com ele, o padrão da propaganda anti-comunista foi estabelecido. Embora, pensando bem, não restava muito a esses propagandistas senão acusarem os soviéticos de trapaceiros. O que mais podiam fazer, em um esporte onde seus inimigos tinham uma hegemonia tão grande que, entre 1948 e 1972, todos os campeões e todos os desafiantes do campeão, foram soviéticos?</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Assim, o circo estava pronto para a próxima batalha ideológica – naturalmente, sem que a anterior fosse jamais encerrada. Não se encerram batalhas que são travadas, antes de tudo, no plano da fantasia, senão quando um dos lados deixa de existir. Afinal, até hoje a “Veja” está tentando passar a figura de Che Guevara como o contrário do que ele foi – e certamente deve haver ainda uma meia dúzia de idiotas para acreditar... </span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ftylGc2THwk/UV63S3dICXI/AAAAAAAAP6M/TDlTgX6QfTA/s1600/Botvinnik+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-ftylGc2THwk/UV63S3dICXI/AAAAAAAAP6M/TDlTgX6QfTA/s1600/Botvinnik+2.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #660000;"><b>Botvinnik x </b><b>Bronstein, 1951</b></span></div>
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Em 1948, mesmo ano da conquista de Botvinnik, realizou-se em Saltsjöbaden, Suécia, o primeiro Torneio Interzonal – etapa do processo para apontar o próximo desafiante do recém campeão. O soviético David Bronstein conquistou o primeiro lugar, classificando-se para o Torneio de Candidatos, a ser realizado em 1950. Nesse torneio, realizado em Budapeste, Bronstein também saiu vencedor. Era ele, portanto, o desafiante do campeão mundial.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Quando eles se reuniram para disputar o match decisivo, Botvinnik estava há três anos sem participar de competições, dedicado a seus afazeres profissionais. E, Bronstein, de todos os jogadores soviéticos, era aquele que Botvinnik detestava – do ponto de vista político, pessoal e enxadrístico. Deste último ponto de vista, Bronstein era um jogador sobretudo tático – o que, para um estrategista que dependia tanto de estudar e prever antecipadamente o que o oponente faria, é sempre uma dificuldade.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-f2nNl171Vbk/UV63T3WYN-I/AAAAAAAAP6c/tRacdRECa8E/s1600/Botvinnik+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-f2nNl171Vbk/UV63T3WYN-I/AAAAAAAAP6c/tRacdRECa8E/s1600/Botvinnik+4.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #660000;">Bronstein</span></b></div>
<br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Bronstein era filho de um condenado por envolvimento nas conspirações dos “kulaks” - a burguesia agrária - contra o Estado soviético. Alguns relatos afirmam que o pai de Bronstein era um bukharinista ativo na década de 30 – isto é, um integrante da conspiração direitista de Bukharin, desbaratada em 1937/1938. O fato é que ele foi condenado em 1937 - e colocado em liberdade condicional em 1944. As histórias posteriores de Bronstein sobre essa época e seu modo habitual de agir – p. ex., era um desses jogadores que freqüentemente se referem a si mesmos na terceira pessoa (“então o mestre decidiu mover tal peça”, etc.) - mostram bastante bem porque ele não cativava a simpatia de Botvinnik. </span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Apesar de não poder ainda legalmente morar em Moscou, foi permitido ao pai de Bronstein assistir ao match – o que, depois, serviu para que seu filho apresentasse essa permissão como uma tentativa de lembrá-lo do que poderia acontecer se vencesse o match... No entanto, mesmo no seu livro mais ressentido, “Aprendiz de Feiticeiro” (a edição inglesa é de 1995), onde chama seu oponente de 1951 de “um deus de lata da cultura socialista”, ele não se atreve a dizer que foi obrigado a perder de Botvinnik, embora, talvez, sejam piores as insinuações: “Um monte de absurdos foi escrito sobre isso. (....) Eu estava sujeito a uma forte pressão psicológica de várias fontes e cabia a mim render-me ou não a essa pressão”.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Passaram-se muitos anos até que Kasparov, em “Meus Grandes Predecessores”, tentasse promover Bronstein a “fundador do xadrez moderno” (sic). Só há uma razão para essa descoberta histórica de Kasparov: o anti-comunismo de Bronstein. Não há dúvida que Bronstein era um brilhante tático, dos maiores que já houve. Mas a sua falta de profundidade estratégica sempre lhe foi fatal em momentos decisivos.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Na URSS, não era crime ser anti-comunista, se o cidadão ficasse no terreno das idéias. O que constituía crime era conspirar contra o Estado – como, aliás, acontece em todos os tipos de Estado. Assim, a Federação de Xadrez da URSS forneceu a Bronstein os melhores analistas do país – seus “segundos”, cuja principal função era analisar as partidas adiadas, foram Boleslavsky, Furman e Konstantinopolsky. Do mesmo nível era um dos “segundos” de Botvinnik - seu amigo Salo Flohr. Melhores analistas que estes na URSS, só havia um: o próprio Botvinnik.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Muito já se escreveu sobre esse match de 24 partidas. Para os objetivos deste artigo, basta relatar que Bronstein abandonou as linhas de jogo que usava habitualmente e incorporou as linhas que, notoriamente, eram as favoritas de Botvinnik. Isso parece ter surpreendido o campeão. A duas partidas do final do match, Bronstein estava um ponto à frente de Botvinnik. Precisava apenas de uma vitória – ou de dois empates. Nesse clima começou a 23ª partida. Numa posição ganhadora no 41º lance, Botvinnik adiou a partida, selando seu 42º lance (ao pedir adiamento da continuação da partida, o jogador era obrigado a colocar num envelope lacrado o seu próximo lance). No entanto, Botvinnik selou um lance errado. E, sobretudo depois de conversar com Salo Flohr, sabia disso. Portanto, no dia seguinte, quando a partida reiniciou, ele sabia que o máximo que podia fazer era lutar tenazmente por um empate – o que deixaria Bronstein a meio ponto do título, com apenas uma partida para o encerramento do match.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Porém, aconteceu uma dessas coisas tão comuns quando os nervos falham nos momentos decisivos. Apenas um lance depois, quem errou foi Bronstein. E Botvinnik conseguiu encontrar, sem análise anterior, em pleno tabuleiro da partida, a jogada ganhadora. Na última partida, Bronstein conseguiria apenas empatar – mas, com isso, o match estava empatado, e Botvinnik manteve o título de campeão.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Foi o gatilho para uma enxurrada de panfletos anti-comunistas, sob a forma de artigos, “análises” e livros, que até hoje perdura. Veremos, na próxima edição, a veracidade dessa produção interminável.</span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b><span style="color: purple;">Carlos Batista Lopes </span></b><br />
<b><span style="color: purple;"><br /></span></b>
<b>Fonte: <a href="http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias04.htm">http://www.cxv.com.br/html/cronicas/miseriaseglorias04.htm</a></b>Cleando Cortezhttp://www.blogger.com/profile/16712641775231228458noreply@blogger.com0